segunda-feira, março 31, 2008

Cinco filmes subestimados

Recebi o seguinte convite (ou desafio) do meu amigo Wally Soares, do blog Cine Vita: selecionar cinco grandes filmes subestimados - seja pela crítica ou pelo público ou em premiações. Como a tarefa é complicada, eu resolvi me concentrar em cinco títulos que eu simplesmente cansei de tentar convencer algumas pessoas queridas de que estamos diante de filmes extraordinários. São exemplos recentes. Veja abaixo.


O Povo Contra Larry Flynt (1996), de Milos Forman

As atitudes de Larry Flynt (Woody Harrelson) assustaram muita gente. A sociedade ainda não aceita certos tabus e um homem desprezível (e de boca suja) não é exatamente o modelo que o povo quer seguir ou ver na luta por um bem maior - no caso deste filme, a liberdade de expressão. Para o inferno com o conservadorismo. E é disso que o diretor Milos Forman entende muito bem. Seus protagonistas enfrentam críticas e repressões de uma sociedade que ainda não alcançou seus raciocínios. No fim, o cinema de Forman está falando é de evolução política e social.


O Show de Truman (1998), de Peter Weir

Quem sou eu? Qual é a razão da minha existência? Quem é Deus? Para Truman Burbank (Jim Carrey), essas questões não dizem coisa alguma no lugar onde ele vive. Tudo o que ele viu, sentiu, tocou e pensou faz parte de um reality show de proporções megalomaníacas. Só ele não sabia disso. O cineasta Peter Weir faz Truman tocar o céu e conversar com o seu Criador para encontrar somente a si próprio. De certa forma, Weir imaginou o futuro da proposta estudada por Sidney Lumet, em Rede de Intrigas, de 1976. Vendo assim, O Show de Truman é um dos filmes mais assustadores feitos pelo cinema nos últimos anos. Não exatamente por criticar o conteúdo da televisão. Isso qualquer um faz. Mas por apontar o dedo para nós mesmos, que somos alienados e culpados pela atual situação da cultura.


Ronin (1998), de John Frankenheimer

Ronin é um dos melhores filmes de ação dos anos 1990, mas não é para as massas. Esse também foi um dos últimos grandes filmes estrelados por Robert De Niro. O diretor John Frankenheimer construiu uma trama de mercenários perseguindo uma valiosa maleta e sabe-se lá o motivo. Acho que grande parte do público quer descobrir o conteúdo da dita cuja, mas isso não importa. A maleta é um MacGuffin. O que realmente importa é a viagem. Ronin tem perseguições de carros e tiroteios, mas também tem roteiro e ótima direção. Aliás, Frankenheimer mostra como um filme deve ser montado. Ronin tinha tudo para chamar a atenção do público, mas a trama exige bastante atenção. Se esse foi o problema...


A.I. - Inteligência Artificial (2001), de Steven Spielberg

Quem diria que Steven Spielberg, diretor de grandes sucessos de bilheteria nas três décadas anteriores, não seria compreendido por seu público? A.I. foi idealizado por Stanley Kubrick, mas Steven tocou o projeto em homenagem ao saudoso amigo. Sei que adoram imaginar como A.I. teria sido nas mãos de Kubrick ou que Steven tentou ser Kubrick e por aí vai. Na verdade, o filme fala de amor incondicional e eterno. Neste caso, o amor de uma criança por sua mãe. Parece um conceito bobo para as platéias jovens munidas de adolescentes, que ainda não compreendem o que realmente significa o amor. A grande sacada de A.I. é concentrar todo esse sentimento numa criança que nem mesmo é humana - Dave (Haley Joel Osment) é um robô sem esse tal coração, mas que dedica sua existência ao que dizem ser o mais belo sentimento da Humanidade. A.I. é um dos melhores (e um dos mais tristes) filmes da década.


Guerra dos Mundos (2005), de Steven Spielberg

Muito tempo depois de retratar alienígenas como seres pacíficos (e pacifistas), Steven Spielberg fez essa nova versão do conto clássico de H.G. Wells. Numa época difícil e num ano em que Hollywood começou a atacar a América de Bush, Steven criou algumas das cenas mais assustadoras da década. O ataque inicial do Tripod alienígena é de um terror absurdo. Não sei como ele fez aquilo. Será que, em exibições-testes, o público ficou horrorizado? Sei que Steven tem as manhas e sabe manipular as emoções da platéia como poucos diretores conseguiram em toda a história do cinema. Neste novo Guerra dos Mundos, os críticos não notaram a intenção de Steven em filmar todo e qualquer acontecimento pelo ponto de vista do personagem de Tom Cruise - exceto pela cena em que ele venda os olhos de sua filha, que representa a platéia naquele momento. É um primor de narrativa. E, claro, Guerra dos Mundos tem efeitos visuais (e sonoros) perfeitos. O final não é explosivo? Bom, está no conto de Wells. Mas Steven cumpre seu exercício narrativo com maestria.

Agora, tenho que indicar outros cinco blogs para o mesmo desafio: comentar outros cinco filmes subestimados. Aqui vai: S.O.S. Hollywood (Fábio Barreto), Twentysomething (Rodrigo Fernandes), Crônica de Cinema (Marcelo Fonseca), Fina Ironia (Gustavo) e Pipoca com Manteiga (Victor Nassar).

sexta-feira, março 28, 2008

Agentes 86 e 99
























Steve Carell é Maxwell Smart, o Agente 86. Anne Hathaway é 99. O filme estréia no dia 20 de junho e mal posso esperar por essa bobagem da grossa. A clássica música de Irving Szathmary surge numa cena do trailer, que parece com a abertura da antiga série. Só não perdôo se a trilha não estiver no filme.

quinta-feira, março 27, 2008

Grandes poderes trazem grandes responsabilidades


Muitos críticos e cinéfilos cultivam um certo preconceito quando um bom ator topa fazer um filme daqueles que alguns adoram dizer que... "não é sério". Lembro até hoje que li sobre um alerta do agente de Daniel Day-Lewis para que o ator não aceitasse o papel principal de O Último dos Moicanos, porque o filme de Michael Mann destruiria sua carreira. Bom, sabemos muito bem que Day-Lewis bebeu seu milkshake todinho e fez a festa.

Eu acho isso uma bobagem. A presença de um ator de primeira linha apenas engrandece a produção em termos de qualidade. Seja qual for o gênero. O problema é escalar os atores errados para um projeto - como Billy Zane, em O Fantasma, que não salvou o filme do desastre. Mas vamos nos concentrar em grandes nomes... como Dustin Hoffman e Warren Beatty, que pagaram mico no horroroso Ishtar. Ou Robin Williams, em A Revolta dos Brinquedos. Ou seja, nome não é garantia de sucesso, assim como camisa não ganha jogo de futebol.

Mas, às vezes, esquecemos dos bons exemplos. Em dramas e outros gêneros "sérios" nem é necessário citar. Porém, em fantasia, vale lembrar de Ian McKellen, perfeito como o mago Gandalf, em O Senhor dos Anéis. Não posso deixar de lado o respeitado Jack Nicholson, que deu um show como o Coringa, vilão de Batman, e simplesmente roubou o filme do herói interpretado por Michael Keaton.

Atualmente, esse peso está nos ombros de Robert Downey Jr. e Edward Norton, dois ótimos atores que, até outro dia, eu jamais arriscaria dizer que eles seriam, respectivamente, o Homem de Ferro e O Incrível Hulk. Os fãs desses heróis dos quadrinhos comemoram, mas muita gente ainda quer ver para crer.


Aos 42 anos, Robert Downey Jr tem uma indicação ao Oscar de Melhor Ator no currículo, por Chaplin, e atuações elogiadas em filmes como Assassinos Por Natureza, Zodíaco, Garotos Incríveis e Boa Noite e Boa Sorte. Além disso, Downey Jr. ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante pela adorável série de TV Ally McBeal. Ele ainda não tem aquela tão cobiçada estatueta dourada, mas ganhou o devido respeito. Agora, surpreendentemente, Downey Jr. aceitou ser Tony Stark, ou melhor, o Homem de Ferro.

