quinta-feira, julho 03, 2008

Kung Fu Panda

"Eu fui desenhado assim, mas represento
o perfil do espectador moderno de cinema"


Há alguns anos, eu conversei com um amigo sobre as animações da Dreamworks e ele disparou uma teoria que considero brilhante: o estúdio só faz desenho sobre malandros. Foi assim em Shrek, Madagascar, O Espanta Tubarões e, agora, em Kung Fu Panda (Kung Fu Panda, 2008).

Talvez Bee Movie fique de fora, mas aquele foi um projeto de Jerry Seinfeld. Geralmente, o foco de uma animação da Dreamworks está sempre no protagonista desleixado e preguiçoso. Até o final, ele prova ter coragem e coração. É sempre assim. A trama de cada produção também existe em função de grandes sucessos do cinema com citações ora inteligentes, ora gratuitas. Porém, Shrek foi o único que realmente apresentou um universo capaz de render uma franquia. Goste ou não, Shrek é um ícone da cultura pop. As outras animações da Dreamworks são divertidas, mas terminam facilmente esquecidas pelo público apenas algumas horas após o fim da sessão. Com Kung Fu Panda é a mesma coisa.

A bola da vez está nos filmes de artes marciais. A trama mantém a atenção da garotada (e dos adultos) por cerca de uma hora e meia com personagens divertidos, lutas caprichadas e demoradas. Para quem pensa que um filme começa na divulgação de seu trailer, um aviso: Kung Fu Panda não é imbecil como Madagascar (digo "imbecil" no bom sentido do humor). A comédia está lá, mas a ação predomina. É pancadaria total. Kung Fu Panda é mais para meninos do que meninas.

Por isso, não entendo o motivo que leva o estúdio a desenhar seus personagens como bichinhos. Por que colocar um panda fofinho como protagonista? É claro que a resposta reside no ponto de vista comercial, mas imagine só como seriam os heróis de Os Incríveis, da Pixar, nas mãos da Dreamworks... Pois é. O Sr. Incrível me sairia como um hipópotamo falante, por exemplo. Quero dizer que não há razão para colocar bichinhos neste filme. Cada guerreiro descrito no roteiro de Kung Fu Panda poderia ganhar traços de seres humanos. Talvez eu esteja pedindo demais, afinal é um produto para crianças. Mas comparando com as animações da Pixar, há razões de sobra para vermos um rato numa cozinha de Paris ou um robô numa missão nas estrelas em, respectivamente, Ratatouille e WALL-E.


Bom, mas ninguém sairá do cinema dizendo que Kung Fu Panda é ruim. Pelo contrário - é muito bem feito, divertido, rápido e faz qualquer um sair cantarolando Kung Fu Fighting. Mas é como fast food ou outro produto direcionado para quem está com pressa e não quer pensar muito. Esse é o nosso mundo atual e não adianta reclamar, pois enquanto houver consumidor, assim será.

Kung Fu Panda é só um exemplo de como Hollywood vê o público moderno, que sai do conforto de suas casas rumo aos cinemas: consumidores que não querem muito esforço. Nem mesmo na hora de colocar o cérebro para trabalhar. Para os engravatados dos estúdios, somos todos Kung Fu Pandas preguiçosos e desleixados, mas cheios de potencial. É blockbuster o ano inteiro, mas na época das premiações, eles querem que a gente pense um pouquinho. Me engana que eu gosto.

Kung Fu Panda (Kung Fu Panda, 2008)
Direção: Mark Osborne e John Stevenson
Roteiro: Jonathan Aibel e Glenn Berger
Com as vozes de Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Ian McShane, Jackie Chan, Seth Rogen e Lucy Liu

20 Comments:

At 7:28 PM, julho 03, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otavio, confesso que fiquei um pouco surpresa com sua crítica, já que tudo o que li sobre "Kung Fu Panda" fala que a obra surpreende positivamente, que é um dos filmes mais divertidos lançados até agora.

Beijos!

 
At 9:08 PM, julho 03, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Mas é bem divertido, Kamila. Só que eu vi o filme há duas semanas. E ele já desapareceu.

