quinta-feira, setembro 27, 2007

Violência, tortura e política


Tem muita gente acusando Tropa de Elite de fazer uma apologia à violência. Alguns chegaram a dizer que o filme de José Padilha justifica o uso de tortura como tática eficiente do BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar).

Como todos sabem, Tropa de Elite foi preterido por um júri de formadores de opinião para representar o Brasil na briga por uma vaga no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A desculpa tem sido sempre a mesma: os votantes da Academia nesta categoria são velhinhos e não suportam muita violência nos filmes. E a polêmica do tema de Tropa de Elite só piora a imagem que o mundo tem do país, enquanto O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias é emocionante e pode agradar a comunidade judaica da Academia.

Mas aposto que muitos deles devem ter se arrependido de não premiar Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Como bem lembra a jornalista Ana Maria Bahiana, o sul-africano Tsotsi, que conta a história de um líder de gangue numa favela de Johanesburgo, é violento e ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2006. Ou seja, isso é relativo. Sobre o problema da tortura em Tropa de Elite, o BOPE pode até fazer isso, mas é apenas um filme. É uma obra de ficção. Os norte-americanos não ficarão chocados. Será que ninguém viu 24 Horas, um sucesso absoluto da TV? No Oscar deste ano, teve gente que disse que Os Infiltrados jamais ganharia como Melhor Filme, porque é violento demais.

Se a desculpa é essa, então a atmosfera "Copa de 70" em O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, pode prejudicar sua candidatura. Ou será que o povo norte-americano sabe o que representa o Tricampeonato da Seleção no México? Que eu saiba, eles não dão importância ao futebol. Sobre o lado judeu, a desculpa também não cola. Se fosse assim, Jayme Monjardim já teria um Oscar em sua casa, por Olga.

Enfim, o júri formado por Ana Paula Sousa, Pedro Butcher, Hector Babenco, Bruno Barreto, Rubens Ewald Filho e Leon Cakoff sabia que Ônibus 174 tornou o nome de José Padilha forte nos EUA. Mas acontece que até a escolha de uma produção nacional para disputar uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro é mera jogada política. Pode ser que Tropa de Elite não seja bom, mas é um tema único entre os concorrentes dos demais países. Se a proposta é evitar a aumentar a imagem suja do Brasil lá fora, isso já é tarde demais. Tropa de Elite ganhou distribuidores de peso nos EUA: os irmãos Weinstein, ex-chefões da Miramax, enquanto O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias tem distribuição da modesta (e novata) City Lights.

Filmes violentos estão aí como resultado das experiências vividas por cada cidadão em suas respectivas sociedades. E muitos cineastas estão nesses grupos. Pulp Fiction, Os Infiltrados, Cidade de Deus e tantos outros filmes envolvidos com o Oscar não estimulam a violência. O cinema não é perigoso. Nós somos. Mas essa é uma discussão que está longe do fim.

13 Comments:

At 6:35 PM, setembro 27, 2007, Blogger Kamila said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 6:37 PM, setembro 27, 2007, Blogger Kamila said...

Acho que as pessoas estão levando a sério demais toda essa escolha de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" como representante brasileiro no Oscar 2008. O filme é um dos melhores produzidos no ano passado e tem uma história belíssima.

Somente uns pontos a considerar, em relação ao seu texto, Otavio:

- A City Lights designou para a campanha de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" o mesmo profissional que cuidou da campanha de "O Labirinto do Fauno" para o Oscar 2007.

- Ter o apoio dos irmãos Weinstein é importante, mas não é garantia de indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro - "Cidade de Deus" é um exemplo disso.

- "Tsotsi" não tem nem a metade da violência de "Cidade de Deus". O mais chocante no filme é a intolerância que Tsotsi tem em relação às suas vítimas. No entanto, no geral, o filme conta a história de como um menino perdido reencontra o amor, a esperança e a possibilidade de fazer o que é correto. Temas universais, como os tocados por "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias".

No mais, não vou entrar nos méritos de "Tropa de Elite" até mesmo porque eu não assisti ao filme. Mas admiro o trabalho de José Padilha e seu "Ônibus 174" é um dos melhores filmes do cinema brasileiro recente.

