quinta-feira, abril 30, 2009

Wolverinenses


Quem já entregou o IR e ainda não pegou a gripe suína está mais do que pronto para encarar a chegada oficial da temporada de filmes bobos e divertidos do verão americano. E neste feriadão já tem baladão nos cinemas com X-Men Origens: Wolverine.

Não importa se um monte de gente acha que o primeiro filme solo de um mutante do clã comandado pelo Professor Xavier é uma bomba. Você só precisa lembrar que Hugh Jackman é um cara legal que precisa do nosso apoio - ainda mais depois de se aventurar pela desastrosa Austrália de Baz Luhrmann. Portanto, vá ao cinema para ajudar o nosso amigo, porque ele é gente boa e o marrento Wolverine é um personagem sensacional cheio de frases chucknorrianas.

Antes de sair de casa, no entanto, acho bom os torcedores do Wolverine terem os filmes anteriores do mutante bem fresquinhos na cabeça. Para ajudar, dê uma olhada abaixo na revisão vapt vupt do Hollywoodiano.




X-Men (2000), de Bryan Singer

Cotação:
Opinião: O diretor Bryan Singer amenizou a grande quantidade de informações dos quadrinhos e abriu o universo dos X-Men para o público geral ao entregar uma ficção científica de ritmo lento (no bom sentido) liderada pelo carisma do "novato" Hugh Jackman e centrada na análise do preconceito. O filme é curto, mas bem-sucedido ao situar o espectador (fã ou não) e prepara terreno para um segundo filme espetacular.
Momento Wolverine: Quebra pau com a Mística, a mulher azul mais bonita do mundo.




X-Men 2 (2003), de Bryan Singer

Cotação:
Opinião: Com personagens já conhecidos pelo público, Singer pôde construir uma aventura empolgante e surpreendente. Tudo é melhor neste filme - as atuações, a direção (Singer muito mais a vontade com total controle criativo), as cenas de ação, o roteiro e os efeitos visuais. O principal ainda é o Wolverine, que está muito mais insano neste filme.
Momento Wolverine: Logan senta a porrada na tropa de elite que invade a mansão dos mutantes na calada da noite.


X-Men: O Confronto Final (2006), de Brett Ratner

Cotação:
Opinião: Como Bryan Singer foi cuidar de Superman - O Retorno, a Fox contratou o picareta Brett Ratner para estragar o que estava indo muito bem. Com muitos personagens para controlar, Ratner cozinha a trama capenga num básico feijão com arroz até chegar na pancadaria final com um Wolverine coadjuvante e chororô.
Momento Wolverine: Nenhum. Se até Hugh Jackman não gostou de ver seu Wolverine como um cãozinho apaixonado de coração amanteigado, quem sou eu para discordar, certo?

terça-feira, abril 28, 2009

Sinédoque, Nova Iorque


Charlie Kaufman talvez seja o roteirista americano mais celebrado da década. Para ele, não há nada mais bizarro que a mente humana, que se equilibra numa linha tênue separando a realidade da fantasia. Porém, sua visão complexa sempre foi traduzida para o público de forma ora poética, ora insana por cineastas talentosos como Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich, Adaptação) e Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças), que, justamente por isso, fizeram filmes magníficos. Mas em sua estreia na direção, Kaufman extrapolou os limites de sua própria imaginação, o que torna compreensível que ele (e somente ele) entenda Sinédoque, Nova Iorque (Synecdoche, New York, 2008). Nem Jonze, nem Gondry, nem ninguém poderia assumir a direção deste roteiro.

E admitir que
Sinédoque, Nova Iorque não foi feito para ser compreendido jamais pode ser considerado um problema. Trata-se de um filme que motiva sensações distintas ao ser encarado como uma experiência rara. É o sonho de um sonho de uma peça. É o lirismo da vida real. Seria como sonhar com um filme de Fellini num quarto de frente para a estressante Times Square. Especialmente Oito e Meio. Mas Kaufman, nem ninguém, consegue ser Fellini.

Por mais que seja fascinante,
Sinédoque, Nova Iorque, ao mesmo tempo, mostra que não estamos diante de um gênio. E que Kaufman está acenando para a plateia com a intenção de ser reconhecido como tal. O fato é que nenhum cineasta vivo seria capaz de fazer este filme exatamente como Kaufman o imaginou. Talvez se sonho semelhante tivesse saído da mente de um David Lynch antes de um porre ou baseado. Talvez.

Sem dúvida que estamos diante de um autor. Mas diferente de grandes visionários que já viveram para contar histórias maravilhosas e imortais, Kaufman se leva a sério demais.
Sinédoque, Nova Iorque está aí para forçar a barra e fazer cinéfilos carentes apontarem para o diretor/roteirista e concordarem com a estampa de sua camiseta, que diz em letras garrafais: "Gente, eu sou um gênio. Vocês estão comigo?"

Enquanto Michel Gondry e Spike Jonze entendiam os roteiros de Kaufman como viagens para se discutir a arte e a vida com base na cultura cinematográfica, o Kaufman diretor
expõe uma falha ao não conseguir sustentar uma discussão a respeito de cinema, vida e arte em geral. Ele quer apenas analisar a própria arte, que sai de sua mente sem lembranças.

Mas Sinédoque, Nova Iorque tem Philip Seymour Hoffman, que é um ator fantástico. Ele vale o ingresso fazendo o
neurótico diretor de teatro Caden Cotard, que planeja sua obra-prima. Dentro de um galpão, ele reconstrói a Big Apple para atingir a perfeição em sua peça. Sem que perceba, ele é desconstruído pela vida e encontra refúgio na arte. Vivendo da própria imaginação, Caden busca inconscientemente se completar como ser humano. Sua peça se confunde com sua vida entre momentos de fantasia e realidade.

Trocando o teatro pelo cinema, o problema de
Sinédoque, Nova Iorque é fazer o cinéfilo lembrar de Marcello Mastroianni em Oito e Meio. Ou Kaufman seguiu essa linha ou é um alienado na história do cinema. De vez em quando, isso também é Hollywood. Esse brilho eterno de uma mente sem lembranças que tenta enganar uma nova geração ao mostrar que foi a fonte de todas as grandes ideias da sétima arte. Infelizmente, cada geração tem o gênio e a obra-prima que merece.

Sinédoque, Nova Iorque (Synecdoche, New York, 2008)
Direção e roteiro: Charlie Kaufman
Elenco:
Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Michelle Williams, Catherine Keener, Emily Watson e Dianne Wiest

segunda-feira, abril 27, 2009

Não posso acreditar I


O que é pior? Saber que Videodrome, um dos filmes mais legais de David Cronenberg, será refilmado? Ou digerir Ehren Kruger (Pânico 3, O Chamado e Os Irmãos Grimm) como roteirista quando o próprio Cronenberg escreveu o original?

Um dos filmes mais espetaculares de 1983, Videodrome é um programa pirata captado pelas antenas de um canal ridículo comandado pelo produtor de TV vivido por James Woods. Aos poucos, ele descobre que o conteúdo do show domina o cérebro do espectador, inclusive o seu.

