sexta-feira, outubro 12, 2007

Piaf - Um Hino ao Amor


Quem é fã de Edith Piaf vai sair do cinema com a cara inchada de tanto chorar. E ainda jogará o trabalho do diretor Olivier Dahan em um lugar cativo no olimpo da sétima arte. Mas quem entrar numa sessão de Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, 2007) esperando "apenas" um ótimo filme, sem conhecimento total da obra da cantora francesa, vai reconhecer somente (ou principalmente) um aspecto genial: a atuação arrebatadora de Marion Cotillard.

O diretor Olivier Dahan até que fez um belo filme visual e sonoro. Ele se sai muito bem com a câmera, entende perfeitamente como iluminar cada uma das cenas e tem uma extrema preocupação em tornar seu filme o mais bonito possível. Autor do roteiro, ao lado de Isabelle Sobelman, Dahan é habilidoso ao contar uma história de idas e vindas no tempo sem deixar o espectador perdido. E não é uma tarefa fácil, afinal personagens entram e saem da vida de Edith Piaf num mero piscar de olhos. Não é que o roteiro tenha "buracos", mas Dahan julga a cantora como uma mulher boêmia totalmente voltada para sua música. Isso é o que importa para ela. Não os maridos e nem mesmo a filha. Talvez porque sua mãe foi negligente. Talvez porque seus pais não foram felizes ao montar uma família. É uma defesa para Dahan.

Ele só não pode se defender das acusações de exagerar na emoção e tornar seu filme pomposo demais. Chega a ficar artificial em alguns momentos. Dizem que Edith Piaf foi a maior intérprete do amor. No filme, não dá para entender como ela conseguiu isso, afinal sabemos que ela sofreu na mesma proporção em que sentiu a felicidade de perto. Quando algo de bom acontecia em sua vida, logo surgia uma peça de mau gosto do destino. Se Piaf chorou tanto, Olivier Dahan erra ao ilustrar toda a sua trajetória de forma glamourosa. Mesmo os lugares mais feios do filme parecem bonitos pelas lentes de Dahan. É um bom filme, mas poderia ter sido melhor sem esses pecados. Se você não é tão fã assim de Piaf, talvez não se debulhe em lágrimas como (obviamente) quer o diretor.

De fato, há momentos de extrema beleza plástica da câmera de Dahan ao retratar a "pequena pardal" na tela. Numa cena, Piaf canta para uma multidão e não ouvimos sua voz. Em outra parte, a cantora é seguida pela câmera até que ela saia do céu e entre no inferno de sua alma ao descobrir o destino do grande amor de sua vida. São momentos mágicos.

E a razão para a magia presente nessas duas cenas em particular não está necessariamente na visão do diretor. Mas na performance de Marion Cotillard, que alivia qualquer erro (ou exagero) de Dahan. Ela só pode ser Edith Piaf em pessoa. O jeito de olhar, de falar, andar e até de demonstrar emoção nos palcos ao movimentar braços e mãos... Ela só pode ser Edith Piaf. Se você não conhece a cantora, isso não é problema. O trabalho de Marion Cotillard é impressionante se levarmos em conta o que um aspirante a ator tem que aprender em sua profissão. Entre outros itens, falo de expressão corporal, dicção, voz, entonação, olhar e a total exposição de seus sentimentos para que o público saiba exatamente de onde vem tanta paixão e ódio. Ela é maravilhosa.

Sendo fã da cantora como o diretor, ou não, Marion compreendeu Edith Piaf. Sua vida não foi um caminho de rosas. Nem tudo foi tão brilhante ou iluminado nele. O diretor achou que esse era o caminho certo para contar a história. Tem gente que vai adorar essa artificialidade toda. Mas a emoção do jeito digno que ela deve ser oferecida à platéia, só Marion Cotillard entendeu. A atriz está bem à frente do filme e, onde estiver, Piaf deve estar feliz. Na cena final, quando ela canta Non, Je ne regrette rien, nós acreditamos na mensagem da música. O longa termina e vem um pequeno silêncio interrompido pela vontade de aplaudir. Não o filme. Mas Marion. As três estrelas são para ela. Essa é a maior atuação feminina da década.

Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme/La Vie en Rose, 2007)
Diretor: Olivier Dahan
Elenco: Marion Cotillard, Sylvie Testud, Pascal Greggory, Emmanuelle Seigner, Jean-Paul Rouve e Gérard Depardieu

20 Comments:

At 5:39 PM, outubro 12, 2007, Blogger Kamila said...

