O legado de O Silêncio dos Inocentes
Em 1991, o diretor norte-americano Jonathan Demme ganhou reconhecimento mundial ao entregar sua versão cinematográfica do livro de Thomas Harris, O Silêncio dos Inocentes. O cineasta criou um novo estilo de suspense ou atualizou o gênero? Não importa. O filme foi tão importante para a década de 90, que o cinema assumiu uma divisão entre “antes e depois” de O Silêncio dos Inocentes - estava inaugurada a era dos serial killers em Hollywood.
De lá para cá, os estúdios exploraram a fórmula à exaustão. Alguns diretores acertaram (David Fincher, em Seven) e outros erraram feio (Jon Amiel, em Copycat – A Vida Imita a Morte), mas ninguém foi tão original e elegante quanto Demme, em O Silêncio dos Inocentes. Nenhum filme do gênero marcou época ou imortalizou personagens como a agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster) e o canibal mais famoso do cinema, Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins).
Acontece que O Silêncio dos Inocentes traz vários enigmas a serem desvendados. O filme não é apenas um suspense sobre serial killers, mas há uma história de amor impossível, incômoda e incomum por trás da troca de olhares entre Clarice e Lecter. Há mais do que uma simples admiração entre os dois (essa é a principal diferença do filme de Demme para os que vieram mais tarde). O sucesso levou a produção a ganhar os cinco Oscar principais – Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Ator (Anthony Hopkins) e Atriz (Jodie Foster) – e figurar entre as dez melhores produções da década passada, de acordo com os críticos norte-americanos.
O irônico disso tudo é que o diretor Michael Mann foi o primeiro a adaptar um livro de Thomas Harris sobre Hannibal Lecter. Em 1986, Manhunter trazia o canibal na pele do ator Brian Cox, de X-Men 2 e Adaptação. Mas quase ninguém assistiu ao filme do futuro cineasta de Fogo Contra Fogo, O Informante, Colateral e Miami Vice.
Mesmo com tantos filmes do gênero invadindo os cinemas, Hollywood decidiu deixar Clarice em segundo plano e apostou todas as fichas em Hannibal Lecter. Dez anos depois da consagração de O Silêncio dos Inocentes, o produtor Dino De Laurentiis, de Duna e Flash Gordon, adquiriu os direitos para as novas adaptações dos livros de Thomas Harris, e contratou Ridley Scott para comandar o polêmico Hannibal. A obra de Harris apresentava um canibal mais selvagem e uma Clarice ambígua quanto a sua natureza – como eu, muita gente torceu o nariz para o resultado. Até Jodie Foster pulou fora ao não concordar com os rumos tomados pelo autor. Ainda assim, o filme aconteceu, Julianne Moore assumiu o papel de Clarice e o público ficou dividido. A violência implícita de O Silêncio dos Inocentes tornou-se explícita em Hannibal, enquanto o terror psicológico ganhou representações escatológicas. O charme se perdeu. O equilíbrio perfeito entre a bela e a fera não existia mais.
Preocupada com a má recepção a Hannibal, Hollywood decidiu refilmar a história levada por Michael Mann às telas: Brett Ratner, de X-Men – O Confronto Final foi contratado para dirigir Dragão Vermelho, que abordou um período anterior aos acontecimentos narrados em O Silêncio dos Inocentes. O filme não impressionou ninguém, mas chamou atenção pelo elenco: Edward Norton, Ralph Fiennes, Harvey Keitel, Philip Seymour Hoffman, Emily Watson, Mary-Louise Parker e, claro, Anthony Hopkins. Ao menos, Brett Ratner fez um filme divertido, mas que não chega aos pés de O Silêncio dos Inocentes. Particularmente, acho superior ao filme de Ridley Scott. Mas isso não é dizer muita coisa.
Quando o Dr. Lecter se preparava para descansar do cinema, Hollywood anunciou a adaptação de Hannibal - A Origem do Mal. A direção ficou com Peter Webber, de Moça Com Brinco de Pérola, e o ator francês Gaspard Ulliel, de Eterno Amor assumiu o papel do jovem Hannibal Lecter. Com roteiro do próprio Thomas Harris, essa é a história sobre como tudo começou. Mas será que o novo filme (com estréia prometida para abril) está mais para o canibal intelectual e assustador de O Silêncio dos Inocentes ou para o monstro sanguinário de Hannibal? Gaspard Ulliel foi a escolha correta para reviver um ícone criado por Anthony Hopkins? Em breve, os fãs poderão julgar.
