Os Infiltrados
Depois de se arriscar em épicos como Gangues de Nova York e O Aviador, Martin Scorsese volta ao terreno da violência urbana de onde jamais deveria ter saído. É nesse cenário que ele realizou obras-primas como Taxi Driver, Touro Indomável, Os Bons Companheiros e Os Infiltrados (The Departed, 2006). O filme é um exemplo de perfeita harmonia entre direção, roteiro, música, montagem, fotografia, elenco e todas as áreas necessárias para fazer cinema.
Como nos grandes filmes de Scorsese, Os Infiltrados mostra um mundo à parte dominado pela violência. Parece que não existe nada ao redor desse caos onde ninguém presta e a perda da identidade é inevitável. Mas é um universo alternativo que não está tão distante da realidade. Um lugar onde as falcatruas são justificadas, assim como a própria violência. É como Frank Costello (um alucinado Jack Nicholson) diz na seqüência que abre o filme: “Eu não quero ser um produto do meio ambiente. Eu quero que o meio ambiente seja um produto meu”.
Engraçado como Os Infiltrados comprova o que já deveríamos saber. Ninguém filma a violência como Martin Scorsese. Ela é uma conseqüência desse universo. Nesse longo hiato de Scorsese com o gênero, vários cineastas banalizaram a violência, tornando-a teatral. Scorsese é mais seco, intenso e visceral. Não há nada de espetacular em ver um tiro na cabeça e os miolos sujando a parede.
A saga de Billy Costigan (Leonardo DiCaprio), jovem policial infiltrado na máfia irlandesa para ajudar a prender o chefão Costello, e Colin Sullivan (Matt Damon), protegido do criminoso que entra pela porta da frente do Departamento de Polícia de Boston saiu da cultuada produção chinesa Conflitos Internos. Apesar de fiel ao original, Scorsese conseguiu melhorar o que já estava bom.
Os Infiltrados é cinema policial como Hollywood não faz mais. É uma produção atual com alma dos anos 70, onde sangue e sexo eram colocados na tela sem pudor algum. O cineasta atira primeiro e pergunta depois. A geração Tarantino que desconhece o “Scorsese das ruas” pode estranhar até os diálogos do filme, mas se os velhos fãs reclamarem desta vez, pode ser um sinal de má vontade.
Todo o elenco está muito bem nessa terceira (e melhor) parceria entre Leonardo DiCaprio e Scorsese. Além das insanas atuações de Di Caprio e, principalmente, Jack Nicholson, temos Matt Damon em um grande momento. Seu cinismo em cena é irresistível. O canastra Mark Wahlberg ganha do diretor a ferocidade necessária para construir a melhor performance de sua carreira. Aliás, seu personagem permanece como o único a não perder a identidade entre os vários “ratos” de Os Infiltrados. A novata Vera Farmiga é uma agradável surpresa. Ela é dona de um papel muito importante, que representa o ponto de equilíbrio entre os personagens de DiCaprio e Damon.
Vale citar também o trabalho de Thelma Schoonmaker, habitual colaboradora do diretor na montagem de seus filmes, que reforça a tensão e o delírio visual de cada cena. Ela é uma das melhores que já passaram por Hollywood.
Em Os Infiltrados, temos referências a linha tênue que separa o céu do inferno ou o bem do mal. O olhar fixo do catolicismo (representado por símbolos da Igreja) presenciando a ascensão e queda dos personagens de Scorsese no submundo é uma constante em sua carreira – como o Jake La Motta, de Robert De Niro, em Touro Indomável.
Muitos dizem que é o melhor filme de Scorsese desde Os Bons Companheiros. Sem dúvida. Mas é até injusto comentar Os Infiltrados sem voltar ao filme por diversas vezes. Há muitas metáforas sobre a nossa sociedade, que precisam ser dissecadas com o tempo. Depois de algumas visitas, eu já acredito que estamos diante de uma obra-prima. E você?