Já Edward Norton, aos 38 anos, foi notado em As Duas Face de um Crime e imediatamente recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, por sua extraordinária atuação. Não demorou muito e ele voltou ao Oscar - só que como Melhor Ator, por A Outra História Americana. Norton é um legítimo herdeiro de grandes talentos dos anos 1970, como De Niro e Pacino. Mas acho que ele andava meio desperdiçado. Bom, você sabe, em primeiro lugar, a Hollywood de hoje oferece os melhores papéis aos galãzinhos. Dificilmente, um boa pinta recusa um roteiro de verdade, então fica difícil ter algum espaço para Edward Norton. Mas eis que, de repente, ele revelou ser fã de Hulk. Imaginem só. O ator ajudou a Marvel a redefinir o herói ao escrever e protagonizar a nova aventura do gigante esmeralda.

Ainda é cedo para dizer qualquer coisa, mas acredito nos esforços de Robert Downey Jr. e Ed Norton. São atores talentosos e é isso o que importa. Claro que se O Incrível Hulk fracassar, Norton terá uma parcela de responsabilidade, afinal ele assina o roteiro. Mas acho que ambos merecem nossos votos de confiança.

Homem de Ferro
estréia no dia 30 de abril, enquanto O Incrível Hulk chega aos cinemas no dia 13 de junho.

quarta-feira, março 26, 2008

Nada se cria, tudo se copia


Ainda sobre o post dedicado às adoráveis refilmagens, eu gostaria de relembrar outras "alternativas" de Hollywood para seguir a linha de um sucesso sem filmar o mesmo roteiro:

Monstro gigante solto na cidade
King Kong, Godzilla, Querida, Estiquei o Bebê, Cloverfield

Invasão alienígena
Guerra dos Mundos, Independence Day, Marte Ataca

Adaptação de séries de TV
Os Intocáveis, O Fugitivo, Missão Impossível, As Panteras

Assassino de adolescentes
Jason Vorhees, de Sexta-Feira 13 - Parte II em diante (no 1 é a mãe dele), Leatherface, em O Massacre da Serra Elétrica, Freddy Krueger, em A Hora do Pesadelo, o mascarado de Pânico, o tiozinho do gancho, em Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, Jigsaw (mata adultos também), em Jogos Mortais

Serial killers intelectuais
Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), em O Silêncio dos Inocentes, e John Doe (Kevin Spacey), em Seven. Temos outros dois nos primos pobres Copycat e O Colecionador de Ossos, mas quem se lembra?

Filme de guerra realista
O Resgate do Soldado Ryan, Falcão Negro em Perigo, Fomos Heróis

Biografia de músicos famosos
Jerry Lee Lewis (Dennis Quaid), em A Fera do Rock, Ritchie Valens (Lou Diamond Phillips), em La Bamba, Charlie Parker (Forest Whitaker), em Bird, Jim Morrison (Val Kilmer), em The Doors, Ray Charles (Jamie Foxx), em Ray, Johnny Cash (Joaquin Phoenix), em Johnny & June

Romance durante tragédia histórica
Titanic, Pearl Harbor

O aventureiro
Indiana Jones (Harrison Ford), em Os Caçadores da Arca Perdida, Jack Colton (Michael Douglas), em Tudo por uma Esmeralda, Allan Quatermain (Richard Chamberlain), em As Minas do Rei Salomão, Rick O' Connell (Brendan Fraser), em A Múmia, Dirk Pitt (Matthew McConaughey), em Sahara

Parceiros policiais que implicam um com o outro
Nick Nolte e Eddie Murphy, em 48 Horas, Mel Gibson e Danny Glover, em Máquina Mortífera, Jackie Chan e Chris Tucker, em A Hora do Rush

Um único homem contra um ou mais terroristas em algum lugar
Bruce Willis, em Duro de Matar, Steven Seagal, em A Força em Alerta, Keanu Reeves, em Velocidade Máxima, Nicolas Cage, em A Rocha (se bem que ele tem a ajuda preciosa de Sean Connery)

O exército de um homem só
Sylvester Stallone, em Rambo, Chuck Norris, em Braddock, Arnold Schwarzenegger, em Comando Para Matar

O revolucionário
T.E. Lawrence (Peter O' Toole), em Lawrence da Arábia, John Dunbar (Kevin Costner), em Dança Com Lobos, William Wallace (Mel Gibson), em Coração Valente, Maximus (Russell Crowe), em Gladiador, Leônidas (Gerard Butler), em 300

Adaptação de histórias em quadrinhos
Superman, Batman, Homem-Aranha, X-Men, Quarteto Fantástico, Hulk, Homem de Ferro, etc

Adaptação de livros de fantasia
O Senhor dos Anéis, Harry Potter, As Crônicas de Nárnia, Stardust (graphic novel), As Crônicas de Spiderwick, etc

Obrigado, professor
Sidney Poitier, em Ao Mestre, Com Carinho, Robin Williams, em Sociedade dos Poetas Mortos, Michelle Pfeiffer, em Mentes Perigosas, Hilary Swank, em Escritores da Liberdade

A África dos meus pesadelos

Um Grito de Liberdade, Hotel Ruanda, O Jardineiro Fiel, Diamante de Sangue

São apenas alguns temas para não ficar o dia todo. E nem citei os filhotes de Alien - O Oitavo Passageiro e O Sexto Sentido. Nem sempre a repetição dá certo, mas prefiro isso ao remake anunciado de Os Pássaros.

Outro bom exemplo (e mais recente) é o que Ben Stiller está fazendo. Veja abaixo.


Três Amigos
(1986), de John Landis: Steve Martin, Chevy Chase e Martin Short são os astros de Três Amigos, uma série do cinema mudo. Eles são chamados pelo povo de Santo Poco, no México, para salvar a cidadezinha da tirania do vilão El Guapo (Alfonso Arau). Os imbecis aceitam a missão e pensam que tudo não passa de um filme. Dou risada até hoje da "saudação" dos Três Amigos e do trio cantando My Little Buttercup.



Heróis Fora de Órbita
(1999), de Dean Parisot: Tim Allen, Alan Rickman, Sigourney Weaver e Tony Shalhoub são astros da série de TV Galaxy Quest ("levemente" inspirada em Jornada nas Estrelas). O problema é que alienígenas pensam que eles são heróis de verdade. O elenco é raptado e levado para uma outra galáxia para salvar os ETs bonzinhos de outros malvados. Também é engraçadíssimo. Especialmente para os fãs de Star Trek.



Tropic Thunder (2008), de Ben Stiller: Robert Downey Jr., Jack Black e Ben Stiller são atores profissionais nas filmagens do épico de guerra mais caro da história do cinema. De repente, eles são colocados no meio de uma guerra de verdade. Os paspalhões pensam que ainda estão no filme. Bobagem que promete. Estréia prevista para agosto.

Quando a ignorância é uma bênção


Acho que o nome deste blog não merece os meus pensamentos nos últimos meses. Estou cada vez mais decepcionado com Hollywood. As boas idéias acabaram e os filmes ficaram adolescentes demais. Pois bem. Volto a tocar no polêmico tema dos remakes.

Sei que refilmagens não foram criadas nesta década. Isso sempre existiu. As versões de Ben-Hur e Os Dez Mandamentos com Charlton Heston não são originais, e O Homem Que Sabia Demais, com James Stewart, é um remake americano do próprio Alfred Hitchcock. Já tivemos vários Dráculas, três King Kongs e duas Guerras dos Mundos. Alguns até valeram a pena, mas a falta de imaginação está passando dos limites.

A bola da vez é Os Pássaros, que terá refilmagem já em 2009. O diretor é o Martin Campbell, que fez A Máscara do Zorro, 007 Contra Goldeneye e Cassino Royale. Esse cara gosta de um revival. Naomi Watts fica com o papel de Tippi Hedren. Com o King Kong, de Peter Jackson, no currículo, Naomi quer ser a musa dos remakes.

