segunda-feira, fevereiro 09, 2009

O Lendário Mickey Rourke


Mickey Rourke, um dos ídolos da geração oitentista, está de volta. Para o astro, sua presença no espetacular O Lutador, de Darren Aronofsky, tem a mesma importância que Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, proporcionou a John Travolta, em 1994. É o retorno e a consagração de um nome popular que reinou numa época que não volta mais. O filmaço que pode dar um Oscar de Melhor Ator a Mickey Rourke estreia nesta sexta-feira. Mas, antes de continuar, admita: Há 20 anos atrás, imaginar Rourke com um prêmio da Academia era requisito básico para uma internação num hospício. Ou você realmente achou que, um dia, ele estaria numa festa do Oscar?

A primeira chance de Mickey Rourke veio com um pequeno papel na subestimada comédia 1941 - Uma Guerra Muito Louca (1979), de Steven Spielberg. Mas sua estrela começou a brilhar nos filmes Quando os Jovens se Tornam Adultos (1983), de Barry Levinson, e, principalmente, O Selvagem da Motocicleta (1983), de Francis Ford Coppola, e O Ano do Dragão (1985), de Michael Cimino. E como ninguém é de ferro em Hollywood, Rourke topou produções como 9 1/2 Semanas de Amor (1986), bomba do diretor Adrian Lyne que ficou em cartaz no Brasil por muito, mas muito tempo mesmo. É claro que o filme fez bem para a sua imagem de astro, mas acho que a única bola dentro de 9 1/2 Semanas de Amor foi inspirar a turma de Top Gang a colocar Charlie Sheen fritando bacon na barriguinha de Valeria Golino. Felizmente, no ano seguinte, Mickey Rourke pôde fazer Coração Satânico (1987), de Alan Parker, que, para mim, é o melhor filme de sua carreira.

Mas apesar do sucesso popular, das oportunidades, e de sair na capa da primeira edição da revista SET, Mickey Rourke dispensou grandes filmes. Era como se ele buscasse um reconhecimento como ator. E não como astro. Mas sendo dono de um temperamento difícil, além de carregar problemas conjugais e o consumo excessivo de álcool e drogas na bagagem, as portas começaram a se fechar para Mickey Rourke.

Ainda por cima, ele recusou os papéis principais de Highlander (1986) e Os Intocáveis (1987), que acabaram, respectivamente, nas mãos de Christopher Lambert e Kevin Costner. Entre umas e outras curiosidades, o ator foi uma das escolhas da Paramount para fazer o policial Axel Foley, em Um Tira da Pesada (1986), que deu um gás e tanto na carreira de Eddie Murphy. Hoje, pensando bem, como Mickey Rourke torrou seu dinheiro e se meteu em várias outras enrascadas em sua vida pessoal, até que personagens como Connor MacLeod, Elliott Ness e Axel Foley teriam colaborado (e muito) para sua carreira. Convenhamos: Seria bem melhor que protagonizar Orquídea Selvagem (1989).

Nos anos 90, para piorar, Rourke resolveu se dedicar ao boxe, mas não deixou o cinema totalmente de lado - apesar de ter recusado o papel que ficou com Bruce Willis, em Pulp Fiction. Agora, imaginem: Tarantino teria feito dois milagres num filme só ressuscitando Mickey Rourke e John Travolta. E em 1994, quando Pulp Fiction estourou, Rourke era, de fato, um boxeador profissional, a profissão de Butch Coolidge, personagem de Bruce Willis neste clássico moderno.

Em 1995, Rourke desistiu dos ringues. Mas, então, foi a vez do troco de Hollywood, que deu uma esnobada no ator-que-cansou-de-esnobá-la. O astro não desistiu e tentou sobreviver em filmecos que geralmente iam direto para as prateleiras empoeiradas das locadoras. Entre as bobagens que conseguiram estrear nas telas brasileiras, Rourke foi sparring de Jean-Claude Van Damme e Dennis Rodman (!) em A Colônia (1997), ação tranqueira dirigida por Tsui Hark.

Embora, em 1997, o chapa Francis Ford Coppola tenha dado uma ajudinha ao convidá-lo para um pequeno papel em O Homem que Fazia Chover, Rourke permaneceu no anonimato, sendo constantemente ridicularizado por seus deslizes pessoais. Era como se o astro dos anos 80 não tivesse direito a uma segunda chance para mostrar - a quem ainda não sabia - que ele é um ator de verdade. Mas alguns amigos não o abandonaram. Desta vez como diretor, Sean Penn estendeu a mão a Rourke e o colocou em A Promessa (2001), filme protagonizado por Jack Nicholson. Robert Rodriguez lembrou do ator e o convidou para Era Uma Vez no México (2003), estrelado por Antonio Banderas e Johnny Depp.

