quarta-feira, dezembro 12, 2007

30 Dias de Noite


Talvez eu vá para o inferno por isso, mas devo admitir que adorei 30 Dias de Noite (30 Days of Night, 2007). Quando as luzes se acenderam, eu juro que tentei encontrar defeitos nesta adaptação da cultuada HQ de Steve Niles e Ben Templesmith, mas não achei nada. Fiquei impressionado com um belo e nervoso filme de terror como há muito tempo não se faz. Se bem que teve aquele Abismo do Medo, que também é muito bom. Mas 30 Dias de Noite é o melhor do gênero neste ano. De longe.

A única razão para não gostar deste filme é saber que você não gosta de filme de terror. Porque dentro do gênero, ele é aterrorizante. Esse é o propósito. Essa é a diversão. Se o compararmos com O Poderoso Chefão, realmente ele sai perdendo feio. Com Casablanca? Também. Com filmes mais recentes como Menina de Ouro? Também. E se fizermos essa comparação dentro do gênero com clássicos como O Iluminado e O Exorcista, 30 Dias de Noite também perde. Mas hoje, filme de terror para Hollywood tem que ter adolescentes pelados correndo para lá e para cá. Ou efeitos digitais que tiram qualquer intenção de medo, suspense. E a coisa está cada vez pior, porque é a época do torture porn, que virou mania com bobagens como Jogos Mortais, O Albergue e Turistas.

30 Dias de Noite não tem nada disso. O que importa aqui é a sensação de medo. É impressionante como alguns diretores não "sacam" isso. Será que não ligam para as reações do público em exibições-testes? Ou o público convidado para tais sessões acha que filme de terror que se preze tem que ser algo na linha de O Albergue? Outra coisa: tenho reparado que a maioria das críticas negativas em torno deste filme vem de fãs da HQ. Como eu não conhecia a história, acho que isso ajudou. Também conta o fato de que não tenho visto muitos filmes de vampiros - não vi até hoje Underworld, por exemplo.


A trama se passa na pequena cidade de Barrow, no Alasca. O local sofre anualmente com um fenômeno que domina um mês inteiro do inverno: são 30 dias sem sol e, conseqüentemente, sem comunicação com o resto do mundo. No entanto, os poucos habitantes que resolvem ficar no vilarejo durante o período não se incomodam e sabem sobreviver sem dificuldades. O problema é que uma horda de vampiros resolve fazer uma "boquinha" na cidade. Como sair dessa se a luz do sol nunca vem? É banho de sangue na certa.

E as criaturas de 30 Dias de Noite são um espetáculo à parte. Além do extraordinário trabalho de maquiagem, os realizadores criaram vampiros nada românticos. Eles são animais predadores. E ajuda muito para esse clima raro de horror o idioma incompreensível dos monstros. Também gostei da idéia de explorar a mitologia dos vampiros. Em certa hora, eles decidem destruir tudo (e a todos) para que não deixem testemunhas. O líder diz algo como: "Até hoje, nós somos parte de seus pesadelos. Não deixem que eles acreditem na nossa existência." Excelente. Nos contos, vampiros morrem com a luz do sol. Mas se eles existem de verdade, será que essa técnica funciona? É interessante acompanhar como essas questões martelam na cabeça dos personagens, que trocam diálogos lentos, melancólicos - algo que combina com o clima de Barrow.

Acho que o elenco está bem, principalmente Ben Foster, uma espécie de R.M. Reinfield (clássico personagem do livro de Bram Stoker), que anuncia a chegada dos sanguessugas. Até Josh Hartnett atua. E destaque para Danny Huston (filho do grande John Huston) como o líder dos vampiros. Ele está sensacional, aterrorizante.

É lógico que o interesse do produtor Sam Raimi (Homem-Aranha, Evil Dead) pelo tema contribui para o belo resultado final, mas 30 Dias de Noite é mais um ponto a favor do diretor David Slade, que antes fez Menina Má.com. Ele mostra que sabe como manipular a platéia em uma história tensa, além de ser habilidoso com a câmera. Um exemplo é a ótima tomada de Barrow pelo alto, que acompanha o massacre de uma forma geral e distante. É o único momento em que vemos o terror de longe. Mas o silêncio e a tensão predominam até a última cena. Diferente de grande parte dos filmes do gênero, este aqui não tem trilha sonora rock n' roll. Aliás, a trilha instrumental entra sempre na hora correta. É o silêncio que predomina. Quem não viu, não sabe o que está perdendo. Nem que seja para voltar aqui e dizer que fiquei louco.