Nada contra quem só conhece o David Cronenberg de Marcas da Violência e Senhores do Crime. Mas se você gosta do cinema dele, precisa conhecer Videodrome e outros filmes do diretor feitos na mesma época como Scanners, A Mosca e Na Hora da Zona Morta. Você também pode concordar com Hollywood e esperar pelas refilmagens. E a desculpa dos estúdios é sempre a mesma: apresentar filmes consagrados para uma nova geração.

Hollywood é o Inferno na Terra... Adora jogar o conteúdo de filmes inesquecíveis e inovadores, realizados por verdadeiros visionários, nas mãos de qualquer um. É o mesmo problema que me leva ao post abaixo...

Não posso acreditar II


Parece que o diretor Robert Rodriguez vai mesmo tentar salvar a franquia O Predador, que de bom mesmo só tem o filme original de 1987, estrelado pelo Governator. Sua ideia é ignorar os genéricos Aliens Vs. Predador e até a continuação bacaninha Predador 2, dirigida por Stephen Hopkins, em 1990. Ok, até aqui, tudo bem.

O pé atrás começa com o título Predators - sem falar que deveriam deixar o monstrengo em paz, já que existe DVD e Blu-Ray no mercado. Ainda sem data para o início das filmagens, além de não ter nome algum envolvido na produção até o momento, Rodriguez quer seguir a estratégia que James Cameron pôs em prática para fazer a competente sequência de Alien - O Oitavo Passageiro, de Ridley Scott.

Enquanto Scott usou o território da ficção científica para fazer um filme de terror, Cameron fez um longa de ação em Aliens - O Resgate. É uma das melhores continuações de todos os tempos. É fiel ao original, mas completamente diferente. Cameron não pensou simplesmente em colocar Sigourney Weaver contra vários alienígenas, quando no filme de Scott ela enfrentava "apenas" um.
Ele contribuiu (e muito) para expandir o universo criado pelo diretor de Blade Runner.

Pois bem, em Predators, Rodriguez quer continuar o filme de 1987, colocando não um, mas vários monstros. E ele está empolgado citando a influência de Aliens - O Resgate. Notou a semelhança? Predator(s)... Alien(s)... Genial! Mas, por enquanto, nem dá pra criticar o cara, mas essa ideia começa tão brilhante quanto a de Michael Bay, que seguiu a linha romance-ameaçado-por-tragédia-histórica de Titanic, também de James Cameron, em Pearl Harbor.

E você sabe que não dá pra confiar em Robert Rodriguez. Ele pode ser o diretor de Sin City e El Mariachi, mas é o mesmo sujeito por trás de Pequenos Espiões e As Aventuras de
Sharkboy e Lavagirl.

Pode ser que eu queime a minha língua. E espero que sim. Mas ler que Robert Rodriguez pretende fazer de Predators o seu Aliens - O Resgate parece notícia para acalmar gente fantasiada em convenção nerd.

Não posso acreditar III
























Megan Fox, senhoras e senhores, no set de Jonah Hex, a adaptação das HQs do caubói da DC Comics. Josh Brolin, o irmão mais velho de Os Goonies, será o protagonista. Mas quem se importa?

Dirigido por Jimmy Hayward, de Horton e o Mundo dos Quem, o filme estreia no segundo semestre de 2010.

sábado, abril 25, 2009

A única seleção que interessa


Quentin Tarantino, com Bastardos Inglórios, Pedro Almodóvar, com Los Abrazos Rotos, Lars Von Trier, com Antichrist, Park Chan-Wook, com Thirst, Jane Campion, com Bright Star, Alain Resnais, com Les Herbes Folles, Michael Haneke, com The White Ribbon, e Ang Lee, com Taking Woodstock, estão na lista de convocados para a disputa da Palma de Ouro na 62ª edição do Festival de Cannes, que começa dia 13 de maio. Oui, essa é a seleção mais importante do momento.

Entre os títulos fora de competição, destaque para Agora, de Alejandro Amenábar, The Imaginarium of Doctor Parnassus, de Terry Gilliam, Arraste-me Pro Inferno, de Sam Raimi, e Tetro, do sumido Francis Ford Coppola, mais conhecido hoje como o pai de Sofia. Na mostra paralela Um Certo Olhar, temos a presença do diretor brasileiro Heitor Dhalia, do ótimo O Cheiro do Ralo, com seu mais novo trabalho, À Deriva. E a produção é de Fernando Meirelles. Já o filme que terá a honra de abrir o festival é Up, a nova animação da Pixar.

No ano passado, o júri presidido por Sean Penn deu a Palma de Ouro ao francês Entre os Muros da Escola. Desta vez, a atriz Isabelle Huppert comanda os jurados do festival que termina dia 24 de maio.

Particularmente, achei a seleção oficial excelente. Ver Quentin Tarantino disputando novamente o prêmio que ganhou, em 1994, por Pulp Fiction, e que colocou seu nome na boca de qualquer fã de cinema, é um delírio à parte. Também estou muito curioso para saber como Park Chan-Wook tratou seu filme de vampiros, e como Penélope Cruz de Oscar na mão se sai sob a batuta de seu diretor favorito, Pedro Almodóvar.

Obs: Não perca a melhor cobertura diária do Festival de Cannes no blog do meu amigo Vinicius Pereira.

quinta-feira, abril 23, 2009

Não nos deixei cair em tentação


Minhas séries favoritas sempre foram The Sopranos, Seinfeld, Friends, Ally McBeal, Star Trek e The X-Files. Não necessariamente nesta ordem. Hoje, aprecio 24, Lost, House e The Simpsons com moderação. Mas, vez ou outra, tento acompanhar algo como Gossip Girl, que está em sua segunda temporada. Mas confesso que nunca consegui chegar ao final de um episódio.

Não aguento os roteiros e as falas, assim como as situações e os dilemas dramáticos criados para os personagens. Aliás, detesto Beverly Hills 90210, One Tree Hill, The O.C., Dawson's Creek e genéricos, que endeusam os sentimentos confusos e vazios da gurizada. Não acho convincente. Ora bolas, o que essas vítimas da puberdade que vivem de mesada em bairros sofisticados podem me ensinar sobre sexo, moda e a miséria da condição humana? Não é preconceito, pois juro que tentei. É claro que gosto não se discute e não existem verdades absolutas, mas fico na bronca porque muita série boa é cancelada sem uma segunda chance devido à alienação da audiência americana obcecada por realities.

Mesmo não gostando, seria canastrice da minha parte não tentar compreender o fenômeno. Se uma série de qualidade duvidosa tem seus fãs carrapatos, ela permanece no ar. Não importa o tamanho da bobagem criada pelos roteiristas para o episódio seguinte, porque os fiéis aceitam. Não fosse assim, Smallville e Supernatural morreriam de fome.

Volto a Gossip Girl para discutir o papel da imprensa nisso tudo. Os veículos deveriam ficar do lado do público que busca qualidade, mas estamos num período de transição e o desespero vem batendo à porta, principalmente da mídia impressa.

Dito isso, admito que só li agora a recente e curiosa edição da Rolling Stone, que deu capa para Blake Lively e Leighton Meester, as meninas que dominam Gossip Girl. Para a revista, "apesar de mal conseguir juntar três milhões de telespectadores por semana, o programa se tornou a série mais falada e culturamente relevante da televisão." Como diria Didi Mocó: "Cuma?"

