quinta-feira, novembro 27, 2008

Segurando as Pontas

Seth Rogen e James Franco são Frodo e Sam modernos?
Ou eles são a dupla de "Sideways" trocando o vinho pela maconha?



Judd Apatow é o diretor de O Virgem de 40 Anos, Ligeiramente Grávidos, e produtor de Superbad, entre outras comédias inteligentes (e, por isso, raras) do momento. Atualmente, Apatow é o estudioso-mor da sensibilidade, do papel e dos limites do macho no século XXI, época ingrata para o amor verdadeiro e a amizade incondicional, afinal o Homem torna-se cada vez mais refém da tecnologia, abraçando inconscientemente a solidão e a distância do calor humano graças a algumas horas de internet e a importância exacerbada aos bens materiais supérfluos.

Com tanta facilidade no mundo atual, como é que o macho desempenha seu papel numa sociedade em que ele não é mais imprescindível, inclusive para o sexo oposto? Seguindo a estrutura de chick flicks que fizeram as carreiras de Meg Ryan, Julia Roberts e Sandra Bullock, Judd Apatow tenta responder tirando a mulher do centro das atenções e inserindo o homem num universo cheio de dúvidas, incertezas e inseguranças sobre seu futuro à procura de um lugar estável no mundo. Tudo isso com roteiros de primeira carregados com o podre e direto linguajar masculino de botequim.

Em seus filmes, Judd Apatow coloca o homem questionando e enfrentando tabus geralmente voltados para as mulheres no cinema - virgindade, gravidez e a amizade acima de todas as coisas. Este último quesito é tema de Segurando as Pontas (Pineapple Express, 2008), produzido por Apatow e dirigido por David Gordon Green. E... Vamos combinar que a cobrança dos últimos séculos para que o homem fosse corajoso, forte, protetor de mocinhas indefesas e incapaz de derramar lágrimas tornou a tarefa de aceitar uma amizade masculina real e fiel um tanto ingrata.

Espertinhos ávidos por auto-afirmação e doidos para deixarem seus armários dirão que Dale (Seth Rogen) e Saul (James Franco - ótimo) são gays enrustidos etc, etc. Mas um pouquinho de inteligência na cachola do espectador levará à compreensão do lema da dupla de protagonistas, que é "Bros before hoes" (algo como "os manos antes das minas", no vocabulário popular dos paulistanos), além de "Best Fuckin' Friends Forever, man!". Como se isso não bastasse, eles vivem dizendo um ao outro as palavrinhas mágicas: "Amo você, cara!"

Recentemente, muitos confundiram homossexualismo com amizade incondicional entre pessoas do mesmo sexo, em O Senhor dos Anéis, com os personagens de Elijah Wood e Sean Astin, e até mesmo em Sideways, com Paul Giamatti e Thomas Haden Church. Aliás, tire o vinho de Sideways, acrescente a maconha e tenha a receita inicial de Segurando as Pontas. Sim, eu disse "inicial", já que lá pela metade, David Gordon Green, Judd Apatow & Cia. propõem uma ode ao típico filme macho de ação truculenta e violentíssima dos anos 80.

É sério, amigo! Segurando as Pontas é engraçado do início ao fim, mas até a metade é possível se matar de rir com os apuros dos amigos Dale e Saul, que se metem numa tremenda enrascada com traficantes e policiais corruptos, quando eles só queriam fumar a tal poderosa maconha que responde pelo título original do filme: Pineapple Express. Mas do meio para o fim, Segurando as Pontas vira um exemplar genuíno de ação com tiros, explosões, mutilações e muita pancadaria de duas décadas atrás. Quem foi fã naquela época de Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, Jean-Claude Van Damme, Chuck Norris e Steven Seagal vai adorar e continuar rachando o bico de tanto rir. Talvez as moças odeiem a segunda parte, é verdade. Mas, vai saber, neste mundo cada vez mais equilibrado entre as ideologias de homens e mulheres, pode ser que as fêmeas também entrem na brincadeira de Judd Apatow e David Gordon Green.

Sei que eu saí do cinema estranhando um pouco a mudança de tom, mas me diverti à beça assim mesmo. Alguns dias depois, refleti um pouco sobre Segurando as Pontas, e eu já queria contar o filme a todos os meus amigos (os que gostam de mulheres e não os sensíveis) e dizer aos melhores entre eles o mesmo que Dale e Saul dizem um ao outro: "Amo você, cara!"


Segurando as Pontas (Pineapple Express, 2008)
Direção: David Gordon Green
Roteiro: Seth Rogen e Evan Goldberg

Elenco: Seth Rogen, James Franco, Gary Cole, Rosie Perez, Craig Robinson, Kevin Corrigan, Amber Heard e Danny McBride

terça-feira, novembro 25, 2008

Sai de baixo


Desculpe-me, mas em 2009 não tem pra ninguém, porque as melhores séries da atualidade voltam com tudo a partir de janeiro. Claro, a "legal-pacas" True Blood continua no ano que vem, mas falo de duas das séries mais influentes dos últimos tempos. No dia 21, é a vez da quinta temporada de Lost. Será o penúltimo ano da maluquice criada por JJ Abrams. Só posso esperar isso tanto quanto...




... A sétima temporada de 24 Horas. Sou fanático por Jack Bauer e o maldito efeito sonoro do relógio digital que bate em todos os episódios. Após o hiato de um ano, Bauer volta para mais agonia e correria. Para matar a ansiedade até o dia 11 de janeiro, os fãs já podem assistir ao telefilme que faz uma ligação com a nova temporada. Trata-se de 24: Redemption. Jack Bauer na África parece bizarro (assista ao trailer aqui), mas deve ser melhor que... deixe-me ver... Diamante de Sangue. Só pode.

domingo, novembro 23, 2008

Favoritos ao Oscar

Já andam dizendo que O Curioso Caso de Benjamin Button é "o favorito" ao Oscar de Melhor Filme. Ainda tem muita coisa pra rolar até lá, mas só a idéia de ver a Academia reconhecendo o talento do diretor David Fincher (Seven, Clube da Luta, Zodíaco) já é animadora.

O filme é baseado no conto de F. Scott Fitzgerald sobre o tal Bejamin Button (Brad Pitt) do título, que nasce velho e rejuvenesce ao longo dos anos. O elenco ainda traz Cate Blanchett, Tilda Swinton (que trabalhou com Pitt no ótimo Queime Depois de Ler) e Julia Ormond (que trabalhou com Pitt no abacaxi Lendas da Paixão).