Mas se Alfred Hitchcock foi o mestre do suspense no cinema, qual seria o critério para a escolha de Martin Campbell? Se a refilmagem vai acontecer, será que não dá para convidar M. Night Shyamalan? Tim Burton? Ou qualquer outro bom diretor? Talvez porque esses caras não aceitariam. Os Pássaros não é um filme com efeitos visuais da década de 1930 ou uma produção B que merece uma atualização. Isso é um clássico. O DVD está aí e a imagem é ótima.

Vocês podem me chamar de "careta", "velho" ou "vintage", mas pergunto: Os Pássaros precisa de refilmagem? Quem faz remake em Hollywood defende a tese de que novas gerações precisam conhecer essas boas histórias. E que a criançada não tem paciência com filmes antigos. Nem mesmo com produções remasterizadas disponíveis em DVDs nas melhores locadoras. Balela. A criatividade está quase no fundo do poço e a grana fala mais alto. Duvido que o novo Os Pássaros seja resultado de um projeto sonhado por Martin Campbell há anos.

É por isso que prefiro um Indiana Jones de 60 anos a uma refilmagem com Tobey Maguire (ou outro jovem ator) como o arqueólogo criado por George Lucas. Já pensou uma refilmagem de Duro de Matar com The Rock? Sou mais o Bruce Willis sessentão. E que tal Denzel Washington no papel de Michael Corleone, em O Poderoso Chefão? Para curtir novas versões de filmes da nossa vida, só mesmo não tendo visto os originais. De outra forma, não dá. Vou chorar. Desculpe, mas eu vou chorar.

terça-feira, março 25, 2008

Akira vem aí e o bicho vai pegar


Senhoras e senhores, isso sim é um lançamento para deixar os nerds de plantão em estado absoluto de euforia. Marque esta data: 23 de abril. Não. Não é um livro do Harry Potter, mas o DVD de Akira, a obra-prima de Katsuhiro Otomo, que completa duas décadas neste ano.

Quem nunca viu, não sabe o que está perdendo. É um analgésico e tanto para o marasmo de Hollywood. Akira é um clássico animê baseado no mangá do próprio Otomo, que influenciou uma geração inteira. A animação jamais foi a mesma em matéria de movimento e definição de imagem.

Mas o que é Akira? Ficção científica ou fantasia? Sei que é resultado da imaginação de Otomo, algo que jamais sairia de um cérebro ocidental. Quando vi Akira, eu era bem pequeno e enfrentei
conceitos de uma obra de arte oriental pela primeira vez - tirando, claro, desenhos e séries de TV como Spectreman e Ultraman. Mas fiquei fascinado pelo outro lado. Já revi algumas vezes e sempre tem uma coisa nova a ser descoberta neste universo único e arrebatador. Explicar Akira pode deixar uma mente pura meio confusa. É preciso ver para crer.

Acho que Akira foi uma obra fundamental para o atual cinema de Hollywood, que utiliza muita computação gráfica. Não somente para criar (ou recriar) personagens e mundos fantásticos, mas também para simular movimentos que substituem o trabalho das câmeras. Essa influência não ficou restrita a técnicas, mas cada detalhe nos cenários e locais onde a história se passa mexeu com a cabeça de muita gente, assim como a própria trama. Por exemplo, os Irmãos Wachowski, de Matrix e Speed Racer, não são fãs apenas de O Exterminador do Futuro e Metrópolis.

A notícia ruim em torno de Akira é que a Warner confirmou uma versão live action para 2009. Parece que será em duas partes - é a nova e infeliz mania de Hollywood, que já atingiu O Hobbit e Harry Potter e as Relíquias da Morte.

Mas esqueça o filme. O DVD de Akira chegará em duas versões no dia 23 de abril. Uma delas é edição para colecionador, que vem numa lata bacana com a arte ao lado.

segunda-feira, março 24, 2008

As Crônicas de Spiderwick


Na crítica de Ponte Para Terabítia, eu escrevi que o filme era o melhor representante do gênero infantil em muito tempo. Mas talvez eu possa melhorar isso: acho que o filme pode ser colocado ao lado de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Zathura e esse As Crônicas de Spiderwick (The Spiderwick Chronicles, 2008).

Assistir a adaptação da série de livros escrita por Tony DeTerlizzi e Holly Black gera uma agradável sensação de nostalgia para quem admirou aventuras infanto-juvenis dos anos 1980 como A História Sem Fim, Gremlins, Labirinto, Os Goonies e Viagem ao Mundo dos Sonhos. Se fosse daquela época de pequenos grandes filmes de fantasia, Spiderwick seria cultuado até hoje. Mas estamos nos tempos de grandes aventuras do gênero como O Senhor dos Anéis, Harry Potter, As Crônicas de Nárnia e A Bússola de Ouro. Por isso, imagino que o público-alvo atual não vai se emocionar tanto com Spiderwick. Enfim, parece um filme para quem veio dos anos 1980 ou é fã daquele cinema. A cena do vôo do grifo, inclusive, lembra uma cena maravilhosa de A História Sem Fim, porém, os mais novos terão Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban em mente. Captou?

Naquele tempo, roteiristas, produtores e diretores compensavam a falta de CGI com imaginação e criatividade. Os filmes citados acima mesclavam a realidade do cotidiano e a ficção com uma competência capaz de prender qualquer espectador na trama em seus primeiros 15 minutos. Felizmente, Spiderwick segue essa linha e lembra que o cinema para quem é (ou já foi) criança ainda é possível. São aspectos que deixam o filme anos-luz à frente dos recentes As Crônicas de Nárnia e, principalmente, A Bússola de Ouro, que se mostram deslumbrados com o próprio universo em questão e esquecem de oferecer credibilidade e inteligência. Em Spiderwick, a fantasia é real diante de nossos olhos.

Na verdade, vale lembrar que o filme não é para os pequenos. Como alguns exemplares do gênero da década de 1980, As Crônicas de Spiderwick não é infantilóide e traz cenas assustadoras e conceitos fortes para quem tem menos de 10 aninhos. Alguns adultos podem até mostrar uma certa preocupação numa cena específica perto do final. Só que monstros nasceram malvados mesmo e, ora bolas, vocês estão avisados.

Essa é a história da família Grace, que se muda para uma velha casa no meio do nada. Helen (Mary-Louise Parker) precisa cuidar dos filhos após o divórcio. Mallory (Sarah Bolger) e Simon (o menino-prodígio Freddie Highmore) lidam bem com a separação dos pais, mas Jared (também Freddie Highmore) está furioso e dificulta o relacionamento despedaçado da família. Cada vez mais isolado, o menino encontra um livro na casa e é aqui que o filme realmente começa.

O antigo morador da propriedade, Arthur Spiderwick (David Strathairn) descobriu um mundo de fadas, goblins, ninfas e outro seres fantásticos, que é invisível para a grande maioria dos homens. Arthur registrou as espécies e suas características no tal livro, que não pode cair em mãos erradas. Esse é o "anel" de As Crônicas de Spiderwick. Explicar a trama e o que faz o filme funcionar é perda de tempo. Basta saber que o trio mirim fará de tudo para proteger o livro de uns goblins infernais.

O diretor Mark Waters, de E Se Fosse Verdade e Meninas Malvadas, não arrisca nada de novo, mas conduz a aventura com muita paixão. Especialmente ao fazer uso da fantasia para analisar o relacionamento da família Grace, que é o ponto principal da trama - tudo gira em torno da figura invisível do pai ausente, algo recorrente no cinema de Steven Spielberg, que não tem qualquer ligação com este filme. É um conceito que está na construção de cada um dos personagens e direciona As Crônicas de Spiderwick para uma conclusão emocionante.

O filme pode não ser um E.T. - O Extraterrestre. E não é. Mas lembra muito o clima dos filmes citados lá no alto - muitos deles produzidos pelo próprio Spielberg, que deve ter gostado muito de As Crônicas de Spiderwick.