Detratores de Gossip Girl (e eles são muitos) colocaram a credibilidade da revista em dúvida. Acusações de matérias compradas pra lá e pra cá choveram na horta da publicação, mas eu prefiro acreditar na correria urgente para vender um material impresso na era da internet (e da crise econômica). Sabemos que não existe público para comprar e manter uma revista com temas clássicos ou de qualidade indiscutível. Hoje em dia, mesmo sendo a principal aposta, nem o pop dá conta. Então não adianta gastar o verbo com acusações. A série é ruim para a maioria? Beleza, mas os caras precisam vender. Pelo menos estão falando de produtos da indústria celebrados por parte do público. O foco não desapareceu. E o retorno financeiro é garantido com os fãs da série, que não ligam se seus personagens favoritos aparecem em revistas, jornais, sites ou blogs.

Imagine se eu fosse obrigado a viver do Hollywoodiano? Cedo ou tarde, mesmo pela internet, eu precisaria ilustrar minhas notas com as belas Blake Lively e Leighton Meester dividindo um inocente sorvetinho. Hoje, não preciso disso. Está certo que as meninas alegram este post porque percebi que os últimos só traziam fotos de homens, mas isso é outra história.

A polêmica relevante em torno desta edição da Rolling Stone é discutir se a matéria chamará a atenção do público masculino que não aderiu à confraria da pashmina. Mas, neste caso, também esbarraremos na capa de uma revista feminina que traz Leonardo DiCaprio na capa por um filme como Os Infiltrados.

Não disse que a Rolling Stone é exclusivamente masculina, mas ver Blake Lively e Leighton Meester bem à vontade em suas páginas quase que inteiramente musicais é um "plus a mais", como diriam os pseudointelectuais.

Até onde podemos chegar com o sensacionalismo enraizado na indústria do entretenimento? E como a degradação da arte dentro da cultura de massa pode influenciar a capacidade de raciocínio do público? Nossos netos estão condenados ao lixo industrializado? Ou à total extinção da arte em prol da admiração obsessiva pela vida alheia? Eis as questões.

Obs: As fotos foram publicadas originalmente na Rolling Stone de 09 de abril de 2009.

quarta-feira, abril 22, 2009

Presságio


Graças ao bug do milênio, o 11 de setembro, a proximidade do amaldiçoado ano de 2012 e... Al Gore com suas verdades inconvenientes, Hollywood enche a nossa paciência com muitos filmes descartáveis e pouquíssimas produções interessantes sobre catástrofes causadas pelas ações impiedosas do Homem ou até de seres alienígenas. Chamo essa tendência de "filmes B com roupagem digital" criados para atualizar as paranóias aproveitadas pelo cinema nos anos 50. Presságio (Knowing, 2009) é mais um dessa lista. Mas temos uma pequena surpresa: O filme não é uma catástrofe - com o perdão do trocadilho - e diverte bastante o espectador que pretende escapar da realidade por cerca de 120 minutos. Agora, não dá pra se contentar com pouco, porque de duas, uma: Ou o estúdio tesourou a criatividade de Alex Proyas ou esse diretor não sabe trabalhar com muito dinheiro no bolso.

Não vou perder tempo comentando os problemas de Presságio, mas o filme tinha cacife para deixar o público refletindo por um bom tempo. A verdade é que não importa se o argumento é interessante. Filme lançado para abrir temporada de verão americano é feito para divertir quem paga pra ver Velozes e Furiosos. Pelo menos, essa é a tendência.

Faça como todo mundo e jogue o problema na logística, afinal Presságio poderia ter o mesmo diretor (explico isso já já) e o protagonista não precisaria ganhar o salário do Nicolas Cage, assim como o orçamento dos magníficos efeitos visuais poderia ser mais econômico. E para o bem da arte, seu lançamento deveria ser marcado para bem longe do verão americano. Seria outro filme, claro, mas o que me incomoda é saber que Alex Proyas tem talento para fazer mais do que um blockbuster formulaico e esquecível. E olha que alguns momentos deste filme parecem saídos de uma reunião de pauta comandada por estagiários ou de um brainstorm do crioulo doido feito pelo núcleo de direção das novelas da Globo.

Responsável por O Corvo e Cidade das Sombras, Alex Proyas tem olhos para a imaginação visual, mas ainda não teve a chance de imprimir sua marca ou assinatura. Galera, estamos numa era em que um cara como Michael Bay é reconhecido por seus filmes. Não é brinquedo não. Então como é que o diretor responsável por dois cults da década passada não consegue ficar famoso ou lançar um filmaço que marque uma geração na hora de trabalhar com um orçamento gigantesco? Se até M. Night Shyamalan é autor, por que Alex Proyas não chega lá?

Nesses dois pequenos grandes filmes citados, ele se saiu muito bem, mas quando topou dirigir Will Smiths e Nicolas Cages, sua visão sombria da Humanidade andou um tanto diluída entre cenas espetaculares de ação cuidadosamente planejadas. Foi o que aconteceu com Eu, Robô, que avacalhou Isaac Asimov, e Presságio, que poderia ser muito mais do que um roteiro de Mãe Dináh filmado por um bom diretor.

Ok, guilty as charged, Your Honor: Considero Alex Proyas um cara criativo. Talvez sua salvação esteja ao lado de produtores que entendam do riscado como Steven Spielberg, George Lucas, James Cameron e Peter Jackson. Em um belo dia, com um roteiro maluco de ficção científica sob seus cuidados e a liberdade necessária para tocar o projeto como bem entender, Proyas tem tudo para fazer um filmaço do gênero. Enquanto não liberta esse diretor, Hollywood brinca com suas ideias. E fazer o quê? Não é um problema exclusivo de Alex Proyas. Mas que ele deveria se arriscar por um filme menor como Cidade das Sombras da próxima vez, ah, deveria. Por enquanto, sei que ele tem mais a dizer por este caminho. Pelo menos até ser chamado para trabalhar com um dos integrantes do quarteto fantástico citado neste parágrafo.

Bom, mas o Presságio que temos é um filme de (e para) Nicolas Cage, ator que desandou geral após ganhar o Oscar por Despedida em Las Vegas. Até entendo que ele quis um reconhecimento como astro, mas tirando Con Air, A Outra Face e A Rocha, não houve nada que um cão esfomeado pudesse salvar do lixo. Apesar do parente que envergonha o clã Coppola, meu lado fanático por ficção científica até que tentou me trair. E Presságio é um prato cheio. Cage é John Koestler, professor e pai viúvo do menino Caleb (Chandler Canterbury). Em suas mãos está uma lista cheia de números que indicam tragédias ocorridas nos últimos 50 anos. Pior: três ainda estão por vir. Claro que o suspense fica em segundo plano e a trama é conduzida com clichês que vão do papai viúvo e alcóolatra ao amigo do peito que, na hora H, não acredita nas teorias excêntricas do chapa.