Bjs!

 
At 9:40 PM, julho 03, 2008, Anonymous Anônimo said...

Assim como a Kamila fiquei bem surpreso com a opinião, afinal a crítica está adorando esse "Kung Fu Panda". Como sou todo bobo com animações (dei quatro estrelas para "Horton" e "Persépolis", e olha que nem vi "Wall-E" ainda), provavelmente irei gostar dessa também, mas bom ver um ponto de vista um tanto diferente daquilo que tenho lido. Abraço!

 
At 10:40 PM, julho 03, 2008, Anonymous Anônimo said...

E O Flu, hein Otávio? Juro que fiquei com dó dos caras, pois lembrei do Velez em 94. O juiz roubou o jogo, é o mesmo que roubou o Flamengo na Libertadores comtra o Defensor. Esse argentino é safado! Acho que essa conquista ia dar uma moral pro futebol carioca, tão menos prezado pelos paulistas! Abs.

 
At 10:40 PM, julho 03, 2008, Anonymous Anônimo said...

E O Flu, hein Otávio? Juro que fiquei com dó dos caras, pois lembrei do Velez em 94. O juiz roubou o jogo, é o mesmo que roubou o Flamengo na Libertadores comtra o Defensor. Esse argentino é safado! Acho que essa conquista ia dar uma moral pro futebol carioca, tão menos prezado pelos paulistas! Abs.

 
At 10:42 PM, julho 03, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, o problema dessa crítica de Kung Fu Panda é ser escrita depois de você ter assistido Wall-E. Aí é covardia, né?

 
At 10:52 PM, julho 03, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Vinicius, eu achei legal, mas vi há duas semanas e o filme sumiu da minha cabeça. Quando saí do cinema, a crítica seria 3 estrelas. Duas semanas depois, achei justo tirar uma.

Denis, não entendi. Menosprezado por quem? Não vi time paulista na final... Um time veio de Quito. O outro do Rio. Menosprezado por quem? No ano passado, um veio de Buenos Aires. O outro, veio de Porto Alegre. Sinceramente não entendi. O mundo é bem maior que Rio e São Paulo, amigo! Quanto aos filmes, vi KUNG FU PANDA antes de WALL-E.

Abs!

 
At 11:32 PM, julho 03, 2008, Anonymous Anônimo said...

Bem, esqueci que vc é carioca e não vive no meio do futebol aqui em SP. Todos os jogos que eu vou, seja a imprensa paulista ou a torcida em geral, muitas vezes colocam o futebol do Rio como menor, é algo que chega a ser irritante. Até foi feito uma pesquisa entre veículos de comunicação e todos davam a LDU como campeã da Libertadores e de lambuja! E não foi isso que aconteceu, né? O Flu foi vice com dignidade! Há qualidades não só em SP, como há no Rio, no Sul, em Minas e no Nordeste. É menosprezado sim e por muita gente, o que acho errado. Entendeu agora?

 
At 11:34 PM, julho 03, 2008, Anonymous Anônimo said...

Quanto aos filmes eu não disse que vc viu Kung Fu Panda depois e sim que escreveu a crítica dele depois de ter assistido Wall-E. Abs.

 
At 9:36 AM, julho 04, 2008, Blogger pseudo-autor said...

Eu fico me perguntando se essa tática da dreamworks de utilizar personagens malandros (como disse seu amigo) não é proposital, visando trilhar um caminho diferente da Disney que, ao longo de sua carreira, sempre nos apresentou heróis éticos e românticos até a medula. Talvez seja intencional da produtora. Não sei. Ainda não vi Kung Fu Panda, mas me parece um entretenimento interesante (não genial, mas interessante!).

Mídia agora?
http://robertoqueiroz.wordpress.com

 
At 10:50 AM, julho 04, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Entendi, Denis! Mas pra não dizer que não falei das flores, tive uma bela noite de sono de quarta para quinta.