De lá para cá, os estúdios exploraram a fórmula à exaustão. Alguns diretores acertaram (David Fincher, em Seven) e outros erraram feio (Jon Amiel, em Copycat – A Vida Imita a Morte), mas ninguém foi tão original e elegante quanto Demme, em O Silêncio dos Inocentes. Nenhum filme do gênero marcou época ou imortalizou personagens como a agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster) e o canibal mais famoso do cinema, Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins).
Acontece que O Silêncio dos Inocentes traz vários enigmas a serem desvendados. O filme não é apenas um suspense sobre serial killers, mas há uma história de amor impossível, incômoda e incomum por trás da troca de olhares entre Clarice e Lecter. Há mais do que uma simples admiração entre os dois (essa é a principal diferença do filme de Demme para os que vieram mais tarde). O sucesso levou a produção a ganhar os cinco Oscar principais – Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Ator (Anthony Hopkins) e Atriz (Jodie Foster) – e figurar entre as dez melhores produções da década passada, de acordo com os críticos norte-americanos.
O irônico disso tudo é que o diretor Michael Mann foi o primeiro a adaptar um livro de Thomas Harris sobre Hannibal Lecter. Em 1986, Manhunter trazia o canibal na pele do ator Brian Cox, de X-Men 2 e Adaptação. Mas quase ninguém assistiu ao filme do futuro cineasta de Fogo Contra Fogo, O Informante, Colateral e Miami Vice.
Mesmo com tantos filmes do gênero invadindo os cinemas, Hollywood decidiu deixar Clarice em segundo plano e apostou todas as fichas em Hannibal Lecter. Dez anos depois da consagração de O Silêncio dos Inocentes, o produtor Dino De Laurentiis, de Duna e Flash Gordon, adquiriu os direitos para as novas adaptações dos livros de Thomas Harris, e contratou Ridley Scott para comandar o polêmico Hannibal. A obra de Harris apresentava um canibal mais selvagem e uma Clarice ambígua quanto a sua natureza – como eu, muita gente torceu o nariz para o resultado. Até Jodie Foster pulou fora ao não concordar com os rumos tomados pelo autor. Ainda assim, o filme aconteceu, Julianne Moore assumiu o papel de Clarice e o público ficou dividido. A violência implícita de O Silêncio dos Inocentes tornou-se explícita em Hannibal, enquanto o terror psicológico ganhou representações escatológicas. O charme se perdeu. O equilíbrio perfeito entre a bela e a fera não existia mais.
Preocupada com a má recepção a Hannibal, Hollywood decidiu refilmar a história levada por Michael Mann às telas: Brett Ratner, de X-Men – O Confronto Final foi contratado para dirigir Dragão Vermelho, que abordou um período anterior aos acontecimentos narrados em O Silêncio dos Inocentes. O filme não impressionou ninguém, mas chamou atenção pelo elenco: Edward Norton, Ralph Fiennes, Harvey Keitel, Philip Seymour Hoffman, Emily Watson, Mary-Louise Parker e, claro, Anthony Hopkins. Ao menos, Brett Ratner fez um filme divertido, mas que não chega aos pés de O Silêncio dos Inocentes. Particularmente, acho superior ao filme de Ridley Scott. Mas isso não é dizer muita coisa.
Quando o Dr. Lecter se preparava para descansar do cinema, Hollywood anunciou a adaptação de Hannibal - A Origem do Mal. A direção ficou com Peter Webber, de Moça Com Brinco de Pérola, e o ator francês Gaspard Ulliel, de Eterno Amor assumiu o papel do jovem Hannibal Lecter. Com roteiro do próprio Thomas Harris, essa é a história sobre como tudo começou. Mas será que o novo filme (com estréia prometida para abril) está mais para o canibal intelectual e assustador de O Silêncio dos Inocentes ou para o monstro sanguinário de Hannibal? Gaspard Ulliel foi a escolha correta para reviver um ícone criado por Anthony Hopkins? Em breve, os fãs poderão julgar.