Mas me engana que eu gosto com esse lero lero de historinha pra boi dormir. Hollywood quer é mostrar como Nicolas Cage tentará impedir as tragédias anunciadas. Com PhD em blockbusters, você sabe que uma catástrofe precisa ser mais espetacular que a outra. Prefiro a primeira, que fez minha vida inteira passar diante dos meus olhos. Com poucos ou quase nenhum corte, a cena merece uma indicação ao Oscar de efeitos visuais e honra as melhores tentativas de Steven Spielberg em meter medo na plateia. Sem tempo para respirar, lembramos que ainda temos duas catástrofes pela frente. E não adianta exigir muito: A proposta de sugerir mais do que mostrar com a intenção de aumentar o suspense é coisa tão antiga quanto os grandes times de Botafogo e Santos. E é tanta coisa acontecendo neste filme que valeria mais a pena transformá-lo em série de TV.

Mesmo assim, o saldo dessa brincadeira deve ser mais positivo para o diretor Alex Proyas que para o astro Nicolas Cage. Se for inteligente, Proyas aproveitará a grana fácil de Presságio para fazer um filme de verdade. Talvez ele precise de um help do agente de M. Night Shyamalan, diretor que ainda tem permissão para filmar mesmo não fazendo nada tão bom quanto Presságio nos últimos anos.

Presságio (Knowing, 2009)
Direção: Alex Proyas
Roteiro: Ryne Douglas Pearson, Juliet Snowden e Stiles White
Elenco: Nicolas Cage, Chandler Canterbury, Rose Byrne, D.G. Maloney e Lara Robinson

segunda-feira, abril 20, 2009

Robin Hood Decimus Meridius

Saiu a primeira foto de Russell Crowe, o Robert De Niro (ou Leonardo DiCaprio?) de Ridley Scott como Robin Hood, na nova versão de uma das histórias preferidas de Hollywood. Desta vez, comandada pelo diretor de Alien, Blade Runner e Gladiador.

Aliás, cá entre nós, parece que o General Maximus Decimus Meridius, de Gladiador, trocou de roupa e foi para a Floresta de Sherwood, não?

A trama você já conhece. Agora, Maid Marian será interpretada por Cate Blanchett (olha ela aí outra vez), enquanto Crowe será o príncipe dos ladrões. Mas estou curioso é pra ver o ator como o Xerife de Nottingham - já que foi anunciado que ele faria o herói e o vilão do filme de Ridley Scott.


Acho um desafio e tanto para o ator, porque não deixar tal proposta cair no ridículo já seria algo próximo de uma vitória. Ainda assim, só acreditarei que Ridley Scott fará isso quando Russell Crowe aparecer numa foto caracterizado como a nemêsis de Robin of Loxley.

O novo Robin Hood estreia em maio de 2010. Não sei quanto a vocês, mas sou fã e me diverti com todas as aventuras feitas para o cinema - tirando a dos Trapalhões e a do Mel Brooks. Só espero que Scott e Crowe não coloquem música do Bryan Adams, embora eu goste muito do filme estrelado por Kevin Costner.


ATUALIZAÇÃO
O ator Matthew Macfadyen, o Mr. Darcy, de "Orgulho e Preconceito", será o Xerife de Nottingham. Particularmente, achava essa história de Russell Crowe vivendo mocinho e bandido no mesmo filme uma coisa meio Eddie Murphy. Então, vamos levar isso a sério, Ridley Scott! Acho bom, hein! E foi uma ótima escolha para o elenco.

terça-feira, abril 14, 2009

The dark side of the moon


Sou fã de ficção científica e ando meio chateado com a falta de filmes inteligentes do gênero no mercado. Mas, de vez em quando, a esperança insiste em bater à minha porta. A razão da empolgação deste blogueiro é Moon, protagonizado pelo ótimo Sam Rockwell no papel de Sam Bell, um astronauta vivendo numa base lunar durante três longos anos.

Por todo este tempo, ele teve a companhia do computador da instalação (que tem a voz de Kevin Spacey brincando de HAL 9000), enquanto trabalhava na extração de um minério capaz de acabar com a crise de energia na Terra. Prestes a ir para casa, Sam descobre que será obrigado a ficar um pouco mais na Lua.

De cara, parece que não tem nada demais, mas torço para que seja uma produção surpreendente. Pelo menos, Sam Rockwell está no filme e, ora bolas, trata-se de um cara legal. Além disso, a direção é de Duncan Jones, ninguém menos que o filho de David Bowie. E isso só pode significar que o filme tem tudo para ser fora do normal.

Moon
ainda não tem data para estrear no Brasil, mas chega às telas americanas em 12 de junho. Veja o trailer aqui.

segunda-feira, abril 13, 2009

Monstros Vs. Alienígenas


Embora minha criança interior estivesse me enchendo o saco, assisti a Monstros Vs. Alienígenas (Monsters Vs. Aliens, 2009) somente duas semanas após a estreia desta que é a primeira animação da Dreamworks em 3D. A genialidade técnica da produção já estava comprovada no trailer, mas confesso que demorei pra ir ao cinema porque eu tinha lá as minhas dúvidas quanto à qualidade do conteúdo, afinal a Dreamworks, diferente da Pixar, só faz animação sobre malandros e retardados fazendo piadas prontas de grandes sucessos do cinema. E eu já estava cansado de ver sempre a mesma coisa.

Monstros Vs. Alienígenas não foge muito disso. Mas não é que ri além da conta? Atarefado com compromissos adultos, esqueci meu lado infantil nas últimas semanas e nem me liguei que a ideia de juntar dois ícones nerds como monstros e alienígenas na telona não tem como dar errado. Ainda mais quando a garotada atual só quer saber de Ben 10 e Clone Wars. Ou quando marmanjos, como eu, cresceram com Star Wars, Star Trek e outras bobagens descartadas por quem admira intelectuais ao estilo Manhattan Connection.

Sabendo disso, a Dreamworks criou uma heroína bacana como protagonista para chamar a atenção do público (mirim) feminino, até porque os meninos já estavam garantidos na festa. E deu certo. Inspirada em O Ataque da Mulher de 15 Metros, Susan (voz de Reese Witherspoon) é atingida por um meteorito no dia de seu casamento com um chato de galochas. A garotinha apaixonada e iludida pelo noivo, que só pensa na carreira, reverte a situação ao passar a ver sua vida (e o mundo) de uma perspectiva totalmente diferente e superior a de qualquer homem.

Do ponto de vista da moça, entendemos que Monstros Vs. Alienígenas, apesar de ser bobo e legal, assume seu papel como fábula feminista. Mas quebrar a cuca com este filme é desperdício de neurônios. Então, relaxe e imagine como Paula e Hortência juntas não chegariam aos pés de Susan, que é capturada por militares e levada para a famosa Área 51, onde conhece outros "monstros" lendários, mas simpáticos e... inofensivos: o Dr. Barata (voz de Hugh "Dr. House" Laurie), cuja figura homenageia a criatura de A Mosca da Cabeça Branca, B.O.B. (Seth Rogen), a gelatina azul sem cérebro, que representa o primo pobre da Bolha Assassina, e o homem-peixe Elo Perdido (Will Arnett), que lembra o eterno Monstro da Lagoa Negra. Ah, sim. Eu estava esquecendo do mudo Insetossauro, uma gigantesca larva do tamanho do Godzilla.

