segunda-feira, março 10, 2008

Jogos do Poder


No final dos anos 80, o congressista americano Charlie Wilson (Tom Hanks) se envolveu nos bastidores do conflito entre a ex-URSS e o Afeganistão. Se Ronald Reagan ganhou o crédito pela ajuda aos rebeldes afegãos, que levou a Guerra Fria ao fim, o filme Jogos do Poder (Charlie Wilson's War, 2007), de Mike Nichols, baseado no livro do jornalista George Crile, mostra que o político interpretado por Tom Hanks é quem merecia as homenagens. Ou as pedradas - todo mundo sabe que o plano de envio de armas ao povo afegão resultou em eventos e criaturas como o 11 de Setembro, Osama bin Laden e George W. Bush.

Mike Nichols é diretor de filmes de primeira linha como Closer, A Primeira Noite de um Homem, Uma Secretária de Futuro, Quem tem Medo de Virginia Woolf? e Lembranças de Hollywood. Todos esses filmes são movidos por roteiros fortíssimos em diálogos rápidos no gatilho. Não é diferente em Jogos do Poder, escrito pelo talentoso Aaron Sorkin, escolado no behind the scenes da política americana por causa de sua principal criação: a série The West Wing.


Mas quem leu sobre a trama de Jogos do Poder antes de ir ao cinema, não terá surpresas, mesmo que o diretor carregue na ironia, afinal já sabemos que o barco irá naufragar no final. Mas tirando o público americano, que pode ficar incomodado, ou satisfeito com a comédia de erros de sua política, o restante da platéia mundial assiste a Jogos do Poder passivamente. Ou será que alguém abraçou os esforços de Charlie Wilson? Alguém ficou comovido? Ou se divertiu? Bom, eu não.

Podemos salvar desse embrólio, o elenco extraordinário. São os atores que valem o ingresso e transformam a saga de Charlie Wilson numa versão política de Ocean's Eleven - ainda que eles se divirtam bem mais do que a platéia (como no filme com George Clooney e Brad Pitt). Tem até o sumido veterano Ned Beatty. Em Jogos do Poder, Tom Hanks e Julia Roberts são ótimos, claro. São atores que valem a pena uma ida ao cinema. Mas eles não tentam fazer com que seus personagens marquem suas carreiras.

O oposto acontece com Philip Seymour Hoffman, como um estressado agente da CIA ajudando o congressista em sua empreitada. Ele rouba o show. Cada cena com esse talentoso ator lembra o bom cinema que procuramos todas as vezes que pagamos para ver um filme numa sala escura. Seu ritmo é tão intenso e agressivo, que nossa memória vai lá atrás nos anos 1970 para resgatar momentos de ouro de nomes como Robert De Niro e Al Pacino. Merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (e bem mais impressionante do que o vencedor da estatueta Javier Bardem, por Onde os Fracos Não Têm Vez), Philip Seymour Hoffman é o grande espetáculo oferecido por Jogos do Poder.

Enquanto Mike Nichols, Aaron Sorkin, Tom Hanks e Julia Roberts demonstram que estão participando de um projeto muito importante como americanos, Hoffman prova que está ali para fazer cinema de verdade. E é uma pena que Jogos do Poder não esteja no compasso deste ator magnífico.

Por pouco, o filme não se perde no festival de efeitos visuais personificado pelas belas assistentes que acompanham Charlie Wilson, que incluem Amy Adams, Shiri Appleby e Rachel Nichols. E o que é Emily Blunt? Com todo o respeito, mas eu não sabia que a garota tinha esse talento.

Jogos do Poder (Charlie Wilson's War, 2007)
Direção: Mike Nichols
Roteiro: Aaron Sorkin (Inspirado no livro de George Crile)
Elenco: Tom Hanks, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Shiri Appleby, Rachel Nichols, Ned Beatty, Emily Blunt e Jud Tylor

12 Comments:

At 6:09 PM, março 10, 2008, Blogger Kamila said...

Otavio, eu tenho muita vontade de assistir a este filme. Gosto do elenco e do roteirista (Aaron Sorkin). Além disso, tem o Mike Nichols na direção. E acho que ele tem sido muito feliz nos seus últimos trabalhos, especialmente aqueles que ele dirigiu para a TV - como "Wit" e "Angels in America".

Beijos.

 
At 6:44 PM, março 10, 2008, Anonymous Anônimo said...

Vou comentar todos os posts, pois com a falta de tempo acabei perdendo algumas atualizações do blog...