11 Comments:
Amo "O Silêncio dos Inocentes" e acho que Hollywood não consegue repetir com sucesso a estrtura desse filme, como também o Jonathan Demme não conseguiu fazer algo que preste depois desse filme (talvez, com a exceção de "Filadélfia").
Acho que Hollywood prefere apostar no personagem Hannibal Lecter, pois ele se tornou, de certa maneira, maior do que os filmes que protagonizou. O problema é que Anthony Hopkins É Hannibal Lecter. Não me agrada a idéia de ver um outro ator nesse papel.
Ah, bem que você disse que ia postar algo sobre "O Silêncio dos Inocentes". Como muitos já sabem, eu amo esse filme, realmente um marco do cinema (talvez o melhor de "terror" que já tenha visto). Acho que há um bom tempo não temos um bom filme serial killers, um dos últimos foi mesmo "Seven" (espero que "Zodíaco" seja tão bom quanto), mas como você disse, nada supera esse filme do Demme - que por sinal não teve um grande filme desde então.
Dos outros o que mais gosto é de "Hannibal". Já para "A Origem do Mal" não espero absolutamente nada (mas, quem sabe, possa ficar surpreendido...). Belo post!
Abraço.
O Silêncio é genial, mas gostei da sua "lembrança" de SE7EN, esse filme é genial tb, comparo os dois facilmente, lembro de que ainda na primeira metade do filme, Kevin Spacey aparece como o serial killer, e ficamos com a pergunta, mas não era para descobrirmos? Não, o filme ainda nem começou...suspense psicológico e onde os dialogos são mais fortes que o sangue.
Obrigado, Vinicius!
Cassiano, o Kevin Spacey aparece na metade do filme, mas o rosto dele não... coberto de sombra e por um chapéu...
Foi um grande ano para o ator - ele tb atuou em OS SUSPEITOS em 1995, que lhe rendeu o primeiro Oscar.
Abs!
É muito estranho tentar disassociar Hannibal do Hopkins. "Silêncio" é um filme de outro planeta, o Demme acertou em praticamente tudo nele. Logo após, quase sempre, vem as continuações, descontinuações e diabo a quatro.
Kamila, você descreveu muito bem, o personagem ficou maior que o filme. Seria como um Michael Corleone interpretado por alguém que não fosse o Al.
Mas Hannibal Lecter é Hannibal Lecter, só isso já vale conferida.
PS: GOW2 chega quarta!!! Se não rolar festerê, o PS2 vai trabalhar bastante, hehehe. Abraços e até mais
Cara, troquei o GOW2, que deu pau... agora sim... estou numa parte chamada THE PALACE OF THE FATES.
Abs!
... E Fincher parece que vai repetir o feito com Zodíaco.
Cara, desculpa a demora! É que jornalismo definitivamente não rima com feriado, hehehehehehe
Ah, sem dúvida O Silêncio dos Inocentes é filmaço. Muitas pessoas me perguntam porque eu nunca inclui o filme de Demme em listas dos melhores dos anos 90. A resposta é simples: O Silêncio dos Inocentes está presente em outra lista, a dos MELHORES DE TODOS OS TEMPOS.
Ah, os outros filmes. Os outros filmes é o seguinte: gosto muito dos capítulos de Mann e Scott - aliás, acho que Hannibal será um filme redescoberto daqui uns tempos... O de Ratner eu nem vou ter o trabalho de falar mal, e o do carinha do moça-com-brinco é assistir pra dar o veredicto.
Belo texto, cara!
abração!
Ei, Tulio! Valeu! Vc tem essa lista dos MELHORES DOS ANOS 90?? Vc me passa depois? Tb tenho uma.
Abs,
Não Otávio, falo da cena em que ele aparece se entregando a policia, careca e ensaguentado!
Ah, sim... claro! Essa é a primeira vez em que o rosto dele aparece.
É verdade que a conclusão brutal do filme deixa a surpresa de "quem é o serial killer" em segundo plano.
Abs!
Silêncio é genial, e depois do lançamento desse eu só lembro de dois outros filmes realmente geniais sobre serial killer, Se7en e Zodiaco, mas é bom notar que esses três filmes são completamente distintos
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