Os Infiltrados (The Departed, EUA, 2006)
Direção: Martin Scorsese
Como nos grandes filmes de Scorsese, Os Infiltrados mostra um mundo à parte dominado pela violência. Parece que não existe nada ao redor desse caos onde ninguém presta e a perda da identidade é inevitável. Mas é um universo alternativo que não está tão distante da realidade. Um lugar onde as falcatruas são justificadas, assim como a própria violência. É como Frank Costello (um alucinado Jack Nicholson) diz na seqüência que abre o filme: “Eu não quero ser um produto do meio ambiente. Eu quero que o meio ambiente seja um produto meu”.
Engraçado como Os Infiltrados comprova o que já deveríamos saber. Ninguém filma a violência como Martin Scorsese. Ela é uma conseqüência desse universo. Nesse longo hiato de Scorsese com o gênero, vários cineastas banalizaram a violência, tornando-a teatral. Scorsese é mais seco, intenso e visceral. Não há nada de espetacular em ver um tiro na cabeça e os miolos sujando a parede.
A saga de Billy Costigan (Leonardo DiCaprio), jovem policial infiltrado na máfia irlandesa para ajudar a prender o chefão Costello, e Colin Sullivan (Matt Damon), protegido do criminoso que entra pela porta da frente do Departamento de Polícia de Boston saiu da cultuada produção chinesa Conflitos Internos. Apesar de fiel ao original, Scorsese conseguiu melhorar o que já estava bom.
Os Infiltrados é cinema policial como Hollywood não faz mais. É uma produção atual com alma dos anos 70, onde sangue e sexo eram colocados na tela sem pudor algum. O cineasta atira primeiro e pergunta depois. A geração Tarantino que desconhece o “Scorsese das ruas” pode estranhar até os diálogos do filme, mas se os velhos fãs reclamarem desta vez, pode ser um sinal de má vontade.
Todo o elenco está muito bem nessa terceira (e melhor) parceria entre Leonardo DiCaprio e Scorsese. Além das insanas atuações de Di Caprio e, principalmente, Jack Nicholson, temos Matt Damon em um grande momento. Seu cinismo em cena é irresistível. O canastra Mark Wahlberg ganha do diretor a ferocidade necessária para construir a melhor performance de sua carreira. Aliás, seu personagem permanece como o único a não perder a identidade entre os vários “ratos” de Os Infiltrados. A novata Vera Farmiga é uma agradável surpresa. Ela é dona de um papel muito importante, que representa o ponto de equilíbrio entre os personagens de DiCaprio e Damon.
Vale citar também o trabalho de Thelma Schoonmaker, habitual colaboradora do diretor na montagem de seus filmes, que reforça a tensão e o delírio visual de cada cena. Ela é uma das melhores que já passaram por Hollywood.
Em Os Infiltrados, temos referências a linha tênue que separa o céu do inferno ou o bem do mal. O olhar fixo do catolicismo (representado por símbolos da Igreja) presenciando a ascensão e queda dos personagens de Scorsese no submundo é uma constante em sua carreira – como o Jake La Motta, de Robert De Niro, em Touro Indomável.
Muitos dizem que é o melhor filme de Scorsese desde Os Bons Companheiros. Sem dúvida. Mas é até injusto comentar Os Infiltrados sem voltar ao filme por diversas vezes. Há muitas metáforas sobre a nossa sociedade, que precisam ser dissecadas com o tempo. Depois de algumas visitas, eu já acredito que estamos diante de uma obra-prima. E você?
Os Infiltrados (The Departed, EUA, 2006)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: William Monahan (Adaptado do filme Conflitos Internos, de Andrew Lau e Alan Mak)
Elenco: Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Martin Sheen, Mark Wahlberg e Vera Farmiga
Elenco: Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Martin Sheen, Mark Wahlberg e Vera Farmiga
1 Comments:
Reescrevendo um trecho da sua resenha:
"É nesse cenário que ele realizou obras-primas como Caminhos Perigosos, Taxi Driver, Touro Indomável, Os Bons Companheiros e, SEM SOMBRA DE DÚVIDA, Os Infiltrados."
Aliás, notou como o clima desse (diálogo, montagem, desfecho) é parecido com Caminhos Perigosos? Acho que donos de bares e restaurantes não gostam muito de Scorsese, hehehehehhee
abs!
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