quarta-feira, agosto 26, 2009

The Hurt Locker


Sob qualquer ponto de vista, The Hurt Locker (2009) é o melhor filme já feito sobre a Guerra do Iraque. Mas isso chega a ser redundante, afinal não existem tantas produções assim sobre um conflito tão recente, que os próprios americanos ainda estão digerindo. A diretora Kathryn Bigelow, então, concentrou-se nas pessoas que convivem com o horror da guerra diariamente e não no horror propriamente dito.

Não que o filme seja visualmente contido, afinal The Hurt Locker é um esforço e tanto de uma surpreendente Kathryn Bigelow (Caçadores de Emoção, Estranhos Prazeres, K-19: The Widowmaker) para chamar a atenção do povão, que não vê a CNN, com um mix visceral de ação e suspense, ilustrando, na medida do possível, a dura realidade dos soldados americanos no Iraque.


Bigelow captura a essência do combate, assim como suas complicações morais e a influência disso tudo na vida de um soldado. Mas também dá um show para quem conhece a guerra pelos videogames. É um casamento perfeito entre os melhores recursos oferecidos por Hollywood e as influências do estilo documentarista. O espectador se sente no Iraque graças a uma câmera dominada pela tensão, mas que também conta com a fotografia queimada pelo sol de Barry Ackroyd e a montagem mais competente do ano, assinada por Chris Innis e Bob Murawski. É realidade, mas não deixa de ser cinema.


Porém, o terreno não é o que mais importa para a diretora. The Hurt Locker é, principalmente, um fascinante estudo de personagens, podendo ser visto como um filme sobre vícios e viciados. Bom, pelo menos UM viciado. O Sargento William James (Jeremy Renner, em atuação digna de indicação ao Oscar) está no Iraque para desarmar bombas. Ele tem o pior trabalho do mundo, mas parece amar o que faz. Está certo que alguém precisa cortar os fios e não existe ninguém melhor do que ele. Mas pelas palavras de Chris Hedges, ex-correspondente de guerra do The New York Times, que abrem o filme, o Sargento James é mesmo viciado na adrenalina do combate. Só não pense que sua personalidade é escancarada na tela por Kathryn Bigelow e Jeremy Renner. Nada é óbvio em The Hurt Locker.

Se a maioria quer seguir as regras e voltar o quanto antes para casa, James não consegue ficar longe do inferno. Do contrário, sua vida não tem sentido. Então, será que estamos falando de vício ou amor? E se ele realmente ama desarmar bombas? Pode ser que The Hurt Locker questione se há uma interligação entre amor, desejo, loucura, sofrimento e vício em algum lugar dentro do ser humano. Mas como eu disse, nada é óbvio neste filme.

Minha visão pessoal? The Hurt Locker só tem pose de diferente. O Sargento James ama a sua família, mas jamais trairá seu verdadeiro "eu". São demonstrações da razão da existência do homem na Terra. Por mais que as pessoas não compreendam seus métodos, James, assim como todos nós, está aqui para ser feliz. Sim, The Hurt Locker não deixa de ser tudo o que eu escrevi acima. Mas, particularmente, vejo o filme como uma ode original à procura pela felicidade e não exatamente sobre os traumas que a guerra causa no homem.



O ótimo roteiro de Mark Boal, repórter de guerra que também escreveu No Vale das Sombras (outra análise hollywoodiana sobre o Iraque), pode jogar com a experiência de quem esteve lá. Mas The Hurt Locker busca originalidade na abordagem de um dos temas mais adorados pelo cinemão: a felicidade a qualquer preço. Pode trair "a volta para casa" e "a importância da família", outras duas vertentes da indústria, mas não deixa de ser correto. E que mal há nisso? The Hurt Locker chega onde Hollywood quer, mas, pelo menos, pega uma outra estrada.

E existe algo mais clássico do que uma trilha sonora marcante? A composição melancólica de Marco Beltrami e Buck Sanders, que surge nos raros momentos de silêncio, fica para o espectador, como a guerra fica para o soldado. The Hurt Locker é como a droga. Dá aquela adrenalina no começo, mas logo vem o soco no estômago e a sensação de depressão. E, estranhamente, você não vê a hora de repetir a dose. Para Hollywood, não há nada melhor do que unir arte com ambições comerciais.

Obs: "The Hurt Locker" foi lançado diretamente em DVD no Brasil, pela Imagem Filmes, com o título "Guerra ao Terror".

The Hurt Locker (2009)
Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackin, Brian Geraghty, Christian Camargo, David Morse, Ralph Fiennes, Guy Pearce e Evangeline Lilly

9 Comments:

At 8:51 PM, agosto 26, 2009, Blogger Bruno Soares said...

Por ser um dos filme mais aclamados dos últimos anos, confesso que esperava um pouco mais. Mas sim, gostei bastante. É o primeiro filme maduro sobre a nova guerra americana e a Bigelow foi a primeira a compreendê-la como cinema e não como propaganda política.

 
At 8:51 PM, agosto 26, 2009, Blogger Bruno Soares said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 11:14 PM, agosto 26, 2009, Blogger João Vicente Nascimento Lins said...

Não vejo a hora de chegar final de semana para alugar e assistir a esse filme, principalmente após essa ótima análise!

 
At 5:59 PM, agosto 27, 2009, Anonymous Kamila said...

Excelente texto, Otavio. Me deixou com mais vontade ainda de conferir os filmes. O problema é ter tempo de ir na locadora. :-)

Beijos!

 
At 6:59 PM, agosto 27, 2009, Blogger Otavio Almeida said...

BRUNO
Exato! É cinema e não propaganda. Mesmo assim, não deixa de mostrar ao grande público - pelo menos aquele que vai ao cinema e não aluga um DVD safado de um filme lançado nas locadoras -, um pequeno retrato da essência da guerra. E não tem nada de bonito numa guerra. Abs!

JOÃO
Obrigado! E espero que goste do filme, porque eu ainda estou boladão com o que vi. Abs!

KAMILA
Obrigado! Quando tiver tempo, passe na locadora. Se o filme estivesse nos cinemas, eu te diria para ir logo. Bjs!

 
At 8:33 PM, agosto 27, 2009, Anonymous Vinícius P. said...

Eu realmente não gosto de nenhum dos filmes de guerra feitos recentemente e me surpreende toda essa recepção para "The Hurt Locker" - que parece mesmo ser o melhor nesse sentido.

 
At 1:13 AM, agosto 28, 2009, Anonymous Wally said...

Gostei de "Guerra ao Terror". Adorei trilha, técnica, direção e passagens do roteiro. Mas de início ao fim, ao filme não me fisgou. Não me senti diante desta obra maravilhosa que a imprensa americana (e agora brasileira) tanto elogia. O que quero dizer é que não deixo de notar suas qualidades, mas não fui impressionado. Alias, o seu irmão mais velho "Soldado Anônimo" toca em ferias idênticas com mais densidade.

 
At 10:37 PM, agosto 29, 2009, Blogger Mayara Bastos said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 10:38 PM, agosto 29, 2009, Blogger Mayara Bastos said...

O filme parece ser ótimo, mas como havia dito no post anterior, o problema é ainda não ter chegado nas locadoras da região. Tomara que venha logo. rsrs. ;)

 

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