O Curioso Caso de Benjamin Button tem a companhia dos seguintes filmes nas bolsas de apostas para o Oscar: The Wrestler, de Darren Aronofsky, Milk, de Gus Van Sant, Frost/Nixon, de Ron Howard, Slumdog Millionaire, de Danny Boyle, Revolutionary Road, de Sam Mendes, Gran Torino, de Clint Eastwood, Doubt, de John Patrick Shanley, The Reader, de Stephen Daldry, Happy Go Lucky, de Mike Leigh, Hunger, de Steve McQueen, Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, Australia, de Baz Luhrmann, WALL-E, de Andrew Stanton, e Batman - O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan.

Até o Oscar e o Globo de Ouro, ainda teremos vários prêmios da crítica e sindicatos para definir os favoritos. Mas, no momento, esses são os nomes rumo ao ouro. Não adianta chorar, pois não deve fugir muito disso.

sábado, novembro 22, 2008

One Hit Band News


Nesta semana, eu e meus colegas do One Hit Band escolhemos nossos covers favoritos. Mas é bom avisar: Não falamos de espertalhões querendo reproduzir a música alheia para ganhar uns trocados como se fossem "talentosos" cantores de chuveiro ou churrascaria. Falamos de gente bacana que contribuiu (e muito) ao modernizar clássicos absolutos. Se quiser, você está convidado para o show. Entre em nossa humilde casa e ligue o som bem alto aqui.

sexta-feira, novembro 21, 2008

As piores continuações de todos os tempos

1
Highlander II - A Ressurreição
(Highlander II - The Quickening, Russell Mulcahy, 1991)



2
Batman & Robin
(Batman & Robin, Joel Schumacher, 1997)


3
Velocidade Máxima 2
(Speed 2 - Cruise Control, Jan de Bont, 1997)


4
Superman IV - Em Busca da Paz
(Superman IV - The Quest For Peace, Sidney J. Furie, 1987)



5
RoboCop 3
(RoboCop 3, Fred Dekker, 1993)



6
Matrix Revolutions
(The Matrix Revolutions, Andy Wachowski / Larry Wachowski, 2003)



7
A Batalha do Planeta dos Macacos

(Battle For the Planet of the Apes, J.Lee Thompson, 1973)


8
Os Embalos de Sábado Continuam
(Staying Alive, Sylvester Stallone, 1983)

9
Três Solteirões e uma Pequena Dama
(3 Men and a Lady, Emile Ardolino, 1990)




10
Olha Quem Está Falando Também
(Look Who's Talking Too, Amy Heckerling, 1990)




Obs: Não citei Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Jogos Mortais, O Albergue e coisas do gênero, porque seria fácil demais. Mesmo assim, a lista poderia ter Hannibal, Porky's II, Highlander III, Legalmente Loira II, Jornada nas Estrelas V, A Mosca II, Olha Quem Está Falando Agora, Mudança de Hábito II, Superman III, Loucademia de Polícia VI e tantos outros, mas é bom encerrar com 10 filmes.

terça-feira, novembro 18, 2008

As melhores continuações de todos os tempos

1
O Poderoso Chefão - Parte II
(The Godfather - Part II, Francis Ford Coppola, 1974)



2
O Império Contra-Ataca
(The Empire Strikes Back, Irvin Kershner, 1980)


3
O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei
(The Lord of the Rings - The Return of the King, Peter Jackson, 2003)



4
Batman - O Cavaleiro das Trevas
(The Dark Knight, Christopher Nolan, 2008)



5
O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final
(Terminator 2 - Judgement Day, James Cameron, 1991)



6
O Senhor dos Anéis - As Duas Torres
(The Lord of the Rings - The Two Towers, Peter Jackson, 2002)



7
Aliens - O Resgate
(Aliens, James Cameron, 1986)



8
Indiana Jones e o Templo da Perdição
(Indiana Jones and the Temple of Doom, Steven Spielberg, 1984)



9
A Cor do Dinheiro
(The Color of Money, Martin Scorsese, 1986)



10
Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan
(Star Trek II - The Wrath of Khan, Nicholas Meyer, 1982)

segunda-feira, novembro 17, 2008

[REC]

"Por que estamos passando por isso, Pablo? Já vimos este filme antes!"


Nada se cria, tudo se copia. [REC] (2007) é mais um filhote da visão em primeira pessoa do horror, recurso que caiu nas graças do público desde A Bruxa de Blair, de 1999. Na verdade, em 1980, um trash chamado Holocausto Canibal já brincava com a técnica da câmera na mão documentando o desespero e a morte de todos os infelizes diante da lente. Em [REC], você também segue o ponto de vista único da fita encontrada dentro da câmera. Só que Holocausto Canibal não teve a divulgação boca-a-boca de A Bruxa de Blair e [REC]. Muito menos a campanha publicitária devastadora de Cloverfield.

Desta vez, não quero discutir a manipulação da imagem ou qualquer outra metáfora
atual, psicológica ou inteligente que exista nesta brincadeira dos diretores e roteiristas espanhóis Jaume Balagueró e Paco Plaza. Também não vou falar de cinema - até porque não considero [REC], A Bruxa de Blair e Cloverfield como obras da sétima arte. Vou me concentrar na diversão mesmo. Como se eu estivesse numa atração assustadora de um parque de diversões.

Encarando desta forma, [REC] funciona que é uma beleza. É de deixar qualquer um tenso esperando pelo próximo susto inevitável. Tudo começa com uma reportagem sobre a rotina de um corpo de bombeiros para o programa noturno Enquanto Você Dorme, apresentado pela linda e carismática Ángela Vidal (Manuela Velasco). Na companhia de seu câmera Pablo (o próprio diretor de fotografia do filme, Pablo Rosso), que representa os olhos da platéia, Ángela só não morre de tédio durante a matéria, porque os bombeiros recebem um chamado para ver o que acontece com uma velha obesa gritando em seu apartamento. Empolgada, Ángela resolve ir junto para documentar os profissionais em ação. Chegando lá, a câmera de Pablo mostra que os moradores estão reunidos no térreo, afinal eles não conseguem dormir com os berros da velha coroca. Quando os bombeiros chegam ao apartamento da vovózona, o espectador descobre que participará em primeira pessoa de mais um filme de zumbis, mortos-vivos, whatever. E como a polícia sabichona isola o prédio em quarentena, a sentença de morte de quem está lá dentro é finalmente assinada. Daqui pra frente, tome seu remédio contra enjôo, pois a câmera segue a expressão "Pernas, pra que te quero?"