Quando impiedosos alienígenas chegam ao nosso planeta para recuperar a fonte de energia que deixou Susan com as pernas maiores que as da Ana Hickmann, o governo americano, impotente diante do poder da tecnologia dos ETs, não exita em mandar o esquadrão de monstros para o ataque.

A mistura de ação e comédia funciona que é uma beleza, mas se você não é criança e muito menos tem a cabeça dos pimpolhos, Monstros Vs. Alienígenas pode valer o ingresso pelas risadas de seu filho, sobrinho, irmãozinho, whatever, e, claro, pela bela oportunidade de encarar uma das mais impressionantes experiências 3D da nossa galáxia.

O roteiro pode estar longe de ser um primor, mas acerta na diversão, na homenagem aos filmes B, e na criação de um universo fantástico baseado em criaturas clássicas do terror e da ficção científica utilizadas aqui de forma criativa. Talvez seja um bom começo para uma nova franquia do cinema americano. E, mais do que isso, pode significar a consolidação do 3D como a nova mania da sétima arte para arrancar o povo de casa. Mas se você não é capaz de entrar no clima desta aventura cheia de atrativos técnicos, nerds e infantis, não há outra razão para arriscar uma sessão de Monstros Vs. Alienígenas.

Monstros Vs. Alienígenas (Monsters Vs. Aliens, 2009)
Direção e Roteiro: Rob Letterman e Conrad Vernon

Com as vozes de Reese Witherspoon, Seth Rogen, Hugh Laurie, Will Arnett, Kiefer Sutherland, Rainn Wilson, Stephen Colbert, Paul Rudd, Julie White, Jeffrey Tambor, Amy Poehler, Ed Helms e John Krasinski

domingo, abril 12, 2009

Entre os Muros da Escola


Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, Entre os Muros da Escola (Entre les Murs, 2008) pode ser ambientado em um colégio francês, mas qualquer professor ou aluno do mundo inteiro pode se reconhecer entre os personagens do filme de Laurent Cantet.

Entre os Muros da Escola discute os papéis do jovem
, do professor, da escola pública e, principalmente, da França de diferentes raças, culturas e classes sociais representada por uma sala de aula. Mas o que mais impressiona no filme é a discussão do modo de ensino. O diretor propõe diversas leituras a começar pelo retrato da nova pedagogia chamada de sócio-construtivista, onde ninguém ensina ninguém e o professor não detém o conhecimento. Ele simplesmente atua como mediador na troca mútua de informações.

Mas para quê lutar para ensinar jovens que, em sua maioria, não têm espaço na sociedade? E pior: Os alunos sabem dessa condição. Isso torna tudo muito mais difícil, afinal como eles aceitam a proximidade do professor quando, no fundo, impera a hierarquia representando limites?

Por mais que o professor François Marin (François Bégaudeau) tente se aproximar de seus alunos por meio da discussão aberta sobre as linguagens eruditas e refinadas, além d
as gírias de rua, ambos esbarram inevitavelmente na disputa pelo poder. De fato, cedo ou tarde, a confusão de sentimentos e ideais acontece em qualquer ambiente onde existe a hierarquia. Mesmo que o sistema de educação ou a relação entre patrão e subordinado tente caminhar para uma evolução apoiada em boas intenções.

Além disso, Cantet olha para passado, presente e futuro, fazendo pensar sobre qual seria a forma correta de educação e reforçando que, na verdade, estamos aqui de passagem e vivendo em um processo ininterrupto de aprendizagem. E isso serve para professores e alunos.

Para ilustrar esse cenário intimista, que passa longe do moralismo, Laurent Cantet segura a câmera na mão para capturar a dinâmica da relação professor/aluno. É como se estivéssemos na sala de aula. E para alcançar esse espetáculo fantástico e complexo que é a vida real, Cantet fez um trabalho intenso e bem-sucedido com atores amadores, incluindo os alunos e François Bégaudeau, que escreveu o livro sobre suas experiências, que, por sua vez, inspirou a realização do filme.


Entre os Muros da Escola é um dos filmes mais honestos e verdadeiros dos últimos anos capaz de caminhar livremente entre formatos tão distintos quanto o
documentário e a ficção e, ainda assim, arrancar emoções genuínas da platéia como o cinema faz desde os primórdios.

Entre os Muros da Escola
(Entre les Murs, 2008)
Direção: Laurent Cantet
Roteiro: Robin Campillo, Laurent Cantet e François Bégaudeau (Baseado no livro de François Bégaudeau)
Elenco: François Bégaudeau, Laura Baquela, Nassim Amrabt, Cherif Bounaïdja Rachedi, Juliette Demaille, Damien Gomes, Arthur Fogel e Dalla Doucoure

sexta-feira, abril 10, 2009

Mais e melhores


Hollywoodianos, acho que nem avisei que fiz algumas alterações na barra lateral direita do blog. Vou explicar passo a passo: Desde sempre, vocês acompanham minhas resenhas para os Filmes em Cartaz. Mas, logo abaixo, está uma das novidades. É a lista dos Filmes do Ano, que revela os favoritos do blog exibidos pelos cinemas brasileiros em 2009. A ordem é de preferência mesmo:

1) Quem Quer Ser um Milionário?, de Danny Boyle
2) Milk - A Voz da Igualdade, de Gus Van Sant
3) Gran Torino, de Clint Eastwood
4) O Lutador, de Darren Aronofsky
5) Frost/Nixon, de Ron Howard

A intenção é fazer um top 10, que será sempre atualizado até 31 de dezembro. Mas como a coisa está feia, só coloquei cinco até o momento. E para não confundir vocês, a lista Filmes do Ano
é diferente das minhas escolhas no Hollywoodiano Awards, que segue o calendário das premiações de Hollywood. OK?

Logo abaixo, você tem as listas Músicas do Ano (também em ordem de preferência), Especial Paul Newman (ordem de preferência), Filmes Cinco Estrelas (por enquanto, em ordem alfabética) e os links para as três edições do Hollywoodiano Awards.


Talvez vocês já tenham visto tudo isso, mas daqui pra frente, prometo que qualquer mudança no blog será devidamente comunicada.

quarta-feira, abril 08, 2009

Filmes e games como água e óleo


O diretor Gore Verbinski, da trilogia Piratas do Caribe, disse "não" para a quarta aventura de Jack Sparrow. Seu objetivo é adaptar Bioshock, um dos games mais espetaculares do últimos anos. As filmagens começam ano que vem e o filme não estreia antes de 2011. Mas a questão mais importante a merecer uma discussão é: Hollywood vai aprender a fazer filmes adaptados de games famosos?

O problema bate de frente na mesma tendência dos livros ou quadrinhos que viram filmes. O fato é que Hollywood não quer perder dinheiro. Pelo contrário: Quer ganhar, no mínimo, o triplo de seu investimento. No geral, falta ousadia na hora de pensar na arte cinema e, por um lado, agradar fãs ardorosos é garantia de boa bilheteria. Só que, muitas vezes, o filme é concluído com um certo rabo preso ao material original. Inclusive, alguns deles saem arrastados e um tanto confusos e indefinidos quanto às linguagens distintas.

