segunda-feira, agosto 27, 2007

O dia em que o cérebro parou

Hollywood não aprende mesmo. As grandes idéias acabaram e, agora, tudo quanto é livro de sucesso vira filme da noite para o dia. Às vezes, basta atingir o topo da lista dos mais vendidos para um estúdio anunciar a adaptação de uma obra literária. E para a falta de criatividade de Hollywood não é preciso ir tão longe assim atrás de uma solução. Eles não têm dó (e respeito) nem de seus clássicos. Estou falando da onda de refilmagens que parece não ter mais fim.

Hoje mesmo confirmaram Keanu Reeves na nova versão de O Dia em que a Terra Parou, a ficção científica dirigida por Robert Wise, em 1951. O astro de Matrix será Klaatu (papel de Michael Rennie no original), um alienígena que chega ao planeta acompanhado de um robô indestrutível. Embora o primeiro contato espante os terráqueos, Klaatu vem em missão de paz. Ele quer que a raça humana pare de fazer guerras, mas se o seu pedido não for atendido, o robô receberá a ordem de destruir tudo o que houver pela frente. Robert Wise fez um ultimato pela paz numa época em que era comum explorar o gênero da ficção científica para o cinema e os próprios norte-americanos compreenderem o conceito da Guerra Fria. Por isso, a proposta de refilmar O Dia em que a Terra Parou parece não se enquadrar nos dias de hoje. Já imagino a desculpa: o diretor contratado para a tarefa (Scott Derrickson, de O Exorcismo de Emily Rose) quer alertar sobre os excessos das ações políticas e militares dos EUA no Oriente Médio.

E não é preciso falar somente sobre clássicos de Hollywood. Os estúdios tentam americanizar filmes orientais cultuados, que resultaram em O Chamado, O Grito, e pensam até em Oldboy. Mas o problema das refilmagens não vem de hoje. O vencedor do Oscar Ben-Hur, de 1959, é um exemplo, afinal já existia um filme homônimo de 1925. Outro velho conhecido é Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMille.

Para não dizer que sou cético, algumas refilmagens (ou remakes) conseguem acrescentar algo relevante ao original. Tem diretor que consegue: Steven Spielberg (Além da Eternidade e Guerra dos Mundos), Peter Jackson (King Kong) e Martin Scorsese (Cabo do Medo e Os Infiltrados). Mas acho que esse não é o caminho. A maioria dos cineastas detona filmes queridos por muitos fãs. Planeta dos Macacos e A Fantástica Fábrica de Chocolate (ambos de Tim Burton) são dois exemplos.

Cinema não é teatro, que pode montar grandes peças com outros elencos em épocas diferentes. A sétima arte até pode ser teatral em muitos filmes, mas aí também é demais.
Hoje, existe o DVD e o cinéfilo já encontra vários títulos memoráveis em lojas ou locadoras. É por isso que eu não engulo as refilmagens como forma de "modernizar" os clássicos. E a coisa está feia. Tem gente querendo refazer Os Pássaros, de Alfred Hitchcock. Só espero não viver para ver uma refilmagem de O Poderoso Chefão...

14 Comments:

At 11:16 AM, agosto 28, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Será o final da Hollywood como conhecemos hoje?

Dica cinéfila Otávio, compre a Bravo especial cinema!

 
At 11:28 AM, agosto 28, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Dica anotada, Cassiano! Valeu!

 
At 1:41 PM, agosto 28, 2007, Blogger Rogerio said...

Concordo contigo Otavio, e nao é de hj. Existem exemplos absurdos como o atual "A Morte pede Carona" que nao respeita nem que é o protagonista estar sozinho contra Hutger Heuer - botam agora uma moça (pra atrair o publico masculino?).
Ora, tenho 26 anos e me lembro muito bem dos filmes da decada de 80.Nao preciso de remake pra lembrar desse filmes. Nem isso eles respeitam mais, pois fazem remakes de filmes que nem sao tao velhos assim.

 
At 3:09 PM, agosto 28, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Tem razão, Rogerio! Já pensou ver uma refilmagem de E.T. ou OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA? Ou TOURO INDOMÁVEL? DE VOLTA PARA O FUTURO? Eu hein!

Abs! E obrigado pela visita!

 
At 5:12 PM, agosto 28, 2007, Blogger Kamila said...

Otavio, faz tempo que as boas idéias acabaram em Hollywood. Remakes - em alguns casos - desnecessários, fórmulas repetidas à exaustão.

O lado bom disso é que a gente vê a abertura do mercado para diretores e atores estrangeiros, que conseguem apresentar um pouco de sua visão no controlador mercado Hollywoodiano.

 
At 7:39 PM, agosto 28, 2007, Blogger Victor said...

To de volta ao blog!!!
hehehee

E essa mania de hollywood querer refilmar tudo já encheu mesmo!!!
Daqui a pouco tão fazendo assim, o diretor pega seu filme que não fez lá muito sucesso(ou não) e resolve refazê-lo, com a grande desculpa ainda, "não..essa é uma nova versão, mais dinâmica, tem uma proposta diferente, blablabla". E o povo ainda pagaria. Não me admiraria mesmo. Coisa chata essa...
Pior também é quando o filme não é uma nova versão, mas segue a mesma idéia de algo já pronto. Caso de filmes de tubarão assustando navio, submarino... os filmes de comédia romântica também adoram ser muito parecidos um com outro.
Aquele eterno deja vu...