As Crônicas de Spiderwick (The Spiderwick Chronicles, 2008)
Direção: Mark Waters
Roteiro: Karey Kirkpatrick, David Berenbaum e John Sayles (Adaptado dos livros de Tony DeTerlizzi e Holly Black)
Elenco: Freddie Highmore, Sarah Bolger, Nick Nolte, Mary-Louise Parker, Joan Plowright e David Strathairn

sábado, março 22, 2008

10.000 A.C.


Não sei se o diretor Roland Emmerich quis fazer uma aventura divertida ou se a intenção foi filmar uma comédia de ação. Se o herói pré-histórico D'Leh (Steven Strait) fosse interpretado por atores melhores como Renato Aragão ou Roberto Benigni, o ridículo 10.000 A.C. (10.000 B.C., 2008) ainda seria a mesma porcaria nas mãos do diretor de Independence Day, Godzilla e O Dia Depois de Amanhã. Esse é o pior filme de sua carreira. E olha que Godzilla é grotesco.

A história é o samba do crioulo doido: começa numa tribo de caçadores de mamutes, que é surpreendida pela chegada de Evolet, uma menina de olhos azuis. Ela cresce e vira a linda Camilla Belle, atriz filha de mãe brasileira. A Yoda da vila conhecida como Mãe Anciã sente que a garota é peça principal de uma profecia. O guerreiro D'Leh, o canastríssimo Steven Strait, tem o coração da moça, mas ela é raptada por uns nômades, que atravessam um deserto atrás de escravos para construirem pirâmides para um Deus gigante com unhas de Zé do Caixão. D'Leh vai ao fim do mundo para resgatar a amada e, no caminho, junta um exército que mais parece o elenco de Os Deuses Devem Estar Loucos. É mais ou menos isso. Quando você imagina que o filme não tem como piorar, Roland Emmerich surpreende com sua imensa criatividade. A coisa vai ladeira abaixo.

O erro já começa na criação de D'Leh, um herói confuso e atrapalhado. Em sua jornada, ele mata um mamute sem querer no melhor estilo Didi Mocó e faz amizade com um tigre dente-de-sabre - e ainda fala algo assim para o animal: "Vou te ajudar, então, vê se não me come". Maravilhoso, não? Além disso, perto do final, flagramos D'Leh lutando no meio de uma multidão com um sorriso largo estampado no rosto. Será que Emmerich não viu isso na sala de montagem? Ou 10.000 A.C. é mesmo comédia? Mas a cena que me fez rir sozinho no cinema foi aquela do velho cego que sai da terra para explicar a origem dos vilões do filme. Aproveito aqui para pedir desculpas ao público daquela sala pelas altas gargalhadas. É triste, no entanto, saber que Roland Emmerich leva seu trabalho a sério.

Eu não aprendo mesmo... Muitos me avisaram sobre a ruindade deste filme. Pelo menos, eu esperava algo divertido. Mas foi dose resistir até o fim. Dessa vez não deu. Até os efeitos visuais decepcionam - o tigre parece falso como uma nota de R$ 3,00. Imagine só que O Escorpião Rei, com o Sr. The Rock, consegue ser superior a isso. Vocês pensam que Stallone faz filmes ruins? Ou Van Damme? Não gosta de Transformers? Ponto de Vista? Então, tente encarar esse "épico" de Roland Emmerich.

Olha, vai ser muito difícil ver um filme pior do que 10.000 A.C. neste ano. Talvez nem em 10.000 anos. Mas agora, já estou vacinado. Pode vir qualquer coisa que eu agüento.

10.000 A.C. (10.000 B.C., 2008)
Direção: Roland Emmerich
Roteiro: Roland Emmerich e Harald Kloser
Elenco: Steven Strait, Camilla Belle, Cliff Curtis, Joel Virgel, Affif Ben Badra, Mo Zinal

quinta-feira, março 20, 2008

Nos bastidores da máfia


Máfia + Michael Mann + Johnny Depp + Christian Bale = Filmaço. Só pode ser o resultado dessa equação. O diretor Michael Mann, de Fogo Contra Fogo, O Informante e Colateral, está filmando Public Enemies, adaptação do livro de Brian Burrough sobre o início das ações do FBI na década de 1930.

Johnny Depp é o mafioso John Dillinger e Christian Bale é o agente Melvis Purvis, que caça o bandidão. As primeiras imagens dos bastidores foram divulgadas. Aqui, temos duas com Depp e Mann em ação.



Public Enemies tem um elenco formado por Johnny Depp, Christian Bale, Marion Cotillard, Giovanni Ribisi, Channing Tatum, Stephen Dorff, David Wenham, Stephen Graham e Jason Clarke. A data de estréia não está confirmada, mas o HOLLYWOODIANO torce para que seja ainda neste ano.

terça-feira, março 18, 2008

O cinemão de Anthony Minghella

O Paciente Inglês
(1996)

Não sou fã dos filmes do diretor britânico Anthony Minghella. Mas reconheço em suas produções alguns aspectos que procuro no cinema. A sensação de grandiosidade que um filme pode proporcionar na tela está entre as qualidades de Minghella. Sensação um tanto esquecida nos dias de hoje pela maioria dos novos diretores e até mesmo dos grandes estúdios, que cresceram às custas de produções imensas como E o Vento Levou.

Como poucos, Minghella sabia preencher a tela inteira com paisagens e cenários que podemos ver até onde os olhos alcançam. Posso estar enganado, mas Minghella devia ser fã incondicional do modo como seu conterrâneo Sir David Lean filmava.

Os heróis de Lean tinham conflitos internos tão grandes quanto os imensos planos que suas câmeras capturavam. Para mim, isso é épico. Na verdade, Lean não contava histórias de heróis, mas de anti-heróis. Foi assim em A Ponte do Rio Kwai, Lawrence da Arábia, Doutor Jivago, A Filha de Ryan e Passagem Para a Índia. Pelo menos em sua fase extravagante. Ele foi bem mais contido num período anterior a Kwai, quando fez o maravilhoso Desencanto e Grandes Esperanças. Se os anti-heróis de David Lean não foram tão românticos assim - nem mesmo Jivago -, seus filmes foram apresentados de forma extremamente romântica. Apesar de não ter sido tão genial quanto o mestre, Anthony Minghella foi um bom (e genuíno) representante do estilo de Lean nos últimos tempos.

O Talentoso Ripley
(1999)

Outro aspecto que me agrada nos filmes de Minghella é o incessante uso da trilha sonora. E não qualquer música. E não por serem composições de Gabriel Yared necessariamente. Mas porque Yared criou trilhas maiores que a vida - daquelas que funcionam sem o filme. Enfim, algo cada vez mais raro no cinema atual. Para citar um último aspecto, mas não menos importante: as fotografias nos filmes de Minghella como cortesias de John Seale.

O Paciente Inglês
apresentou o diretor ao mundo, embora não fosse o seu primeiro trabalho atrás das câmeras. É um épico sobre um homem individualista, egoísta e antipático, que se apaixona por uma mulher casada na época da Segunda Guerra Mundial. No entanto, o anti-herói de Ralph Fiennes, como Peter O' Toole em Lawrence da Arábia, ama o deserto. O filme parece cuidadosamente retirado do livro (antes considerado como "infilmável") de Michael Ondaatje. Talvez, por isso, que O Paciente Inglês seja visto por muitos como um filme "chato" ou arrastado. A verdade é que Minghella conseguiu seduzir mais pelas imagens e a beleza trágica da música de Gabriel Yared do que pelo conteúdo. No fim, ganhou nove Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.

Cold Mountain
(2003)

Logo depois, Minghella fez O Talentoso Ripley, uma releitura do livro de Patricia Highsmith. Aqui, o diretor confessou ainda mais seu bom gosto para música. O jazz tomou conta dessa trama sobre inveja e ciúmes nos improvisos do canalha Tom Ripley (Matt Damon). Minghella revelou Jude Law, que roubou praticamente todas as cenas. Depois deste filme, Law virou o ator preferido do diretor. Com cinco indicações ao Oscar, O Talentoso Ripley é visualmente irretocável e exercitou o lado sombrio de Minghella, que se arriscou pelo suspense verdadeiro. O filme tem uma cena estupenda, que sucede ao assassinato do personagem de Philip Seymour Hoffman: Tom Ripley vê seu reflexo no piano separar duas personalidades.