De fato, [REC] assusta. E não com ajuda daquele efeito sonoro chinfrim, vagabundo e tradicional (PAM!) na hora em que o diretor quer fazer você pular da cadeira. Nem mesmo há o recurso da trilha sonora. Temos apenas o som ambiente, a cara, a coragem e os olhos de Pablo. Se o câmera largar a filmadora ou se a bateria acabar ou se ele for obrigado a desligar a dita cuja ou se ele virar zumbi, você já sabe, ninguém vê mais nada e é game over.


Pelo menos, peguei algo positivo na comparação com A Bruxa de Blair e Cloverfield. Em [REC], o olhar de Pablo não foge do perigo e, com isso, o espectador vê tudo. A câmera balança que é uma beleza, os personagens correm pra cá, correm pra lá, sobem e descem escadas, tropeçam, levam mordidas, enquanto nós ficamos com náusea no meio da ação, mas ninguém pode reclamar que não viu os monstros. Acho até que a desculpa utilizada para documentar o banquete é justificada ao longo do filme com a insistência de Ángela em prosseguir com a matéria (até como forma de denúncia) custe o que custar. Pelo menos, parece mais convincente e eficiente que seus primos A Bruxa de Blair e Cloverfield.

Enfim, você já viu este "filme" antes. Sabe até como irá terminar. [REC] é divertido como uma rápida viagem por aquela atração de terror, que gera filas quilométricas num parque de diversões. Mas me recuso a analisá-lo como cinema. Mesmo com as boas idéias e intenções propostas por Jaume Balagueró e Paco Plaza durante a brincadeira. Sei que a tentativa de inovar ou recuperar a sensação de medo na tela é compreensível, afinal os filmes de terror andam menos assustadores que muitos games. Se duvida, tente experimentar (à noite) alguns exemplares do gênero no XBox ou no Playstation. É... a indústria de games está fazendo o cinema pedalar.

Ao término de [REC], proponho um desafio. Tente adivinhar com seus amiguinhos qual será a próxima ameaça documentada com uma única câmera na mão nos cinemas. Bruxas, zumbis e Godzillas ianques já foram. Eu posso começar com a minha idéia: O apresentador "intelectual" do novo BBB enlouquece e tenta matar candidatas a capas de revistas masculinas. Sexo e sangue diante das câmeras. Daria mais um filme nos moldes de [REC] e afins.

[REC] ([REC], 2007)

Direção: Jaume Balagueró e Paco Plaza
Roteiro: Jaume Balagueró, Luis Berdejo e Paco Plaza
Elenco: Manuela Velasco, Vicente Gil, Manuel Bronchud, Carlos Lasarte, David Vert, Javier Botet, Martha Carbonell e Maria Lanau

sábado, novembro 15, 2008

The R.E.M. Experience


Na última terça-feira, dia 11 de novembro, eu estive no Via Funchal, em São Paulo, para um dos shows mais espetaculares da minha vida miserável. Quem viu (e ouviu), sabe do que estou falando. Com sucessos de quase 30 anos de estrada, e outros do recente álbum Accelerate, o R.E.M. arrancou aplausos, lágrimas e mostrou que muita gente naquela platéia sabia dançar de forma desengonçada, incluindo eu, e cantar mal pacas. Mas todos estavam empolgadíssimos até a última canção (Man on the Moon) graças à carismática presença de palco de Michael Stipe e sua trupe. Era como se aquela noite jamais pudesse terminar...

Mas vamos combinar? Quem quiser saber mais sobre a minha experiência no show do R.E.M., visite o blog One Hit Band.

sexta-feira, novembro 14, 2008

De bobo, Woody Allen não tem nada


Mia Farrow, Diane Keaton e Dianne Wiest já foram "Musas de Woody Allen". Se um bom autor precisa ou não de uma musa para criar e brilhar, o diretor novaiorquino esclarece este mito com os melhores filmes de sua extraordinária carreira. É só pensar em uma obra essencial do diretor nos anos 70 ou 80. Não tem como errar - no elenco, temos sempre Mia Farrow ou Diane Keaton ou Dianne Wiest. Ou todas juntas, como em A Era do Rádio, de 1986.

Mas depois da conturbada separação pessoal e artística de Mia Farrow, Allen alternou bons e maus momentos na década de 1990. Só dois filmes realmente prestaram: Tiros na Broadway, de 1994, e Poderosa Afrodite, de 1995. Desconstruindo Harry, de 1997, é legal, assim como Poucas e Boas, de 1999, mas ambos não chegam aos pés dos filmes citados acima. E em Tiros na Broadway, o diretor contou com Dianne Wiest. Mas por onde anda Diane Keaton? Sim, ela anda fazendo produções descartáveis e bem que poderia trabalhar com Woody Allen novamente.

Em Poderosa Afrodite, de 1995, Allen deu o Oscar a Mira Sorvino, que esteve brilhante naquele filme, mas nunca mais fez coisa alguma que justificasse sua estatueta dourada. Enfim, a nova musa não era Mira Sorvino. Foi apenas uma espécie de One Night Stand artística.

A primeira metade da década atual também foi pouco inspirada para Woody Allen. Mas fazer o quê? O velhinho falastrão de óculos adora lançar um filme por ano... E sem uma musa, fica difícil. Mesmo com a mulherada sendo o centro das atenções ou atuando como objeto do desejo dos personagens masculinos criados pelo diretor, Allen precisava de uma nova musa. A nova mulher ideal.

Eis que em 2005, o diretor foi bancado por Londres. Deixou Nova Iorque para trás e partiu de mala, óculos e cuia para a terra dos criadores do futebol. Na bagagem, Scarlett Johansson, loiraça, menina com jeito de mulherão e com um corpinho que os gringos não costumam ver pelas ruas ianques. Não deu outra. Allen acertou a mão em Match Point, lançado em 2005. Segundo o próprio diretor, este é o seu melhor filme. Vai discordar? Bom, de lá para cá, a doce Scarlett esteve em Scoop e o novo Vicky Cristina Barcelona. Três dos quatro filmes lançados por Woody Allen nos últimos três anos. Não que Scarlett seja uma atriz extraordinária em seus filmes. Mas Allen voltou para mais um "auge" em sua carreira. E só por ter levantado o "astral" do diretor, os cinéfilos agradecem a Scarlett Johansson.