Goste ou não, as artes são diferentes e adaptações como Sin City, Spirit e Hulk (do Ang Lee) foram erros necessários para provar que a linguagem cinematográfica não é compatível com a reprodução visual e narrativa de uma HQ. No caso dos livros, pegue o exemplo recente de Harry Potter e a Pedra Filosofal e Harry Potter e a Câmara Secreta, ambos do diretor Chris Columbus, que, sob o olhar atento de J.K. Rowling, topou seguir as páginas da autora da forma mais fiel possível e esqueceu que já foi um divertido contador de histórias no cinema, afinal ele é o cara responsável por Uma Noite de Aventuras, Uma Babá Quase Perfeita e Esqueceram de Mim.

Claro que temos projetos que dão certo. O livro O Paciente Inglês, de Michael Ondaatje, sempre foi considerado como "infilmável", mas o diretor Anthony Minghella levou sua superprodução ao Olimpo do Oscar quando ganhou nove estatuetas. O Senhor dos Anéis também sempre recebeu rótulos de adaptação complicada, mas os filmes de Peter Jackson fizeram história. Com quadrinhos, tivemos ótimos resultados dos esforços de diretores talentosos como Bryan Singer (X-Men 1 e 2), Sam Raimi (Homem-Aranha 1 e 2), Sam Mendes (Estrada Para Perdição) e Christopher Nolan (Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas). Mas e quanto aos games? Bom, nenhum deu certo até hoje. Resident Evil? Lixo. Mortal Kombat? Lixo. Street Fighter? Hmm... Deixa pra lá. E o problema é o mesmo dos longas baseados em livros, quadrinhos, etc. Enfim, não adianta tentar reproduzir o game na tela do cinema. Se eu quiser jogar, fico em casa. Certo?

Já está provado que filme com The Rock não dá certo, mas quem joga videogame ou computador, sabe que Doom é um clássico. É jogo de tiro em primeira pessoa (a ação é vista pelos olhos do personagem) e é preciso descarregar a munição de suas armas nos malditos monstros que surgem no meio do caminho sem aviso prévio. E não é que o filme tenta copiar exatamente essa sensação numa interminável sequencia com cerca de cinco minutos? Só que (detalhe) você não tem joystick na cadeira do cinema.

Quer me ver nervoso? Diga na minha cara que Tomb Raider, o filme, é um "Indiana Jones de saia". Ora, Angelina é um espetáculo, mas sua beleza não é desculpa para um filme de duas horas com roteiro pífio que se sustenta de forma picareta na marca de um dos games mais idolatrados de todos os tempos.

Preconceitos à parte, tendo em vista a falta de criatividade de Hollywood, os games são (ou deveriam ser) fontes de inspiração para o cinema como livros, quadrinhos, artigos de jornais, teatro, séries de TV, desenhos animados ou qualquer fofoca. Até agora, vamos dar um desconto, pois faltou um grande nome na direção para comandar uma adaptação. Sabemos que isso não garante nada, mas diretores de prestígio foram decisivos para Hollywood acertar nas adaptações de histórias em quadrinhos. Não que Gore Verbinski ameace o posto de Orson Welles, mas o sujeito conseguiu transformar atração de parque temático em um filme, ou melhor, três. Será que ele seria capaz de estragar a história de Bioshock, que é mais intrigante do que a maioria dos filmes atuais?

Se der certo, temos muitos games com ótimas histórias que mereciam um filme competente, para dizer o mínimo. Entre eles, Gears of War, God of War e Metal Gear Solid - se você anda atualizado com o mundo dos games, sabe que a época de River Raid já passou e que as tramas deixam Hollywood parecendo uma creche. Além disso, a tecnologia atual chegou a um nível tão impressionante que o cinema pode contar qualquer história imaginável. E acho que o cinema anda carente de bons filmes fantásticos, afinal, convenhamos que o excesso de produções pós-O Senhor dos Anéis e Matrix banalizaram a fantasia e a ficção científica. Em outras palavras, essa é a hora para Gore Verbinski fazer de Bioshock um belo filme. Ou para o produtor Jerry Bruckheimer e o diretor Mike Newell, que preparam Prince of Persia - The Sands of Time, com Jake Gyllenhaal e Ben Kingsley, com estreia marcada para 2010.

Sei que há um debate interminável quando falamos de cinema e outras linguagens. Mas acho que não importa buscar uma fidelidade total às páginas ou ao game. Também não adianta representar um personagem literário exatamente como seu autor o imaginou. O ideal para cinema é capturar o universo e o clima da obra original. Feito isso, o restante equivalente a algo em torno de 10% depende da montagem e da dedicação dos atores.

Em tempo, Bioshock é sobre um náufrago que encontra Rapture, uma bizarra cidade submarina criada por um cientista louco. O problema, claro, não é entrar, mas escapar de Rapture com vida. Até o final, o jogador é surpreendido não só pelos sustos e a sensação claustrofóbica da aventura, mas principalmente pelas reviravoltas na trama e a riqueza do universo desenvolvido por Ken Levine, o autor e diretor do game. Aliás, Bioshock 2 chega ainda neste ano para Xbox 360 e Playstation 3.

terça-feira, abril 07, 2009

Vai um filminho aê? É só 5 real, tio!


Wolverine estreia no próximo dia 30 de abril nos cinemas, mas você já pode encontrar o filme nas esquinas e na internet. Trata-se de uma versão de qualidade, mas não-finalizada - uma cópia sem efeitos visuais, além de som, trilha e montagem provisórios.

É o Tropa de Elite de Hollywood. Enfim, já era. De qualquer forma, a tragédia ocorrida com o filme de José Padilha funcionou, ironicamente, como uma propaganda eficiente, pois a estratégia involuntária levou um belo público aos cinemas. Não estou defendendo a pirataria, apenas afirmando que a vadiagem deu certo.

No caso de Wolverine, isso é diferente, claro. O filme do mutante se vende sozinho e o fato de ter vazado na rede coloca o blockbuster em risco no meio da concorrência violenta, afinal é o verão americano começando. No Brasil, é a temporada de férias chegando mais cedo aos cinemas. Isso quer dizer que gastaríamos uma grana considerável com estacionamento, lanche (ou jantar), balas, pipoca, refrigerante e ingresso(s) para Star Trek, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, e Transformers - A Vingança dos Derrotados, mas economizaríamos com Wolverine no conforto do nosso lar. A verdade é que a grande aposta da Fox para essa temporada está com a pulga atrás da orelha, digamos assim.

Há tempos que Hollywood tenta combater a pirataria. Um dos últimos recursos foi o lançamento mundial para produções comerciais. Com alguns filmes, pelo menos, estúdios e distribuidoras diminuiram a janela entre a estreia nos EUA e o restante do planeta. Na TV, os problemas são semelhantes. Por exemplo, 24 Horas sempre estreia em janeiro na terra dos Jonas Brothers, mas a Fox daqui só lança a série três meses depois. Genial! Quase no fim da temporada. Isso é um prato cheio para os piratas. Uma saída é o lançamento simultâneo, mas sempre esbarram no tempo (e no custo) do trabalho para a produção de legendas. Mas quer saber? Acho conversa fiada, porque tudo é uma questão de mudança de paradigmas. Os piratas conseguem colocar um episódio para download um dia depois de sua exibição nos EUA, incluindo as legendas em português. Então, como é que os canais não são capazes de fazer isso? E olha que a gente já paga um bom dinheirinho para manter TV por assinatura mês após mês.