Alguns disseram que o diretor se inspirou em Hitchcock, mas não sei bem se foi isso, afinal o próprio Hitch adaptou outro livro de Patricia Highsmith: Pacto Sinistro. Ou seja, Minghella foi Patricia Highsmith e não Hitchcock.

Cold Mountain talvez seja o filme mais romântico de Minghella. Desta vez, ele não ficou nem um pouco contido. Jude Law é uma espécie de Ulisses nesta moderna versão de A Odisséia. Law abandona o horror da Guerra Civil americana para retornar aos braços da amada Nicole Kidman, que ainda não estava carregada de botóx ou algo assim. O filme é muito bonito, mas escorrega num final forçado demais. Foram sete indicações ao Oscar e Renée Zellweger ganhou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante.

Anthony Minghella também produziu filmes premiados como Conduta de Risco ao lado do amigo cineasta Sydney Pollack. Minghella podia não ser um diretor perfeito, pois sempre se deixou levar pela beleza visual de seus próprios filmes. Mas ele estudava um cinema envolvente e sedutor pela imagens, que é um esforço digno. Acredito que sua obra mereça uma revisão. Ainda mais por causa desse cineminha atual, que está cada vez mais feio, sujo e econômico. Nem mesmo os grandes filmes de hoje são tão bons quanto os grandes filmes do passado.

Pelo cinema que queria contar, Minghella fará falta. Meu favorito dele é O Talentoso Ripley. E o seu?

Morre Anthony Minghella


O diretor inglês Anthony Minghella morreu aos 54 anos. De acordo com a Reuters, o cineasta sofreu hemorragia cerebral após uma cirurgia. Minghella dirigiu filmes importantes nos últimos 12 anos. Ganhou o Oscar pelo épico romântico O Paciente Inglês, em 1997, e ainda assinou O Talentoso Ripley e Cold Mountain. Embora não fosse David Lean, Minghella parecia seguir os passos do mestre de Lawrence da Arábia e Doutor Jivago como cineasta. Mas falamos mais sobre isso depois. Por enquanto, sem palavras.

segunda-feira, março 17, 2008

Ponto de Vista


Em Rashômon, o grande Akira Kurosawa testou uma nova narrativa. A trama girava em torno de um crime, que era narrado de acordo com a visão de cada personagem. Não sei se houve algo assim antes de Rashômon, mas certamente, Kurosawa fez a crítica reparar nisso. O artifício foi estudado e utilizado por outros diretores nos anos seguintes, mas jamais superou a preferência do público pela narrativa linear. É partindo deste princípio que eu acho que Ponto de Vista (Vantage Point, 2008) deve ser analisado.

Numa época de refilmagens e roteiros pobres, Hollywood enfrenta cada vez mais a concorrência criativa das séries de TV. Para não ver o bonde passar, os estúdios sabem que é preciso mudar alguma coisa. É mais ou menos o que aconteceu nos anos 1990 com a revolução de Quentin Tarantino, que popularizou o conceito de narrativa fragmentada com Cães de Aluguel e, principalmente, Pulp Fiction. E acho que estamos diante de mais um teste do uso da narrativa: o ponto de vista único.

Está certo que, na década passada, tivemos Timecode, de Mike Figgis, e A Bruxa de Blair, mas ninguém deu a mínima para o estilo. Já no início de 2008, vimos Cloverfield, que apresenta somente o conteúdo de uma câmera digital, e este Ponto de Vista, a estréia no cinema do diretor de TV Pete Travis.

Desta vez, no entanto, o diretor (ao lado do roteirista Barry Levy) oferece não um, mas diversos pontos de vista de uma mesma história sobre um atentado ao presidente americano na Espanha. Só que acompanhamos um de cada vez. Começa com a jornalista Rex Brooks (Sigourney Weaver). Assim como em Cloverfield, ela vê somente o que as câmeras de seu canal de TV registram. O tempo volta e a ação corta para o personagem de Dennis Quaid, o veterano guarda-costas Thomas Barnes. Agora, o leque é maior e a estrutura Cloverfield fica para trás.

Com pinta de Clint Eastwood, em Na Linha de Fogo, o agente retorna para proteger o presidente pela primeira vez após ter levado um tiro no cumprimento do dever. De Barnes em diante, passamos por visões de outras testemunhas, incluindo um turista (Forest Whitaker) e o próprio presidente (William Hurt) antes de ser alvejado.

Tornou-se um hábito maligno essa idéia de criar reviravoltas no roteiro a cada 15 ou 20 minutos para surpreender o público. Felizmente, Ponto de Vista torna as reviravoltas convincentes, porque nada muda. Nós apenas "consultamos" outras testemunhas para juntar as peças do quebra-cabeça.

Sei que tem gente reclamando que Ponto de Vista repete a mesma seqüência várias vezes, mas essa é a proposta do filme. Outra reclamação recorrente é o desperdício de bons atores em cenas curtas. Mas também não vejo problemas, afinal um filme de ação também pode ter um elenco grandioso. E acho que Forest Whitaker, Sigourney Weaver, Dennis Quaid, Matthew Fox e William Hurt sabiam onde estavam se metendo e suas atuações contribuem para o resultado que o filme tenta alcançar - Ponto de Vista é uma experiência na tentativa de explorar e, principalmente, popularizar outras formas de narrativa.

Apesar de engenhoso, o filme não é perfeito, afinal o resultado seria outro com uma narrativa linear. Para explicar com um exemplo direto: Pulp Fiction ainda seria muito bom com uma estrutura de roteiro convencional. Mas esse não é o único problema de Ponto de Vista. O filme prende você na cadeira e engata a quinta marcha. É possível acreditar em tudo, menos no final com suas coincidências absurdas. Ou seja, a criatividade de Ponto de Vista não está exatamente na trama, mas na empolgante edição de Stuart Baird, que comprova a importância do recente trabalho de Christopher Rouse, em A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne, para a montagem do cinema de ação.

Esses detalhes mostram que o estilo Rashômon ainda está em fase de testes em Hollywood. Os roteiristas e diretores que trabalham na proposta ainda não encontraram o seu Pulp Fiction. Mas são pequenos deslizes para um filme que cumpre o que promete. Ponto de Vista não é genial ou inesquecível. É uma divertida sessão com pipoca e refrigerante.

Ponto de Vista (Vantage Point, 2008)
Direção: Pete Travis
Roteiro: Barry Levy
Elenco: Dennis Quaid, Matthew Fox, Forest Whitaker, Sigourney Weaver, William Hurt, Edgar Ramirez e Ayelet Zurer

domingo, março 16, 2008

A Testemunha


Os protagonistas dos filmes do diretor australiano Peter Weir são "estranhos no ninho". São homens com cultura e ideais diferentes do restante da sociedade em questão. Dentro ou fora de seus próprios mundos, eles sempre influenciam a rotina das pessoas ao redor. No caso de A Testemunha (Witness, 1985), o policial americano John Book (Harrison Ford) até aprende com os Amish, mas o que Peter Weir quer mostrar é como o homem da cidade influencia negativamente o dia-a-dia de um povo humilde e pacífico. Ainda mais na figura de um policial, que entende como a violência é parte de sua vida.

Como Weir começa seu filme avisando que estamos no ano de 1984, A Testemunha jamais ficará datado. Por meio de lindas imagens captadas pela fotografia de John Seale, vencedor do Oscar por O Paciente Inglês, e a trilha de Maurice Jarre, somos apresentados aos Amish, que se dirigem para um velório.

Não sou o único que não tinha ouvido falar em Amish antes de A Testemunha. Uma das maiores comunidades fica na Pensilvânia, onde o filme tem início. Os Amish formam um grupo religioso conservador, que não utiliza carros, telefones, eletrodomésticos e recusam as facilidades da sociedade moderna. É um lugar incomum que já tornaria o filme obrigatório.

