quarta-feira, outubro 29, 2008

You talkin' to me?



Joaquin Phoenix desistindo do cinema para se dedicar à música? Dizem que é ele mesmo no vídeo acima, embora pareça um hobbit doidão saindo do Festival Planeta Terra (ou um jovem Joe Cocker). Bom, mas é o que diz o astro de Johnny & June, Gladiador, Os Donos da Noite e do inédito Two Lovers.

Um dos poucos grandes atores jovens do cinema pensando em abandonar os filmes... Isso é uma bomba! Não posso acreditar nisso. Tomara que ele volte atrás.

terça-feira, outubro 28, 2008

Queime Depois de Ler

32ª Mostra Internacional de Cinema


Demorou um pouco, mas eu não levo mais o cinema dos Irmãos Coen a sério. Deixe-me explicar melhor: Eles dominam a linguagem cinematográfica e são abastados intelectualmente, mas não chamo a filmografia dos Coen de "cinema sério". Também não sou da turma que considera Onde os Fracos Não Têm Vez, Fargo e Gosto de Sangue como trabalhos maduros dos irmãos cineastas mais loucos da História. Para mim, os sensacionais Joel e Ethan Coen desafiam o público que se acha esperto acima da média com um humor negro inteligente, irônico, imprevisível. E pelo jeito desencanado de Joel e Ethan no último Oscar, e por Queime Depois de Ler (Burn After Reading, 2008), o filme seguinte da dupla ao prêmio da Academia, eles querem mesmo é rir da nossa cara.


Tem gente que não vê isso, mas os Coen também querem avacalhar o cinemão. As homenagens aos gêneros favoritos de Joel e Ethan jamais são deixadas de lado. Mas o importante na filmografia dos irmãos é mostrar que Hollywood e os próprios cinéfilos se levam a sério demais - como os filmes de espionagem, por exemplo, que são o alvo dos Coen em Queime Depois de Ler. Não sei se isso é bem uma sátira. Eles simplesmente não encaram o gênero sem dar risada.

Enfim, qual é o problema com filmes que não se levam a sério? Não vejo um sequer. Ainda mais quando o cinema em questão é feito com extrema inteligência e muita classe. E no caso de Queime Depois de Ler, a força do texto e a entrega do elenco fazem da comédia dos Coen um programão engraçadíssimo, obrigatório e de fácil aceitação. Só que muitos dirão: "Nossa, isso que é humor inteligente!" Bom, de fato é. Mas os Coen estão é tirando uma com a nossa cara. Você pode até encontrar paralelos com a paranóia norte-americana pós-11 de setembro e o conseqüente pessimismo generalizado, que viraram temas do atual cinema hollywoodiano. Só que o importante aqui é a diversão. Somos enganados o tempo todo pelos irmãos e adoramos isso.

Ao contrário do humor implícito na trama de Onde os Fracos Não Têm Vez, filme que consagrou Joel e Ethan em Hollywood, Queime Depois de Ler é muito escrachado, explícito, descarado. A risada rola solta do início ao fim com os mesmos absurdos que já vimos antes nos melhores filmes dos Coen. Por isso, alguns dirão que é um filme menor da dupla, afinal é uma comédia assumida e blá blá blá. Também não é pesado como Onde os Fracos Não Têm Vez, Fargo, Gosto de Sangue e blá blá blá. Mas eu já digo que é o mesmo tipo de filme de novo e de novo.

Comparando os dois últimos longas dos Coen, como Onde os Fracos Não Têm Vez, a trama de Queime Depois de Ler vai do nada a lugar nenhum. Tudo gira em torno de um grande mal-entendido protagonizado por pessoas estúpidas, que se empolgam com uma oportunidade que parece ter caído do céu para dar significado a suas vidinhas patéticas. E a ação envolve mais e mais personagens até descambar para uma conclusão sangrenta, onde ninguém aprende nada além do que já se sabia no início do filme. Ou seja, no fim, não quer dizer coisa alguma. Vai do nada a lugar nenhum. A principal diferença entre os dois filmes é: Queime Depois de Ler é assumidamente ridículo, o que deixa essa viagem muito mais divertida.

Se é para avacalhar com o mundo certinho e os valores de uma sociedade triste e hipócrita, eu prefiro os Coen palhaços de Queime Depois de Ler. É a melhor comédia da dupla desde O Grande Lebowski e, talvez, a mais engraçada do ano. Mais do que Trovão Tropical, de Ben Stiller. Mas os Coen advertem: Só os inteligentes conseguirão rir. Outros, desculpem-me, acharão tudo muito estúpido no pior sentido da palavra.

Agora, uma atenção especial ao elenco de Queime Depois de Ler, um dos mais afinados do ano. Todos estão bem a vontade e hilariantes - George Clooney, Tilda Swinton e John Malkovich. Mas destaco J.K. Simmons, Richard Jenkins, equilibrado no papel do sujeito mais "normal" do filme e, principalmente, Frances McDormand e Brad Pitt, que estão insanos. Pitt, aliás, talvez esteja no maior momento de sua carreira. Todas as suas cenas são de rachar o bico de tanto rir. E fique ligado na cena inesquecível de Queime Depois de Ler, que envolve Brad Pitt, George Clooney e um armário. Chorei de rir. É bobagem da grossa, mas também é a síntese do cinema dos Coen.

O recado é o seguinte: O cinema não tem a obrigação de ser sempre, mas também pode ser divertido. Para quem compreende esta mensagem (aliás, inserida no título do filme), Queime Depois de Ler é um dos melhores e mais empolgantes filmes de 2008.

Queime Depois de Ler (Burn After Reading, 2008)
Direção: Joel Coen e Ethan Coen
Roteiro: Joel Coen e Ethan Coen
Elenco: George Clooney, Frances McDormand, John Malkovich, Brad Pitt, Tilda Swinton, J.K. Simmons, Richard Jenkins, David Rasche e Olek Krupa

segunda-feira, outubro 27, 2008

Mais fotos de Anjos e Demônios

Tom Hanks e Ayelet Zurer fazem a foto clichê
dos heróis encarando algo assustador


Ewan McGregor caminha pelo Templo Jedi...
Ops! Filme errado.

Onde está Wally?


Vamos deixar esse paletó aqui fora para tirar o cheiro de mofo.



Anjos e Demônios
, a seqüência de O Código Da Vinci (pelo menos no cinema), estréia dia 15 de maio de 2009. Como no primeiro filme, Tom Hanks é o Professor Robert Langdon e Ron Howard dirige.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Obra-prima ou enganação?


Sinédoque, Nova Iorque
, de Charlie Kaufman, fala sobre um diretor de teatro em crise pessoal e profissional, que tenta fazer a peça perfeita. Certa hora, não sabemos mais o que é realidade e o que é ficção na tela. A arte se confunde com a vida e vice-versa. É a peça dentro da peça. O personagem interpretado por Philip Seymour Hoffman é o alter-ego de Kaufman. Só pode ser.



Oito e Meio, de Federico Fellini, fala sobre um diretor de cinema em crise pessoal e profissional, que tenta fazer seu próximo filme. Certa hora, não sabemos mais o que é realidade e o que é ficção na tela. A arte se confunde com a vida e vice-versa. É o filme dentro do filme. O personagem interpretado por Marcello Mastroianni é o alter-ego de Fellini. Só pode ser.

