Butch Cassidy and the Sundance Kid
Sempre quando assisto ao clássico Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), eu lembro do ditado "Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come." E o clima do faroeste mais popular do cinema é esse mesmo. O grande (e subestimado) diretor George Roy Hill colocou Paul Newman e Robert Redford juntos pela primeira vez na tela para contar os últimos dias da carismática dupla de assaltantes de banco (e trens). Hill olha para a decadência do Velho Oeste, farto de ladrõezinhos, à beira da evolução com a ferrovia e, como bem mostra o filme, o surgimento da bicicleta. Neste clássico, todos nós sabemos como será o fim de Butch (Newman) e Sundance (Redford). Menos os dois patetas.
Sim, patetas, afinal George Roy Hill permitiu que seus dois protagonistas brincassem um pouco em cena. Inicialmente, o ótimo roteiro de William Goldman não tinha uma leitura bem-humorada. Mas quando começou a rodar, Hill foi surpreendido pelas divertidos improvisos dos astros, gostou do que viu e deixou acontecer. O resultado é algo que só poderia ter acontecido na Hollywood clássica. Nada esquematizado pelo estúdio, tudo feito com tranqüilidade, sem medo de desagradar o grande público. Nada de fórmulas, apenas cinema contando uma boa história. E as influências do velho western estão lá, mas Butch Cassidy and the Sundance Kid é um filme único do gênero justamente por sua abordagem descontraída para um roteiro construído como um réquiem para os anti-heróis.
Butch Cassidy and the Sundance Kid é sobre amizade, morte e a impossibilidade de seguir em frente sem fazer aquilo que você gosta. É a busca pela satisfação. Mesmo que isso leve a dupla de bandidos mais legais do cinema à morte. A força do filme é tanta que é possível esquecer que o roiteiro é baseado em fatos reais.
É assim que vejo este filme: Os tempos de glória de Butch Cassidy e sua "Gangue do Buraco na Parede" já estão no passado. O mundo está evoluindo e só ele, além de seu fiel amigo Sundance Kid, não enxergou isso. Ambos continuam roubando, gastando e não avaliando as conseqüências de seus atos. Mas para evoluir, o mundo precisa se livrar de sujeitos como Butch e Sundance. Com isso, uma equipe que parece vinda do além é contratada para seguir a dupla. Por mais que Butch e Sundance corram, a equipe não deixa de persegui-los. Mais cedo ou mais tarde, eles serão alcançados. É a morte inevitável chamando. Repare como as figuras de seus perseguidores mal aparecem. Chega até a ser assustador, pois vemos tudo pelo ponto de vista amedrontado da dupla principal.
O interessante nesta visão de George Roy Hill é constatar que Butch e Sundance não são covardes. Eles simplesmente não apreciam a violência e preferem resolver tudo com inteligência. Butch nem sequer atirou em um homem durante toda a sua vida. Já Sundance é rápido no gatilho, mas prefere seguir os planos espertos do chefe a dar alguns tiros em seus inimigos. Hill coloca dois bandidos que não compreendem a violência sendo perseguidos por homens da lei dispostos a descansar somente quando eliminarem seus alvos de uma vez por todas.
A saída da dupla é fugir do país. Eles param na Bolívia, onde Butch pensa que a vida será mais fácil. Mas deste momento até a cena final, vejo a segunda parte do filme como uma alegoria ao desprezo, à prepotência e à ignorância dos americanos em relação ao resto do mundo. Por isso, Butch e Sundance, longe de seus perseguidores implacáveis, começam a roubar todos os bancos da Bolívia. Pensam que jamais serão pegos pelas autoridades daquele pequeno e pobre país. É aí que reside a ironia de George Roy Hill, um homem à frente de seu tempo, já denunciando o atraso no raciocínio americano em relação aos seus demais vizinhos.
Hoje parece um tanto over em algumas cenas, mas confesso que ainda adoro a trilha composta por Burt Bacharach, que marcou época. Tirando a cena famosa com Paul Newman fazendo acrobacias na bicicleta para encantar a bela Katharine Ross, ao som da eterna Raindrops Keep Fallin' on My Head, o restante da trilha, de fato, parece envelhecida. Mas essa cena inesquecível é reforçada pela bela fotografia de Conrad L. Hall - repare quando a bicicleta transportando Newman e Katharine passa em frente a uma cerca. Dá pra ver flashes dos raios de sol atravessando os intervalos da construção de madeira. Bem sutil, mas um trabalho magnífico de Hall. É uma das coisas mais lindas que já vi. É uma cena que representa a magia do cinema. Uma cena que transmite todo o carisma do filme celebrando a vida como ela deve ser aproveitada antes da hora de morrer.
Isso é Butch Cassidy and the Sundance Kid, que ganhou quatro Oscars - Trilha Sonora, Canção, Fotografia e Roteiro Adaptado. Um filme com direção de primeira, um roteiro muito bem escrito, atores cheios de carisma se divertindo e jamais esquecendo que estão atuando profissionalmente. De quebra, ainda consegue apresentar perfeição em fotografia, figurino, cenários, trilha e todo o resto. Um filme completo. E, infelizmente, também é cinema como não se faz mais.
Antes de terminar, sei que o filme se chama apenas Butch Cassidy no Brasil. Mas aí seria a mesma coisa que traduzir Thelma & Louise somente para... Thelma. Desculpe-me mas insisto em chamá-lo pelo título original.
Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969)
Direção: George Roy Hill
Roteiro: William Goldman
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Katharine Ross, Strother Marti, Cloris Leachman, Jeff Corey, Henry Jones e Ted Cassidy
Sim, patetas, afinal George Roy Hill permitiu que seus dois protagonistas brincassem um pouco em cena. Inicialmente, o ótimo roteiro de William Goldman não tinha uma leitura bem-humorada. Mas quando começou a rodar, Hill foi surpreendido pelas divertidos improvisos dos astros, gostou do que viu e deixou acontecer. O resultado é algo que só poderia ter acontecido na Hollywood clássica. Nada esquematizado pelo estúdio, tudo feito com tranqüilidade, sem medo de desagradar o grande público. Nada de fórmulas, apenas cinema contando uma boa história. E as influências do velho western estão lá, mas Butch Cassidy and the Sundance Kid é um filme único do gênero justamente por sua abordagem descontraída para um roteiro construído como um réquiem para os anti-heróis.
Butch Cassidy and the Sundance Kid é sobre amizade, morte e a impossibilidade de seguir em frente sem fazer aquilo que você gosta. É a busca pela satisfação. Mesmo que isso leve a dupla de bandidos mais legais do cinema à morte. A força do filme é tanta que é possível esquecer que o roiteiro é baseado em fatos reais.
É assim que vejo este filme: Os tempos de glória de Butch Cassidy e sua "Gangue do Buraco na Parede" já estão no passado. O mundo está evoluindo e só ele, além de seu fiel amigo Sundance Kid, não enxergou isso. Ambos continuam roubando, gastando e não avaliando as conseqüências de seus atos. Mas para evoluir, o mundo precisa se livrar de sujeitos como Butch e Sundance. Com isso, uma equipe que parece vinda do além é contratada para seguir a dupla. Por mais que Butch e Sundance corram, a equipe não deixa de persegui-los. Mais cedo ou mais tarde, eles serão alcançados. É a morte inevitável chamando. Repare como as figuras de seus perseguidores mal aparecem. Chega até a ser assustador, pois vemos tudo pelo ponto de vista amedrontado da dupla principal.
O interessante nesta visão de George Roy Hill é constatar que Butch e Sundance não são covardes. Eles simplesmente não apreciam a violência e preferem resolver tudo com inteligência. Butch nem sequer atirou em um homem durante toda a sua vida. Já Sundance é rápido no gatilho, mas prefere seguir os planos espertos do chefe a dar alguns tiros em seus inimigos. Hill coloca dois bandidos que não compreendem a violência sendo perseguidos por homens da lei dispostos a descansar somente quando eliminarem seus alvos de uma vez por todas.
A saída da dupla é fugir do país. Eles param na Bolívia, onde Butch pensa que a vida será mais fácil. Mas deste momento até a cena final, vejo a segunda parte do filme como uma alegoria ao desprezo, à prepotência e à ignorância dos americanos em relação ao resto do mundo. Por isso, Butch e Sundance, longe de seus perseguidores implacáveis, começam a roubar todos os bancos da Bolívia. Pensam que jamais serão pegos pelas autoridades daquele pequeno e pobre país. É aí que reside a ironia de George Roy Hill, um homem à frente de seu tempo, já denunciando o atraso no raciocínio americano em relação aos seus demais vizinhos.
Hoje parece um tanto over em algumas cenas, mas confesso que ainda adoro a trilha composta por Burt Bacharach, que marcou época. Tirando a cena famosa com Paul Newman fazendo acrobacias na bicicleta para encantar a bela Katharine Ross, ao som da eterna Raindrops Keep Fallin' on My Head, o restante da trilha, de fato, parece envelhecida. Mas essa cena inesquecível é reforçada pela bela fotografia de Conrad L. Hall - repare quando a bicicleta transportando Newman e Katharine passa em frente a uma cerca. Dá pra ver flashes dos raios de sol atravessando os intervalos da construção de madeira. Bem sutil, mas um trabalho magnífico de Hall. É uma das coisas mais lindas que já vi. É uma cena que representa a magia do cinema. Uma cena que transmite todo o carisma do filme celebrando a vida como ela deve ser aproveitada antes da hora de morrer.
Isso é Butch Cassidy and the Sundance Kid, que ganhou quatro Oscars - Trilha Sonora, Canção, Fotografia e Roteiro Adaptado. Um filme com direção de primeira, um roteiro muito bem escrito, atores cheios de carisma se divertindo e jamais esquecendo que estão atuando profissionalmente. De quebra, ainda consegue apresentar perfeição em fotografia, figurino, cenários, trilha e todo o resto. Um filme completo. E, infelizmente, também é cinema como não se faz mais.
Antes de terminar, sei que o filme se chama apenas Butch Cassidy no Brasil. Mas aí seria a mesma coisa que traduzir Thelma & Louise somente para... Thelma. Desculpe-me mas insisto em chamá-lo pelo título original.
Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969)
Direção: George Roy Hill
Roteiro: William Goldman
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Katharine Ross, Strother Marti, Cloris Leachman, Jeff Corey, Henry Jones e Ted Cassidy
6 Comments:
Maravilha! Outro grande filme e um dos meus favoritos da carreira do Paul Newman. Grande George Hill também!
Você descreveu muito bem a cena da bicicleta, uma de minhas preferidas e o ás na manga que o diferencia em relação a Golpe de Mestre. Abs!
VERGONHA: não vi!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
=(
Abs!
Otávio, não sabia dessa coisa da tradução nacional, mas não me espanta nem um pouco, para mim o filme é Butch Cassidy e Sundance Kid, afinal foi esse o nome q fez Redford nomear o festival.
Também não vi!!! :-(
Beijos!!!
Também não vi...
Mas este mais um de seus especiais textos inspirados e apaixonados que adoro ler. =D
Ciao!
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