quarta-feira, setembro 23, 2009

Che


Todo mundo tem uma opinião formada a respeito de Ernesto “Che” Guevara, uma das figuras mais comentadas do século XX. A diferença é que a esmagadora maioria se refere ao mito – aquele que foi marcado para sempre na História escrita pelos vencedores – e não ao homem. Herói ou vilão? Quem foi o verdadeiro Ernesto Guevara por trás de imagens famosas em fotos e vídeos registrados na época da Revolução Cubana? De fato, Che é um personagem fantástico – independente de seus objetivos políticos e ideológicos – que gera diferentes interpretações. Uma das mais recentes vem do diretor Steven Soderbergh, em um épico que terminou com cerca de quatro horas de duração. Exibido em duas partes, entre os eventos que marcaram o encontro do revolucionário com Fidel Castro até seus últimos dias de vida na Bolívia, Che (Che: Part One, 2008) e Che 2 – A Guerrilha (Che: Part Two, 2008) tentam desvendar o ser humano e não a lenda.

O primeiro filme fala essencialmente da Revolução Cubana. Seguindo uma estrutura narrativa não-linear, Soderbergh brinca com passado – a preparação de Che (Benicio Del Toro), Fidel (Demián Bichir) e seu exército para invadir Cuba e derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista – e futuro - a passagem de Che por Nova York, onde fez um simbólico discurso na sede da ONU -, mas jamais dá sua opinião à respeito do revolucionário. Muito menos mostra como ele decidiu iniciar uma saga idealista (e sangrenta) pelo continente. Mesmo emocionalmente distante, Soderbergh tenta traçar um perfil de Che próximo daquele que foi real em suas batalhas. É como se fosse um documentário com atores.


É evidente que Soderbergh não buscou uma visão romântica, que é um elemento tradicionalmente explorado em cinebiografias, mas o fato é que muita coisa mudou neste mundo desde que Che Guevara bateu as botas. Quero dizer que a expectativa pode ser uma inimiga, afinal nem todos que enxergavam Che como um herói o veem da mesma forma nos dias de hoje, assim como tem gente que já não o define mais como um baderneiro ou um assassino. Mas não é neste filme que você vai entender a figura de Che.

O filme pode não ser relevante para quem conhece a trajetória de Guevara, mas é uma boa oportunidade para as novas gerações serem apresentadas ao personagem. Quem quiser se aprofundar no tema que procure por outras fontes. Enfim, Soderbergh não quis sarna pra se coçar, afinal não é fácil tomar partido de um ícone comunista em um mundo americanizado. Por outro lado, ele deixa a fascinante ambiguidade de Che mais viva do que nunca. Acho que a decisão do diretor foi correta – ainda mais quando temos atores de Hollywood idolatrando Hugo Chávez.



E Soderbergh compensa qualquer reclamação possível na habilidade da condução da montagem do filme, com suas idas e vindas no tempo, em imagens digitais que seduzem principalmente quando surge o preto e branco granulado nas cenas da passagem de Che por Nova York, anos depois de sua vitória em Cuba. Tanta qualidade técnica só intriga ainda mais aqueles que querem descobrir o verdadeiro Che. Quem foi esse cara? E o que é ser comunista? Preste atenção na cena final, quando o líder revolucionário manda um de seus soldados devolver um carro roubado. Fica difícil desfazer o nó nos neurônios depois dessa.

Nada disso, porém, seria digno de nota sem a atuação extraordinária de Benicio Del Toro, completamente possuído por Che Guevara. Vencedor do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes, ele foi ignorado pela Academia. Será que ainda tem alguma dúvida que Soderbergh estava certo em não se comprometer? Só acho que foi um erro dividir o filme em duas partes. Eu sei que quatro horas no cinema seriam um exagero, mas por deixar a emoção de lado e privilegiar o estilo documental, Soderbergh assume um risco e tanto ao interromper o filme pela metade. Isso pode diminuir a curiosidade do público leigo em torno da história. Antes que o "2" chegue, os curiosos podem procurar por Che Guevara em livros, documentários e outras fontes. Quanto àqueles que vão ao cinema para serem arrebatados, essa pausa também pode levar a obra ao esquecimento no meio de tantos títulos fortes concorrendo pela atenção do público. Nada que um DVD contendo as duas partes não resolva, afinal tanto Steven Soderbergh quanto Che Guevara valem uma conferida.

Obs: “Che” saiu em DVD pela Europa Filmes

Che (Che: Part One, 2008)
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Peter Buchman (Baseado em “Remanescentes da Guerra Revolucionária Cubana”, de Ernesto “Che” Guevara)
Elenco: Benicio Del Toro, Catalina Sandino Moreno, Demián Bichir, Rodrigo Santoro e Julia Ormond

6 Comments:

At 12:45 PM, setembro 24, 2009, Anonymous Vinícius P. said...

Tenho mais expectativa pelos novos trabalhos do Soderbergh do que pelas duas partes de "Che", mas já que saiu em DVD acho que darei uma chance ao longa.

 
At 2:24 PM, setembro 24, 2009, Blogger Dr Johnny Strangelove said...

Quando o bicho pega ... acaba ... EHEHEHEH

Mas tirando isso, é um bom filme sim, mas que incomoda pela incrivel parcialidade que Steven cria para Che, para alguns é bom, para outros, é horrivel.

Bom filme e nada mais ...
abraços

 
At 6:05 PM, setembro 24, 2009, Blogger Bruno Soares said...

Tô pra ver qualquer dia desses. Que bom saber que o Steven Soderbergh mandou bem. Gosto bastante dele mas o homem é irregular. Falando 4 filmes dele vão ser lançados nesse ano aqui no Brasil. Deve ser recorde.

 
At 1:49 PM, setembro 25, 2009, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Eu achei um filmaço. Concordo contigo, inclusive, quando diz que o filme é sobre o homem e não sobre a lenda.

Abs!

 
At 9:37 PM, setembro 26, 2009, Blogger Mayara Bastos said...

Também acho que darei uma chance ao filme em DVD, pelo menos a atuação do Benicio Del Toro deve valer bastante a locação.

Beijos! ;)

 
At 3:48 AM, setembro 27, 2009, Anonymous Wally said...

Acho que "Che" consolida Soderbergh como um dos diretores mais talentosos do cinema. Ao menos a meu ver. Achei esta obra fantástica. Mas preciso conferir a segunda parte.

 

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