Bom, eu vi o filme de Charlie Kaufman na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Ainda estou pensando em Sinédoque, Nova Iorque. Estou vidrado no filme, mas me pergunto: Obra-Prima ou enganação? A comparação com Oito e Meio seria mera coincidência? Charlie Kaufman é tão original assim?

Prometo chegar a uma conclusão, mas sei que o cinema não começou em 1999 com Quero Ser John Malkovich.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Clint Eastwood venceria Muricy Ramalho numa luta

























Em 2006, o setentão mais jovem e macho de Hollywood, o "imperdoável" Clint Eastwood, nocauteou a concorrência ao dirigir dois filmes bacanas de guerra de uma só vez: A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima. Agora, o vovôzão está de volta com (novamente) dois filmes em apenas um ano. O cara não tem medo de nada. Se fosse técnico de time brasileiro, Clint seria mais carrancudo que Muricy Ramalho nas coletivas.

Primeiro, teremos Changeling, um misterioso drama com Angelina Jolie tentando descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu filho. Depois, é a vez de Gran Torino, com Clint voltando como ator e fazendo um velho preconceituoso e casca grossa, que se aproxima de seu vizinho asiático simplesmente por admirar o carro do cara, um Gran Torino 1972. Clint já avisou que seu personagem é "ofensivo e potencialmente controverso". Parece doentio, graças a Deus, e Clint sabe o que é melhor pra gente.

Meu amigo Fabio Barreto, do S.O.S. Hollywood viu Changeling nesta semana e vibrou com o resultado, inclusive achando muito justo ver o filme de Clint entre os finalistas do Oscar. Changeling estréia hoje nos cinemas norte-americanos.

Gran Torino chega aos EUA no dia de Natal, e há uma curiosidade com o nome do personagem de Clint. No filme, ele se chama Walt Kowalski. Como bem observou um amigo meu fanático por carros (que é a cara do Steve Carell), Kowalski é o nome do protagonista (interpretado por Barry Newman) de outro filme vidrado em carrões: Corrida Contra o Destino, de 1971. Só que a máquina era um Dodge Challenger 1970. A produção teve uma refilmagem para a TV, em 1997, com Viggo Mortensen como Kowalski. Enfim, trata-se apenas de uma coincidência nerd. Ou talvez uma homenagem de Clint.

O que importa é que em Clint Eastwood nós confiamos. É o diretor que jamais erra. E tenho dito.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Filmes Cinco Estrelas


Por Denis Torres Ferreira


Cidadão Kane
(Citizen Kane, 1941). Quem já não se cansou de ver este filme na lista dos melhores filmes de todos os tempos ou freqüentemente votado como “o melhor filme já feito”? Lógico que isso não existe. Saber se tal ou qual é melhor na esfera artística é tão subjetivo como perguntar se eu gosto de um prato de comida que você detesta. Agora, num ponto, todo mundo que é apaixonado por cinema concorda (ou pelo menos deveria): Cidadão Kane é um dos filmes mais importantes e influentes da história cinematográfica.

Kane já nasceu ambicioso desde sua concepção e somente um gênio shakesperiano como Orson Welles (em seu primeiro filme) poderia executá-lo com ousadia e sem medo de errar. Contar o que foi (e como foi) a vida de alguém desde o seu começo até o seu fim poderia ser uma tarefa chata e pouco prazerosa, tanto para quem faz como para quem assiste.

É lógico que Welles não era bobo nem nada e se aproximou dos melhores profissionais de seu tempo. Gente como o fotográfo Gregg Tolland, que filmou os tetos e usou o plano de fundo inserido no contexto da história como nunca antes feito; e Bernard Hermann, um dos maiores compositores de trilhas sonoras para o cinema e o preferido de Hitchcock, com quem viria a trabalhar em diversos filmes do mestre inglês. Temos também um excelente roteiro de Herman J. Mankiewickz, em parceria com Welles, e que até hoje é motivo de polêmica se a autoria de grande parte da história é sua ou não.

Enfim, tinha tudo para dar certo e deu. Além disso, Welles reuniu amigos de seu círculo teatral e muitos atores atuavam pela primeira vez na telona, o que contribuiu imensamente para as performances despojadas e divertidas do clássico - um filme com a ingrata missão de contar a história de um personagem real e poderoso não poderia ter muita gente com o rabo preso.

Este texto não pretende se ater às diversas polêmicas batidas do filme e vai direto ao ponto: Charles Foster Kane, o Cidadão Kane, foi baseado na figura do magnata William Randolph Hearst, dono de um império jornalístico imenso que controlava as opiniões das massas de forma quase ditatorial.
A única coisa engraçada e interessante a respeito de Hearst é que um dos motivos de ele ter se enfurecido, logo após a exibição do filme, foi o uso da palavra Rosebud, o grande mistério do clássico. No longa, vários jornalistas tentam descobrir o sentido dessa palavra proferida por Kane antes de morrer. Sendo assim, entrevistam todos aqueles que conheceram o magnata intimamente durante sua vida.

Agora adivinhe o porquê desse estardalhaço todo causado por Hearst? Rosebud (que em português significa "botão de rosa") era o modo carinhoso como Hearst chamava a parte íntima de sua mulher. Além de não ter gostado do modo como foi biografado, Hearst destruiu cópias do filme e difamou o mesmo em seus jornais, o que causou uma má bilheteria nos cinemas.
Sim, Hearst serviu de inspiração, mas é apenas um personagem como todos os demais e a busca de Orson Welles é muito mais profunda, e não vale a pena ver e analisar o filme por sua intriga e fofoca.

Várias sequências são antológicas e fica difícil citar todas, mas desde a abertura, em que o belo e sinistro tema de Hermann se sobressai, nós entendemos como a platéia da época testemunhou algo diferente. A câmera se aproxima e atravessa as grades do império Xanadu (ou seria um presídio voluntário?) pouco a pouco até o momento em que a luz da janela do castelo se apaga e a palavra Rosebud é sussurrada, ecoando de um modo surreal e seguido pelo close-up da mão, que solta a bola de neve que se espatifa no chão, culminando com a morte de Kane.

Nunca me esqueci desse começo invertido, pois o personagem principal do filme morre na abertura e ao longo do filme somos obrigados a conhecê-lo via flashback, um recurso usado à exaustão hoje em dia. O mais interessante é que os flasbacks são inseridos de acordo com a visão de diversos personagens - são vários pontos de vista, o que enriquece o filme de maneira ímpar.

Cidadão Kane é exemplar por sua contribuição na inovação técnica em diversos setores, mas nada disso seria tão importante se não fosse acompanhado por uma boa história, e muito bem contada por sinal. É notável a boa vontade de Welles de colocar a obra acima de tudo e de todos. E ainda que o filme sofra em alguns momentos por aquela “consciência de si mesmo”, ele se supera pela dedicação, carinho e esforço de Welles e seus amigos.

Mas, no fim, o que é Rosebud? Numa resposta fácil, trata-se do trenó de Kane, que ele idolatrava antes de se separar de sua mãe e de sua alegre infância para assumir o império material a que estava destinado. Mas Rosebud é muito mais do que isso. A palavra representa o único momento feliz na vida de um homem, que teve tudo e não teve nada, pois não soube transformar seus recursos materiais em enriquecimento espiritual. Ele não soube viver a vida de um modo menos agressivo e capitalista.

Para Kane, Rosebud é a eterna busca do tempo perdido a que todos estamos submetidos - de ter feito o que queria e não conseguiu, pois não encontrou a verdadeira grandeza que tanto anseava. No final, o que parece restar é esse remorso todo melancólico, pois até agora, ainda escuto o fogo crepitar e o trenó queimando na grande fogueira.

Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941)
Direção: Orson Welles
Roteiro: Herman J. Mankiewicz e Orson Welles
Elenco: Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comingore, Agnes Moorehead, Ruth Warrick, Ray Collins, Erskine Sanford, Everett Sloane, William Alland, Paul Stewart, George Coulouris, Fortunio Bonanova e Georgia Backus

terça-feira, outubro 21, 2008

O Casamento de Rachel

32ª Mostra Internacional de Cinema


Há alguns anos que o diretor Jonathan Demme, de O Silêncio dos Inocentes e Filadélfia, não fazia um filme, ao menos, relevante ou interessante. Não acho que ele tenha desaprendido. Nada disso. Demme só precisou sobreviver e manter seu nome vivo numa indústria predadora de talentos. Mas enquanto o diretor se perdia entre filmes comerciais esquecíveis e refilmagens inúteis nos últimos anos, sua verdadeira alma atuava em documentários sobre medalhões da história norte-americana. E esse olhar de documentarista está presente em seu mais novo longa de ficção, o drama O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married, 2008).

A primeira impressão sugere mais um filme independente sobre a preparação de uma família para o casamento da filha, um tema mais do que batido. Mas a intenção de Demme é celebrar a união dos povos ou das raças. Para o diretor, muita gente já aprendeu a conviver com indivíduos de diferentes culturas e costumes. E em um mundo marcado por guerras, preconceitos, violência e inveja, isso é algo a ser comemorado. Mas todos esses elementos estão inseridos no filme de forma sutil, sendo representados por personagens e situações.

Os grandes problemas da Humanidade citados no parágrafo acima são personificados pela jovem Kym (Anne Hathaway) em sua volta para casa, após um período numa clínica de reabilitação. Seu mero retorno ao lar para prestigiar o casamento da irmã, Rachel (Rosemarie DeWitt), gera discórdia e ameaça a paz da família e seus convidados. Não que a personagem de Anne tente estragar tudo, mas seu envolvimento com as drogas no passado deixou feridas jamais cicatrizadas em cada membro de sua família. Mesmo que essa não seja a intenção de Kym, sua volta simplesmente traz à tona alguns sentimentos sufocados por Rachel e seus pais: Paul (Bill Irwin) e Abby (Debra Winger), que se separaram e vivem novos casamentos.

O caos é alimentado aos poucos pela simples presença de Kym. Rachel acha que a irmã tenta roubar as atenções de sua festa. Kym acha que merece mais atenção que a noiva. Mas suas manifestações são retraídas - como crianças, elas só desabafam tais impressões na frente do pai, que sempre tenta apaziguar a situação, mas não tem o mínimo do controle que gostaria de exercer. E são as pessoas "de fora" que mais conseguem acalmar o stress da família: O noivo de Rachel, Sidney (Tunde Adebimpe), e Carol (Anna Deavere Smith), a atual esposa de Paul. Quando a situação pesa para Kym, Rachel e Paul, os ombros de Carol e Sidney estão no lugar certo e na hora certa. Já Abby é a que mais se isolou devido à tragédia que atormenta a família (e que será revelada ao espectador pela própria Kym). É o que tirei da direção de Jonathan Demme e do belo roteiro de Jenny Lumet, filha do grande cineasta Sidney Lumet.

Para explicar isso um pouco melhor, concentro-me na opção feita por Demme de filmar O Casamento de Rachel como um observador. Numa festa ou em qualquer outro evento, nossos olhos não estão sempre nas pessoas à nossa frente, certo? Elas estão bem ali, mas de vez em quando, nossa atenção está em outro lugar. Talvez naquela porta ao fundo. Ou na janela que não faz parte da conversa. Enfim, mas essas pessoas estão ali. Com seus conflitos e alegrias. Sei que, ultimamente, eu venho reclamando, principalmente nos filmes independentes, dessa estética suja, desleixada, real. Mas o estilo funciona muito bem em O Casamento de Rachel, afinal a câmera de Jonathan Demme é uma personagem que tudo vê e jamais esconde qualquer coisa do espectador.

Aproveitando-se dessa cumplicidade quase que natural, Demme faz com que a platéia seja parte da família em pouquíssimo tempo de projeção, o que torna a emoção muito mais fácil, sincera e recíproca. Essa câmera-personagem, no entanto, revela a verdadeira intenção do filme. Como já disse, Demme não quer contar os detalhes dramáticos de uma festa de casamento com convidados problemáticos. Ele também não quer tornar Kym a protagonista da história. Nem mesmo Rachel.

O importante é notar como o mundo pode ficar mais unido e despido de preconceitos. A louca festa de Rachel e Sidney só comprova que a vida não é um monólogo. Os coadjuvantes existem por uma razão. E você também é o coadjuvante de outra pessoa. É uma alusão ao momento atual do mundo. As pessoas, os países, os povos, as culturas precisam conviver em harmonia. Só assim para cada um seguir em frente e evoluir. Às vezes, uma intervenção "estrangeira" ou "de fora" é o suficiente para se pôr ordem na casa. E ao contrário do que Bush tentou ensinar, essa intervenção precisa ser pacífica, dócil, e compreensiva.

Para alcançar essa visão, Demme precisou deixar seus atores à vontade diante de sua câmera viva. Algo próximo do que Robert Altman fazia como ninguém. Com isso, o elenco fica solto e aberto para improvisos. Especialmente Anne Hathaway e Rosemarie DeWitt, que estão ótimas. Também gostei muito de Bill Irwin e só lamento que Debra Winger tenha apenas uma cena forte.

Apesar do modo como vi o filme, O Casamento de Rachel não é mais do que ele é. Vamos colocar os pés no chão. Não é um filme ambicioso e nenhuma obra-prima. É sim um olhar reflexivo sobre família, vida, sociedade e o mundo de hoje em dia. Mas você ainda seria o mesmo se este filme de Jonathan Demme não existisse. Talvez falte um "algo a mais", não sei... Só que às vezes, cinema também é isso. Apenas agradeça o convite do diretor, relaxe e aproveite O Casamento de Rachel.

O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married, 2008)
Direção: Jonathan Demme
Roteiro: Jenny Lumet
Elenco: Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Bill Irwin, Debra Winger, Tunde Adebimpe e Anna Deavere Smith

sexta-feira, outubro 17, 2008

O Fim das Trilogias e o Renascimento das Cinesséries


Por Otavio Almeida e Fábio M. Barreto*


Começo, meio e fim. Introdução, desenvolvimento e conclusão. Nascimento, vida e morte. A idéia de contar uma só história em três partes obviamente não saiu da cabeça de Hollywood, mas o conceito teve início no cinema graças à ambição de Francis Ford Coppola em fazer de O Poderoso Chefão I e II praticamente um filme só num intervalo de apenas dois anos de produção durante a década de 70. Naquela época, a Parte III da saga dos Corleones nem estava nos planos do diretor, porém, um de seus amigos, George Lucas, aproveitou o amadurecimento dos estúdios em relação à idéia para fazer uma aposta ousada.

Antes de continuar a análise, é bom explicar: As cinesséries já existiam, claro, como 007 e Dirty Harry, assim como as seqüências (Operação França II). Mas não estamos falando de continuações. Falamos de trilogias - três filmes para contar apenas uma história. Na verdade, uma saga em três partes, que só se completa no terceiro e último ato. Estamos entendidos? Então vamos lá.

