segunda-feira, março 02, 2009

Butch Cassidy and the Sundance Kid

Aniversário de 40 anos


Sempre quando assisto ao clássico Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), eu lembro do ditado "Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come." E o clima do faroeste mais popular do cinema é esse mesmo. O grande (e subestimado) diretor George Roy Hill colocou Paul Newman e Robert Redford juntos pela primeira vez na tela para contar os últimos dias da carismática dupla de assaltantes de banco (e trens). Hill olha para a decadência do Velho Oeste, farto de ladrõezinhos, à beira da evolução com a ferrovia e, como bem mostra o filme, o surgimento da bicicleta. Neste clássico, todos nós sabemos como será o fim de Butch (Newman) e Sundance (Redford). Menos os dois patetas.

Sim, patetas, afinal George Roy Hill permitiu que seus dois protagonistas brincassem um pouco em cena. Inicialmente, o ótimo roteiro de William Goldman não tinha uma leitura bem-humorada. Mas quando começou a rodar, Hill foi surpreendido pelas divertidos improvisos dos astros, gostou do que viu e deixou acontecer. O resultado é algo que só poderia ter acontecido na Hollywood clássica. Nada esquematizado pelo estúdio, tudo feito com tranqüilidade, sem medo de desagradar o grande público. Nada de fórmulas, apenas cinema contando uma boa história. E as influências do velho western estão lá, mas Butch Cassidy and the Sundance Kid é um filme único do gênero justamente por sua abordagem descontraída para um roteiro construído como um réquiem para os anti-heróis.

Butch Cassidy and the Sundance Kid é sobre amizade, morte e a impossibilidade de seguir em frente sem fazer aquilo que você gosta. É a busca pela satisfação. Mesmo que isso leve a dupla de bandidos mais legais do cinema à morte. A força do filme é tanta que é possível esquecer que o roiteiro é baseado em fatos reais.

É assim que vejo este filme: Os tempos de glória de Butch Cassidy e sua "Gangue do Buraco na Parede" já estão no passado. O mundo está evoluindo e só ele, além de seu fiel amigo Sundance Kid, não enxergou isso. Ambos continuam roubando, gastando e não avaliando as conseqüências de seus atos. Mas para evoluir, o mundo precisa se livrar de sujeitos como Butch e Sundance. Com isso, uma equipe que parece vinda do além é contratada para seguir a dupla. Por mais que Butch e Sundance corram, a equipe não deixa de persegui-los. Mais cedo ou mais tarde, eles serão alcançados. É a morte inevitável chamando. Repare como as figuras de seus perseguidores mal aparecem. Chega até a ser assustador, pois vemos tudo pelo ponto de vista amedrontado da dupla principal.

O interessante nesta visão de George Roy Hill é constatar que Butch e Sundance
não são covardes. Eles simplesmente não apreciam a violência e preferem resolver tudo com inteligência. Butch nem sequer atirou em um homem durante toda a sua vida. Já Sundance é rápido no gatilho, mas prefere seguir os planos espertos do chefe a dar alguns tiros em seus inimigos. Hill coloca dois bandidos que não compreendem a violência sendo perseguidos por homens da lei dispostos a descansar somente quando eliminarem seus alvos de uma vez por todas.

A saída da dupla é fugir do país. Eles param na Bolívia, onde Butch pensa que a vida será mais fácil. Mas deste momento até a cena final, vejo a segunda parte do filme como uma alegoria ao desprezo, à prepotência e à ignorância dos americanos em relação ao resto do mundo. Por isso, Butch e Sundance, longe de seus perseguidores implacáveis, começam a roubar todos os bancos da Bolívia. Pensam que jamais serão pegos pelas autoridades daquele pequeno e pobre país. É aí que reside a ironia de George Roy Hill, um homem à frente de seu tempo, já denunciando o atraso no raciocínio americano em relação aos seus demais vizinhos.

Hoje parece um tanto over em algumas cenas, mas confesso que ainda adoro a trilha composta por Burt Bacharach, que marcou época. Tirando a cena famosa com Paul Newman fazendo acrobacias na bicicleta para encantar a bela Katharine Ross, ao som da eterna Raindrops Keep Fallin' on My Head, o restante da trilha, de fato, parece envelhecida. Mas essa cena inesquecível é reforçada pela bela fotografia de Conrad L. Hall - repare quando a bicicleta transportando Newman e Katharine passa em frente a uma cerca. Dá pra ver flashes dos raios de sol atravessando os intervalos da construção de madeira. Bem sutil, mas um trabalho magnífico de Hall. É uma das coisas mais lindas que já vi. É uma cena que representa a magia do cinema. Uma cena que transmite todo o carisma do filme celebrando a vida como ela deve ser aproveitada antes da hora de morrer.

Isso é Butch Cassidy and the Sundance Kid, que ganhou quatro Oscars - Trilha Sonora, Canção, Fotografia e Roteiro Adaptado. Um filme com direção de primeira, um roteiro muito bem escrito, atores cheios de carisma se divertindo e jamais esquecendo que estão atuando profissionalmente. De quebra, ainda consegue apresentar perfeição em fotografia, figurino, cenários, trilha e todo o resto. Um filme completo. E, infelizmente, também é cinema como não se faz mais.

Antes de terminar, sei que o filme se chama apenas Butch Cassidy no Brasil. Mas aí seria a mesma coisa que traduzir Thelma & Louise somente para... Thelma. Desculpe-me mas insisto em chamá-lo pelo título original.

Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969)
Direção: George Roy Hill
Roteiro: William Goldman
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Katharine Ross, Strother Marti, Cloris Leachman, Jeff Corey, Henry Jones e Ted Cassidy


A crítica de 'Butch Cassidy and the Sundance Kid' é parte do 'Especial Paul Newman',
que vai até 31 de março no 'Hollywoodiano'.

6 Comments:

At 8:58 AM, março 03, 2009, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Maravilha! Outro grande filme e um dos meus favoritos da carreira do Paul Newman. Grande George Hill também!

 
At 11:57 AM, março 03, 2009, Blogger Denis Torres said...

Você descreveu muito bem a cena da bicicleta, uma de minhas preferidas e o ás na manga que o diferencia em relação a Golpe de Mestre. Abs!

 
At 2:26 PM, março 03, 2009, Blogger Kau Oliveira said...

VERGONHA: não vi!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

=(


Abs!

 
At 4:24 PM, março 03, 2009, Blogger Museu do Cinema said...

Otávio, não sabia dessa coisa da tradução nacional, mas não me espanta nem um pouco, para mim o filme é Butch Cassidy e Sundance Kid, afinal foi esse o nome q fez Redford nomear o festival.

 
At 9:05 PM, março 03, 2009, Anonymous Anônimo said...

Também não vi!!! :-(

Beijos!!!

 
At 4:54 AM, março 04, 2009, Anonymous Anônimo said...

Também não vi...
Mas este mais um de seus especiais textos inspirados e apaixonados que adoro ler. =D

Ciao!

 

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