E acho que as reações ao filme são meio extremistas (ou ama ou odeia; ou é apologia à violência, ou é um retrato cruel da realidade, ou é de direita, ou é de esquerda). No entanto, como o filme toca numa ferida da sociedade brasileira (a violência), acho que toda discussão é válida.

 
At 7:00 PM, setembro 27, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Uai. Mas temos que levar a sério. Nós gostamos do assunto.

E sobre as reações ao filme do José Padilha, isso é normal. Sempre foi assim. Duas pessoas não vêem uma obra de arte com um mesmo ponto de vista. Lembra de A PAIXÃO DE CRISTO? Só acho que é ficção. TROPA DE ELITE não deixa de ser uma obra de ficção. Não sei se o filme é bom, mas o cinema nacional tem tantas barreiras e ainda vem gente querendo sacrificar o filme antes de sua estréia... lamentável...

De fato, o apoio dos Weinstein não é garantia de indicações. Seria na década de 90. Mas eles ainda são mais fortes do que a City Lights, não? Acho que os Weinstein devem ter ficado bem "P" da vida ao saber da decisão de meia dúzia de formadores de opinião. E eu concordo com o Cassiano sobre como deveria ser feita a "escolha" do filme, sabe? Mas essa discussão não tem fim também.

Se TROPA DE ELITE foi injustiçado, eu ainda não sei. Não vi o filme. Mas como podem tentar destruir um filme antes de sua estréia? Nós que adoramos prêmios, só podemos especular. Enfim, TROPA DE ELITE pode ser um filme violento, mas isso não deveria eliminá-lo. Tem muita coisa errada, afinal o que realmente significa o termo "Melhor Filme"??

Bjs!

 
At 7:14 PM, setembro 27, 2007, Blogger Kamila said...

Otavio, também não concordo com essa questão de querer destruir "Tropa de Elite" antes de sua estréia. Eu acho que, grande parte das matérias que estamos lendo a respeito das reações ao filme, são sensacionalistas demais.

Os Weinsteins não têm mais aquela força de antigamente. Faz tempo que eles não conseguem uma conquista importante no Oscar. Concordo quando você diz que eles devem ter ficado "p" da vida após a escolha de "O Ano", mas, como tem sido discutido à exaustão nestes últimos dias, a escolha de um filme para o Oscar segue critérios políticos, subjetivos, de mercado.

Não concordo com a idéia do Cassiano de escolher o filme com base na bilheteria. Mas, essa é outra discussão interminável.

E, finalmente, concordamos que a violência de um filme não deve ser utilizada como desculpa para que ele não possa ser apreciado em premiações. Mas, nós, que adoramos cinema e adoramos essas premiações, sabemos que todas elas seguem critérios de mercado e critérios políticos. Nem sempre estes critérios serão justos. E isto, a gente já deveria ter aprendido há muito tempo... :-)

Beijos.

 
At 7:19 PM, setembro 27, 2007, Blogger Wanderley Teixeira said...

Naum acho q a justificativa q deva ser usada para a naum indicação de Tropa de Elite deve ser a violência do filme, pelos motivos q vc mesmo citou.A indicação de O Ano... se enquadra mais em um estilo mais garantido aos votantes da categoria.Acredito q seje muito mais uma questão de adaptação a linguagem cinematográfica do q tema.Assino em baixo quando fala da imagem do país, pior q está naum pode ficar e naum há santo remédio milagroso nem longa-metragem q limpe nossa barra.

 
At 7:26 PM, setembro 27, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

É, Kamila. Mas a gente não aprende. Aliás, coloquei uma nota no blog da SBBC. Se quiser, acho que vc pode fazer notas neste estilo tb - vc acompanha isso mais do que eu. Dê uma olhada lá depois. Bjs!

Oi Wanderley! Acho que é um assunto que merece uma discussão. Não sei se é uma questão de lingüagem cinematográfica. Talvez pra vc, pra mim ou pra Kamila. Mas quanto ao júri, eu não sei dizer. Quanto a escolha dos votantes, a questão é o tema problemático. E não linguagem. Abs!

 
At 10:42 PM, setembro 27, 2007, Anonymous Anônimo said...