Quem sabe se um dia, Woody Allen junta Scarlett Johansson, Diane Keaton e Dianne Wiest em um mesmo filme? Seria bacana demais, afinal pedir por Mia Farrow neste momento é como torcer para o Íbis subir para a Série A do Campeonato Brasileiro. Mas anote esta idéia, Woody!

Vicky Cristina Barcelona estréia hoje no País. Não perca. E leia a crítica do Hollywoodiano aqui. Aliás, o blog torce por uma indicação de Penélope Cruz ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Ela está linda na maior atuação de sua carreira.

terça-feira, novembro 11, 2008

007 - Quantum of Solace

Diferente de Sean Connery, Roger Moore e Pierce Brosnan, Daniel Craig não liga se
está ou não no meio do deserto com Olga Kurylenko. Nem, ao menos, carrega a moça no colo.



Na onda das reinvenções e com os filmes de espionagem em alta para uma nova geração graças a um tal de Jason Bourne, convenhamos que era questão de tempo até os sabichões dos estúdios resolverem remodelar 007 para a criançada de hoje. Assim como Vanderlei Luxemburgo se vê acima do futebol, os engravatados do cinema se consideram maiores que a sétima arte e os fãs de cada franquia. A brincadeira começou com 007 - Cassino Royale, em 2006, que ousou ao escalar um James Bond loiro (Daniel Craig, que não faz feio) explosivo, violento, impetuoso e... grosso.

Ok. A idéia é recomeçar as aventuras do herói criado por Ian Fleming, então imagino que o agente vivido por Daniel Craig aja desta forma por ser um "00" novato e ainda em seus "três meses de experiência". Talvez, um dia, quem sabe, ele alcance a elegância vista no personagem eternizado por Sean Connery. Mas será que a intenção dos produtores (e do estúdio) é mesmo essa? E embora o herói de Daniel Craig tenha lampejos do James Bond clássico, acho que o verdadeiro objetivo aqui é conquistar o público que gosta da Trilogia Bourne e não necessariamente de 007. E essa proposta fica muito mais evidente no segundo episódio estrelado por Craig, 007 - Quantum of Solace (Quantum of Solace, 2008).

Antes de prosseguir, admito que não tenho problemas com reinvenções de figuraças da cultura pop. Ainda mais quando bestas quadradas como Joel Schumacher detonam um ícone como Batman. Embora sejam completamente contemporâneos, os filmes de Christopher Nolan (Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas) jamais descaracterizaram o Homem-Morcego. Por outro lado, a recente volta de Indiana Jones irritou muita gente, mas todos parecem concordar que Harrison Ford ainda é (e sempre será) Indy. As características, a personalidade do herói, graças a Deus, são as mesmas de Os Caçadores da Arca Perdida.

De qualquer forma, mudanças em busca de atualização são sempre bem-vindas, afinal o cinema precisa continuar. Mas transformar James Bond em outro herói homônimo somente para acompanhar o gosto do público me parece mais estratégia de marketing do que uma obra de arte. Então, o importante é faturar alto nas bilheterias? Os fãs de carteirinha que se danem? Não acredito que 30% deles tenham implorado por uma atualização do personagem. E acho que não deveria existir essa preocupação com a parcela que não gosta de 007. A explicação para tamanha preocupação, claro, é dinheiro no bolso. Para mim, quem não gosta de Bond deveria ver outra coisa. E quem quiser conhecer o agente que alugue os 20 DVDs da série iniciada com O Satânico Dr. No (claro que estou ignorando o 21º, que é Cassino Royale).

O que acho engraçado nisso tudo é que os filmes de 007 estrelados por Pierce Brosnan conquistaram ótimas bilheterias. Então, que Diabos está acontecendo? Essa idéia de reinvenção é conversa pra boi dormir. É como se a Paramount recomeçasse do zero a saga dos Corleone por O Poderoso Chefão I uns cinco anos após o lançamento de O Poderoso Chefão III. O motivo? Só porque o terceiro filme não é unanimidade como as partes I e II.

Ora bolas, mas agora já foi. E Daniel Craig está no comando. Seria injusto reclamar dele, afinal temos um bom ator à frente de Cassino Royale e Quantum of Solace. O "primeiro filme" é melhor. Fato. É claro que se o agente de Daniel Craig tivesse qualquer outro nome, exceto James Bond, talvez eu gostasse mais de Cassino Royale e vibrasse com este novo herói de ação. Apesar de nervosinho, o personagem tem classe, charme e um gosto muito exigente e particular para mulheres e Dry Martinis, o que obviamente lembraria Bond. Mas o imperdoável em Cassino Royale é vê-lo de coração mole, apaixonado. Como eu disse, outro nome seria o bastante. Não Bond. Porém, o filme tem suas qualidades e uma surpresa: O diretor mediano Martin Campbell se saiu bem melhor que o sempre elogiado Marc Forster, que antes de Quantum of Solace, assinou O Caçador de Pipas, Em Busca da Terra do Nunca, Mais Estranho que a Ficção e A Última Ceia.

Sua escolha para dirigir o novo 007 só comprova a minha impressão sobre Forster: Um peão que se destaca entre outros vários de Hollywood só por saber conduzir bem a câmera. E que sorte danada que esse cara teve. Um currículo que no papel é muito bom, mas que na prática é uma enganação. Seus longas são roteiros filmados sem qualquer intervenção do olhar essencial do diretor, que é o verdadeiro contador de histórias para o público. No caso de Quantum of Solace, Forster entrega o que os envolvidos na reinvenção de Bond querem: Uma aventura de 007 cada vez mais parecida com os filmes de Jason Bourne. E não só no jeito de Bond bater, atirar, pular ou correr pelos telhados de Siena como Bourne correu pelos telhados do Marrocos. Desta vez, Forster até coloca a câmera na mão e balança a coitada sem dó nem piedade para atingir a estética realista que virou mania consagrada pela Trilogia Bourne. Só que Paul Greengrass, o diretor de A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne, sabe muito bem como manter seu olho de documentarista até nas cenas de ação, enquanto Marc Forster é apenas um robozinho nas mãos do estúdio.