Conhecemos este mundo único pela personagem Rachel Lapp (Kelly McGillis), que acabou de perder o marido. Junto do filho de oito anos, Samuel (Lukas Haas), ela viaja rumo a Baltimore para visitar a irmã. Mas antes disso, ela precisa pegar um trem na estação da Filadélfia. Lá, Samuel vai ao banheiro e testemunha um assassinato. O menino será protegido pelo policial John Book (Harrison Ford), mas uma série de complicações nas investigações do caso leva o trio de volta a comunidade Amish, que funcionará como um esconderijo para despistar os assassinos. Mas engana-se quem pensa que A Testemunha é somente um thriller. O verdadeiro filme que Peter Weir quis fazer, começa neste exato momento.

O roteiro de Earl W. Wallace e William Kelley é um dos melhores da década de 1980. A Testemunha pode ser visto como um thriller policial, um drama sobre os Amish e o inevitável choque cultural, e também como uma história de amor proibido. Outra forma de ver o filme, como eu o vejo, é juntar todos esses conflitos como partes essenciais de uma experiência única.

Quando revejo A Testemunha fico triste comigo e com o mundo em que vivemos. A evolução natural de nossa espécie alimentou uma competição generalizada entre as pessoas, que também me atinge, claro. Hoje, precisamos tomar cuidado com o que dizemos ou com o que fazemos para não causar uma reação negativa ou até violenta ao próximo. O ser humano mata um semelhante por muito pouco. Nós nos destruimos no dia-a-dia sem razão alguma. Fazemos mal a qualquer um e nem é necessário conhecer esta pessoa para destratá-la por simplesmente nada. Os exemplos são infinitos: cortamos outros carros no trânsito, reclamamos de um garçom, e desmerecemos alguém que se veste de forma estranha ou humilde aos nossos olhos. Enfim, cultivamos sentimentos horrorosos como o ódio, a inveja e o ciúme diariamente. E nunca paramos para pensar nisso.

Em A Testemunha, mesmo sem querer, John Book insere tais sentimentos na rotina dos Amish, pessoas que ainda oferecem a outra face. Uma sociedade pura se torna impura, preconceituosa com uma curta e simples convivência com um homem da cidade grande. Não que eu pense que os Amish têm o modo de vida ideal ou que sejam pessoas perfeitas. Acho que o ser humano tem esses sentimentos guardados em algum lugar, mas é preciso viver num mundo competitivo e desigual para colocar a raiva e a violência para fora.

John Book e Rachel Lapp estão apaixonados um pelo outro, mas não podem assumir isso. A própria Rachel tem um pretendente na comunidade, Daniel Hochleitner (Alexander Godunov), que tenta esconder o ciúme que toma conta de seu coração. A cena em que Book ajuda os Amish a construir um celeiro é magistral para celebrar o espírito do filme e a "competição" entre Book e Hochleitner. Mesmo assim, no calor do trabalho, o Amish dá a sua própria limonada para Book, que agradece. A cena inteira é a minha favorita do filme e me diz que a humanidade poderia ser perfeita e conviver em paz. Mas a verdade é que estragamos tudo. A cena não tem diálogos e essa ausência é substituída pela intensa trilha sonora do francês Maurice Jarre em uma das mais bonitas composições dos últimos 20 anos. Ao lado de John Williams e Ennio Morricone, Jarre é um dos maiores em seu ofício. David Lean sabia disso.

Essa cena demonstra outro ponto importante nos filmes de Peter Weir. Além de "estranhos no ninho", seus protagonistas lutam por um mundo melhor e suas armas são atitudes morais, gestos e palavras. Essa cena representa a celebração da vida, algo marcante na obra deste autor pouco lembrado.

Peter Weir é um ótimo cineasta, mas seu nome dificilmente é reconhecido ou colocado entre os grandes. É um diretor que filma pouco, talvez porque procure por roteiros que demonstrem temas que o levem a contar a mesma história em diferentes épocas ou situações. Weir foi indicado quatro vezes ao Oscar de Melhor Diretor, por A Testemunha, Sociedade dos Poetas Mortos, O Show de Truman e Mestre dos Mares, e ainda assinou outros belos trabalhos como Gallipoli, O Ano que Vivemos em Perigo, Green Card e Sem Medo de Viver.

Muitos discordam, mas A Testemunha é o seu melhor filme. Harrison Ford tem uma de suas atuações mais emocionantes e recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator por isso. O filme teve outras sete indicações, mas levou apenas as estatuetas de Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. A Testemunha é uma prova de que um filme não precisa necessariamente de um Oscar para viver eternamente.

A Testemunha
(Witness, 1985)
Direção: Peter Weir
Roteiro: Earl W. Wallace e William Kelley
Elenco: Harrison Ford, Kelly McGillis, Lukas Haas, Josef Sommer, Danny Glover, Jan Rubes, Alexander Godunov, Brent Jennings e Viggo Mortensen

sexta-feira, março 14, 2008

Barton Fink - Delírios de Hollywood


Entre os grandes diretores, os Irmãos Coen são os sujeitos mais pirados que já contribuiram para a evolução (ou a manutenção) da qualidade do bom cinema. Apaixonados pela definição e exploração da arte, Joel e Ethan Coen devem adorar todos os gêneros, mas a percepção geral aponta que eles preferem policiais (de preferência o noir) e westerns. Mestres do humor negro utilizado com extrema inteligência e gosto refinado, apesar da impressionante violência presente em seus melhores trabalhos, os Coen fizeram Barton Fink - Delírios de Hollywood (Barton Fink, 1991) após Gosto de Sangue, Arizona Nunca Mais e Ajuste Final. São grandes filmes, mas Barton Fink é a síntese de todos eles. Ou a prova definitiva de seus talentos depois de alguns belos períodos de estudos.

Como em todos os filmes dos Coen, Barton Fink tem montagem e visual arrebatadores e desafiadores. São cortesias dos próprios irmãos, que além de responsáveis por roteiro, produção e direção, eles também editam o filme. E Barton Fink representa a primeira parceria da dupla com o diretor de fotografia Roger Deakins, um gênio por trás das lentes, que leva brilho à escuridão.

Mas o que ficou desta obra-prima foi a infinidade de perguntas levantadas pelo roteiro, que é desenvolvido de forma perfeita e original. É como se os Coen planejassem surpreender a platéia a cada 10 minutos. Ou algo assim. Os fãs do filme adoram discutir sobre a natureza da saga de Barton Fink (John Turturro no papel de sua vida), um intelectual autor de teatro em Nova York. Sua última peça rendeu aplausos do público e elogios da crítica. O ano é 1941. Com toda a boa repercussão de sua obra, Fink logo chama a atenção de Hollywood, que lhe faz uma proposta irrecusável em troca de um roteiro perfeito para um filme sobre luta livre estrelado pelo ator Wallace Beery.

Já em Los Angeles, Fink se hospeda no estranho Hotel Earle. Lá, ele tem a companhia do adorável vizinho Charlie Meadows (John Goodman, que está excelente). Até entregar o roteiro ao estúdio, Fink enfrentará um bloqueio criativo e situações aparentemente inexplicáveis dignas de um filme de Hollywood.

A virada alucinante acontece após uma noite de amor entre Fink e Audrey (Judy Davis), a secretária e amante de um de seus maiores ídolos: o também escritor W.P. Mayhew (John Mahoney). Deste momento em diante, o filme se torna cada vez mais surreal e sombrio - exatamente após uma hora de duração é que começa a verdadeira discussão em torno de Barton Fink.

Gosto de pensar que Fink está preso no purgatório que é Hollywood, um lugar entre o Céu e o Inferno. Para entrar de vez no Inferno, representado pelo hotel com seus longos corredores e quartos abafados, ele precisa agradar Jack Lipnick (Michael Lerner, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), o chefão da Capitol Pictures, que lhe encomendou o roteiro. Sua saída para o Céu talvez seja a representação "real" do quadro em seu quarto de hotel: uma bela garota de biquini sentada na areia olhando para o horizonte. Qual será a escolha de Fink? O mergulho da gaivota na cena final me diz exatamente o que ele deseja.

