segunda-feira, dezembro 10, 2007

Conduta de Risco


Depois da série E.R., George Clooney tentou a sorte no cinema. A maioria de suas tentativas não deu certo, mas a sorte começou a sorrir para ao ator quando ele se aliou ao amigo Steven Soderbergh, em Irresistível Paixão. De lá para cá, Clooney só evoluiu como ator, astro, diretor e produtor. Principalmente, em seus projetos cheios de preocupações políticas e sociais como Boa Noite e Boa Sorte, Syriana e Conduta de Risco (Michael Clayton, 2007).

Neste filme, George Clooney é Michael Clayton, mas poderia ser Spencer Tracy, James Stewart ou Cary Grant. Como o advogado que sofre de cansaço moral, Clooney tem a melhor atuação de sua carreira, provando que a Academia fez besteira no Oscar de 2005, quando lhe entregou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, por Syriana, como consolação pela derrota na categoria de Melhor Diretor, cujo vencedor foi Ang Lee, por Brokeback Mountain.

Charmoso e carismático, George Clooney poderia muito bem virar um astro de filmes de ação. Mas ele prefere se arriscar em roteiros fortes e cada vez mais raros na Hollywood atual. Pensando assim, tudo indica que ele está seguindo os passos de lendas como, novamente, Cary Grant ou Jimmy Stewart. Em Conduta de Risco, Clooney usa roupas elegantes porque a profissão de seu personagem exige. Mas desta vez, ele está vulnerável e encontra o equilíbrio necessário que um astro precisa apresentar ao encarnar um personagem. Ou seja, sabemos que George Clooney está ali, mas só pelo olhar, fica na cara que ele está sofrendo por algum motivo.

Michael Clayton (Clooney) é um advogado que limpa as sujeiras de seus clientes de forma discreta e nem sempre honesta. O importante é resolver ou promover os acordos. Sabemos também que Clayton é um pai divorciado, viciado em apostas, que está perto da falência e deve uma grana para sujeitos de índole duvidosa. Do outro lado da moeda está Karen Crowder (Tilda Swinton), executiva de uma das contas mais importantes da empresa onde o advogado trabalha. Karen é um Michael Clayton de saias. A diferença é que sua ambição é bem maior e a loucura já começa a bater à sua porta. Enquanto, Clayton quer encontrar sua paz e deixar esse mundo corporativo para trás, Karen faz o diabo ficar orgulhoso.

O grande problema surge quando Arthur Edens (Tom Wilkinson em seu melhor momento no cinema), um famoso advogado, e amigo de Clayton, pira de vez e coloca a maior conta de sua empresa em risco. Inicialmente, Michael Clayton é enviado para convencer Edens a ficar de bico calado, mas você verá onde isso vai dar.

Além dos atores, principalmente o trio Clooney-Wilkinson-Swinton, a força do filme está no roteiro de Tony Gilroy, que também estréia na direção. Talentoso para criar diálogos impactantes, Gilroy é o autor dos roteiros da Trilogia Bourne. E cada uma das falas de Conduta de Risco tem a potência de uma cena de ação. O único momento de paz para Michael Clayton é quando ele aprecia uma paisagem com três cavalos. É uma das poucas cenas sem diálogos e é visualmente bela (cortesia da fotografia de Robert Elswit, de Syriana e Boa Noite e Boa Sorte). Mas nem dura tanto tempo assim, pois a tensão volta a atormentar o protagonista.

Gilroy é bom, mas como estreante na cadeira de diretor, ele é melhor como roteirista. Como cineasta, ainda tem a mão pesada para contar uma história. Acho que o recurso do flashback neste filme é totalmente desnecessário e torna a trama confusa. As coisas só começam a fazer algum sentido lá pela metade. Gilroy constrói os personagens com muita precisão e arma o tabuleiro com extrema habilidade, mas acho que virou mania em Hollywood contar uma história de forma fragmentada ou, simplesmente, mostrando o final no início do filme. Em muitos filmes, o recurso funciona e é essencial. Conduta de Risco poderia ser narrado linearmente, que ainda seria um bom filme, e não ficaria tão desconectado.

Ainda bem que a conclusão é empolgante. Aliás, é marcante, magistral. Tudo é perdoado no embate final entre Clooney e Swinton, e a última seqüência, que acompanha os créditos, é sensacional. Neste momento, parece que voltamos ao melhor cinema dos anos 70. Sei que tem gente que reclama do clímax de Conduta de Risco. Só que o importante não é adivinhar o final, mas sim aproveitar a jornada. Desse jeito, ninguém fica tentando adivinhar o que virá a seguir. E isso é um elogio ao filme.