Mais cedo ou mais tarde, a TV deve aderir ao streaming mundial. Veja bem: Imagine assinar os serviços de uma operadora e ter um canal que promova um pacote que ligaria você a um site de streaming. O assinante veria a série, com ou sem legenda, sem necessidade de download, porque o programa ficaria acessível por um tempo determinado no pacote. Talvez isso gerasse uma receita a mais para o canal, que reduziria o preço da legendagem com a série já pronta para seu lançamento em DVD, assim como também seria capaz de aumentar sua base de assinantes com um novo tipo de produto.

Falando em DVDs, acho que as locadoras, infelizmente, estão destinadas à extinção. Por enquanto, tecnicamente falando, investir no Blu-Ray seria uma solução, afinal é uma mídia que ainda desafia os piratas com mais travas de segurança do que um cinto de castidade. Mas vocês já viram quanto custa um filme em Blu-Ray? Sei que muita gente trabalha nisso, mas baixar custos seria uma hipótese a se considerar. Ou alguém ainda pensa que a vida é fácil?

A mesma coisa para o cinema. A indústria já descobriu que não adianta perder tempo e dinheiro caçando piratas. Digamos que a internet tem um papel importante na democratização do acesso à cultura, pois sabemos que nem todo mundo tem condição para consumir ou até mesmo chegar ao produto chamado cinema. Mas como baixar custos numa época de crise econômica? Ainda mais agora com a invasão de filmes em 3D prevista para este ano, afinal muitas salas de cinema serão obrigadas a uma adaptação dessa nova realidade. Mas também já sabemos que essa jogada 3D de Hollywood tem muito a ver com o combate à pirataria. É um fato e um atrativo a mais para o espectador deixar sua casa e ir ao cinema.

Um país como o Brasil ainda está longe de adaptar seus cinemas ao digital, mas pense como seria a vida se os exibidores pudessem baixar cópias legais dos filmes diretamente dos sites das distribuidoras. Por um software livre, as cópias já viriam com cerca de cinco filmes comerciais de marcas como Coca-Cola, Volkswagen, Oi, McDonald's e Visa. Tudo devidamente anexado ao arquivo baixado. Vindo antes da atração principal, o público seria obrigado a ver esses anúncios. É mais ou menos como funciona a publicidade na TV aberta. Com isso, o exibidor não pagaria pela cópia e se preocuparia em manter seu cinema com a venda de ingressos, que, dessa forma, poderiam ser mais baratos.

Ao mesmo tempo, o público decidiria como e onde gostaria de assistir ao filme. Em casa, baixando do mesmo jeito que o exibidor, ou em um cinema digital em som e imagem. A indústria, no entanto, não morreria, assim como a TV não morre, afinal a propaganda é a alma do negócio. Ou, simplesmente, esqueça essa minha viagem e imagine o lançamento simultâneo de um filme em várias mídias. Como diria o idiota das Casas Bahia: "Qué pagá quanto?"

Mas a questão é complicadíssima, Hollywoodianos. Na verdade, ninguém achou a cura ainda. E a intenção desse post é gerar reflexão e discussão a respeito do tema. Mesmo viajando na maionese.

Só para constar, eu irei ao cinema assistir a Wolverine.

sábado, abril 04, 2009

Croisette inglória


15 anos após levar a Palma de Ouro em Cannes por Pulp Fiction, um dos melhores e mais influentes filmes da década passada, Quentin Tarantino estará de volta ao festival afrescalhado para a prémiere mundial de Bastardos Inglórios, que de acordo com a jornalista Ana Maria Bahiana, é a tentativa do diretor em fazer pelos filmes de guerra o que o western spaguetti fez pelos faroestes. Mas será que a Croisette ainda morre de amores por Tarantino?

Eu acho que será um dos maiores filmes de 2009, ao lado de Public Enemies, de Michael Mann, Shutter Island, de Martin Scorsese, Avatar, de James Cameron, Uma Vida Interrompida, de Peter Jackson, e Up, dos gênios da Pixar, que abre o festival. Enquanto isso, os cinemas de todo o mundo lançam Velozes e Furiosos 4... Yeah... Right...

Bom, a 62ª edição do Festival de Cannes será presidida pela atriz francesa
Isabelle Huppert - o badalado evento acontece de 13 a 24 de maio. Depois disso, Bastardos Inglórios ainda terá um belo chão pela frente até estrear nos EUA em 21 de agosto e em 23 de outubro no Brasil.

sexta-feira, abril 03, 2009

O fim de uma era

Hollywoodianos, a SET acabou. A maior revista de cinema do País não existe mais. Fiquei chocado com a notícia, mas me recuso a acreditar que o Brasil não tenha espaço para uma revista de cinema. Mesmo na era da internet. Também me recuso a acreditar que uma marca de mais de 20 anos como a SET tenha um fim tão seco e injusto.

Coleciono essa bagaça desde 1993 quando Van Damme foi capa da revista, por estrelar O Alvo, de John Woo. Tenho uma pilha podre de SETs no meu armário e jamais acreditei que, um dia, conheceria, falaria ou simplesmente trocaria ideias cinematográficas por e-mail ou blogs com gente como Isabela Boscov e Ana Maria Bahiana, grandes nomes que já passaram pela SET.

Eu e você podemos ter nossas opiniões particulares sobre a revista, mas reconheço e exalto a competência dos jornalistas Ricardo Matsumoto e Rodrigo Salem, últimos bravos comandantes da SET. Pelo menos, desses dois caras, eu posso falar. Não conheço direito o Roberto Sadovski, mas torço muito para que Matsumoto e Salem sigam cobrindo o mundo do cinema de alguma forma.

Não tenho informações sobre os motivos, embora a Editora Peixes andasse mal das pernas. Mas talvez seja apenas o fim de uma era. Pode ser que um novo tempo esteja começando. Torço pelos meus amigos e sei que teremos notícias deles muito em breve. Acredito que alguma editora deva apadrinhar a revista, mas a gente fala sobre isso mais tarde.

E você? Sei que tem sua opinião sobre o fim momentâneo da SET. Conte-me, xingue, lamente, comemore. O blog é seu! Ah, a capa aí em cima é da edição de abril, que não ganhará a luz do dia.

quinta-feira, abril 02, 2009

A palavra de Maurice Jarre


Filmes e trilhas sonoras sempre foram unha e carne um do outro. Desde a época de Metrópolis e O Gabinete do Dr. Caligari. Infelizmente, hoje, acho que a sétima arte tenta explorar cada vez mais a realidade e, você sabe, a vida não tem trilha sonora. Triste assim.

Representantes da manifestação da arte, os temas estão praticamente extintos e as trilhas mais elogiadas do momento só funcionam durante a exibição de um filme - ninguém mais sai do cinema assobiando. Ou é muito raro isso acontecer. Como penso desta forma, lamento profundamente a partida do maestro francês Maurice Jarre, um dos últimos ícones da música no cinema. Compositor favorito do monumental David Lean, Jarre morreu nesta semana e deixou um legado fascinante.