Há uma seqüência, no entanto, que merece uma atenção. Falo dos tiros e da pancadaria na fuga de Bond durante a apresentação da ópera Tosca. Plasticamente, a cena é belíssima, mas Marc Forster não esconde a artificialidade de suas intenções. Portanto, não se engane. Guardadas as devidas proporções, Francis Ford Coppola ensinou como se faz na cena do batismo em O Poderoso Chefão e na ópera no final de O Poderoso Chefão III. Então se Forster não é Paul Greengrass, como posso aproximá-lo do talento de Coppola, não é mesmo?

No fim, Quantum of Solace entrega ação competente e desenfreada, porém fria, sem envolver o público emocionalmente. Para você ter uma idéia, somente os primeiros 15 minutos do filme têm mais ação que Cassino Royale inteiro. Alguns podem torcer o nariz para o jeito evidente de "episódio do meio" de Quantum of Solace. O filme começa exatamente onde termina Cassino Royale e vai para lugar nenhum. Mas reclamar disso pode ser bobagem, pois o filme talvez seja a segunda parte de uma trilogia independente com Daniel Craig. Ou parte de uma série que continuará e continuará. Mas vai saber? Não importa dizer que o Bond original idealizado por Ian Fleming é parecido com Daniel Craig. Concorde ou não comigo, o problema é jogar 20 aventuras de Bond na lata do lixo. Como disse um amigo, faz parte da Jasonbournização do cinema de ação.

007 - Quantum of Solace (Quantum of Solace, 2008)
Direção: Marc Forster
Roteiro: Paul Haggis, Neal Purvis, Robert Wade (Baseado no personagem criado por Ian Fleming)
Elenco: Daniel Craig, Mathieu Amalric, Olga Kurylenko, Judi Dench, Giancarlo Giannini, Gemma Arterton e Jeffrey Wright

segunda-feira, novembro 10, 2008

Preparando o Capitão América da Era Obama


Em Hollywood, um dos papos favoritos entre os estúdios é: "Que super-herói dos quadrinhos ainda não teve uma versão decente para o cinema?" Um deles é o Capitão América, um dos mais adorados pelos comedores de hot dog. E em tempos de Barack Obama, o herói que carrega as cores da bandeira norte-americana seria um chamariz e tanto para as bilheterias de 2011. É isso mesmo o que você leu: The First Avenger - Captain America estréia somente em 06 de maio de 2011.

Ainda não sabemos quem interpretará o Capitão. Alguns falam em Will Smith (?) e outros em Matthew McCounaghey, mas não há nada certo até o momento. Só acho que a Marvel pode acertar em cheio no Capitão América da Era Obama se escolher o ator ideal que simbolize esse sentimento de esperança que tomou conta dos EUA. Mas existe um "Queridinho da América" assim nos dias de hoje entre a classe artística? George Clooney, talvez? Nãããoooo... Ele jamais toparia vestir um uniforme desses novamente. Não depois do desastre chamado Batman & Robin, que quase impediu Clooney de atingir o status em que ele se encontra hoje. Quem sabe, então, Clint Eastwood? Muito velho? Ok. Will Smith até seria uma opção, mas não sei se ele ficaria bem de Capitão América. Por outro lado, um herói negro representando os EUA teria tudo a ver com a Era Obama, mas aí seria a propaganda ianque mais previsível e descarada dos últimos tempos na tela do cinema.

Enfim, o ator ainda será definido, mas já temos um diretor confirmado: Joe Johnston, responsável por Querida, Encolhi as Crianças, Jumanji, Rocketeer, Jurassic Park III, Céu de Outubro e o ainda inédito O Lobisomem. Pode não ser o diretor dos sonhos dos fãs do Capitão América, mas Johnston sabe lidar bem com filmes lotados de efeitos visuais e costuma acertar a mão quando o projeto é bom. Entre seus filmes, adoro Céu de Outubro e ainda me divirto muito com Querida, Encolhi as Crianças (Viva Rick Moranis) e Rocketeer (Muitos odeiam este filme, mas eu insisto em defendê-lo).

Os filmes patriotas de Hollywood podem voltar com tudo na Era Obama e The First Avenger - Captain America pode representar essa virada. Ou, quem sabe, consagrar o retorno desta fórmula. Mas isso não quer dizer que precisamos de um Rambo V... Certo, Stallone?

sábado, novembro 08, 2008

Vicky Cristina Barcelona

Niñas, vamos a mi dormitorio,
mientras que Woody Allen no encienda la cámara


Woody Allen sabe representar as neuroses e a complexidade dos relacionamentos amorosos como ninguém. Acho que se todo mundo estudasse direitinho a cartilha que Allen preparou durante os anos 70 e 80, as dores de cotovelo seriam reveladas em índices menores. Não que ele mostre soluções fáceis para o fim do sofrimento nos romances, mas as dicas estão lá. Principalmente em seus três melhores trabalhos: Annie Hall (ou Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), Manhattan e Hannah e Suas Irmãs. Nesses dois últimos, Woody apresenta conclusões românticas para quebrar a análise contundente do teatro da vida real em Annie Hall, a comédia romântica mais direta, profunda e estudiosa da mente humana no cinema.

Bom, até aqui você leu uma reprodução infiel do meu texto sobre Annie Hall, mas acho que a análise também serve para Vicky Cristina Barcelona (2008), primeiro longa do diretor na capital catalã e, provavelmente, o último de um ciclo europeu em sua bela filmografia. O importante é que, finalmente, Allen volta a falar sobre relacionamentos. Convenhamos, isso é o que ele faz de melhor.

No filme, a "certinha" Vicky (a ótima Rebecca Hall) está prestes a se casar e só pensa nisso. A impulsiva Cristina (Scarlett Johansson) vive la vida do jeito que der na telha. As duas amigas começam o filme chegando a Barcelona para uma bela temporada de férias. Não demora muito e elas se envolvem com o pintor espanhol Juan Antonio (Javier Bardem), que se divorciou da... err... digamos assim... emocionalmente instável Maria Elena (Penélope Cruz - mais bonita e melhor atriz do que nunca).