Mas Barton Fink também pode ser uma curiosa coincidência de acontecimentos no caminho do protagonista. A loucura de Hollywood - dos interiores de estúdios passando pelas festas badaladas às pressões administradas pelos assalariados dos grandes executivos - atinge até mesmo quem não está diretamente ligado a produção de filmes. É uma histeria coletiva que afeta a mente de todos. Ou seja, a narrativa de Barton Fink pode ser algo bem simples.

O que importa é o fato de Barton Fink gerar diversas interpretações até os dias de hoje. Isso comprova que o filme é uma obra a frente de seu tempo. No entanto, essa viagem não deve ser comparada (como muitos gostam de fazer) ao cinema de David Lynch, um outro crítico da indústria que imagina seus filmes como verdadeiros sonhos. Para Lynch, um filme não precisa ser compreendido, mas sentido. Se Barton Fink flerta com algo parecido, isso não é influência de Lynch. Não quando estamos falando de dois autores fanáticos por um cinema que veio antes do vocabulário lynchiano.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, além dos prêmios de Melhor Direção e Melhor Ator (John Turturro), Barton Fink pode ser nada mais que uma irônica visão dos Coen sobre a vida difícil de mentes criativas dominadas pela tirania de Hollywood. De repente, o filme inteiro é uma metáfora para a situação de Fink: ao assinar contrato com a Capitol, o pobre roteirista estaria vendendo sua alma para talvez jamais deixar esse "inferno".

Recentemente, Joel e Ethan Coen ganharam os Oscars de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado, por uma obra menor (Onde os Fracos Não têm Vez). Quando subiram ao palco para um dos discursos de agradecimento, os Coen fizeram caras de poucos amigos. Avessos a Hollywood, eles mesmos sabem que é impossível manter uma longa carreira (e genial, no caso deles) sem ceder algumas vezes ao "lado do mal". Naquele momento, com Oscars nas mãos e nenhum sorriso para comemorar, acho que eles foram diagnosticados com a "síndrome de Barton Fink".

Barton Fink - Delírios de Hollywood (Barton Fink, 1991)
Direção: Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen
Elenco: John Turturro, John Goodman, Judy Davis, Michael Lerner, John Mahoney, Tony Shalhoub, Jon Polito e Steve Buscemi

quinta-feira, março 13, 2008

Harry Potter VII - Partes I e II

Hollywood não quer se livrar tão fácil de uma de suas maiores franquias. A adaptação para o cinema de Harry Potter e as Relíquias da Morte, o último volume da série de sete livros de J.K. Rowling, será dividida em duas produções.

Com um intervalo de seis meses entre o lançamento dos dois filmes, Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I estréia em novembro de 2010, enquanto Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte II chega em maio de 2011. Nem sei ainda se os nomes serão esses.

A desculpa divulgada é a seguinte: o livro é muito grande para render apenas um filme. Mas a Warner pensou em fazer o mesmo com o quarto da série (Harry Potter e o Cálice de Fogo) e acabou produzindo um único filme.

Na verdade, penso que o motivo é o que escrevi na abertura deste texto. É muita grana para abandonar Harry de uma vez por todas. Quanto mais dinheiro melhor. Assim, a franquia pode disputar as bilheterias com outra adaptação de peso que será lançada na mesma época: O Hobbit.

Parece que Harry Potter e as Relíquias da Morte será mesmo dirigido por David Yates, que fez A Ordem da Fênix e comanda atualmente as filmagens de O Enigma do Príncipe. Tomara que ele aprenda a ser um bom diretor até 2011.

Eu que não li os livros de Harry, estou ansioso pelo final da história. Quero saber o que vai acontecer. Mas, então, quer dizer que preciso aguentar até 2011? Sei que os religiosos fãs não se incomodariam em esperar mais seis meses pela conclusão cinematográfica da história de Rowling. E provavelmente, eles não compreendem esse meu manifesto. Mas isso já é demais. Que os envolvidos na série se virem para adaptar 10.000 páginas. Cinema é outra linguagem. Sem falar que é o meu rico dinheirinho que está em jogo. São mais dois filmes e mais dois DVDs. Ou Blu-Ray. Whatever.

Particularmente, eu não gosto da idéia. Nem mesmo do que estão pretendendo para O Hobbit. Imagine só como seriam algumas produções consagradas com mais de três horas de duração divididas em duas partes: E o Vento Levou I (1939) e E o Vento Levou II (1940). Qual dois dois ganharia o Oscar? E posso continuar até a amanhã: Ben-Hur I (1959) e Ben-Hur II (1960), Titanic I (1997) e Titanic II (1998) - neste caso, Shakespeare Apaixonado teria perdido o Oscar com certeza.

Considerando exemplos como Harry Potter e as Relíquias da Morte, que é o último de uma série: O Poderoso Chefão III - Parte I (1990) e O Poderoso Chefão III - Parte II (1991), assim como O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei I e II, em 2003 e 2004.

Pois julguem vocês mesmos as situações do sétimo Harry Potter e O Hobbit: dinheiro ou necessidade artística?

quarta-feira, março 12, 2008

Hulk esmaga em seu primeiro trailer


O primeiro trailer de O Incrível Hulk já está no ar. Apaixonado pelo personagem criado por Stan Lee e Jack Kirby, o respeitado ator Edward Norton escreveu e protagonizou a nova aventura do Gigante Esmeralda.

Mas trata-se de uma reinvenção do Hulk para o cinema. É como se o filme dirigido por Ang Lee e estrelado por Eric Bana não existisse. Se o novo longa for superior, já está de bom tamanho.

O Incrível Hulk tem Edward Norton, Liv Tyler, Tim Roth e William Hurt no elenco. A direção é de Louis Leterrier, de Carga Explosiva, e a estréia está prevista para 13 de junho. Veja o trailer abaixo:


Filme de medo


Algumas meninas gostam de dizer que querem ver um filme de amor (entenda romance ou comédia romântica) ou um filme de medo (terror ou suspense). Enfim, há tempos que Hollywood não acerta na segunda opção. Infelizmente, os estúdios preferem explorar as sensações provocadas pelos gêneros e não seus raciocínios. Outro dia, eu fui obrigado a procurar o DVD de Suspiria, de Dario Argento, para relembrar como é que se faz.

Nesta década, o terror está em baixa - tirando Abismo do Medo e 30 Dias de Noite. Suspense? Não me lembro de um decente nos últimos anos. Mas será que há uma luz no fim do túnel?

Eis que surgem dois trailers de The Strangers, filme de Bryan Bertino com estréia prevista para julho. É sobre um casal (Scott Speedman e a Dra. Liv Tyler) atacado em sua própria residência por três mascarados. Não sei se é uma espécie de filhote de Funny Games, de Michael Haneke, ou se é um remake de Ils, co-produção entre França e Romênia, que nunca chega aqui no Brasil.

Ou então, a idéia para a abertura de Pânico (com Drew Barrymore perseguida por um maníaco) rendeu um filme, afinal é só o que presta nos três exemplares da série de Wes Craven. Só sei que os trailers de The Strangers são aterrorizantes. Tire a prova dos nove no fim deste post.


A outra promessa do ano é The Ruins, adaptação do livro homônimo de Scott B. Smith. Com direção de Carter Smith, o filme acompanha um grupo de amigos investigando uma escavação num antigo templo maia. O livro é cultuado, mas a prévia não é tão assustadora quanto as duas de The Strangers. Veja abaixo:

The Strangers - Trailer 1
The Strangers - Trailer 2
The Ruins - Trailer 1

O Morcego é imbatível

Com todo o respeito ao Homem de Ferro e ao Incrível Hulk, mas Batman é o melhor. Sempre foi. Entre os super-heróis de 2008 nos cinemas, o Homem-Morcego é o mais esperado pela maioria.

Se os filmes de Tim Burton são melhores ou não, pelo menos, Christopher Nolan fez um belíssimo trabalho ao reinventar o herói criado por Bob Kane, em Batman Begins (2005). Acho que Burton é um diretor mais talentoso, mas ele não conseguiu a carta branca do estúdio naquela época, que Nolan tem hoje para tocar os filmes como bem entender.

Em Batman Begins,
Christian Bale esteve ótimo no papel principal e os fãs tiveram a certeza de que uma série decente sobre o personagem ganhava ali o seu ponto de partida.

