segunda-feira, agosto 06, 2007

Bobby

Como Emilio Estevez, eu também acho que uma só pessoa pode fazer a diferença. Acredito que as boas atitudes de um único ser humano são capazes de mudar o mundo. É um sonho universal, que parece mais uma utopia. Mas a verdade é que um bom exemplo pode influenciar outro.

Só que Bobby (2006), o primeiro filme de verdade dirigido por Emilio Estevez não vem da escola de Frank Capra. Seu comentado trabalho é uma homenagem assumida ao senador Robert F. Kennedy, que caminhava para a presidência dos EUA, mas terminou assassinado no Ambassador Hotel, em 1968. Para Estevez, e muitos outros norte-americanos, a morte de "Bobby" representou o fim de um sonho que tinha tudo para dar certo. Entre outros planos e atitudes, Kennedy queria acabar de vez com o preconceito no país e sempre ficava perto do povo no meio de misérias e tragédias.

Como as reflexões de Estevez são direcionadas somente ao público norte-americano e, principalmente, voltadas aos defensores das ideologias de Kennedy, o interesse pelo filme cai pela metade para quem não vota na terra do Tio Sam. Só se você for realmente fã de carteirinha dos EUA. Ou se acha que Robert F. Kennedy não teria feito "apenas" seu país melhor, mas todo o mundo.
Então Bobby é parte da prepotência da maioria norte-americana em considerar os "outros países" como eternamente agradecidos e dependentes? Ou Bobby foi feito somente para exibição doméstica?

Se Estevez naufraga nessa mensagem, seu cinema não vem mesmo do professor Frank Capra. Seu mestre é outro: Robert Altman. A partir dessa identificação, Bobby até que tem qualidades. É interessante (e um alívio) observar neste cinema atual, que um diretor estreante procure contar uma história com diversos personagens e dar consistência a todos eles. Nisso, Altman foi sensacional. Estevez ainda está aprendendo, mas já mostrou que é um aluno aplicado. Filma extremamente bem e tem paixão tanto pelo roteiro, quanto (como Altman) pelos personagens. E olha que o ator Emilio Estevez, geralmente, associou seu nome à produções comerciais. Como diretor, ele fez um filme pessoal e sentimental. Aliás, em alguns momentos, ele exagera no drama. Algo que Altman jamais fez.

Mas Bobby é somente a "estréia oficial" de Emilio Estevez por trás das câmeras. Ele tem futuro como cineasta e sabe que nem todos os filmes são feitos para o grande público. Muitas vezes, eles são realizados para os próprios diretores. Mas Estevez precisa entender que nem todos compartilham do mesmo pensamento que ele - nem nos EUA e nem fora dele. Dentro de um contexto político e social, o que posso dizer sobre a morte de Kennedy? Se ainda fosse a morte de John Lennon ou, até mesmo, de Gandhi, seu cinema dramático e persuasivo teria justificativa. Mas o que mais eu posso dizer? Estevez fala do passado para criticar a "Era Bush"? Mesmo que essa seja a sua intenção, Bobby ainda é filme para norte-americano ver. E partidário de Kennedy.

Lógico que é um delírio para qualquer cinéfilo ver um timaço de atores como Anthony Hopkins, Laurence Fishburne, Helen Hunt, Martin Sheen e tantos outros na tela. Seus personagens circulam pelo Ambassador Hotel até a fatídica noite do assassinato. Todos eles estão muito bem, incluindo Sharon Stone e Demi Moore. Mas será que essa reunião comprova o carisma de Emilio Estevez em Hollywood? Ou eles apenas queriam aparecer em um filme que é pura homenagem a Robert Kennedy?

Bobby (2006)
Direção: Emilio Estevez
Elenco: William H. Macy, Anthony Hopkins, Heather Graham, Elijah Wood, Laurence Fishburne, Helen Hunt, Martin Sheen, Joshua Jackson, Christian Slater, Sharon Stone, Demi Moore e Lindsay Lohan

9 Comments:

At 9:37 AM, agosto 07, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Tô doido para ver esse filme, mas não estreou por aqui, uma pena...

 
At 10:49 AM, agosto 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

Gostei bastante desse filme, pois mesmo não sendo nenhuma obra-prima consegue passar sua mensagem. Concordo com sua opinião sobre o direcionamento do filme para os americanos, mas acho que Estevez conseguiu ampliar a história para um sentido universal, ou seja, uma mensagem de esperança em tempos de dificuldade - exatamente a situação da América na atualidade. O elenco é o que há de melhor.

Gostei muito da legenda, divertidíssima! ;-)
Abraço!

 
At 11:51 AM, agosto 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

Bem, é verdade que o Estevez transfoma o Bobby Kennedy num ícone e o idolatre como o salvador da América se tivesse ganho as eleições, mas me agradou muito o filme. O mosaico de personagens e seus desenvolvimentos são muito bem trabalhados, sem grandes exageros. Não acho que o elenco seja um timaço (há excelentes nomes como Hopkins, H. Macy e Martin Sheen), mas é interessante ver que ele conseguiu extrair ótimas atuações (Demi está maravilhosa). Estevez não é nenhum Altman ou PTA, mas está chegando perto.

No Cinematógrafo, Corrente Literária. Valeu!!!

 
At 12:11 PM, agosto 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

Otavio, eu estou esperando este filme faz tempo, e todos, críticos e amigos q já foram assistir, me disseram exatamente o q vc escreveu. Talvez para um diretor de primeira viagem o tema e a complicada tarefa de dar forma e emoção a tantos personagens foi demais. Mas adoro Altman, esse sem dúvida conseguiu fazer um retalho maravilhoso com suas dezenas de personagens.

 
At 1:48 PM, agosto 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

Concordo com muita coisa, e acabei valorizando imensamente os pontos bons do filme, esquecendo de suas falhas. O elenco, a fotografia, a paixão do diretor e o clímax excelente, além do soundtrack perfeito. Não acho que ficou datado, mas vai ser difícil para o povo brasileiro se identificar com o filme mesmo.

De 4 estrelas, eu daria 3.

 
At 4:21 PM, agosto 07, 2007, Blogger Marcus Vinícius said...

Eu também to bastante afim de assistir esse filme... o elenco é monstruoso.

E nossos times hein, cada vez piores... tomara que não, mas to vendo dias negros adiante.

Abraço!

 
At 7:35 PM, agosto 07, 2007, Blogger Kamila said...

Confesso que a única coisa que me atrai neste filme é o elenco.

 
At 12:39 PM, agosto 10, 2007, Blogger Romeika said...

hehehehe Gostei da legenda na foto. Realmente o mérito do filme está no seu elenco, e ainda que o Estevez não tenha chegado ao nível alcançado por um Altman, isso não compromete o filme.

Concordo que mais parece um filme pra americano ver, mas acho que a intenção foi passar uma mensagem universal, que me atingiu. E olhe que eu sou tudo menos fã dos EUA, e desconheço a tragetória política do Bobby Kennedy.

 
At 12:40 PM, agosto 10, 2007, Blogger Romeika said...

oops, quis dizer trajetória=)

 

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