Lógico que a grana faturada pelo Guerra nas Estrelas, de 1977, ajudou George Lucas em seu caminho. Steven Spielberg, que dirigiu Os Caçadores da Arca Perdida logo depois, com produção de Lucas, começou a moldar as três aventuras clássicas de Indiana Jones nos anos 80. Mas cada filme de Indy tem sua própria história. Um não depende necessariamente do outro, mas os marketeiros dentro e fora de Hollywood, fãs e não-fãs, chamaram Indiana Jones de "trilogia" assim mesmo. Era um termo cool para ganhar uma boa grana em cima do produto. Mas trilogia mesmo, depois de Guerra nas Estrelas, foi De Volta Para o Futuro, com direção de Robert Zemeckis e produção de Spielberg (olha ele de novo). As aventuras no tempo de Marty McFly (Michael J. Fox) foram pensadas por Spielberg, Zemeckis e o roteirista Bob Gale em três filmes (começo, meio e fim). Mas como a idéia ainda era ousada demais, todo e qualquer estúdio precisava avaliar o retorno financeiro nas bilheterias para pensar no desenvolvimento de uma cinessérie. Ou uma trilogia. Hoje, nem isso importa mais. Todo mundo já assina contrato para possíveis três (ou mil) filmes.


Como o mercado mudou, assim como as exigências do público (e a falta de criatividade de Hollywood), as últimas trilogias do cinema que honraram o conceito original foram O Poderoso Chefão, Matrix e O Senhor dos Anéis. Err... Será que Austin Powers entra nessa? E Mad Max? Ah, deixa pra lá. Mas até a Trilogia Bourne, que foi concluída brilhantemente por Paul Greengrass deve ganhar um quarto filme em breve. Hollywood nem quer saber mais se Bourne foi baseado em "somente" três livros de Robert Ludlum. Até Piratas do Caribe, que fechou a saga iniciada em A Maldição do Pérola Negra, já tem um quarto episódio engatilhado.

Agora, veja outros exemplos de cinesséries em três partes e não exatamente trilogias fechadas que continuaram: O diretor Sam Raimi já confirmou Homem-Aranha 4 e 5, Duro de Matar já está na quarta parte, Indiana Jones encontrou a caveira de cristal, Rambo voltou a matar, e O Exterminador do Futuro, que nem era pra ter chegado ao 3, já ganhou um 4. Tudo isso, sem citar as "reinvenções". James Bond recomeçou suas aventuras como uma espécie de Jason Bourne loiro na pele de Daniel Craig, em Cassino Royale e Quantum of Solace, enquanto o Homem-Morcego arrebentou nas mãos do diretor Christopher Nolan, em Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas (alguém duvida que a terceira parte será feita?).

Ironicamente, a culpa (ou não) do fim das trilogias, mas ao mesmo tempo do renascimento das cinesséries (reinventadas ou não), cai nas costas do Sr. George Lucas - como nas trilogias, mitologias, enfim, Hollywood também é um ciclo. O cineasta voltou no tempo para contar a saga de Darth Vader e a indústria cinematográfica entendeu que prequels de grandes sucessos também significavam dinheiro no bolso.


E um dos gêneros que entrou na dança foi o terror, ao contar o que aconteceu cronologicamente antes de clássicos como O Exorcista e O Massacre da Serra Elétrica. Com o sucesso de Jogos Mortais, que já alcança seu quinto episódio e só deve parar lá pelo número 33, o importante agora não é mais a condução narrativa, mas sim as novidades em termos de mortes e sadismo.

Mas a verdade é que a opção pelas prequels é normalmente ruim para a nova geração de cinéfilos, uma vez que muito da força de personagens impactantes como Darth Vader ou o Padre Merrin se perde durante a “reconstrução”. Convenhamos, ninguém precisa saber como foi o primeiro dia de trabalho de Norman Bates em seu motel. Mas conhecendo Hollywood, nada é impossível.

Voltando ao culpado por tudo isso, levando em conta a batida influência de Joseph Campbell (escritor-referência em mitologia) na criação de George Lucas, não foi dali que saiu a idéia para os três filmes originais de Star Wars - o fã mais radical vai defender o roteiro gigantesco que renderia nove filmes, mas que foi reduzido para seis (o resultado final depois de 30 anos) e que começou pelo meio, no Episódio IV. Entendeu?

Bom, tudo isso está certo, mas a estrutura dessa primeira trilogia tem um pezinho nos livros de J.R.R. Tolkien e seu O Senhor dos Anéis, que fornece um dos melhores guias para se contar uma história em três atos, incluindo dilemas de personagens, virada de mesa a favor dos caras maus no segundo episódio e um renascimento milagroso para salvar o dia na parte final. Isso só mostra que o pensamento em três episódios estava por ali quando Lucas criou seu filho predileto.


O investimento maciço nas cinesséries acaba sendo a evolução natural para o sucesso das trilogias nos anos 80, uma vez que a nova realidade das bilheterias (que faz Hollywood ser a única indústria do mundo não afetada pela crise econômica) e a experiência com o mercado de home entertainment, fazem com que uma série de filmes com investimentos normalmente menores a cada novo episódio, garanta bom retorno financeiro primeiro nos cinemas e depois no lançamento direto para DVD. Voltemos, então, a citar exemplos como A Profecia, que já tem cinco filmes em seu acervo, isso sem contar os intermináveis Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo. E será que o Harry Potter do cinema termina mesmo no sétimo filme? Ops, a Warner já decidiu dividir o episódio final em dois filmes. Ou seja, não interessa se a fonte original, a autora J.K. Rowling, escreveu "apenas" sete livros.

Tudo isso expõe dois sintomas claros: Hollywood está mesmo passando por uma crise criativa, que se arrasta há dez anos, e há muito medo entre os executivos na hora de ousar. Ninguém é imbatível ali - vide os irmãos Wachowski que emplacaram Matrix, a última grande trilogia original, ousaram em Speed Racer e o filme ficou aquém do esperado. Esse temor existe quando é necessário criar algo, mas quando se tratam de continuações, com públicos definidos (como no caso de Jason Bourne, um personagem que deu certo) e sucesso garantido, tudo pode acontecer. E quando alguma coisa funciona, a overdose é inevitável.


Essa overdose pode vir com efeitos negativos em alguns casos. Vejamos o terceiro filme da “trilogia” da Múmia, com Brendan Fraser. As aspas tem função aqui, pois embora três filmes principais componham a série, há o spinoff do Escorpião Rei, além de um desenho animado envolvido na brincadeira. Dez anos separam o primeiro filme de sua conclusão em A Múmia - Tumba do Imperador Dragão, que perdeu uma das principais chaves da série: Rachel Weisz, substituída após dispensar o papel. Mas o diretor picareta Rob Cohen alega que precisava de alguém mais sexy. Ok. De qualquer forma, Rick O’Connell (Fraser) é um bom herói de ação, mas cinematograficamente não oferece novidade. Como as bilheterias são boas, algum engravatado de Hollywood grita: “Oba, vamos aproveitar ao máximo!”

Mas o sinal de cansaço afeta até mesmo o herói. Em entrevista recente, Brendan Fraser confessou um certo cansaço e demonstrou incerteza a respeito de um quarto filme. “John Hannah poderia ir para a América do Sul sozinho, talvez”, disse por conta da sugestão feita pelo comediante inglês.