Enquanto Cristina se entrega ao momento, Vicky questiona o amor verdadeiro e o real sentido da vida. Vicky deve mesmo se casar? Ela será feliz numa vidinha segura, traqüila e sem surpresas? No caso de Cristina, o segredo da felicidade é aproveitar o momento e que se dane o resto? Qual delas está certa? Ou será que as duas personalidades juntas formariam uma mulher pronta para encarar a vida sem dúvidas, traumas e ressentimentos?

É um prato cheio para Woody Allen continuar analisando a complexidade do amor. E sem se perder no fácil encanto dos cenários locais, a força de Vicky Cristina Barcelona está na diversão e na sedução proporcionadas pelos personagens criados por Allen numa ciranda amorosa, ao mesmo tempo, consciente e (por que não?) inconseqüente. Como sempre, não espere respostas fáceis sobre o amor. E não culpe Woody Allen pela conclusão aparentemente conformista. Algumas pessoas mudam. Outras não. É somente mais uma análise do diretor sobre um tema universal, que permeia sua carreira.

Mais uma vez, Woody Allen oferece, pelo menos, um bom filme com um roteiro competente e uma entrega natural e absoluta de seu elenco. Isso já estaria bom demais. Porém, em sua turnê européia, eu ainda não tinha visto Allen retornar a suas origens. Diferentemente das reviravoltas de roteiro evidentes em Match Point, Scoop e O Sonho de Cassandra, as mudanças na história são sutis, intimistas e acontecem dentro das mentes e corações de seus personagens. Achei essa diferença interessante. E é exatamente o que ele fazia em seus maiores trabalhos, que traziam Nova York integrada como personagem. E a julgar pelo cenário da última cena, será que Vicky Cristina Barcelona é um ensaio para o retorno de Allen às origens? Só o tempo dirá.

Mas não pense que Vicky Cristina Barcelona está entre os cinco ou dez grandes filmes do diretor. Não é uma reclamação, mas você já viu coisa melhor em sua carreira. O filme satisfaz por trazer Allen de volta às discussões sobre relacionamentos. E é como no amor. Alguns namoros e casamentos ajudam você a amadurecer como pessoa. Você leva certas experiências para o resto da vida. Como Annie Hall, Manhattan e Hannah e Suas Irmãs. Já Vicky Cristina Barcelona é como aquele caso tórrido de verão ou em qualquer outra estação - intenso enquanto dura, mas que fica completamente no passado quando termina. Sem traumas e sem qualquer ensinamento para a vida.

Vicky Cristina Barcelona
(Vicky Cristina Barcelona, 2008)
Direção: Woody Allen

Roteiro: Woody Allen
Elenco: Rebecca Hall, Scarlett Johansson, Penélope Cruz, Javier Bardem, Christopher Evan Welch, Chris Messina, Patricia Clarkson, Kevin Dunn, Julio Perillán e Josep Maria Domènech

quinta-feira, novembro 06, 2008

Campanha genial

Meu lado publicitário surge de vez em quando, mas como ando afastado do ramo, eu juro que ainda não tinha visto essa campanha da Orange, a operadora britânica de telefonia celular, que rolou nos cinemas, pelo menos de 2005 a 2007.

Nos vídeos abaixo, a Orange Film Funding Board tenta administrar os projetos de algumas celebridades para a telona. Tem Darth Vader, Sean Astin, Steven Seagal, Carrie Fisher e até Patrick Swayze. Os atores da diretoria, que tiram um sarro da cara dos famosos e dos próprios executivos de Hollywood, são do grupo inglês de comédia Little Britain. Divirta-se.


Darth Vader




Patrick Swayze




Rob Lowe




Sean Astin
(The Lord of the Ringtones)




Steven Seagal




Carrie Fisher




Val Kilmer
(Alguém ligue para Maverick ou Goose)




Macaulay Culkin




Michael Madsen
(Mr. Blonde)




E... A Clockwork Orange
(Laranja Mecânica)





Alguém aí reparou no relógio atrás do pessoal da Orange?
É uma réplica do relógio da torre de Hill Valley, em De Volta Para o Futuro.

E você ainda não é fã de 007?


A atriz ucraniana Olga Kurylenko é o quanto de consolo você precisa para agüentar a nova aventura do James Bond loiro com jeito de Jason Bourne. Ela é a Bond Girl do 22º filme da série criada por Ian Fleming. Goste ou não da reinvenção do agente na pele de Daniel Craig, 007 - Quantum of Solace (sem título em português) estréia amanhã.

No filme que começa exatamente onde terminou 007 - Cassino Royale, Bond se vinga da morte de sua amada Vesper Lynd (Eva Green). Mas é isso mesmo? Bond apaixonado com dor de cotovelo? Ora, levante a cabeça e siga em frente, James! Não consigo acreditar nessa... Ainda mais com Olga Kurylenko pelo caminho.

terça-feira, novembro 04, 2008

Barack Obama contra o pessimismo generalizado

Os EUA elegeram o primeiro presidente negro do país. Grande parte da classe artística vê Barack Obama como um símbolo da esperança em contradição ao reinado de sangue de George W. Bush, que aos poucos, fez Hollywood retornar ao cinema violento e extremamente pessimista dos anos 70, como reflexo do governo de Richard Nixon. Queira ou não, o cinema é um retrato de cada época. Mas antes, vamos recapitular a década atual.

Você, como eu, sabe que um vencedor do Oscar dita as produções que veremos nos anos seguintes. A Academia sempre preferiu dramas edificantes sobre a importância da família, épicos grandiosos e românticos, além de produções que exaltavam o espírito norte-americano de vencer, dar a volta por cima etc. Ainda no início da década, em 2000, Ridley Scott trouxe de volta o épico romano em Gladiador. Oscar. Um ano depois, Russell Crowe estava de novo no centro das atenções, alguns comparavam seu talento e versatilidade com Marlon Brando e o ator protagonizou o dramalhão Uma Mente Brilhante, que narrava os esforços de um matemático esquizofrênico tentando superar sua doença incurável com o apoio da esposa e a concentração no trabalho. Uma lágrima aqui e outra ali. Oscar. Cada época tem seu Rain Man ou Kramer Vs. Kramer.

Quando Osama Bin Laden atacou as Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, Hollywood já estava com a trilogia O Senhor dos Anéis e o primeiro Harry Potter engatilhados. Se as produções faturassem uma bela grana, os estúdios apostariam de vez em filmes de fantasia e outras aventuras escapistas, como adaptações de histórias em quadrinhos. A ordem geral era esquecer a tragédia que traumatizou o povo norte-americano e deixou o resto do mundo de orelha em pé.