E preciso dizer isso: ninguém comenta a fantástica trilha de James Newton Howard e Hans Zimmer. É tão boa quanto aquela de 1989 feita por Danny "Oingo Boingo" Elfman.


Agora, os olhos estão voltados para Batman - O Cavaleiro das Trevas. Se o primeiro não trouxe um vilão clássico do Homem-Morcego (o Espantalho não vale, vai), o novo filme tem o Coringa. Como todos sabem, Jack Nicholson foi um Coringa sensacional na produção original de 1989. Desta vez, Heath Ledger assume a pele e a alma do Palhaço do Crime. Se no filme de Burton, o Coringa roubou todas as cenas do insosso Batman de Michael Keaton, a Warner direcionou o marketing agressivo de O Cavaleiro das Trevas em cima de um Heath Ledger possuído pelo personagem.

O irônico nisso tudo é que Heath Ledger morreu em janeiro deste ano. Há poucos meses da estréia, a campanha da Warner precisou mudar. Até o dia 18 de julho, quando o filme chega aos cinemas de todo o mundo, as artes promocionais destacarão o Homem-Morcego e o ator Aaron Eckhart como o político Harvey Dent - quem é fã, sabe que ele se tornará o vilão Duas Caras. A ordem é parar com as imagens insanas do Coringa de Ledger.

Pelo trailer, parece que Heath Ledger tentou se aproximar do Coringa dos quadrinhos, que é um assassino psicopata bem diferente daquele caracterizado por Jack Nicholson no filme de Tim Burton. Sua dedicação chegou ao ponto do colega de cena Michael Caine, que faz o Mordomo Alfred, revelar que a energia de Ledger nas filmagens deixava o jovem ator esgotado. Apesar dos detalhes que se cruzam nos trabalhos de Burton e Nolan, acho que o melhor jeito para embarcar na nova produção é não fazer comparações.

Até que Batman - O Cavaleiro das Trevas poderia homenagear Heath Ledger nos créditos, afinal como ficam aqueles que não curtem quadrinhos e o próprio Batman? E quanto aos fãs ainda tristes pela morte do ator? Convenhamos: será muito estranho ver Ledger como um bandidão louco nessa altura do campeonato.

Por esses motivos, talvez o filme não seja a maior bilheteria do ano (ou não represente uma ameaça para a coroa de Titanic). Mas estamos esquecendo de algo muito importante nesse projeto: o Homem-Morcego é uma figura pop consolidada e os fãs assistirão ao filme independentemente da tragédia ocorrida em janeiro. A presença nos cinemas de milhares de batmaníacos está mais do que garantida. E acredite: eles são muitos e isso seria o suficiente para a Warner aprovar um terceiro longa. Portanto, não duvidem do potencial do Morcego.

terça-feira, março 11, 2008

Frases marcantes do ano passado

De acordo com a instituição americana Global Language Monitor, que analisa as influências na língua inglesa, a frase "Call it, Friendo", dita por Javier Bardem, em Onde os Fracos Não Têm Vez, foi a melhor e mais popular do cinema em 2007. Abaixo, acompanhe o Top 10 da Global Language Monitor:


Call it, Friendo!
Anton Chigurh (Javier Bardem)
Onde os Fracos Não Têm Vez

I drink your milkshake!
Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis)
Sangue Negro

Do vocabulário Juno-verse:
Doodle that can't be undid.
Silencio!
Shoulda gone to China , because I hear they give away babies like free iPods.
Juno MacGuff (Ellen Page)
Juno


Madness? THIS... IS... SPARTA!
Rei Leônidas (Gerard Butler)
300



I’m not the guy you kill; I’m the guy you buy off.
Michael Clayton (George Clooney)
Conduta de Risco


I think I am beginning to disappear.
Fiona Anderson (Julie Christie)
Longe Dela


Either you're somebody, or you ain't nobody.
Frank Lucas (Denzel Washington)
O Gângster



Squeezin' that watch won't stop time.
Ben Wade (Russell Crowe)
Os Indomáveis



Sometimes birth and death go together.
Anna (Naomi Watts)
Senhores do Crime




I always believed it was the things
you don't choose that makes you who you are.

Patrick Kenzie (Casey Affleck)
Medo da Verdade

segunda-feira, março 10, 2008

Jogos do Poder


No final dos anos 80, o congressista americano Charlie Wilson (Tom Hanks) se envolveu nos bastidores do conflito entre a ex-URSS e o Afeganistão. Se Ronald Reagan ganhou o crédito pela ajuda aos rebeldes afegãos, que levou a Guerra Fria ao fim, o filme Jogos do Poder (Charlie Wilson's War, 2007), de Mike Nichols, baseado no livro do jornalista George Crile, mostra que o político interpretado por Tom Hanks é quem merecia as homenagens. Ou as pedradas - todo mundo sabe que o plano de envio de armas ao povo afegão resultou em eventos e criaturas como o 11 de Setembro, Osama bin Laden e George W. Bush.

Mike Nichols é diretor de filmes de primeira linha como Closer, A Primeira Noite de um Homem, Uma Secretária de Futuro, Quem tem Medo de Virginia Woolf? e Lembranças de Hollywood. Todos esses filmes são movidos por roteiros fortíssimos em diálogos rápidos no gatilho. Não é diferente em Jogos do Poder, escrito pelo talentoso Aaron Sorkin, escolado no behind the scenes da política americana por causa de sua principal criação: a série The West Wing.


Mas quem leu sobre a trama de Jogos do Poder antes de ir ao cinema, não terá surpresas, mesmo que o diretor carregue na ironia, afinal já sabemos que o barco irá naufragar no final. Mas tirando o público americano, que pode ficar incomodado, ou satisfeito com a comédia de erros de sua política, o restante da platéia mundial assiste a Jogos do Poder passivamente. Ou será que alguém abraçou os esforços de Charlie Wilson? Alguém ficou comovido? Ou se divertiu? Bom, eu não.

Podemos salvar desse embrólio, o elenco extraordinário. São os atores que valem o ingresso e transformam a saga de Charlie Wilson numa versão política de Ocean's Eleven - ainda que eles se divirtam bem mais do que a platéia (como no filme com George Clooney e Brad Pitt). Tem até o sumido veterano Ned Beatty. Em Jogos do Poder, Tom Hanks e Julia Roberts são ótimos, claro. São atores que valem a pena uma ida ao cinema. Mas eles não tentam fazer com que seus personagens marquem suas carreiras.

O oposto acontece com Philip Seymour Hoffman, como um estressado agente da CIA ajudando o congressista em sua empreitada. Ele rouba o show. Cada cena com esse talentoso ator lembra o bom cinema que procuramos todas as vezes que pagamos para ver um filme numa sala escura. Seu ritmo é tão intenso e agressivo, que nossa memória vai lá atrás nos anos 1970 para resgatar momentos de ouro de nomes como Robert De Niro e Al Pacino. Merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (e bem mais impressionante do que o vencedor da estatueta Javier Bardem, por Onde os Fracos Não Têm Vez), Philip Seymour Hoffman é o grande espetáculo oferecido por Jogos do Poder.

Enquanto Mike Nichols, Aaron Sorkin, Tom Hanks e Julia Roberts demonstram que estão participando de um projeto muito importante como americanos, Hoffman prova que está ali para fazer cinema de verdade. E é uma pena que Jogos do Poder não esteja no compasso deste ator magnífico.

Por pouco, o filme não se perde no festival de efeitos visuais personificado pelas belas assistentes que acompanham Charlie Wilson, que incluem Amy Adams, Shiri Appleby e Rachel Nichols. E o que é Emily Blunt? Com todo o respeito, mas eu não sabia que a garota tinha esse talento.

Jogos do Poder (Charlie Wilson's War, 2007)
Direção: Mike Nichols
Roteiro: Aaron Sorkin (Inspirado no livro de George Crile)
Elenco: Tom Hanks, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Shiri Appleby, Rachel Nichols, Ned Beatty, Emily Blunt e Jud Tylor