30 Dias de Noite (30 Days of Night, 2007)
Direção: David Slade
Roteiro: Steve Niles, Stuart Beattie e Brian Nelson (Adaptado da HQ de Steve Niles e Ben Templesmith)
Elenco: Josh Hartnett, Melissa George, Danny Huston, Ben Foster, Mark Boone Junior e Mark Rendall

14 Comments:

At 7:04 PM, dezembro 12, 2007, Blogger Kamila said...

Acabei de chegar do cinema, Otavio, e assino embaixo de sua crítica. Você destaca exatamente a mesma coisa que eu destaco no meu texto.

E eu encontrei um defeito no filme: a falta de continuidade. Cadê a barba dos personagens crescendo? Passa trinta dias e todo mundo continua do mesmo jeito (aquela barba rala do Hartnett não me engana). :-)

Beijos.

 
At 10:00 PM, dezembro 12, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Que imagem horrorosa. Mas concordo contigo quando diz que cada filme deve ser julgado pelo que ele promete, alias, se foi isso que vc quis dizer no segundo paragrafo.

 
At 10:44 PM, dezembro 12, 2007, Blogger Flávia said...

MEDO!

;-)

 
At 11:15 PM, dezembro 12, 2007, Anonymous Anônimo said...

Pasmo com sua cotação (surpreendeu) e feliz ao mesmo tempo. Ótima crítica, e se seguir o mesmo estilo do tenso e aterrorizante Abismo do Medo, do gênero, o melhor do ano passado, então verei esse sem "medo", hehehe, mas infelizmente não chegou aqui.

Ciao!

 
At 11:04 AM, dezembro 13, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Pode ser, Kamila! Mas a barba do outro xerife cresce pra caramba. :)

Foi isso mesmo, Cassiano! Abs!

Wally e Flavia, vejam sem medo...

Abs!

 
At 1:17 PM, dezembro 13, 2007, Blogger Victor said...

Tem certeza que a nota é essa mesmo??
hehe
Eu fico sempre receoso com esses últimos filmes de terror, ou é desse jeito adolescente como dissestes no texto ou é filme de horror, se detendo a assustar mais pela aparência do que pelo medo em si.
Não vi "30 dias de noite", até porque não chegou por aqui, mas normalmente não veria...quem sabe não dou um chance! hehe

Abs!!

 
At 2:04 PM, dezembro 13, 2007, Blogger Romeika said...

Otávio, vc me convenceu! Não dava nada por esse filme e iria passar longe do mesmo nos cinemas, mas o seu texto e argumentos estão tão bons que mudei de idéia..

 
At 3:20 PM, dezembro 13, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Victor, acho que vale uma conferida. Abs!

Romeika, obrigado! Eu adorei. Mas é como eu disse: posso estar ficando louco. Bjs!

 
At 5:54 PM, dezembro 13, 2007, Blogger Kamila said...

Só a dele cresce, Otavio. :-)

 
At 7:52 PM, dezembro 14, 2007, Blogger R. said...

Melhor que Possuídos???? O.o

 
At 10:55 PM, dezembro 14, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Rômulo, vc fala de BUG??? Ou aquele POSSUÍDOS com o Denzel Washington?

Acho que BUG não chega a ser terror...

Abs!

 
At 12:27 PM, dezembro 15, 2007, Blogger R. said...

Sim, falo de Bug.

Se aquilo não é terror, o que caracteriza o terror então? O.o

 
At 2:08 PM, dezembro 15, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Bom, acho que tudo era coisa da cabeça dele. E dela. Há sim "momentos de terror". Mas não é o gênero "terror".

O próprio Hitchcock disse que fazia "suspense", o gênero em si. Não somente o clima. Se o "suspense" toca o "sobrenatural", ele deixa de ser o gênero "suspense" e se assume como "terror".

Mas gênero por gênero, filme por filme, prefiro 30 DIAS DE NOITE a BUG. Mas acho a comparação injusta, Rômulo. O próprio William Friedkin já fez melhor do que BUG e 30 DIAS DE NOITE. Se é para pegar o gênero, ele fez nada mais, nada menos do que O EXOSCISTA.

Grande abraço!

 
At 2:09 PM, dezembro 15, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Ops... errei! O EXORCISTA ;-)

 

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