Autor de trilhas inesquecíveis para filmes como Lawrence da Arábia, Doutor Jivago, A Filha de Ryan, Passagem Para a Índia, A Testemunha, Sociedade dos Poetas Mortos e Ghost, Jarre foi um dos maiores em seu ofício. Para mim, um dos cinco grandes. Os outros, claro, são Bernard Herrmann, Nino Rota, John Williams e Ennio Morricone.

Mas para relembrar Maurice Jarre, eu gostaria de esquecer o português e falar com vocês no idioma do maestro. Por exemplo, no final de Sociedade dos Poetas Mortos - isso que é final de filme -, o aluno Todd Anderson (Ethan Hawke) tenta explicar ao Sr. Keating (Robin Williams) que o professor foi vítima de um complô da diretoria do colégio. Quando o mestre é obrigado a deixar a sala, a música de Maurice Jarre entra. Note que a intenção do diretor Peter Weir é fazer um tributo à arte do ensino. A música vai crescendo à medida em que os alunos, a Sociedade dos Poetas Mortos, sobem em suas mesas para homenagear Keating evocando as palavras de Walt Whitman, "Oh Captain, My Captain!". É como se os antepassados da sociedade voltassem do além. É algo sobrenatural que acontece ali. Agora, tente imaginar a cena sem a música de Maurice Jarre.




Em A Testemunha, outro grande filme de Peter Weir, há uma sequência que mostra a comunidade amish construindo um celeiro com a ajuda do policial John Book (Harrison Ford). A trilha de Maurice Jarre domina a cena e ilustra todos os significados do melhor filme de Weir. Com música, som e imagem, vemos um conflito de emoções entre a inveja, o ciúme e o amor. Fantástico. Agora, tente imaginar a cena sem a música de Maurice Jarre.




Lawrence da Arábia é um dos meus filmes favoritos. É o maior épico já feito para o cinema. David Lean alcançou um nível jamais igualado por outros cineastas ao contar a saga de um homem desprezível apaixonado pelo deserto e pela sensação de aventura. Mas não me leve a sério, por favor, afinal a história de T.E. Lawrence (Peter O' Toole) é maior que a vida e não se resume somente ao que tenho a dizer sobre o filme. É por isso que David Lean filmou (pintou?) o deserto com uma fotografia que eu considero a mais bela de todas. Freddie Young é o nome da fera. Bom, mas voltando: Uma das melhores cenas de Lawrence da Arábia mostra o herói em seu primeiro contato com o deserto. Mas tente imaginar o cenário inteiro sem a música de Maurice Jarre.




Para terminar, talvez você ainda não tenha visto Doutor Jivago, mas certamente conhece o Tema de Lara. Preciso dizer algo mais?




Apenas imagens não construiriam tal magia. Assim falou o maestro Maurice Jarre.

quarta-feira, abril 01, 2009

Minha garota de vestido verde

Rápido! Pense na personagem fêmea mais bela do cinema nesta década. E então? O que veio em sua mente? Antes de responder, eu sei que é questão de gosto e podemos divergir em nossas opiniões, mas provavelmente, a imagem de Keira Knightley naquele vestido verde de Desejo e Reparação tenha vindo, pelo menos, como um flash em sua memória. Se não veio, agora ficou.

Desgraçada! Como ela consegue? Aquela mulher num vestido daqueles... Parece uma miragem, uma figura inatingível, intocável. Como disse Frank Drebin (Leslie Nielsen), em Corra que a Polícia Vem Aí!, dá vontade de ajoelhar e agradecer a Deus por ter me deixado nascer homem.

Não é devaneio machista, nem quero esbarrar na grosseria. Longe disso, por favor. Cara, sou leigo em matéria de moda, mas entendo de mulher. Não, não sou nenhum Casanova, Jude Law ou Paulinho Vilhena. Porém, eu conheço a verdade. E desculpe-me se ela incomoda, mas você, mulher, precisa estar sempre bonita. Não "ser" bonita, mas "estar" bonita. Linda de preferência. É a lei da vida.


A intenção aqui não é idolatrar a adorável magrela Keira Knightley, mas chamar a atenção para a beleza feminina que surge na tela de tempos em tempos. E não acho que Keira no vestido verde desenhado por Jacqueline Durran tenha sido obra do acaso. Vocês lembram da aula de moda da professora Meryl Streep para sua aluna Anne Hathaway em O Diabo Veste Prada, não? Há um propósito por trás da confecção de um vestido assim e tem gente que não dá a mínima. Mas, de qualquer forma, estou mais interessado no poder que essa peça proporciona.

Uma mulher vestida desse jeito está por cima da carne seca. Ela pode. Ela manda. Ela pede pra gente dar uma voltinha enquanto joga conversa fora com a amiga e obedecemos com o maior prazer. Carregamos a bolsa dela cheia de frufrus na frente de uma multidão. Sem problemas. Até repetimos a dose se ela quiser.


Agora, uma mulher descabelada usando uma camiseta velha sem, ao menos, um lápis preto (confesso que olhos contornados com aquela linha preta é jogo sujo com meu coração macho) não deveria nem ousar dar ordens ao homem com H ou mesmo pedir com jeitinho. Não passa credibilidade. E não adianta pegar o telefone e reclamar pra mãe (ou pra melhor amiga) que ele não olha pra você. Ponto.

Dito isso, homens querem ser escravos de suas mulheres. É uma condição que vive em nosso subconsciente cavernoso desde os primórdios. Às vezes, a raça macha não admite ou demora a perceber, mas o homem nasceu para venerar o sexo feminino. Só que esse regalo não pode ser privilégio de qualquer uma. Para assumir o controle da popular coleira, a mulherada deveria ver mais filmes de Audrey Hepburn ou rever Doutor Jivago, que tem a personagem mais bela do cinema, a Lara de Julie Christie. Deveria rever Anne Hathaway em Agente 86. Ou estudar Keira Knightley em Desejo e Reparação. Conversar com uma garota estilo Juno é legal, assim como é muito bom pro ego ser visto com uma gostosona como Megan Fox, em Transformers. Faladeiras como Meg Ryan e Sandra Bullock também são ótimas opções para um café numa boa livraria.

Mas mulher de verdade sabe usar um vestido verde. Preste atenção no jeito como ela para, olha e caminha. Esse jeito estranhamente natural de andar sem preocupação e, ao mesmo tempo, como se ela fosse o centro do universo. Como se estivesse em slow motion. Existem mulheres assim... Isso é caráter. Isso é personalidade.

Em Desejo e Reparação, Keira Knightley não é fisicamente a mulher mais linda do mundo. Mas isso não importa. Ela tem graça. Uma magia que não se encontra nessas baladas noturnas pra gente perdida. Aquela mulher que dói só de olhar, mas que não dá para desgrudar os glóbulos oculares nem por um segundo. Ela merece canções de amor. É a musa que detém os direitos por mérito da dor de cotovelo alheia. Garota que usa vestido verde se torna mulher. Ela sabe que a cor e o preço do vestido são apenas detalhes.