No meio de tudo isso, temos crossovers (Alien Vs. Predador, Freddy Vs. Jason), remakes, além de um excesso de adaptações de livros, quadrinhos (como Hellboy, que deve virar trilogia), séries de TV, games, e os já citados spinoffs (Wolverine, Elektra, Escorpião Rei) e reinvenções. Vale tudo para criar uma cinessérie lucrativa. Reinventaram Bond, Batman, recuperaram a imagem do Hulk com o último filme da Universal e agora é a hora de recomeçar Star Trek. Na 11ª aventura da cinessérie, JJ Abrams entra na dança e reinventa a origem de James T. Kirk, Spock e Cia. (embora essa história nunca tenha ido parar no cinema, a origem da lendária Enterprise já foi tema da série de TV, que não foi muito bem, aliás). Muito mistério cerca o lançamento do filme, que já foi adiado uma vez, mas se Abrams conseguir recuperar o respeito de Star Trek, há muito marcada por filmes similares a longos episódios, podemos ter certeza de que a franquia renascerá e, pelo menos, mais dois filmes com essa mesma “tripulação” serão encomendados.

Como você já sabe, Hollywood é um ciclo. Para conquistar diferentes gerações, a indústria tenta se manter e prosperar ao longo dos anos se reinventando algumas vezes e se repetindo de tempos em tempos. Depende de cada época e da necessidade de cada geração. Assim caminha a Humanidade.



*Vocês já sabem quem eu sou, mas Fábio M. Barreto é meu amigo e jornalista correspondente em Los Angeles. Ele escreve para a revista Sci-Fi News e tem um blog, o S.O.S. Hollywood. E esclarecendo as aspas de Brendan Fraser neste texto, o ator foi entrevistado pelo Fábio na divulgação de "Coração de Tinta", que estréia em janeiro.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Pôster Glorioso


Tarantino

Sangue

Loucura

Primeiro pôster

Filme de guerra

Judeus X Nazistas

INGLORIOUS BASTARDS

Estréia prometida para Cannes 2009

Mais nada a declarar

A jovem tripulação do novo Star Trek mostra sua cara


A Paramount divulgou as primeiras imagens oficiais da nova tripulação da Enterprise do Star Trek Begins ou Star Trek - Episode I, de J.J. Abrams (o cabeça de Lost). Da esquerda para a direita, acompanhe comigo: Chekov (Anton Yelchin), Kirk (Chris Pine), Scotty (Simon Pegg), McCoy (Karl Urban), Sulu (John Cho) e Uhura (Zoe Saldana). Mas cadê Spock?



Aqui, você pode ver o vilão romulano Nero. Dizem que é o Eric Bana por trás dessa maquiagem toda. Sensacional. Melhor do que sumir diante do CGI, como ele fez no Hulk de Ang Lee.


O jovem Kirk (Chris Pine) sai duma fria. Não sei bem o motivo, mas essa imagem me lembra Luke Skywalker no começo de O Império Contra-Ataca.


O Sr. Spock mostra quem manda na Enterprise e dá uma lição no impetuoso Kirk. Muito bem. Mas nesta foto, o ator Zachary Quinto está mais pra Sylar, o vilão de Heroes, do que Spock, não?


Star Trek chega aos cinemas em 8 de maio de 2009.

quarta-feira, outubro 15, 2008

A Maratona da Mostra


A 32ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, começa nesta sexta-feira, dia 17 de outubro, e vai até o dia 30 do mesmo mês. É hora de tomar aquele café pra ficar acordado e encarar filas ao lado de bichos-grilos em busca dos filmes mais aguardados de 2008 e outras produções raras para quem é cinéfilo de verdade.

São títulos como O Casamento de Rachel, de Jonathan Demme, Queime Depois de Ler, de Joel Coen & Ethan Coen, Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, Rio Congelado, de Courtney Hunt, Rebobine, Por Favor, de Michel Gondry, Sinédoque, Nova Iorque, de Charlie Kaufman, Choke, de Clark Gregg, Che, de Steven Soderbergh, e O Poderoso Chefão, o melhor filme de todos os tempos.

O problema é que está difícil de conseguir ingresso - a assessoria da Mostra avisou que algumas cópias chegam em cima da hora (e muitas vezes no dia da sessão). Estou rezando e tentando, mas em breve, você pode voltar aqui e conferir as críticas dos filmes vistos pelo blog na mostra.

Aliás, nas edições de 2006 e 2007, a Mostra de SP exibiu os dois últimos vencedores do Oscar de Melhor Filme: Os Infiltrados e Onde os Fracos Não Têm Vez. É só curiosidade ou coincidência, mas será que algum filme deste ano terá força semelhante?

Você vê a programação completa da mostra aqui. Inclusive, esta edição faz uma homenagem ao grande Ingmar Bergman, com diversos filmes do mestre em cartaz.

segunda-feira, outubro 13, 2008

As Duas Faces da Lei

Pacino: "O que estamos fazendo aqui, meu amigo?"


Serei breve, ok? As Duas Faces da Lei (Righteous Kill, 2008) é um dos piores filmes do ano. Não falo isso somente pela decepção de ver uma dupla como Robert De Niro e Al Pacino pagando mico e contracenando num policial previsível, fraco, esquecível e recheado de clichês utilizados sem o mínimo de inteligência. Nós já sabíamos que o filme não seria grande coisa nas mãos de Jon Avnet, diretor que ainda está na estrada por causa do sucesso popular de Tomates Verdes Fritos, lá de 1991. Na verdade, a decepção existe porque De Niro e Pacino não têm uma cena sequer que justifique a contratação de dois dos maiores atores de todos os tempos.

Todo mundo diz que eles ligaram o "piloto automático" há tempos. Mas já repararam que Robert De Niro e Al Pacino só funcionam sob a direção de novos e velhos grandes nomes? Não, antes que você pense numa réplica, isso não acontece com todos os atores. Mas De Niro dá certo com Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão - Parte II), Martin Scorsese (vários), Michael Mann (Fogo Contra Fogo) e até em projetos bem-sucedidos do mediano Barry Levinson (Mera Coincidência) e da Dona Penny Marshall (Tempo de Despertar). Pacino, por sua vez, explode quando trabalha com Francis Ford Coppola (Trilogia O Poderoso Chefão), Michael Mann (Fogo Contra Fogo, O Informante), Sidney Lumet (Serpico, Um Dia de Cão) e em projetos bem-sucedidos de diretores razoáveis como Warren Beatty (Dick Tracy), Martin Brest (Perfume de Mulher) e Norman Jewison (Justiça Para Todos). Quando um diretor fraco embarca numa furada, Pacino e De Niro até encaram, afinal eles honram as calças que vestem, mas não estão nem aí. Isso é fato histórico.

Para mim, o erro é todo de Jon Avnet, que se deslumbrou com os dois atores e esqueceu de colocar a cabeça para trabalhar algo criativo e empolgante. Está certo que o roteiro "preguiçoso-que-pensa-ser-inteligente" de Russell Gerwitz, de Um Plano Perfeito, também não contribui, mas Avnet poderia ter compensado isso com as presenças de Robert De Niro e Al Pacino, que merecem respeito. Não posso execrar esses caras, que são nossos ídolos. Eu posso é descontar no diretor.

E não há mais o que ser dito sobre As Duas Faces da Lei. Ah, talvez só isso: Todas as porcarias feitas por De Niro e Pacino nos últimos anos são superiores ao filme do diretor de Tomates Verdes Fritos.

