terça-feira, setembro 04, 2007

Antes da Hora do Rush


Dizem que o caminho certo é se modernizar. Mas isso não é uma regra, embora seja um risco necessário na vida e na arte. O problema é que muitos esquecem como é bom (e importante) ter conhecimento do que veio antes - até para fazer um julgamento justo do que representa uma "novidade".

Nesta sexta-feira, por exemplo, estréia Hora do Rush 3, mas sei de uma garotada que jamais assistiu a um filme da série Máquina Mortífera. Há 20 anos, quando Jackie Chan não tinha visto para entrar em Hollywoood e Chris Tucker ainda usava fraldas, o diretor Richard Donner foi escolhido pelo produtor Joel Silver (e os executivos da Warner) para comandar um roteiro policial do estreante Shane Black sobre dois tiras com pensamentos e atitudes diferentes trabalhando juntos. Donner estava em alta. Seu currículo trazia A Profecia, Superman e Os Goonies.

Astro em ascensão, Mel Gibson foi convidado para interpretar o tira alucinado Martin Riggs, enquanto o respeitado ator Danny Glover foi escalado para o papel de um policial veterano, o pacato Roger Murtaugh. É o clássico conflito de gerações. O velho e o novo batendo de frente. Riggs não mede as conseqüências de suas ações e tem fama de suicida. Murtaugh não vê a hora de chegar o dia de sua aposentadoria. Para ele, todo cuidado é pouco. A dupla não têm nada em comum, mas a amizade improvável se fortalece de maneira surpreendente conforme eles seguem os rastros de uma quadrilha de narcotráfico em Los Angeles.

Em Máquina Mortífera, a ação é intensa, mas Richard Donner tentou aproximar cada cena da nossa realidade. O sucesso foi imenso e o time formado por Gibson, Glover, Donner e Silver retornaram para Máquina Mortífera 2, em 1989. Com menos drama e com um certo humor entrando pelas beiradas - cortesia da aquisição de Joe Pesci - o filme é surpreendentemente quase tão bom quanto o original. Mas todos os envolvidos perceberam o quanto era divertido trabalhar na franquia. A realização de Máquina Mortífera 3 e 4 foi mera desculpa para uma espécie de férias de luxo para toda a equipe. E, claro, para faturar uma graninha extra. Mas é interessante observar o cinema de ação proposto pelos quatro filmes. O resultado é uma série de TV na tela grande. Comparados aos exemplares da franquia Hora do Rush, as aventuras de Riggs e Murtaugh deixam saudades. Máquina Mortífera nunca foi uma obra original. Mas como essa fórmula deu certo, ninguém sabe. O que sabemos é como a receita foi excessivamente copiada por Hollywood.

Hoje, Richard Donner está meio sumido e Brett Ratner, de Hora do Rush, está em evidência. Chris Tucker reina absoluto, mas Danny Glover foi esquecido. Entre mortos e feridos, Mel Gibson ainda resiste - mesmo que esteja mais preocupado com sua carreira como diretor. A noção de cinema comercial também não é mais a mesma. Eu me esforço, mas não consigo me lembrar das tramas de Hora do Rush 1 e 2. Não sei se a idéia de se modernizar é garantia de respeito e felicidade, mas ainda tenho Máquina Mortífera na memória.

5 Comments:

At 5:37 PM, setembro 04, 2007, Blogger Rogerio said...

Bela lembrança Otavio. Alias, por causa de filmes como Maquina Mortifera, nao tenho paciencia nem saco de ver longas como A Hora do Rush. O genero policial comedia escrachado dificilmente vai funcionar novamente como em "Letal Weapon".
Como vc mencionou, nao sei como a ideia(tiras trapalhoes, bandidos pra lá de sérios) foi dar certo, mas com Donner,deu.

 
At 6:19 PM, setembro 04, 2007, Blogger Kamila said...

Eu sou muito mais os filmes da série "Máquina Mortífera" do que os da série "A Hora do Rush". Tudo nestes filmes do Brett Ratner me parece forçado demais, até a "química" existente entre o chatíssimo Chris Tucker e o Jackie Chan.

 
At 8:00 PM, setembro 04, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Olha, Máquina Mortifera é clássico, os 4! Mas não dá para comparar com a Hora do Rush, que é bonzinho!

 
At 10:39 AM, setembro 05, 2007, Blogger Ramon said...

Parabéns... esse post dispensa comentários!
Dissesse tudo!

Também não consigo me lembrar das tramas de A Hora do Rush, mas recordo de Maquina Mortífera em seus mínimos detalhes.

 
At 7:47 PM, setembro 05, 2007, Anonymous Anônimo said...

Eu não gosto especialmente de nenhuma das séries, mas reconheço que a qualidade de "Máquina Mortífera" é bem superior e incrivelmente boa para um filme de ação. Já "A Hora do Rush" é bem fraquinho, tanto o primeiro quanto o segundo - por exemplo, nem estou com muita vontade de ver esse terceiro...

Abraço!

 

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