Eu também não fiquei comovido com "Jogos do Poder". Acredito que nesse sentido o filme é tremendamente falho. Porém, gostei bastante do roteiro do Aaron Sorkin e acho que sua intenção era das melhores - apesar do resultado insatisfatório. E nem achei tão espetacular a atuação do Hoffman, aliás de ninguém (acho até um pouco clichê, para dizer a verdade, especialmente naquelas cenas iniciais do personagem).

 
At 7:03 PM, março 10, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Kamila e Vinicius, o Philip Seymour Hoffman é um monstro! Mas eu prefiro encarar uma maratona de THE WEST WING...

Abs!

 
At 8:19 PM, março 10, 2008, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Apesar de achar que Bardem foi o melhor de longe, não sei o que seria desse filme sem Hoffman. Aliás, não me lembro de uma recente má atuação dele. Em Jogos do Poder ele rouba a cena mesmo.
Talvez se o filme tivesse o ajudado, ele poderia sim ter mais chances no Oscar. Ao contrário de No Country, que deu um personagem muito mais complexo para Bardem desfilar seu brutal talento.

6.5

Abraço!!!

 
At 10:51 PM, março 10, 2008, Anonymous Anônimo said...

Eu gostei bastante! Concordo com muito do que disse, sobre o elenco, particularmente, todos estao otimos. So achei Roberts meio apagada, mesmo que visualmente show. Hanks me satisfez bastante, mas claro, o show foi de Hoffman, que brilhante ator!
Eu esperava mais da direcao de Nichols. Poderia ter sido melhor se nao fosse tao fria e calculada. Mas o roteiro ajuda (muito!). Gostei muito dele. Achei ironico, critico e muito, muito divertido. Nao vi West Wing ainda (nenhum episodio!) e acredite, nao sabia da historia do filme e fui supreendido pela acidez com a qual foi escrita. Achei refrescante, algo novo que foge do didatico, levando para o lado bem humorado que funcionou bastante.

De 4 estrelas, dou 3.

 
At 2:31 AM, março 11, 2008, Anonymous Anônimo said...

Big O, vou discordar veementemente. Você queria surpresa nesse filme? Não há surpresa, ele é verídico. É só ter mais que um neurônio - que é o nosso caso - pra saber que acabaria desse jeito.
Não acho que o objetivo fosse comover ou convencer não. Muito pelo contrário, acredito que seja mais uma necessidade de "trazer a público" toda essa lambança do que qq outra coisa. Por isso eu gostei do filme. Ele nao tenta ser nada que não pode ser. Vai lá, mostra a cagada toda e ponto.
Gostei de ver o Hanks num papel todo cheio de falhas de caráter, foi bom ver a Julia denovo... ê saudade... e mais um baile do Seymour.
Vou até publicar minha crítica lá no blog, depois dessa. :) hahaha

Grande abraço e saudades!
Barretão, de LA

 
At 8:57 AM, março 11, 2008, Blogger Romeika said...

"Ou será que alguém abraçou os esforços de Charlie Wilson? Alguém ficou comovido? Ou se divertiu? Bom, eu não."

Nem eu.

 
At 10:54 AM, março 11, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

E esqueci de comentar o título brazuca... JOGOS DO PODER, hein! Não foi o próprio Mike Nichols que fez aquele PRIMARY COLORS, que se chama SEGREDOS DO PODER no Brasil?

Será que querem encomendar uma TRILOGIA DO PODER ao diretor?

 
At 11:48 AM, março 11, 2008, Blogger Museu do Cinema said...

Tb achei um filmão Otávio, muito bem feito, roteirizado e interpretado, e isso que Hollywood precisa.

 
At 3:02 PM, março 11, 2008, Blogger fabiana said...

Eu quero ver o filme só por causa do Philip e também, pra ver se consigo apagar a imagem de Amy Adams cantarolando no Central park no filme Encantada...

 
At 9:48 PM, março 11, 2008, Blogger Unknown said...

Eu gostei do resultado, de forma geral. Não foi uma coisa acima da média, tanto que minha nota foi 6,5ou (***). Bom, Hanks obteve um bom trabalho e Hoffman então, nem se fala. O roteiro é um pouco omisso, mas ainda assim agradável. Roberts está linda.
Abraço!

 
At 7:17 PM, março 30, 2009, Anonymous C. Magno Rossil said...

A Muito tempo eu naum via um Longa tão interesante e intenso, mostrando a dificil vida dos paises de baixo escalão e sua dificil rotina para sobreviver...

Sabemos que tem muita ficção no filme...mais tem uma boa parte ali que é verdade!!

Adorei o filme!!

 

Postar um comentário

<< Home