As Duas Faces da Lei (Righteous Kill, 2008)
Direção: Jon Avnet
Roteiro: Russell Gerwitz
Elenco: Robert De Niro, Al Pacino, 50 Cent, Carla Gugino, John Leguizamo, Donnie Wahlberg e Brian Dennehy

Os Novos Holmes & Watson

Robert Downey Jr. é o novo Sherlock Holmes. Jude Law é o novo Dr. Watson. Guy Ritchie, do ótimo Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, mas também do ridículo Destino Insólito, é o diretor da nova aventura cinematográfica baseada na obra de Sir Arthur Conan Doyle.

Apesar da trama situada na Londres do século XIX, Guy Ritchie promete um Holmes mais moderninho, afinal bilheteria é o que vale em Hollywood. Sem falar que o produtor envolvido na brincadeira é Joel Silver, o homem por trás de Máquina Mortífera e Matrix, que já pensa até em continuar a franquia do detetive mais famoso da literatura caso Sherlock Holmes fature uma boa grana nos cinemas.

As filmagens estão em andamento em Londres e essa imagem com Robert Downey Jr., como Holmes, e Jude Law, como Watson, foi liberada para acalmar (ou irritar) os fãs. O elenco ainda tem Rachel McAdams (Irene Adler, o amor da vida de Holmes), Kelly Reilly (Mary) e Mark Strong (o vilão Blackwood).

Mas Sherlock Holmes, de Guy Ritchie, não é o único filme com lançamento previsto para os próximos anos a explorar o universo de Arthur Conan Doyle. Há uma comédia em desenvolvimento com Will Ferrell, como Holmes, e Sacha Baron Cohen, como Watson. Pergunta: Qual dos dois projetos te dá mais medo?

domingo, outubro 12, 2008

V - A Batalha Final... De novo

Nos anos 80, uma cultuada minissérie de ficção científica marcou os fãs do gênero para sempre. Trata-se de V - A Batalha Final, uma das melhores coisas já feitas pela TV americana. E parece que rede ABC está planejando um remake para breve. Não sei se é uma boa ou má notícia.

Naquela época, o tema já não era inédito e obviamente também não seria a última vez que veríamos algo assim: Alienígenas semelhantes aos humanos chegam à Terra em missão de paz. Aos poucos, eles ganham influência no governo, na mídia e na sociedade. Mas tudo isso não passa de um plano para escravizar a raça humana. Por baixo de suas máscaras, inclusive, eles escondem suas caras de lagartos asquerosos. E quando um grupo de pessoas descobre suas verdadeiras intenções, a Terra vira um campo de batalha.

Com o sucesso, a produção continuou numa série não tão boa quanto o material original. Mas V é item obrigatório para qualquer fã de ficção científica. E é muito melhor do que qualquer filme de invasão alienígena feito por Hollywood nos últimos 12 anos (12 porque Independence Day é de 1996). Infelizmente, tal apelo não convenceu uma distribuidora brazuca sequer a apostar num lançamento em DVD. Vai entender...

Ainda não se sabe muito sobre o remake, mas o Hollywoodiano acompanhará o projeto com atenção. Se o novo V continuar focado nos personagens e não nos efeitos especiais, tem tudo pra dar certo. E como as séries andam muito mais inteligentes que os filmes, ainda bem que o destino desse remake não é o cinema.

Márcio Braga, o grande fanfarrão do ano


Uma pausa no cinema para desabafar algo pessoal: O Flamengo jamais ganhou coisa alguma de nariz empinado. Sempre ganhamos de forma sofrida, correndo por fora, sem o foco da mídia etc. Aí vem esse presidentezinho Márcio Brega e avisa aos navegantes que "o Flamengo está preparando a festa do hexa". Que fanfarrão!

O comando, o controle, o juízo, o exemplo... Tudo isso deveria vir de cima; daquela gafieira reconhecida como diretoria. Acontece que a Gávea é um paraíso, amigos estrangeiros. Todo mundo que vai até lá fica deslumbrado. É uma região muito bonita do Rio, é verdade. Tem a Lagoa Rodrigo de Freitas logo ali e isso mexe com a cabeça de qualquer um. Imagine só o técnico bonachão líder do campeonato, Celso Roth, na Gávea em 2008. Seria rebaixamento na certa. Mas Roth está num clube que trabalha sério e isso faz toda a diferença.

Depois de anos torcendo pelo Mengão, eu aprendi que não ganharemos mais nada de importante se não houver seriedade. Todo mundo critica as patadas do Muricy Ramalho nas entrevistas coletivas, não é mesmo? Mas alguém já parou pra pensar se ele está fazendo aquele circo só pra não deixar um clima de "oba-oba" chegar aos jogadores? Não sei, mas pode ser uma estratégia.

O Flamengo só voltará a ganhar algo importante se contratar um técnico como Muricy, Luxemburgo ou Scolari - nada de Joéis, Roths, Tites, Máriosérgios e muito menos Cucas do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Mas esses caras "pulso firme" não trabalham com diretorias amadoras e carnavalescas. Por isso, meu ano futebolístico acabou. Ontem, foi Flamengo X América-MEX: Parte II. Cansei de gastar tudo o que tenho por este time que não é o Flamengo que aprendi a amar. São Judas Tadeu, você já pode descansar. Mas em 2009, proteja-me desses fanfarrões. Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer...

Juro que o próximo post será sobre cinema ou TV. Obrigado pela paciência.

sábado, outubro 11, 2008

O Preferido do Rei

EU JÁ SABIA!

Nesta semana, Aragorn (Viggo Mortensen) esteve no Rio de Janeiro para divulgar Um Homem Bom, filme do diretor brasileiro Vicente Amorim (que também está nas fotos). O mais importante nisso tudo, como todos já sabiam, é que Aragorn é torcedor do Mengão. Detalhe: Veja a combinação de cores no título do filme acima do ator.

MODA

Pelo visto, o grande Viggo Mortensen não sente o peso da Realeza em lugar nenhum do mundo, afinal o Manto Sagrado veste muito bem o Rei. Já estava elegante, mas com um paletó para dar uma equilibrada, uma sobriedade, o flamenguista da Terra-Média é Oscar de Melhor Figurino na certa!

À VONTADE

O diretor Vicente Amorim veste a camisa do San Lorenzo, time de Viggo Mortensen desde criancinha, afinal o ator passou parte da infância e adolescência na Argentina. Enfim, seria natural ele escolher um time hermano pra torcer. Mas nos últimos dias, Mortensen descobriu o caminho para a felicidade. Ainda mais depois do que ele diz no vídeo abaixo com trilha de motel (por volta de 2:17). Confira:



sexta-feira, outubro 10, 2008

O dia em que o Hollywoodiano fez dois anos


Que título dramático para um post, mas o inferno astral do Hollywoodiano tinha motivo, afinal hoje é o aniversário de dois anos do blog. É hora de festejar! Antes de tudo, bem, hum, vamos começar de novo. Rewind! Que falta de educação da besta quadrada que vos escreve. Peço desculpas! Eu deveria me concentrar somente nos agradecimentos.

Preciso dizer que em 10 de outubro de 2006, o Hollywoodiano nasceu para satisfazer meu próprio ego. É verdade. Só que hoje em dia, e já faz um tempão, eu juro que não consigo escrever sem imaginar as reações de cada um de vocês, afinal este espaço também pertence aos hollywoodianos. Sério agora: Eu aprendo todos os dias com cada um que visita e deixa comentário. Até mesmo com as críticas apaixonadas dos "Anônimos". São vocês que me fazem pensar e repensar no formato do blog. Se alguma coisa melhorou desde 2006, a culpa é de todos vocês.