Em 2002, Chicago, uma festa musical saída da Broadway, encantou a Academia e levou a estatueta de Melhor Filme quando concorrentes mais viscerais como As Horas, O Pianista e Gangues de Nova York eram bem superiores. No ano seguinte, um filme pessimista de Clint Eastwood, Sobre Meninos e Lobos, fez uma leitura da América com medo da América e do mundo. Enquanto isso, Sofia Coppola colocou um casal norte-americano encontrando o amor numa terra estrangeira bem longe dos domínios de Bush (Encontros e Desencontros). Entre os indicados daquele ano, Seabiscuit foi o drama mais norte-americano de todos, mas os tempos já eram outros e ninguém percebeu. Só deram o Oscar de Melhor Filme para O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei porque foi o último filme da trilogia de Peter Jackson, que encheu os cofres e bolsos de Hollywood de tudo quanto é jeito. Apesar do que foi pensado logo após o 11 de setembro, os planos da classe artística não estavam ligados à fantasia. Para eles, os EUA não deveriam esquecer a tragédia e aceitar o medo imposto por Bush e seus lacaios. Hollywood decidiu encarar o problema de frente.

Em 2004, Martin Scorsese fez de O Aviador uma viagem ao passado glorioso de Hollywood. Mas a Academia queria premiar o cinema "pra baixo" e "seco" de Clint Eastwood. Em parte porque ele perdeu por Sobre Meninos e Lobos, mas também porque Menina de Ouro é extremamente emocionante sem jamais cair na pieguice, algo que muita gente já reclamava há anos em produções vencedoras do Oscar do naipe de Gente Como a Gente, Laços de Ternura, Kramer Vs. Kramer, Rain Man e Uma Mente Brilhante. Seguindo o ensinamento de produções independentes da metade dos anos 90 e do início desta década como Segredos e Mentiras e Entre Quatro Paredes, Hollywood encontrou um equilíbrio e finalmente aprendeu a fazer dramas contidos, sem altas doses de sacarose, mas que nunca deixam a emoção de lado.

Um ano mais tarde, O Segredo de Brokeback Mountain venceu preconceitos, conquistou o mundo e mostrou que o cinema ainda é capaz de apostar em dramas fortes, diretos e românticos, assim como provou que a trilha sonora (cada vez mais ausente ou sem importância nos filmes) pode subir no meio de uma cena emocionante, pois chorar não faz mal a ninguém - ainda acho que o termo "piegas" foi criado por um crítico que teve vergonha de ser visto chorando numa sala escura.

Mas os concorrentes do filme de Ang Lee representavam o típico cinema contundente dos anos 70 de volta para analisar a América atual e brutal: Boa Noite e Boa Sorte, Munique e Capote. Se bem que ganhou Crash, drama que bebe na fonte da estrutura narrativa dos filmes de Robert Altman, mas que estuda os vários tipos de preconceitos inseridos na sociedade norte-americana. Enfim, a América teve a coragem de olhar para o próprio rabo.

Em 2006 e 2007, o Oscar foi para os pessimistas Os Infiltrados e Onde os Fracos Não Têm Vez, que deixaram qualquer fagulha de esperança na Humanidade de lado e jogaram com a sujeira de um mundo onde ninguém presta. Sangue Negro, um dos indicados da última edição também seguia a temática. O mundo é dos espertos. O blockbuster do ano, Batman - O Cavaleiro das Trevas, tem um vilão que explora o lado ruim das pessoas. Inclusive, o filme de Christopher Nolan é pessimista até a última cena. Lembre-se como o Homem-Morcego termina sua participação no filme.

Com o fatality de Barack Obama em John McCain, no entanto, muitos acreditam que o ciclo pessimista será interrompido. Como a indústria se ajusta ao gosto do público de cada época, a tendência é que o consumidor dos produtos hollywoodianos procure filmes que exaltem o espírito humano (leia: norte-americano), romances exacerbados, épicos grandiosos e dramas que reforcem a importância da família na vida de cada um de nós. Com Obama na Casa Branca, pode ser que a década seguinte tenha seu Kramer Vs. Kramer, Rain Man ou Uma Mente Brilhante. Não será nenhuma surpresa. Mas nada que impeça um diabinho na indústria de plantar suas sementes e ousadias na provável e esperada calmaria que está por vir. Não foi assim com as perversões de Stanley Kubrick ou de tantos outros gênios da sétima arte que desafiavam o mainstream? Sempre teremos um pensador capaz de equilibrar emoções, decisões e balançar a estrutura de cada época.

segunda-feira, novembro 03, 2008

A melhor (nova) série do ano


Irritado com a leva desgraçada de filmes reciclados e sem inspiração que assolam os cinemas? É só procurar na internet pelas séries de TV mais badaladas do momento. Uma delas, ainda inédita no Brasil, é mais um golaço da HBO, que já nos deu The Sopranos, Sex and the City e Entourage. Falo de True Blood, a nova criação de Alan Ball, responsável pelo roteiro extraordinário de Beleza Americana e pela série Six Feet Under - produções que acompanham famílias problemáticas, quebras de paradigmas, preconceitos e a rotina de personagens outsiders.

De uma certa forma, True Blood segue a mesma linha. Mas desta vez, Alan Ball pega seus temas preferidos para entrar no universo da fantasia modernizando a criatura mais bacana do Inferno: O vampiro. E não é uma tarefa das mais fáceis, afinal os herdeiros do Conde Drácula andavam avacalhados (Um Vampiro no Brooklyn? Drácula 2000?) e esquecidos nos cinemas - tirando o recente 30 Dias de Noite, que defendo até a última gota de sangue.

Desde a obra clássica de Bram Stoker, o mundo acompanhou os vampiros, principalmente, na literatura (a série O Livro dos Vampiros é um belo exemplo) e no cinema, que eternizou as presas de Bela Lugosi, Christopher Lee, Max Schreck, Klaus Kinski, Gary Oldman, entre outros. Ao longo dos anos, Hollywood tentou ajustar o mito em cada época. Nem é preciso ir muito longe na era de clássicos como o Nosferatu de F.W. Murnau, que marcou o monstro no cinema mudo. No final dos anos 60, por exemplo, Roman Polanski filmou A Dança dos Vampiros como representante do período que iniciava o movimento da libertação sexual. Nos anos 80, tivemos o ótimo A Hora do Espanto, resultado da onda lucrativa de filmes protagonizados por adolescentes em busca de sexo e diversão.

