domingo, fevereiro 10, 2008

Cinema Paradiso


Qual é a diferença entre um drama genuíno e a pieguice? Se é ruim ser piegas, então, a sensação de assistir a Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1988) só pode ser a de uma emoção verdadeira e sincera.

Por muito tempo, pensei que sua força dramática só era capaz de atingir o coração de cinéfilos. Não sei se é acima de tudo, mas o filme do diretor italiano Giuseppe Tornatore é uma declaração de amor ao cinema. É a história de Salvatore De Vita (Jacques Perrin), que se tornou um cineasta de respeito. Um dia, ele recebe uma ligação e descobre que seu velho amigo Alfredo (Philippe Noiret) faleceu na cidade de Giancaldo, na Sicília, local onde viveu sua infância.

Antes de retornar, Salvatore relembra sua infância na cidade que abandonou. E onde era popularmente conhecido como Totó (Salvatore Cascio). Na pequena Giancaldo, Totó lidava com a ausência do pai, que lutava na guerra, e o conseqüente sofrimento da mãe. Nesse cenário real demais, o menino se encanta com o cinema de rua onde Alfredo é o projecionista. A amizade entre os dois ganha um reforço da paixão em comum pela magia da sétima arte. Enquanto trabalha com Alfredo, Totó observa como os habitantes de Giancaldo não podem assistir a cenas um pouco mais picantes - tudo por causa da censura do Padre Adelfio (Leopoldo Trieste), que obriga o projecionista a cortar até cenas de beijos. Não é só isso. O cinema é a referência de Totó. Seja para encarar o mundo adulto ou se apaixonar.

Obviamente, Cinema Paradiso atinge em cheio aqueles que aprenderam (como Totó) a amar os filmes. Mas também vejo uma história de paternidade ali. Ou a busca pelo preenchimento deste amor vazio na vida de Totó. Ou do próprio Alfredo, que não tem filho. Um completa o outro e o que aproxima os dois, além desta necessidade, é o cinema. E, talvez, esse ponto de vista seja ainda mais importante na trama do que a homenagem de Tornatore à sétima arte.

Assim, a emoção do filme ganha aspectos universais. E não sou daqueles que consideram que Seabiscuit só emociona quem adora hipismo, ou que Rocky, Touro Indomável e Menina de Ouro foram feitos somente para os fãs de boxe. Hoje, penso que a emoção de Cinema Paradiso pode ser compreendida por quem tem um mínimo de sensibilidade.

A música de Cinema Paradiso ainda ajuda bastante para alcançar o resultado desejado por Giuseppe Tornatore. É um trabalho magnífico do maestro Ennio Morricone, que funciona dentro e fora do filme. É uma colaboração que fará com que Cinema Paradiso viva para sempre. Se pieguice significa um drama ruim, então, o melhor filme de Tornatore não merece esse termo. E é uma das obras mais bonitas de todos os tempos.

Apesar da vitória no Oscar de Filme Estrangeiro, Cinema Paradiso deveria ter concorrido ao prêmio principal da Academia, que acabou nas mãos de Conduzindo Miss Daisy. Ennio Morricone nem foi indicado pela trilha sonora. Mas tudo bem. O tempo passou. Agora, pensando bem, qual foi o melhor filme daquela edição do Oscar?

Cinema Paradiso
(Nuovo Cinema Paradiso, 1988)
Direção: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Giuseppe Tornatore e Vanna Paoli
Elenco: Philippe Noiret, Salvatore Cascio, Marco Leonardi, Antonella Attili, Jacques Perrin e Leopoldo Trieste

10 Comments:

At 6:50 PM, fevereiro 10, 2008, Anonymous Anônimo said...

Puxa, acredita que a primeira vez que o vi foi justamente há uns meses atrás (por recomendação do Wally, aliás)? Sem dúvida preciso rever, mas fiquei bastante emocionado com a trama. Um filme estrangeiro como poucos...

Haha, é bem isso mesmo - eu amo "Seabiscuit", mesmo sem entender nada de hipismo ;-)

Abraço!

 
At 8:23 PM, fevereiro 10, 2008, Blogger Kamila said...

Otavio, "Cinema Paradiso", especialmente a sua sequência final, foi o filme que me fez cair de amores pelo cinema. Não esqueço a sensação que tive ao assistir a este filme numa sala de cinema pequena até demais, numa Semana Santa, junto com minhas irmãs e alguns amigos.

E eu acho que o que esse filme tem de mais especial é o fato de que, a cada nova visita, a gente sente como se estivesse assistindo ao filme pela primeira vez. Os sentimentos se renovam, a emoção é mais forte. E é isso que eu espero sentir ao assistir a um filme.

Belo texto!