Aliás, eu gostaria que todos soubessem que jamais tive a intenção de ofender os leitores. Jamais! Só quero compartilhar, conversar, aprender, ensinar, trocar idéias sobre cinema e um pouco do resto. Desde outubro de 2006, a vida ficaria muito sem graça sem a participação de vocês. Essa é a pura verdade.

Então eu só tenho a agradecer a alguns poucos e bons nomes: Kamila Azevedo, Vinícius Pereira, Wally Soares, Cassiano Sairaf (com quem tive várias brigas divertidas), Romeika, Pedro Henrique, Marcus Vinícius, Denis Torres, Flávia dos Santos, Weiner, Marcelo Pestana, Carlos Cirne, Rodrigo Salem, Ricardo Matsumoto, Paulo Gustavo, Paulo Chede, Fábio Barreto, Alex Gonçalves, Johnny Strangelove, Rodrigo Fernandes, Fábio L. Rockenbach, Robson Saldanha Filho, Robson Santos Costa, Victor Nassar, Ygor Moretti Fiorante, Marcelo Burgos, Gustavo H. Razera (um grande fã do Spielberg), Felipe Nóbrega, Cecilia Barroso, Kauê Oliveira, Helio (Cinefilia), Matheus Pannebecker, Roberto Simões, Fabiana (A Culpa é da Crítica), Leonardo Pereira, Rodrigo Mathias, Alex Sandro Alves, Wiliam Domingos, Wanderley Teixeira, Túlio (cadê esse cara?), Gustavo (Fina Ironia), Hypado, Contra-Regra e O Cara da Locadora. Peço desculpas se eu esqueci de alguém, mas até os desgraçados "Anônimos" que me xingam são bem-vindos.


Muito obrigado a todos!

Otavio Almeida

quinta-feira, outubro 09, 2008

Capacitor de fluxo


São Paulo é um caos coletivo todo santo dia, mas isso você já sabe. Também está careca de saber que a cidade está imunda por causa da papelada que os paus mandados dos políticos jogaram nas ruas durante o final de semana. E ainda choveu nos últimos dias pra ajudar. Além disso, o trânsito só piora. Enfim, também conheço gente que adora São Paulo. Vai entender, né? Mas morar aqui tem suas vantagens: os filmes chegam antes, as peças, os shows... A comida é a melhor do Brasil (quiçá do mundo), as oportunidades de emprego são maiores (o que não impede de ver gente honesta e batalhadora desempregada) e a noite paulistana é a mais agitada e ampla do País. Eu agüento tudo isso e até me divirto. Mas ninguém merece acordar e ver uma gurizada histérica dando a volta no quarteirão da Funchal com a Rua Helena, aqui na Vila Olímpia, aos berros por causa de uma bandinha chamada McFly, que tem esse nome em homenagem ao grande Marty McFly, herói da trilogia De Volta Para o Futuro (descobri isso há algumas horas).

Hoje, de cinco em cinco minutos, trabalhei com gritinhos de meninas e alguns marmanjos como se todos estivessem vendo os Beatles dando um "olá" de uma janela de hotel. Olhando lá fora, o cenário é uma espécie de Madrugada dos Mortos versão teen. É a visão geral do horror. Mas não liga não, pois sou careta com muito orgulho. Só espero que ninguém tenha mentido na escola, afinal professor não é trouxa.

O show desses caras logo ali do lado, no Via Funchal, acaba por volta das 20h, então vou-me embora. Daqui a pouco, os pais desses rebentos começam a lotar essa rua infernal de carros. Mas antes, eu tenho duas perguntas: Será que os fãs do McFly já viram De Volta Para o Futuro? E será que elas sabem que o filme teve duas seqüências?

Obs: O mau humor e o inferno astral do 'Hollywoodiano' terminam amanhã.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Controle Absoluto


Estamos numa época de fácil e rápido acesso a qualquer tipo de informação. Tudo está no computador - notícias, música, filmes, pessoas, o mundo etc. Neste exato momento, por exemplo, sei que já estou desatualizado enquanto comento Controle Absoluto (Eagle Eye, 2008), thriller high tech produzido por Steven Spielberg. Piscou, perdeu. Enquanto você lê este post, alguém está lá na sua frente dando "tchauzinho". É a era da informação e você já está atrasado.

Pensando nisso, chega a ser irônico que um ser humano passe horas na internet atrás de todos os tipos de comunicação, mas que ao mesmo tempo seja incapaz de raciocinar e interpretar a arte ou até mesmo os fatos do dia-a-dia. Desculpe-me, mas a alienação ainda corre lado a lado com o cérebro dessa imensa parcela de internautas, que visita trocentos sites por dia, mas aprende pouquíssima coisa útil, jamais leu um bom livro ou ouviu música de qualidade. Estamos numa época em que aluno tenta enganar professor com Ctrl+C, Ctrl+V. Pode isso? É o fim! Será que as pessoas querem apenas ocupar suas mentes e não exercitá-las? É bom ter alguém (ou algo) que pense por você?

Por isso, Controle Absoluto é o filme certo para alienados e solitários da internet, que se acham inteligentes por terem acesso a uma enxurrada de informações por segundo. Exceto pela abertura e os dois, três minutos finais, Controle Absoluto corre a mil por hora e tenta apresentar uma trama que deve ser inteligente, mas tudo é contado às pressas numa velocidade absurda que não permite alguns direitos básicos ao espectador: 1) Quem parar por um segundo pra pensar no que acabou de acontecer, está lascado. Você perderá o andamento da carruagem nas cenas seguintes. 2) É impossível analisar se o roteiro é de fato inteligente ou se tem falhas bisonhas, pois você perderá o resto do filme. 3) Shia LaBeouf é um jovem ator competente e com um futuro brilhante pela frente. Mas seria injusto analisar sua atuação neste filme, já que ele só corre, grita e não tem mais do que um segundo em cena para tentar ser intenso, profundo ou algo assim.

O problema de Controle Absoluto não é a montagem frenética, mas a rapidez da narrativa, que parece fazer sentido no final, por mais incoerente que ela possa ser. Mas isso é o que Hollywood quer de você: Não pense. Só... aceite. A diversão não é para o cérebro. Desse jeito, qualquer roteiristazinho de 10, 15 anos pode ficar rico com histórias camufladas pelo diretor na sala de edição com muita correria e imagens aceleradas. Assim, até eu. Já pensou se O Fugitivo, com Harrison Ford, fosse um filme dos dias de hoje e assinado pelo diretor D.J. Caruso, esse meia tijela responsável por Controle Absoluto? É... Deus sabe o que faz.

Mas esse é o mundo atual, não? Piscou, perdeu. Pensar é uma ferramenta do século XX. É uma coisa antiga, chata. Hoje, para tirar o público de casa e levá-lo ao cinema, que tem um ingresso caro, deve-se seduzir o espectador com muita diversão escapista. O problema é que a mente anda escapando demais da tela. O ato (prazer) de exercitar a cachola é coisa do passado. Agora, a moda é ter tudo mastigado ou explicado pra você, afinal quem quer pagar pra se divertir e ser obrigado a pensar? Para isso, já chega a escola, a faculdade, a pós, o trabalho e o clássico jogo de tabuleiro War. Bravo, Hollywood, bravo! E olha que o midas do entretenimento cinematográfico, Steven Spielberg, está envolvido neste Controle Absoluto.