Abraço cara!!!

 
At 9:47 PM, agosto 28, 2007, Blogger Flávia said...

Concordo com vcs. Outra tendência que já encheu é de fazer 500 continuações...

Bjs!

 
At 9:59 PM, agosto 28, 2007, Blogger R. said...

Eu particularmente adoro adaptações de quadrinhos. Acho divertidas e, muitas vezes, cinemão de primeira (Batman begins é o melhor, pra mim), mas começo a ver um desespero em adaptar tudo pro cinema. Sinceramente, a não ser sob os olhos masculinos ávidos por corpos (e duvido que não coloquem um uniforme extremamente apertado e/ou decotado), não vejo porque adaptar Mulher-Maravilha, já que a personagem é antiquada - e não é um ícone, como Superman, que também é antiquado. Homem-formiga, Thor, até mesmo Homem de ferro (que só se revelou decente ate agora por causa do Robert Downey Jr.) parecem acontecer sem razão aparente (exceto os milhões)

Eu não me surpreenderia com um remake de O poderoso chefão. Fizeram até um de Psicose...

 
At 10:15 PM, agosto 28, 2007, Anonymous Anônimo said...

Muito boa essa matéria, Otavio!
Até tava comentando isso na crítica de "A Morte Pede Carona", pois já não agüento mais essa mania de remakes de filmes do gênero. Pelo que jeito, a ficção começa a sofrer desse problema - eu não gosto das novas versões de "Planeta dos Macacos" e "Guerra dos Mundos", nem vejo grande futuro para esse remake de "O Dia em que a Terra Parou" (um ótimo filme, mas como você disse, não deve se enquadrar nos dias de hoje).

Alguns diretores conseguem mesmo, mas desses que você citou o único realmente bom nesse ramo é o Scorsese - já que acho ambos os remakes do Spielberg os mais fracos de sua carreira, o mesmo digo para o "King Kong" do Jackson. Já o Burton errou com a ficção, mas acertou com a fantasia ("A Fantástica Fábrica de Chocolate", que dizem ser mais fiel à obra que o filme original).

Abraço!

 
At 10:15 PM, agosto 28, 2007, Anonymous Anônimo said...

É um sério problema mesmo, mais de 60% dos filmes lançados nos cinemas (ou talvez até mais), das três uma: refilmagem, adaptação, sequência.

Felizmente, no meio de tanto hollywood atormentando a beleza da sétima arte, surge pessoas importantes como Charlie Kaufman, meu ídolo, que trouxe a originalidade importante que o cinema estava esperando (e precisando).

Não vou ser hipócrita e dizer que não curto muitas sequências, refilmagens e adaptações, mas chega a certo limite onde se espera mais. Pelo que eu sei, cinema antigamente se adaptava de mentes brilhantes, não de projetos anteriores.

Ah sim, ficou sabendo que Carruagens de Fogo terá um sequências?

E Casablanca será refilmado.

ps: to zoando com o último comentário. rsrs

 
At 10:37 PM, agosto 28, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Na verdade, eu me animo com algumas seqüências como todo bom pecador. Mas o problema está tendência e nas eternas (e desnecessárias) repetições. E isso não é de hoje. Sempre foi assim. Hollywood é um ciclo. Um círculo vicioso.

Abs!

 
At 3:19 AM, agosto 29, 2007, Blogger Marcus Vinícius said...

Amigo Otávio e demais, já peço desculpas porque vou desviar um pouquinho do assunto, mas com os games isso vem acontecendo muito ultimamente. Por exemplo: há uma grande discussão em torno do Metal Gear. Visto que o 4 provavelmente irá encerrar a série, já começaram os boatos que estariam preparando os remakes dos 2 primeiros jogos, lançados na década de 80. Claro que o caso é diferente, e bem diferente, mas meu ponto é que ainda acho melhor que cada um fique na sua época, não tem necessidade de ficar voltando sempre (daqui 50 anos ainda vão incomodar a Square por causa do Final Fantasy 7).

Quanto ao cinema, concordo que certos diretores conseguem adaptar sem estragar a obra original, comos os citados (também adoro de adaptações de quadrinhos). Já refilmagens é mais complicado. Imagine um novo 'Scarface' sem Al Pacino... bah, não tem como. E só pra que conste: vão refilmar "Fuga de Nova York" também.

Abraços e até mais.

 
At 4:52 AM, agosto 30, 2007, Blogger Romeika said...

Acho que remakes são desnecessários, portanto, concordo plenamente com sua opinião no último parágrafo. Refilmagem de "Os Pássaros"?!?:-S

 
At 4:53 AM, agosto 30, 2007, Blogger Romeika said...

Hmmm, acho que abro uma exceção para o "King Kong" do Jackson. Adorei aquele filme.

 

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