Otavio, concordo com algumas coisas de seu texto, mas discordo de outras também. Acho que 'O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias' pode chegar a NÃO conquistar uma indicação, mas dentre as alternativas era o filme que tem mais a cara da categoria de filme estrangeiro. Outra coisa: a violência de "Infância Roubada" não chega aos pés daquela vista em "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" (supostamente, já que ainda não vi o filme), são poucas as cenas violentas - e a história do filme é uma lição de vida, algo que agrada os votantes da categoria.

Em relação a "Os Infiltrados", acho que a força do filme perante os votantes se deve muito mais ao reconhecimento tardio do Martin Scorsese do que por real merecimento (ainda que este fosse realmente um dos melhores da categoria).

Torço para que "Tropa de Elite" seja realmente o melhor filme do ano e um novo "Cidade de Deus" como estão afirmando, adoro quando o cinema nacional fala dos problemas sociais do país de forma contundente.

Bem, enfim, "O Ano" pode até não conquistar a indicação, mas ainda acho que foi a escolha mais certa.

Abraço!!

 
At 2:50 AM, setembro 28, 2007, Blogger Marcus Vinícius said...

Acabei de baixar hoje e provavelmente já assista hoje também. Depois volto pra dar meu pitaco na história. =]

 
At 8:31 AM, setembro 28, 2007, Blogger Kamila said...

Otavio, li a nota no blog da SBBC e, pode deixar, que, se eu tiver qualquer novidade coloco lá. Aliás, hoje - sem falta - envio para você o nome dos 10 filmes mais votados pela SBBC, para que a gente comece a organizar tudo.

Beijos!

 
At 10:25 AM, setembro 28, 2007, Anonymous Anônimo said...

Otavio

Concordo com vc totalmente. Acho q foi cometido um super erro. A história de q a academia não gosta de violência e sim de judeus é de uma tacanhice tamanha q até me assusta.

O importante é COMO se conta uma história e nisso Tropa é muito melhor, mais tenso e emocionante, O ano ao seu lado parece um banho maria.

Agora ligue os pontos, Tropa foi acusado por certos jornalistas de ser propaganda fascista, no júri há uma jornalista de Carta Capital. Bruno Barreto está fazendo um filme sobre o 174, hummm, tema bem similar e ligado ao Padilha.

Sei lá, acho q foi uma decisão política e só, creio eu q nem ficaremos nos 5 indicados.

Bjs

 
At 11:43 AM, setembro 28, 2007, Blogger Victor said...

Ainda acho que a escolha de "O Ano.." a melhor sim. Independente da forma como se escolhe, de quão bom é Tropa de Elite e tudo o mais.
De um modo geral, a categoria de Filme Estrangeiro tem mais a cara de "O Ano.." sim. Mesmo que filmes relativamente violentos tenham sido indicados também, acho que a mensagem de "O Ano.." ainda se enquadra mais ao que a categoria se propõe. Enfim...
O certo seria mudar a categoria logo de uma vez!!..hehehe


Abs!

 
At 4:01 PM, setembro 28, 2007, Anonymous Anônimo said...

Esse filme realmente ta gerando polêmica e espero poder assisti-lo na semana de 12 de Outubro, quando irá estreiar. Sobre a aceitação da Academia em relação à violência, concordo, pois acho ridículo achar que eles deixariam de premiar ou indicar um filme pela sua violência. Fico feliz pelo O Ano ter conseguido a indicação, ainda não o conferi também por falta de disponibilidade, mas é bom saber que filmes brasileiros que não são sobre violência e miséria podem ganhar reconhecimento nos EUA. Cinema, Aspirinas e Urubus foi uma escolha certa e acredito que mais uma vez foram sensatos. Acho que o mais importante é escolhermos um filme que tem potêncial para chegar à uma indicação, mesmo que não seja o melhor, o nosso objetivo é chegar ao Oscar.

Ciao

 
At 12:18 PM, outubro 01, 2007, Blogger Arthur said...

Estou ancioso para ver!

Apesar de não ter visto nem um dos dois, acredito qu Tropa de Elite teria mais chances no Oscar!

Boa Semana!

 

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