 
At 9:38 PM, fevereiro 10, 2008, Anonymous Anônimo said...

Alô, Otavio, tudo bem? É minha primeira passagem por aqui, mas te conheço dos comentários do Cine Vita, Blog do Vinícius, Cinéfila por Natureza, etc. A respeito de "Cinema Paradiso" eu sou um dos fãs desta proeza cinematográfica. Você ao menos desconfia por quê a Academia indicou "A Vida é Bela" para melhor filme e "Cinema Paradiso" não? E como um filme xarope como Conduzindo Miss Daysi ganhou, sendo que é beeem inferior a um que nem indicado foi? Esse meu caro, é um dos mistérios da humanidade...:D
P.S Pra entender Rocky vencedor do Oscar 1976, não precisa gostar de boxe, e sim do Stallone, hahahahaha.
Acabo de criar um blog na wordpress, o endereço é http:agrandearte.wordpress.com
Ficarei muito feliz se você puder visitá-lo, e mais ainda se eu puder add o Hollywoodiano no meu blogroll. claro, porque quero voltar aqui sempre...
Abraços.

 
At 12:28 AM, fevereiro 11, 2008, Anonymous Anônimo said...

Olá Otávio, assisti este filme num cinema da Paulista e tinha apenas 9 anos. O mais impressionante é que este foi o primeiro e único filme que vi com meu pai dentro de uma sala de cinema, o qual havia se divorciado de minha mãe quando tinha apenas 4 anos de idade. Eu raramente o via e quando isto acontecia ficava super feliz, mesmo que suas raras passagens durassem poucos dias, pois ele morava em outro Estado. No dia seguinte ao filme ele foi embora e só o revi muitos anos depois. Esse dia foi um dos dias mais tristes que tive e ao vê-lo ir embora me tranquei no banheiro e chorei copiosamente como nunca havia feito antes. Senti um vazio amargo dentro de mim como se me faltasse um chão onde colocar os pés. Me identifiquei com Totó e todas as vezes que vejo certas cenas e principalmente quando escuto a trilha de Morricone algo forte bate em mim, que não consigo explicar. É um filme que adoro e ao mesmo tempo é tão triste e lindo, daqueles que o diretor nunca mais faz igual. Abraços.

 
At 12:30 AM, fevereiro 11, 2008, Anonymous Anônimo said...

Essas neuroses do Oscar ninguém explica. Este foi de longe o melhor filme daquela edição. Também dou 5 estrelas, amo! Quero rever, vi apenas uma vez. Mas é isso que voce disse, uma eterna declaração de amor ao cinema. Chorei pacas na montagem dos beijos, um dos momentos mais belos da história do cinema.

Ciao!

 
At 12:45 AM, fevereiro 11, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Vinicius, eu também adoro SEABISCUIT. Não achei que ia entrar no Oscar. Mas quando vi seu nome nas indicações, eu gritei de alegria. Aliás, quando será o próximo filme de Gary Ross, não? Vc já viu PLEASANTVILLE?

Obrigado, Kamila! Então CINEMA PARADISO fez você olhar a sétima arte com outros olhos... foi um belo começo.

Weiner, obrigado! Já vi seu blog e deixei alguns comentários lá. Parabéns! E seu link já está aqui. E confesso que gosto de ROCKY :)

Denis, eu não sei o que dizer. Mas que belo (e comovente) desabafo. Bom, eu acho que CINEMA PARADISO desperta emoções raras. É isso aí. E se entendi o que vc quis dizer, também penso isso do filme. É uma história sobre paternidade.

Wally, assistindo a CINEMA PARADISO várias vezes, você renova sentimentos, descobre sensações novas. É coisa rara.

Abs! Boa semana a todos!

 
At 12:47 AM, fevereiro 11, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Wally, eu ia dizer: "Como disse a Kamila..."

 
At 3:46 AM, fevereiro 11, 2008, Anonymous Anônimo said...

O pior de tudo é ver que o filme ganhador do Oscar naquela edição foi o mais borocoxô possível, Conduzindo Miss Daisy... Tem tanto filme estrangeiro melhor que o dos americanos, mas eles insistem em subestimá-los...

 
At 10:57 AM, fevereiro 11, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Marco, eu nem me lembro direito de CONDUZINDO MISS DAISY. Vi uma vez só e não ficou muita coisa. Sei que a Jessica Tandy está bem, assim como o Morgan Freeman, mas deve ser um dos mais fracos vencedores do Oscar.

Abs!

 
At 10:02 PM, março 31, 2009, Anonymous André said...

Otávio,
outro excelente post.

Este filme é como um CULT para mim, quando vi me apaixonei e até hoje acho uma poesia completa e espetacular sobre o cinema.

Abraços,
André

 

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