Aos poucos, Rourke subia novamente degrau por degrau. Em 2005, finalmente, Rodriguez fez o astro voltar aos holofotes com um dos principais papéis de Sin City. Seu rosto estava coberto de maquiagem, é verdade, mas o apelo comercial do filme fez o público notar novamente o nome do ator. Também não podemos esquecer de citar o help do diretor Tony Scott, que deu oportunidades a Mickey Rourke em Chamas da Vingança (2004) e Domino (2005).

Mas o diretor Darren Aronofsky, de Réquiem Para um Sonho, estava em seu caminho. O Lutador não é somente um dos melhores filmes de 2008, mas é o respeito tardio a Mickey Rourke - hoje, com 56 anos. É público e crítica reconhecendo um ex-astro como um ator de verdade. Agora, chovem propostas em sua horta. E nesta fase da vida, Rourke não tem mais receio de se arriscar em produções extremamente comerciais, afinal, entre seus próximos projetos, ele será nada menos que o vilão de Homem de Ferro 2, um dos maiores lançamentos da temporada 2010.

Parafraseando seu personagem em O Lutador, se o único lugar onde Mickey Rourke se machuca é lá fora, que ele viva para sempre na tela do cinema, que é o lugar de onde jamais deveria ter saído.

10 Comments:

At 11:07 PM, fevereiro 09, 2009, Blogger Denis Torres said...

Muito bom lembrar a carreira de Mickey Rourke! Vê-lo tão bem nos faz sentir de volta aos grandes anos 80. Concordo que seu melhor filme é Coração Satânico, mas faltou mencionar sua atuação em Barfly - Condenados pelo vício, para mim a melhor de sua carreira. Ele e a Faye Dunaway arrepiam nesse filme. Abs!

 
At 11:28 PM, fevereiro 09, 2009, Blogger - cleber . said...

Não tive a chance de ver muitos trabalhos do ator - estou a procura dos filmes .

http://cineclubsp.blogspot.com/

 
At 12:42 AM, fevereiro 10, 2009, Blogger Diário de Dois Cinéfilos said...

Olá Otávio, tudo bem?
Te indiquei ao selo do "Olha que Blog Maneiro", dá uma passadinha no meu blog para dar uma olhada.

E sobre Mickey Rourke, torço para que o Oscar vá pra ele!

Abraço !

 
At 2:07 AM, fevereiro 10, 2009, Anonymous Anônimo said...

Li muito sobre ele na VEJA desta semana. E minhas expectátivas só sobem quanto ao filme e o aguardo pela sua performance.

Valeu pelo selo, amigo!

Ciao!

 
At 2:21 AM, fevereiro 10, 2009, Blogger Diego Midlej said...

concordo com o cleber.E além disso nunca me interessei pelos filmes dele até essa ressurreição.
acho q o oscar é dele esse ano, tb pq a academia gosta dessas reviravoltas...sabe lá.
abços

 
At 10:43 AM, fevereiro 10, 2009, Blogger Marcus Vinícius Freitas said...

Meu velho, obrigado pelo selo! Eu estou na praia, afastado do mundo e teclando de uma lan, mas assim que possível ajeito os troços lá. Agora vou indo que hoje dá praia, hehe. Abrssss!!!

 
At 12:04 PM, fevereiro 10, 2009, Blogger Unknown said...

Como no trailer de "O Lutador", uso da frase de um dcrítico para dizer que "somos testemunhos da ressureição de Rourke". Acho que ele mostrou-se um ator até considerável em seus filmes oitentistas, e concordo quando você se refere à "Coração Satânico" como seu melhor filme. Não assisti à "O Lutador", o que pretendo fazer em breve, mas desde "Sin City" já viemos percebendo a melhora de seu talento (e também da escolha de seus papéis). Engraçado que Rouke surgiu como um sex simbol da década de 80, e após problemas com drogas (se não me engano) e outras desilusões, meteu-se com boxe, largou o cinema, fez o escambau. Agora, com a cara toda estragada, parece ter deixado reviver sua capacidade de atuação - e o Oscar este ano parece inevitável.
Um abraço!

 
At 2:24 PM, fevereiro 10, 2009, Blogger Kau Oliveira said...

Cara, como vc mesmo disse, é um tour de force dele em O Lutador. Diferentemente do REF, não acho que ele seja uma aberração, muito pelo contrário!

E assista Spun - Sem Limites. Ele tá incrível como traficante todo louco!!

Abs!

 
At 2:27 PM, fevereiro 10, 2009, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Fantástico texto, Otávio. Só um publicitário faria um texto assim.

 
At 2:28 PM, fevereiro 11, 2009, Anonymous Anônimo said...

Fato é que o Rourke apresentou a melhor atuação da categoria no ano e merece o Oscar. Só não sei se a Academia está disposta a premiá-lo, ainda mais numa disputa tão acirrada com o Penn.

 

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