quinta-feira, novembro 01, 2007

Na Natureza Selvagem

31ª Mostra Internacional de Cinema

Entender as razões que levaram Christopher McCandless (Emile Hirsch) a abandonar a vida confortável ao lado de sua família, além de um futuro promissor em Harvard, não é tão importante quanto aproveitar a viagem proposta por Sean Penn em Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2007), seu novo trabalho como diretor.

Certos filmes acertam o coração dos cinéfilos em cheio e confesso que ainda não consigo expressar em palavras sobre o impacto causado por Na Natureza Selvagem em mim. Talvez porque Chris McCandless seja um personagem misterioso, cuja mente funciona como um quebra-cabeça difícil de decifrar. Seria como descobrir o que há em seu coração ou em sua alma. Mal (ou bem) comparando, parte do fascínio em torno do épico Lawrence da Arábia vem da enigmática figura do herói (ou anti-herói) T.E. Lawrence (Peter O' Toole). Há um conflito absurdo dentro de sua própria mente, que podemos dizer que ocorre ali um épico intimista bem maior do que a aventura presenciada na imensidão do deserto. É tudo tão fantástico que chega a ser fascinante lembrar que Lawrence existiu de verdade. Assim como Chris McCandless.

Talvez Na Natureza Selvagem seja tão bom porque Sean Penn era o homem certo para adaptar o livro homônimo de Jon Krakauer para o cinema. O eterno outsider alcançou a maturidade necessária para contar essa história sem parecer anarquista ou radical. Pelo contrário, ele apresenta uma sensibilidade surpreendente e rara na Hollywood atual, sendo capaz de emocionar sem cair na pieguice.

Ao assistir a Na Natureza Selvagem, você nunca sabe quando é para rir ou chorar, afinal todo mundo tem um pouquinho de Alexander Supertramp, nome adotado por McCandless em sua jornada rumo ao Alasca. Talvez essa terra gelada represente o seu coração. O herói quer chegar ao fundo de sua alma e encontrar a si próprio para, enfim, entender o que significa a felicidade. Para ele, a verdadeira felicidade deve ser compartilhada, mas, primeiro, o ser humano precisa se encontrar. Até lá, McCandless recusa clichês ou prazeres fáceis e só quer saber de sua jornada. Ele não exagera na bebida, não usa drogas e ignora a sedução de uma linda menina.

A atuação visceral de Emile Hirsch contribui para aproximar o espectador dessa viagem. Não dá para assistir ao filme passivamente. Você pula pra dentro dele, graças a Emile Hirsch e ao espírito do livro totalmente transportado para uma sala escura - o que é mérito de Sean Penn, um diretor que fez um épico de jaqueta e calça jeans para o nosso tempo. Aliás, ele sabe que não precisa recorrer a belas paisagens para seduzir o espectador. Sua câmera está lá para contar a história. E para olhar nos olhos do protagonista e deixar as respostas para a platéia.

Por onde passa, McCandless ensina e aprende com a natureza e cada um dos personagens. Destaco as participações de Catherine Keener, uma hippie que vê Chris como imagem e semelhança de seu filho desaparecido, e o veterano Hal Holbrook, que rende as cenas mais comoventes do filme. Todos os elementos são partes de um todo, que não estaria completo sem as canções extraordinárias de Eddie Vedder, especialmente Long Nights, que toca na abertura, e Society, além da fotografia de Eric Gautier - deslumbrante, mas que jamais desvia a atenção. Um dos grandes filmes de 2007.

Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2007)
Direção: Sean Penn
Roteiro: Sean Penn (Adaptado do livro de Jon Krakauer)
Elenco: Emile Hirsch, William Hurt, Marcia Gay Harden, Catherine Keener, Hal Holbrook, Vince Vaughan, Jena Malone e Kristen Stewart

9 Comments:

At 7:25 PM, novembro 01, 2007, Blogger Romeika said...

Eu nunca me fascinei com "Lawrence da Arábia", mas entendo a sua comparação. A premissa desse filme é ótima (não li o livro) e gostei muito do que vi no trailer. Sua crítica me deixou com mais vontade ainda! Pena que vai demorar pra chegar aqui. Bom feriado! ^^

 
At 8:10 PM, novembro 01, 2007, Blogger Kamila said...

Finalmente, Otavio. Adorei o texto. E acho que a jornada vivida pelo Christopher McCandless poderia ser experimentada por qualquer pessoa.

Quero muito assistir "Into the Wild" e, assim como a Romeika, pena que o filme vai demorar a chegar por aqui.

 
At 4:36 AM, novembro 02, 2007, Anonymous Anônimo said...

Puxa, Otavio, fiquei tão feliz com essa sua crítica. Confiei no projeto desde que o primeiro trailer foi divulgado, mas realmente não esperava que chegasse ao posto de melhor filme do ano. Agora fiquei ainda mais ansioso para ver!

Grande texto, parabéns.

 
At 2:12 PM, novembro 02, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Quero muito ver esse filme, o Sean Penn já mostrou ser craque atras das cameras tb! O último filme dele eu adoro, se for tão bom quanto já té perfeito!

 
At 3:52 PM, novembro 02, 2007, Blogger Rafael Carvalho said...

Ual, tem muita gente falando muito bem desse filme do Sean Penn, quero ver logo que estrear, só acho que vai demorar um pouco. Prefiro nem ler nada sobre ele pra não estragar as surpresas. E me parece que Across the Universe não está sendo muito bem recebido pela crítica não. Esperar pra confeir. Esse tá mais perto. Valeu!

 
At 4:32 AM, novembro 04, 2007, Blogger Victor said...

Que bom que tão gostando do filme, é um que aguardo com bastante ansiedade, inclusive pelo livro. Certeza que Sean Penn fez um ótimo trabalho, só tenho certas ressalvas quanto ao ator,o Emile Hirsch, mas..enfim.. Fico aguardando a estréia!


Abs!

 
At 5:29 PM, novembro 04, 2007, Blogger Wiliam Domingos said...

É muita coincidência!
Quarta, eu no meu curso de inglês...lendo o texto com o nome de Into The Wild, e agora lendo seu texto...é a mesma história! Preciso ver esse filme....gostei da descrição dos fatos no livro...todos gostaram na aula!
Abraço!

 
At 10:28 PM, novembro 04, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Pessoal, o filme é incrível! Espero que vcs gostem! E fiquei surpreso com a atuação do Emile Hirsch. O rapaz é muito bom!

Abs! Boa semana!

 
At 10:50 PM, novembro 05, 2007, Blogger Wanderley Teixeira said...

Into the wild está crescendo nas apostas para o ano q vem.Parece ser mesmo mérito do Sean Penn q pode muito bem conseguir sua indicação como diretor.Emile Hirsch está tão bem assim, de vez em quando aparecem essas surpresas...Seu post me animou...

 

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