C'era una volta in Rio
O último sábado foi inesquecível para quem estava no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. De forma magistral, o maestro italiano Ennio Morricone abriu o evento Música em Cena (que ainda terá Gustavo Santaolalla, entre outros monstros). E paguei pra ver.
Meia hora antes do início do concerto, os portões se abriram e pisei no belíssimo Theatro Municipal pela primeira vez, que já exibia, em sua entrada, um clipe com cenas de Três Homens em Conflito e Cinema Paradiso, grandes composições de Morricone. Com o teatro lotado de gente de todos os tipos, o início atrasou um pouco por causa do longo (e inoportuno) discurso de José Wilker, em nome do ministro Gilberto Gil. O público ensaiou uma vaia e o ator (muito arrogante) levantou a voz, principalmente, nos momentos em que Gil queria destacar a importância da música brasileira no cinema (!). O caos quase tomou conta do local quando ele considerou Ennio Morricone como um “tropicalista italiano”. Francamente... Além disso, muita gente (inclusive eu) ficou preocupada, porque o roteiro não trazia Cinema Paradiso.
Bom, quando a extraordinária Orquestra Petrobrás Sinfônica entrou no palco, a ansiedade e a imagem dos filmes de Morricone tomaram conta da mente (e do coração). Silêncio. E lá estava ele. Velhinho de 79 anos aplaudido de pé. Foi impossível conter as lágrimas.
No primeiro bloco do concerto, A Vida e a Lenda, Morricone começou com a arrepiante trilha de Os Intocáveis e emendou nos maravilhosos temas de Era uma Vez na América e A Lenda do Pianista do Mar. Logo depois, no bloco Folhas Soltas, o Maestro revelou seu lado pop. Algumas trilhas trouxeram influências de samba, jazz e até mesmo rock. O repertório foi composto por H2s, Os Sicilianos, Metti una Sera a Cena: 2 Temi, e Maddalena. Então veio a parte mais emocionante: Modernidade do Mito no Cinema de Sergio Leone. A seqüência com Três Homens em Conflito, Era uma Vez no Oeste e Quando Explode a Vingança foi antológica – aqui brilhou a voz da soprano Suzana Rigacci.
Fiquei mudo durante os 15 minutos seguintes de intervalo só para ser surpreendido com a volta do Maestro: ele finalmente presenteou os fãs com o lindo tema de Cinema Paradiso. Ao iniciar o bloco O Cinema do Compromisso, Morricone apresentou a nervosa trilha de A Batalha de Argel, além de todo o suspense de Investigação de um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita. Depois vieram Sostiene Pereira, Pecados de Guerra e as empolgantes A Classe Operária Vai ao Paraíso e, principalmente, o tema Abolição, de Queimada – o coro fez o teatro inteiro vibrar.
Para finalizar no bloco Cinema Trágico, Lírico e Épico, Morricone comandou a orquestra em O Deserto dos Tártaros, Ricardo III e a divina Gabriel’s Oboe, de A Missão. Aplaudido de pé, Morricone ficou visivelmente emocionado com a platéia. Ninguém queria que ele fosse embora. Foram três bis. O Maestro encerrou com mais uma performance de The Ecstasy of Gold, de Três Homens em Conflito (ao lado de Suzana Rigacci).
Não sou crítico de música, mas saí mudo do teatro. E se falasse algo, eu sabia que iria chorar no meio da multidão. Foi um sonho ligado ao cinema transformado em realidade. E não há palavras para descrever o que aconteceu naquela noite na Cinelândia. Foi como tocar o céu. Na saída, encontrei o crítico do jornal O Estado de S. Paulo, Luiz Carlos Merten, que me abraçou emocionado - esse era o sentimento de todos que deixavam o teatro. Merten confessou que horas antes do concerto, ele passeou com Ennio Morricone pelo Pão de Açúcar. Detalhe: o Maestro cantou músicas que Nino Rota compôs para clássicos de Fellini, como Amarcord. Existe emoção maior do que essa? Após o concerto, minha alma estava lavada e livre de qualquer conflito.
Obs: A primeira foto deste post é divulgação. As outras duas são imagens da minha máquina. Na última delas, eu estou ali, bem à direita, contemplando a música do mestre Ennio Morricone na escuridão.
11 Comments:
Não morar em RJ ou em Sampa é um peso que carrego na imaginação...
como eu queria...
eventos como este só me atiça mais ainda este desejo, hiahiahaih!
Abraçooo
http://eco-social.blogspot.com/
hehehehe
querendo passar inveja nos seus amigos cinéfilos, né Otavio??
rs
mas falando sério, piro toda vez que escuto o tema de Os Intocáveis ... Falar que o cara é gênio nem cola mais!
Putz, mudar o nome do eixo pra Rio-São Paulo-Goiânia, hehehehe
abração!
Fico muito feliz por você. Experiências como essa são únicas e ficarão pra sempre na memória.
Bjs
Mas bah, só imagino um troço desses... acho que não dormiria por uns 2 dias, hehe. Abraço!
Que texto lindo, Otávio.
Obrigada por ter dividido este momento especial conosco.
Beijos.
Uma só palavra para esse post: INESQUECIVEL.
Obrigado, amigos! Mas realmente... não há palavras para descrever a emoção naquele momento... Vcs entendem...
A intenção do texto foi MESMO dividir tudo com vcs, amigos!
Abs a todos!
Ah, não votei na enquete ao lado, não tenho como escolher entre essas canções, ou outras que tb adoro do Mestre, como Bugsy por exemplo!
Teatro Municipal do Rio com o mestre Morricone é um delíro. Que vontade de ser carioca!!!!
Que momento inesquecível, Otavio! Puxa, daria um braço para conferir esse concerto de um dos maiores compositores de todos os tempos. Apesar de adorar a trilha de "Os Intocáveis", amo a música de "A Missão", por isso votei nela na enquete.
Cara, realmente, sem palavras, sensacional... :-) Abraço!
Deve ter sido um evento e tanto,Otávio...Realmente a trilha de Cinema Paradiso é uma das coisas mais lindas q já ouvi no cinema.Legal notar q naum sou só eu q nutre o mesmo tipo de impressão sobre José Wilker,e constrangedor perceber tais inclusões inadequadas nas falas de pessoas escolhidas para apresentar o concerto.
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