Obs: O título original do filme é apenas Michael Clayton, mas escrevi a absurda tradução Conduta de Risco nesta crítica para o leitor não ficar perdido na hora de ir ao cinema.

Conduta de Risco (Michael Clayton, 2007)
Direção: Tony Gilroy
Roteiro: Tony Gilroy
Elenco: George Clooney, Tilda Swinton, Tom Wilkinson, Sydney Pollack, Michael O' Keefe, Sean Cullen e Ken Howard

11 Comments:

At 5:02 PM, dezembro 10, 2007, Blogger Kamila said...

Otavio, estava em Recife até hoje e poderia ter assistido "Conduta de Risco" se não tivesse chegado atrasada uns quinze minutos. E estava morta de cansada para esperar uma outra sessão começar. Paciência. Agora, é esperar pela estréia do filme por aqui.

Beijos.

 
At 5:09 PM, dezembro 10, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Puxa, Kamila. E vc acha que George Clooney será indicado como Melhor Ator no Oscar? E Tom Wilkinson?

Bjs!

 
At 6:13 PM, dezembro 10, 2007, Blogger Kamila said...

Acho bem difícil o Clooney ser indicado ao Oscar de Melhor Ator. A jornada dele, acredito, termina no Globo de Ouro.

O Tom Wilkinson, assim como a Tilda Swinton, estão bem cotados para o Oscar.

Beijos.

 
At 9:13 PM, dezembro 10, 2007, Blogger Flávia said...

Excelente texto (mais uma vez)! Bjs!

P.S. Que inveja, Kamila. Bem queria estar em Recife...

 
At 9:36 PM, dezembro 10, 2007, Blogger Victor said...

Já li críticas ruins e outras muito boas sobre o filme, o que me deixou com a impressão de que é um filme que tem público um tanto seleto.
O que posso dizer é o que o final do teu texto me empolgou a ir assistí-lo (isso quando o filme chegar por aqui).
Vamos ver o que encontro...


Abs!!

 
At 11:22 PM, dezembro 10, 2007, Anonymous Anônimo said...

Ótimo texto, concordo com tudo que disse inicialmente sobre George Clooney, só achei que seu texto valia mais que apenas 3 estrelas, talvez uma meia estrela a mais??

Aqui o filme não chegou, para minha incrível infelicidade...

Ciao!

 
At 11:43 PM, dezembro 10, 2007, Anonymous Anônimo said...

Otavio, já conferiu o curta-metragem do qual Scorsese fez em homenagem á Hitchcock. Se não conferiu, passa lá no Cine Vita que postei o vídeo.

Inté

 
At 10:47 AM, dezembro 11, 2007, Anonymous Anônimo said...

Gostei muito de sua crítica, Otavio. Concordo com a maioria dos pontos levantados, só tendo uma opinião diferente quanto ao Tony Gilroy. Acho que seu trabalho na direção é brilhante para um estreante, inclusive deve ser considerado a revelação do ano. De qualquer forma concordo que seja ainda melhor como roteirista, inclusive espero que esteja nos finalistas do Oscar - já que para melhor filme a disputa está mais difícil. Como disse lá no blog, a última cena é espetacular mesmo, sem dúvida a melhor do ano (junto com aquela do crítico de "Ratatouille"). Muitos não aprovaram, mas para mim foi um desfecho memorável. Todos do elenco principal merecem indicação ao Oscar - inclusive premiaria os coadjuvantes.

Abraço!

 
At 10:49 AM, dezembro 11, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Gostei desse filme Otávio! O Clooney é um astro hollywoodiano mesmo!

 
At 10:56 AM, dezembro 11, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Que pena, Kamila!

Flavia, obrigado!

Victor, o filme foi muito elogiado pela crítica americana. E está aí um filme que é melhor do que o queridinho da crítica (ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ).

Valeu, Wally! Eu não vi o comercial ainda. Vou lá dar uma olhada.

Vinicius, obrigado! Eu acho que todos (Clooney, Wilkinson e Tilda Swinton)merecem indicações ao Oscar. Teve gente que achou o final convencional. Mas o importante é vc ficar preso na história de um jeito em que vc nem vai parar para tentar adivinhar o final. É aproveitar a viagem.

Cassiano, o George Clooney é um dos nomes mais fortes (e inteligentes) da indústria. Escolhe seus projetos com sabedoria e leva tudo muito a sério. Hollywood precisa de mais "astros" como ele.

Abs!

 
At 11:06 AM, dezembro 11, 2007, Blogger Kamila said...

Flávia, ah, mas nem foi um final de semana ensolarado em Recife. Teve uma chuvazinha no domingo que não conseguiu acabar com o calor que fazia na cidade. :-)

 

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