quarta-feira, outubro 18, 2006

Dália Negra

É impressionante como ainda deixam Brian De Palma filmar em Hollywood. Um dos mais superestimados diretores da história está em cartaz nos cinemas brasileiros com o seu Dália Negra (2006). O filme só reafirma a mediocridade de um diretor sem personalidade.

Ele é um cinéfilo que se estabeleceu na indústria e seu papel é somente o de fazer referência aos seus ídolos – principalmente Alfred Hitchcock. Já chegaram a chamá-lo de “mestre do suspense” – o que é um ledo engano! De Palma nunca foi mestre de coisa alguma e o gênero dentro do cinema só teve um gênio. Seus suspenses são medíocres e quando flertou com o policial só acertou em Os Intocáveis (1987).

Sua frieza com os personagens e a história contada em cada filme é evidente. Sua câmera observadora permanece distante e não há nenhum envolvimento emocional com o roteiro. Tudo está lá para satisfazer seu ego. De Palma só filma para exercitar movimentos de câmera desnecessários.

Ao menos, Dália Negra tinha tudo para dar certo. Adaptado do cultuado romance de James Ellroy, que deve ter ficado mais feliz com o belo trabalho de Curtis Hanson em Los Angeles – Cidade Proibida (1997), o filme serve apenas para De Palma mostrar que entende do gênero noir. Entende coisa nenhuma! Apesar do verniz luxuoso dos anos 40 retratados no livro, De Palma transforma Dália Negra no trash mais caro produzido por Hollywood neste ano. Tudo é de um extremo mau gosto. Desde a escolha do elenco aos figurinos e fotografia. Josh Hartnett é canastrão e não pode assumir um papel de protagonista, Scarlett Johansson está perdida e sua evidente sensualidade é deixada de lado pelas lentes de De Palma. Ele conseguiu estragar Hilary Swank, a vencedora de dois Oscar por Meninos Não Choram (1999) e Menina de Ouro (2004). Hilary é ótima, mas sensual ela não é. Só Mia Kirshner se salva como Elizabeth Short em pouquíssimas cenas. Sua personagem move o mistério de Dália Negra, mas até a investigação se torna banal nas mãos do cineasta.

De Palma ainda consegue arrumar espaço na trama para exercitar suas “homenagens” ao grande Hitchcock. E posso estar enganado, mas no fim do filme, a atriz Fiona Shaw parece uma versão exagerada da Norma Desmond de Gloria Swanson no clássico Crepúsculo dos Deuses (1950), de Billy Wilder. Na verdade, isso só reforça a falta de personalidade do diretor. Chega de Brian De Palma! E será que Os Intocáveis é mesmo bom? Preciso rever meus conceitos.

Dália Negra (The Black Dahlia, EUA, 2006)
Direção: Brian De Palma

Elenco: Josh Hartnett, Aaron Eckhart, Scarlett Johansson, Hilary Swank, Mia Kirshner e Fiona Shaw

2 Comments:

At 3:27 PM, outubro 26, 2006, Anonymous Anônimo said...

Então, Otávio. Eu vi Dália Negra, seduzido pela história. Uma garota, aspirante à atriz, morta na 'ainda-não-Hollywood', de uma maneira brutal e que chocou a sociedade. Uma boa história. Mas achei que De Palma enrolou o que não precisava ser enrolado. E, na hora que ele revelou o "mistério", não houve comoção. Afinal, não fomos presos pelo filme. Foi realmente uma experiência estranha.

 
At 3:49 PM, janeiro 01, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Pois é, Luiz... e acho que fui injusto com o De Palma ao desmerecer TODA a sua carreira. Revi OS INTOCÁVEIS, que é realmente demais! Gosto tb de O PAGAMENTO FINAL, mas tenho problemas com seus suspenses... ele deveria partir para o gênero policial de uma vez por todas. É o que eu acho...

Abs, e feliz 2007!

 

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