quarta-feira, dezembro 13, 2006

Um Bom Ano

Sei que muitos vão me achar louco, mas ainda estou nas nuvens por causa do novo filme de Ridley Scott, Um Bom Ano. Sei que foi massacrado pela crítica, enquanto o público (principalmente o americano) não ligou muito para esse belo, maravilhoso filme.

Já bastaria ver a competência habitual de Russell Crowe, um dos meus atores favoritos. Não concordo quando dizem que ele não se encaixa em um papel feito sob medida para um Hugh Grant. Ambos são atores e tanto Crowe quanto Grant não são obrigados a fazer sempre a mesma coisa. Outro atrativo consiste nas diversas citações cinematográficas, incluindo um diálogo de Lawrence da Arábia: "Por que você gosta tanto do deserto, Major Lawrence?", "Porque ele é limpo!". O irônico Max Skinner de Russell Crowe começa incapaz de reconhecer as belezas da vida, como o amor de T.E. Lawrence pelo deserto no clássico de David Lean. Isso já resume o problema inicial de Skinner. Lógico que ele vai mudar até o fim, mas isso não importa.


Sempre digo que existem filmes que encantam pela forma ou conteúdo. É quando falamos em “aula de cinema” e, mesmo assim, a paixão pela sétima arte exala da tela. Mas nem sempre é a estrutura que importa, nem começo, meio ou fim. Às vezes, a sensação é mais importante – como o comentário de Albert Finney sobre o livro Morte em Veneza. Em pouquíssimas vezes, um filme consegue dialogar diretamente com o coração do espectador. É o meu caso com Um Bom Ano.

O roteiro pode não trazer nada de novo, mas a beleza dos sentidos captada pela câmera de Ridley Scott é algo sublime. Um Bom Ano é um filme que fala de sensações – desde memórias ao simples toque nas costas de uma bela mulher ou, até mesmo, os prazeres de um beijo. Aliás, o filme tem duas cenas magníficas de beijo. Lembrei de passagens semelhantes em Depois do Vendaval, de John Ford (o beijo mais bonito do cinema), e E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg. Particularmente, são momentos que dialogam com essas cenas de Um Bom Ano. A primeira delas acontece em um restaurante com uma tela de cinema ao fundo (acho que com momentos de Jacques Tati e Brigitte Bardot) e, então, vem a chuva e o inevitável beijo. É a coisa mais bonita desse mundo. Talvez não mais do que a parte em que o jovem Max Skinner (Freddie Highmore) descobre o erotismo ao ver uma linda francesinha pular na piscina, sair da água direto para seus lábios e encerrar com uma frase ao pé do ouvido, que o menino carregará por toda a vida. Imagens podem valer mais do que palavras e o cinema não precisa ser sempre, mas pode recorrer diretamente ao visual para ilustrar um roteiro.

Um Bom Ano não é simplesmente uma comédia romântica - talvez seja mais complexo do que aparenta. Há uma magia radiante encontrada em poucos filmes. Tudo com uma fotografia perfeita que ilumina a França e escurece a Inglaterra, além da presença dessa mulher linda que é Marion Cotillard. O filme respira cinema e Ridley Scott sabe como contar uma história e orquestrar cenas visualmente irretocáveis. É o cara de Blade Runner, Alien e Gladiador, mas também de Um Bom Ano.

1 Comments:

At 6:53 AM, março 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

É apenas um bom filme.

2.5/4 estrelas

 

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