terça-feira, junho 17, 2008

O Incrível Hulk

Hulk veio ao Brasil, mas não conheceu o trânsito de São Paulo


Esqueça o filme de Ang Lee sobre o gigante esmeralda realizado em 2003. O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008) marca um novo gênero involuntário em Hollywood. É o gênero dos heróis da Marvel, a poderosa produtora de quadrinhos responsável por Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, X-Men, Thor e Capitão América, que assumiu de vez o controle criativo de seus filmes desde Homem de Ferro como um verdadeiro estúdio. Quem manda em O Incrível Hulk não é o diretor Louis Leterrier, de Carga Explosiva e Cão de Briga, nem mesmo o ator, roteirista, produtor e fã Edward Norton. Quem manda é Kevin Feige, atual presidente da Marvel, que começa a executar um ousado plano que pode afetar a narrativa do cinema como você conhece nos próximos anos. Para o bem ou para o mal.

À primeira vista, O Incrível Hulk aparenta ter uma ou outra passagem acelerada no decorrer da trama. A impressão é que o roteiro está cheio de falhas grotescas ou personagens subdesenvolvidos, mas não é exatamente isso. A verdade é que o fã de Hulk (e outros heróis da Marvel) pegará toda e qualquer referência às histórias em quadrinhos. Quem não tem pós-graduação no assunto, no entanto, pode achar que algumas cenas terminam sem solução ou mesmo que alguns personagens são simplesmente abandonados. Mas não é isso. Para entender a jogada da Marvel, você precisa entrar no cinema disposto, com a mente aberta e livre de qualquer preconceito.

A idéia é acostumar o público atual de cinema com os crossovers. Trata-se da técnica de misturar personagens de diferentes franquias numa mesma trama. O recurso é bastante comum nos quadrinhos - e em muitas animações estreladas por super-heróis na TV. Mas a pergunta é a seguinte: vai funcionar no cinema? Eis a questão. Imagine se o final de E.T. - O Extraterrestre trouxesse de volta do espaço o personagem de Richard Dreyfuss, em Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Você acharia estranho? Sem nexo? Pois são dois filmes dirigidos por Steven Spielberg em um curto intervalo de tempo. Enfim, depende da visão de cada um. Mas não deixa de ser polêmico. E ainda é cedo para dizer, mas O Incrível Hulk prepara Hollywood para este novo terreno narrativo.

Se a proposta pegar, os filmes de super-heróis compreenderão um só universo. No caso, os protagonistas da Marvel. Então, imagine que para entender um filme do Capitão América, que está previsto para 2011, você precisará assistir a O Incrível Hulk e Homem de Ferro. Do ponto de vista comercial, é uma estratégia e tanto. Hollywood está adorando, afinal é garantia de muita grana nos bolsos dos estúdios. Sem revelar a grande surpresa de O Incrível Hulk, que coloca o plano comentado acima em prática, basta dizer que a idéia da Marvel é preparar o público, principalmente, para um futuro longa dos Vingadores - os fãs dos quadrinhos sabem o que significa. É a reunião entre heróis como Homem de Ferro, Hulk, Capitão América e Thor.

Expliquei? Então, vamos em frente. O Incrível Hulk, de Louis Leterrier, considera que todos já sabem que Bruce Banner (Ed Norton) se transforma no gigante esmeralda quando fica nervosinho (ou até excitado). Há um resumo na abertura para situar o espectador. A ação pula para a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, com Banner tentando encontrar uma cura, enquanto se esconde de militares norte-americanos, que desejam utilizar seu corpo em experiências para a criação de um exército invencível de... Hulks. Como as feras seriam domesticadas para a guerra, aí não me pergunte, por favor, ok?

O Incrível Hulk ainda tem tempo para homenagear a série de TV com Bill Bixby e Lou Ferrigno com inserções da trilha clássica. Aliás, Ferrigno tem uma ponta legal como um segurança e ainda faz a voz do verdão quando ele grita o famoso HULK ESMAGA! No papel de Bruce Banner, Ed Norton empresta dignidade ao cientista. Cada vez mais bonita, Liv Tyler faz Betty Ross, a namorada do herói. O amor que um sente pelo outro é convincente e envolve a platéia, que se importa com o que pode acontecer aos dois. E quando Hulk sai no quebra-pau com o vilão Abominável (Tim Roth) no fim do filme, todos torcem pelo gigante esmeralda. São méritos de Leterrier e Norton, que contribuiu para o roteiro de Zak Penn, mas retirou seu nome dos créditos.

Porém, deixe-me dizer uma coisa, quem não é fã pode reclamar da luta final. Ela é interminável. Mas é ação competente e visceral, pois Leterrier sabe das coisas. E o filme não é perfeito. Inclusive, transmite a sensação de que a trama vai do nada a lugar nenhum. Banner começa e termina fugindo. Mas se avaliarmos o filme pela proposta que a Marvel desenvolve para o cinema, não é problema saber que O Incrível Hulk não se sustenta sozinho. Ou seja, ele precisa de uma seqüência ou do esperado longa dos Vingadores. O filme é apenas parte de um plano.