Roberto, a tática é proposital. Pelo menos, eu acho. Mas não é esse o defeito. O problema é que KUNG FU PANDA é fast food. Enche a pança e satisfaz, mas não é aquele jantar num restaurante chique.

Abs!

 
At 11:26 AM, julho 04, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, a cultura brasileira no futebol despreza os vices-campeões, ser vice no Brasil é motivo de gozação, o que é muito diferente em outros países. Parte dessa soberba paulista se deve mas não se justifica pelo fato de o futebol carioca não ganhar um título internacional há tempos. Além disso, os últimos 6 campeões brasileiros, com exceção do Cruzeiro em 2003, são paulistas. Futebol é momento, como se diz, mas não é nada saudável para o futebol brasileiro só times paulistas serem campeões, além de se tornar chato. E olha que eu falo isso e torço para um time de SP! Mas graças a deus tenho o bom senso de ver as coisas além da nossa pequena realidade. Abs.

 
At 11:54 AM, julho 04, 2008, Anonymous Anônimo said...

Veja só como os melhores filmes demoram ou às vezes nem chegam no Brasil: hoje estréia Hancock e Kung Fu Panda. Hancocok foi detonado pela mídia americana e o último pelo nosso amigo Otávio. Agora filmes como Kabluey (Lisa Kudrow e Scott Prendergast), o documentário Bonzo, The Wackness (Ben Kingsley, Famke Janssen e Josh Peck) e Diminished Capacity (Matthew Broderick and Virginia Madsen)nada de estrearem por aqui. Vou mudar de país!!!rsrs O jeito é rever Wall-E mesmo, o que já é uma maravilha.

 
At 11:58 AM, julho 04, 2008, Anonymous Anônimo said...

Esqueci de mencionar Kit Kittredge: An American Girl (Abigail Breslin e Julia Ormond).

 
At 12:04 PM, julho 04, 2008, Anonymous Anônimo said...

No Rio mudaram o significado da sigla LDU para Liga Deportiva Urubuzada! kkkkkkkkkkk

 
At 2:13 AM, julho 05, 2008, Anonymous Anônimo said...

Uma pena. Acho que o único trabalho realmente marcante da Dreamworks tenha sido mesmo o genial e maravilhoso Shrek e sua saudosa continuação, sendo que já fez um terceiro capitulo mais comum, ao lado de outras animações apenas boas como Madagascar. Mas espero ao menos isso de Kung Fu Panda: divertimento. Não espero, por exemplo, um "Wall-E" da vida. Ótima crítica!

Ciao!

 
At 12:11 PM, julho 05, 2008, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Ah, disseram que a voz da Jolie quase nem aparece, é verdade?

Abraço!

 
At 4:53 PM, julho 15, 2008, Blogger fabiana said...

Qualquer coisa que tenha o Jack Black no elenco me leva para o cinema, sério. Até quando insistem em nos empurrar guéla abaixo um par romântico com Kate Winslet.

Vou ver com certeza!

 
At 12:03 AM, agosto 12, 2008, Blogger Chromatic Faun said...

Dani, a questão é que os 5 Guerreiros serem animais é uma homenagem fortíssima ao sub-gênero dos filme de kung fu - o filme é cheio dessas reverências - e, realmente, o Panda veio para justificar essa coisa de preguiçoso que se dá bem no final.

Mas há muita semelhança na premissa desse filme com a de Ratatouille e Wall-E, por exemplo (eles têm um sonho e, de forma inusitada, o têm satisfeito), logo, esse aspecto de "a Pixar faz diferente" só faz sentido com um elemento, não todos.

E a semelhança com Shrek pra aí: Shrek ironiza totalmente os contos de fada, enquanto Kung Fu Panda homenageia de forma forte os filme de kung fu - tanto que É um. Minhas 4 estrelas residem nessa bem-feitíssima homenagem/inspiração.

 
At 12:05 AM, agosto 12, 2008, Blogger Chromatic Faun said...

Comentário acima é do Pedro da CeC. Só pra fomentar aquela discordância de que eu tava com tanta saudade. :P

 

Postar um comentário

<< Home