terça-feira, novembro 07, 2006

O Grande Truque

Eu sempre odiei o Mr. M! Sabe? Aquele picareta do Fantástico que entregava os truques. Nunca entendi a intenção de explicar a mágica, afinal a graça está naquilo que os olhos não conseguem ver. Mas é interessante a relação do cinema com a mágica. O próprio George Meliès, que criou os primeiros efeitos especiais na sétima arte, trabalhou como mágico. A comprovação dessa magia surge no talento do cineasta em entreter o espectador.

Em O Grande Truque (The Prestige, 2006), o diretor Christopher Nolan (de Batman Begins e Amnésia) começa honrando o trabalho dos mágicos e a cartilha do bom cinema de entretenimento e suspense.

Infelizmente toda a magia existente na crescente saga de obsessão, inveja e vingança entre os mágicos Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) é diluída nos cinco minutos finais. Por imposição de produtores ou por falta de coragem, Nolan explica tudo o que estava elegantemente implícito. Não entendo porque Hollywood não confia na inteligência da platéia. É como entregar os segredos de um truque depois dos aplausos.

Eu até estava perdoando as insistências do diretor em se perder em cenas vazias que exploram os belos cenários do final do século XIX (o que é aquele funeral ou as mil lâmpadas acesas na neve?). E não é só a explicação exagerada no fim. Durante esses terríveis cinco minutos, os personagens refletem descaradamente sobre a moral do filme. Será que não podemos entender essas coisas sozinhos? Além disso, Nolan consegue colocar Scarlett Johansson totalmente deslocada em cena.

O encanto inicial se transforma em frustração no final. Mas nem tudo é ruim. Hugh Jackman é mesmo um bom ator, Michael Caine empresta sua classe ao filme, os cenários, figurinos e, principalmente, maquiagem são dignos de Oscar. E tem o divertido retorno de David Bowie às telas. Seu personagem é o mais interessante e enigmático (e o único que realmente existiu).

É uma pena. Esse poderia ter sido o filme definitivo sobre mágicos. Mas a Hollywood atual não confia no espectador. A arte não deve ser explicada, mas sim reconhecida (e sentida) nos mínimos detalhes. Seja na mágica ou no cinema. Maldito Mr. M!

1 Comments:

At 9:34 AM, novembro 08, 2006, Anonymous Anônimo said...

Arrasou. Vc escreve super bem!!!!
Fiquei até com vontade de ver o filme......hahahaha.
Bjs

 

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