É compreensível que muitos saiam do cinema reclamando, mas eu te digo uma coisa: vibrei muito com as cenas de ação e me preocupei com Bruce Banner e Betty Ross. Esse elo com os personagens é importantíssimo. A platéia não pode ver um filme passivamente. Se O Incrível Hulk tem (ou não) problemas, pelo menos, ele tem alma, coração. É o que anda faltando ao cinema ultimamente.

O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008)

Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Zak Penn (Baseado nas histórias em quadrinhos de Stan Lee e Jack Kirby)
Elenco: Edward Norton, Liv Tyler, William Hurt, Tim Roth, Tim Blake Nelson, Débora Nascimento e Ty Burrell

12 Comments:

At 5:28 PM, junho 17, 2008, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

O filme parece ser bom, mas eu nunca fui muito fã do Hulk, por isso vou assistir sem compromisso.

Abraço!

 
At 5:50 PM, junho 17, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otavio, seu texto está maravilhoso! Parabéns! Você resume "O Incrível Hulk" quando diz que a obra tem alma e coração. Essa é a mais pura verdade. A gente se importa e torce por Bruce e Betty!

Sobre a Marvel: com os dois filmes que fez, até agora, como produtora de cinema, eles têm acertado muito. Mas, é verdade que existe todo esse planejamento para "Os Vingadores". Se, em "Homem de Ferro", isso ficava escondido; em "O Incrível Hulk", eles escancararam tudo. Agora, não sei se aconteceu com você também, mas comigo foi estranho ver o Tony Stark ainda preocupado demais com sua indústria de armas em "Hulk", quando em "Homem de Ferro", ele fugiu disso...

Beijos!

 
At 7:00 PM, junho 17, 2008, Anonymous Anônimo said...

Gostei do Rúk, cara! Só as cenas de favela valem o filme! E achei que ele achou um tom interessante entre a linguagem de quadrinhos e a de cinema. O Norton é um dos meus preferidos.

 
At 7:27 PM, junho 17, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Pedro, eu esperava por uma porcaria, mas acabei gostando. Sabe como é... Quando eu era pequeno, eu também não queria provar doce de leite, mas meu pai me obrigou.

Kamila, muito obrigado! Captei o espírito do Hulk? Bom, sobre o Tony Stark... Ele está falando da reunião dos Vingadores. Precisamos ver o que vai sair disso.

Anônimo, Edward Norton é um grande ator. E o Hulk também.

Abs!

 
At 7:35 PM, junho 17, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otavio, você foi perfeito! Acho que eu vou ter que começar a ler as histórias em quadrinhos para poder entender toda essa história de "Vingadores".

Beijos!

 
At 7:48 PM, junho 17, 2008, Anonymous Anônimo said...

É verdade, Otávio, pelo menos nesse filme não fiquei indiferente. A proposta é essa mesmo, a interação entre os personagens Marvel (e quem sabe até de outras franquias)vai render muita grana. É a famosa "compra casada"! rsrsrs

 
At 9:46 PM, junho 17, 2008, Blogger Robson Saldanha said...

Quero ver esse filme e se tudo der certo verei amanhã. Mesmo com boas expressões a respeito, não quero ir com sede ao pote!

 
At 3:15 AM, junho 18, 2008, Blogger Isabela said...

Depois das ultimas criticas que tenho lido, admito que fiquei ate curiosa para conferir o novo HULK.

 
At 9:42 AM, junho 18, 2008, Anonymous Anônimo said...

Oi Otávio!

Vc acha mesmo que alguém pode reclamar da extensa luta final? Eu acho pouco provável, que reclamem da luta ou do filme. Aquilo sim é embate entre dois seres fortíssimos e monstruosos. Não a porcaria que vemos no final de 'Homem de Ferro'. Que lutinha mais fajuta. Aliás, acho o filme também bem fraquinho, e não consigo entender porque tantas pessoas gostaram dele. Se apóia excessivamente no humor e apresenta um Tony Stark muito cascateiro.

Não concordo quando vc diz para esquecermos o 'Hulk' de Ang Lee. São filmes completamente diferentes (cada um teve sua visão do personagem - Lee apresentou Banner como um homem traumatizado por fatos de sua infância; e Norton apresentou um homem errante, triste, solitário em sua busca por uma "cura"), mas bons dentro de seus contextos.

Acho que os problemas de 'Hulk' se situam no precário desenvolvimento dos personagens (com exceção de Banner) e em atuações caricatas (Hurt, Roth e Nelson). Mas nada que atrapalhe a diversão de quem adentrar na sala escura de um cinema para momentos de entretenimento.

 
At 11:19 AM, junho 18, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Obrigado, Kamila!

Denis, o filme cumpre a missão de divertir.

Robson, vá sem expectativas. Assim, você terá mais chances de gostar.

Isabela, espero que você se divirta.

Alexsandro, eu sei de algumas pessoas que ficaram irritadas com a luta final. Mas eu adorei aquela destruição toda.

Abs!

 
At 1:19 PM, junho 18, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otavio, que bom que gostou. Eu gostei do filme de Lee e estou até com ele aqui para rever, mas verei esse de Norton confiante de que será ao menos entretenimento. E parece que, como Homem de Ferro, é até um pouco mais.

E sobre Corpo Fechado, tinha até esquecido de seus elogios ao filme! Ele é muito bom!

Ciao!

 
At 7:52 PM, junho 18, 2008, Blogger Museu do Cinema said...

HULK..........AAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

 

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