Nos anos 90, quando o sexo casual foi aceito por grande parte da sociedade, Francis Ford Coppola lançou o maravilhoso Drácula de Bram Stoker, enquanto Neil Jordan se concentrou nas criaturas pop de Anne Rice, em Entrevista Com o Vampiro. Aliás, o filme de Jordan já começava a tocar levemente na imagem do monstro como minoria ou como um ser movido por sangue, desejo e acima de qualquer classificação de sexualidade - um vampiro não é gay, hetero, whatever. Ele simplesmente come o que vier pela frente (no sentido vampiresco da palavra) e não deve ser rotulado disso ou daquilo. Ele é um vampiro. E só. Porém, nos anos 90, o homossexualismo ainda era tratado como um tabu dos infernos. Hollywood discutia o tema de forma não distante, mas delicada. Vide Filadélfia, de Jonathan Demme. Era como se o cinema ainda estudasse ou tentasse decifrar a melhor maneira de explorar o assunto com o público.

Enfim, ao mesmo tempo, vampiros sempre foram sexy, assustadores, românticos, complexos e, talvez por isso, cult. Faltava explorar o mito como a indústria sempre quis. Ou seja, de forma popular. A TV deu o primeiro passo com a série Buffy (1997-2003). Ainda no fim dos anos 90, o cinema apostou em Blade, adaptação de HQ da Marvel. Do ponto de vista comercial, as franquias Buffy e Blade deram certo, mas vampiros não eram bons de merchandising. Todo mundo preferia comprar camisetas, bonequinhos e games de personagens de franquias como Star Wars, Batman, entre outros. Então, como é que Hollywood poderia apostar em vampiros?


Nesta década, os filmes de fantasia e as adaptações de HQs estouraram de vez, graças respectivamente a O Senhor dos Anéis/Harry Potter e X-Men/Homem-Aranha. A fábrica ficou feliz e aproveitou todo e qualquer tipo de venda em nome desses produtos. Ainda assim, vale a pena lembrar que Hollywood nunca sofreu com tanta falta de criatividade nesta década. Como os estúdios queriam sugar livros de fantasia e graphic novels até o fim, os vampiros ficaram de lado. Só no ano passado é que alguém decidiu filmar uma produção decente sobre vampiros: 30 Dias de Noite, que por sua vez, também saiu de uma HQ, claro. De qualquer forma, o filme de David Slade não rendeu tanta grana assim. E para Hollywood é isso o que importa.

Mas como manda a tradição, ainda faltava uma obra capaz de ajustar o vampiro a esta década. O cinema, obviamente, ficou para trás. E ainda bem, porque a TV norte-americana anda muito mais corajosa. Quando Alan Ball leu o primeiro volume da série de livros The Southern Vampire Mysteries, de Charlaine Harris, ele achou o conteúdo ideal para inserir seus temas favoritos. Protagonizada por Sookie Stackhouse, garçonete de uma pequena cidade da Louisiana, que tenta conviver com o dom de ler mentes (ou seria uma maldição?), os livros de Charlaine Harris e a série True Blood giram em torno de uma realidade como a nossa, mas com uma diferença sutil: vampiros revelaram sua existência aos mortais e tentam conviver com a sociedade.

Para isso, os monstros precisam aceitar algumas regras. Inclusive, uma bebida de sangue sintético (Tru Blood - sem o "e" mesmo) é criada pelos japoneses para satisfazer a sede das criaturas e afastar suas presas de nossos pobres pescoços. Mas como o povo, grupos religiosos e políticos vêem essa situação? Vampiros são cidadãos como qualquer outro? Eles têm direito a trabalho, voto ou moradia? É claro que existem aqueles que são a favor e aqueles que são contra. Tanto entre os humanos, quanto entre os vampiros.

Alan Ball vai ainda mais longe nesta análise e toca no problema das drogas - o sangue dos mortos-vivos é disputado no mercado negro a preços exorbitantes, afinal a substância estimula a percepção dos humanos e funciona como um Viagra elevado a décima potência. Intolerância, preconceito, luta por igualdade, entre outros temas fazem desta nova série uma obra genuína de Alan Ball e totalmente inserida nos dias de hoje. Enfim, os vampiros da década estão em True Blood.

Claro que ainda há o apelo comercial, que é usado de forma inteligente; passando longe do óbvio e da pieguice. Sookie (Anna Paquin) tem a capacidade de ler mentes, mas não consegue invadir os pensamentos do vampiro Bill Compton (Stephen Moyer). Isso dá uma segurança inédita a garota. Bill é capaz de hipnotizar qualquer mortal, mas não consegue induzir Sookie. Ambos se apaixonam inevitavelmente, mas o romance jamais cai no água com açúcar, afinal Bill pode ser o clássico, porém moderno, vampiro sedutor, mas é uma criatura da noite doida para sugar o sangue dos mortais. Todo cuidado é pouco para a jovem Sookie. Essa paixão move a série, mas True Blood utiliza a história de amor para convidar o grande público a um estudo sincero e contundente dos dias de hoje. Aliás, para simplificar, a violência e a frieza do mundo atual estão representadas tanto nas cenas sangrentas quanto nas cenas de sexo - protagonizadas por mortais ou imortais.

Em True Blood, Alan Ball pode até brincar com a mitologia dos vampiros, mas o autor aproveita a lenda para modernizá-la em um cotidiano onde ninguém é totalmente bom, nem 100% mau. Temos alho, cruz, luz do sol, sangue, a incapacidade de um vampiro entrar numa casa sem ser convidado; mas também temos violência, sexo, preconceito, indiferença, guerras e famílias disfuncionais. No fim, Alan Ball quer saber: Quem é o verdadeiro monstro de True Blood? O Homem ou o vampiro? Eis a questão.

A melhor (nova) série do ano começou muito bem e a HBO já encomendou uma segunda temporada. Resta saber se a ambição de Alan Ball será recompensada com a devoção do público norte-americano, que sempre define se uma série terá vida longa ou curta. Resta saber se True Blood estréia logo no Brasil. E resta saber se o cinema ainda conseguirá competir com a TV pelos próximos 10 anos.