Alguns dizem que o filme é uma mistura de 2001 com O Ultimato Bourne etc, etc. Sabichões com Q.I. de Renato Gaúcho cheios de si na hora de explicar o que não deve ser explicado, não enxergam que o diretor D.J. Caruso quer ser um Alfred Hitchcock turbinado. Sua última parceria com Shia LaBeouf foi o patético Paranóia, um Janela Indiscreta teen e subnutrido. Já Controle Absoluto pega carona nas bases de Intriga Internacional e O Homem que Sabia Demais (até o clímax é parecido com o excelente filme protagonizado por James Stewart). Mas D.J. caruso só usou a essência de Hitchcock para misturar anabolizante e energético. Tire a elegância, o suspense e insira ação vertiginosa e irracional.

Aliás, essa comparação com 2001 só comprova o despreparo da crítica especializada atual. Santa inteligência, Batman! Só por causa do design e da atitude do tal Eagle Eye, o vilão do filme que lembra o HAL-9000 do clássico de Stanley Kubrick... Será que ninguém viu WALL-E? Alguém deve ter comparado a animação da Pixar com 2001. Só pode. Como o mundo anda inteligente, não? Você se sentiu bem por ter "entendido" Controle Absoluto no final? Eu não entendi nada e já esqueci o filme. E tenho orgulho disso. Portanto, nada de internet pra você por um mês, criança! Estás de castigo! Já pro quarto! E só saia de lá quando terminar de estudar livros de verdade e DVDs para entender um pouco mais de cinema!

Controle Absoluto (Eagle Eye, 2008)
Direção: D.J. Caruso
Roteiro: John Glenn, Travis Wright, Hillary Seitz e Dan McDermott
Elenco: Shia LaBeouf, Michelle Monaghan, Rosario Dawson, Michael Chiklis, Anthony Mackie, Ethan Embry, Billy Bob Thornton e Anthony Azizi

quinta-feira, outubro 02, 2008

Ensaio Sobre a Cegueira


Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008), a jornada cinematográfica de Fernando Meirelles pela cultuada obra literária de José Saramago anda dividindo opiniões. Isso é totalmente compreensível, afinal estamos falando de um trabalho forte, pesado, visceral, que não admite espectador de estômago fraco.

O filme e o livro narram as conseqüências de uma epidemia de cegueira que se espalha pelo mundo. E o que acontece quando todos perdem a visão? O ser humano encontra o caos e vive na merda - não, não é no sentido figurado. É como a história do "homem invisível": aquele que não consegue ver o reflexo do próprio rosto no espelho caminha para a perda total de sua Humanidade. Conseqüentemente, o indivíduo é capaz de cometer atos horríveis. E quem ainda consegue enxergar, acha que tem o poder, o controle da situação e abusa (ir)racionalmente dos mais fracos. A única personagem capaz de ver - é o que a história diz, mas pode até ser que existam outras pessoas na mesma condição - é a mulher interpretada por Julianne Moore. Eu disse "mulher" porque Ensaio Sobre a Cegueira não têm personagens com nomes. Mas volto a falar sobre Julianne Moore mais tarde.

O que José Saramago quis discutir em seu livro não foi a sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico dominado por monstros, zumbis e outras coisas feias. Isso não é ficção científica, fantasia ou terror. A idéia básica de Ensaio Sobre a Cegueira é estudar e comparar o comportamento de indivíduos e pequenos grupos como representações de uma sociedade que, aos poucos, criam e organizam suas próprias regras - seja para buscar a paz ou a discórdia.

O curioso no cinema recente é constatar que o tema anda em evidência. Foi assim em O Nevoeiro, de Frank Darabont, que é uma fantasia, e até nas motivações do Coringa, em Batman - O Cavaleiro das Trevas. Por linhas tortas, o vilão interpretado por Heath Ledger no filmaço de Christopher Nolan propõe seu Ensaio Sobre a Cegueira particular. Só que diferente de O Cavaleiro das Trevas e O Nevoeiro, Fernando Meirelles foge de qualquer emoção. Seu filme é frio e sem espaço para reflexões.

Talvez você tenha tempo para pensar profundamente no que viu (ou não) somente após os créditos finais. Mas durante o filme, Meirelles quer que você entre de cabeça nesta experiência visual e visceral. O problema é que toda a discussão social termina reduzida aos caprichos da câmera do diretor. A impressão é que ele quer ser mais importante que a trama. Ok. É até interessante "ver" a cegueira graças ao trabalho estupendo do cinematógrafo César Charlone, mas Fernando Meirelles está tão preocupado em fazer o espectador "sentir" a cegueira, que ele se esquece de desenvolver alguns personagens e explicar seus atos. Aliás, chocar e manter a atenção do público com uma narrativa presa à imagem, música e som não é para qualquer um. Meirelles não é Kubrick. Em Ensaio Sobre a Cegueira também falta a confiança do diretor na inteligência e na percepção da platéia, que pode muito bem interpretar um filme sem a ajuda infeliz da narração em off. O público deve julgar a obra e não o seu diretor.

Resta o poder em cena da extraordinária Julianne Moore, que carrega o filme nas costas com uma carga emocional que simplesmente não brota da câmera de Fernando Meirelles. Pena que nem mesmo sua personagem é desenvolvida de forma justa. Mas o que ela é? Uma santa moderna? Eu vi assim. Ou só assim para ela perdoar e ficar amiga da mulher que transou com seu marido já sem qualquer traço de Humanidade.

É claro que Ensaio Sobre a Cegueira é um filme obrigatório e uma experiência cinematográfica diferente, rara. Mas acho que Meirelles se preocupou demais em ser fiel ao livro - ele parece preso às páginas de Saramago. Está certo que o diretor encerra o filme antes do final original, mas não é disso que estou falando. O livro deve ser a base e não a cola para o aluno tirar nota boa na prova. E não adianta nada fazer gracinha com a câmera.

Não posso encerrar sem comentar as locações de Ensaio Sobre a Cegueira. Rodado em São Paulo, Montevidéu e sei lá mais onde, o filme fala praticamente um idioma: o inglês. Em tempos de produções como Cartas de Iwo Jima, por exemplo, juro que não consegui entender a opção de Meirelles pela salada globalizada sem o mínimo de tempero. Além disso, todos os lugares fazem parte de uma única cidade. Você anda pelo Minhocão, em São Paulo, e sai numa rua de outro país sem mais nem menos. Ok, ok, para os cegos é tudo igual e isso não passa de uma metáfora, etc, etc. É claro que os lugares não são contextualizados, mas teve neguinho que reclamou da mesma brincadeira feita por Steven Spielberg em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, não foi? Ou em outros mil filmes americanos que não respeitam ou ignoram as fronteiras do resto do mundo. Quer dizer, então, que em produção comercial ianque, isso não pode acontecer? Mas quando o mesmo ocorre num "filme sério", aí tudo bem? Que demagogia, minha gente...

Sem chororô, mas esse Ensaio Sobre a Cegueira não é tudo isso que andam dizendo. Você pode até defender: "Ah, mas o próprio José Saramago chorou quando viu o filme!" Bom, você sabia que o grande Frank Capra, quando já estava bem velhinho, elogiou Rocky - Um Lutador? Pois é. O pior cego é aquele que não quer enxergar.

Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008)
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Don McKellar (Baseado no livro de José Saramago)
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal, Sandra Oh, Don McKellar, Maury Chaykin, Yusuke Yseya e Yoshino Kimura