É incrível como todo mundo bate na mesma tecla depois de assistir a este filme. O Dahan realiza um filme irregular, mas a Marion sempre acaba monopolizando as atenções e os textos! :-)

Você sabe o quanto quero assistir a este filme, mas infelizmente (e como sempre), ele não estreou em Natal.

Bom final de semana!

 
At 5:49 PM, outubro 12, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

É, Kamila... O filme é bom, mas ela é bem melhor. Pelo filme, vejo que Piaf sofreu demais... que vida desgraçada. Não é para ilustrar tudo isso de forma pomposa.

Isso não é uma obra de ficção (como CASABLANCA ou E O VENTO LEVOU) situada em um período histórico. É a vida de uma mulher. É uma biografia. Mas os aplausos são todos para Marion Cotillard.

Bjs! Bom final de semana!

 
At 7:01 PM, outubro 12, 2007, Anonymous Anônimo said...

Melhor opinião sobre esse filme não vi até agora, Otavio. Concordo plenamente com suas observações. O trabalho do Dahan é irregular, conseguindo algum destaque na parte técnica (especialmente quanto ao som), mas a Marion realmente vale o filme. O que dizer desse final maravilhoso (no qual realmente acreditamos na mensagem da música)? Ou então daquela cena que lhe dará o Oscar de melhor atriz? Não que sua atuação seja a melhor da década (para mim esse título ainda pertende à Helen Mirren), mas sem dúvida ela carrega "La Vie en Rose" nas costas.

Abraço!

 
At 8:31 PM, outubro 12, 2007, Blogger Kamila said...

Otavio, eu sei disso. E achei seu texto brilhante porque você entendeu a personagem. Realmente é intrigante o fato de que a Piaf fez carreira cantando o amor, quando ela nunca encontrou isso de verdade.

Beijos!

 
At 9:36 PM, outubro 12, 2007, Blogger Rafael Carvalho said...

Bem otavio, acabei de assistir ao filme e achei fabuloso, um dos melhores do ano para mim sem dúvidas (entra fácil num top 5). E a atuação da Cotillard é soberba, realmente não sei se vai surgir ainda uma atuação femina tão boa quanto a dela nessa década. É ela o grande atrativo do filme, mas discordo que seja o único. Desde a parte técnica até o roteiro e direção são formidáveis. É emotivo sim, mas não vejo como um defeito. É glamouroso tbm, mas foi uma opção da equipe. Enfim, um filme belíssimo que conseguiu trasnmitir toda a dor de uma personagem que cantava tão bem o amor (e que nunca o teve como mereceu).

 
At 5:27 AM, outubro 13, 2007, Blogger Romeika said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 5:58 AM, outubro 13, 2007, Blogger Romeika said...

Nossa, nunca concordei tanto com uma crítica sua quanto essa. Assino embaixo! Acrescentaria que o filme não é uma cinebiografia convencional, tanto, que como vc disse, até o feio e o mundano da vida dela é retratado de maneira "bela". É tudo muito subjetivo e passional no filme..(e isso não é uma crítica). E a atuação espetacular (já esgotei todos os meus adjetivos pra descrever a Cotillard nesse filme) vale cada segundo da película. Não sei se valeria sem ela.

Bela crítica!

 
At 11:50 AM, outubro 13, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Obrigado, pessoal!

O filme é bom. Mas já vi há duas semanas... e só me lembro da Marion Cotillard como Edith Piaf... E das cenas que descrevi. Só ela ficou na minha memória.

Abs!

 
At 3:35 PM, outubro 13, 2007, Blogger Alex Gonçalves said...

Gostaria muito de assistir "Piaf", mas os cinemas da minha cidade ignoraram o filme, ainda que o trailer fosse exibido em diversas sessões e de que os pôsteres estampassem todo o cinema. Marion Cotillard deve estar fantástica no papel, e Olivier Dahan tem créditos comigo depois que rodou o sensacional "Rios Vermelhos 2"

Otavio, meus parabéns pelo aniversário do Blog.

 
At 3:45 PM, outubro 14, 2007, Blogger Wiliam Domingos said...

Por aqui o filme nem deu as caras em cartazes de "em breve"!
Mas estão gostando do filme....já li alguns comentários bacana!
Não sou um grande fã, mas um bom filme emociona qualquer um!
Abraço!
Ah..parabéns atrasado por um ano de blog!
xD

 
At 10:26 PM, outubro 14, 2007, Blogger Wanderley Teixeira said...

Piaf ainda naum chegou aqui em Salvador o que me causou ranger de dentes, enfim fúria com a distribuição de filmes no país!

 
At 11:19 AM, outubro 15, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Doido para ver esse filme que passou voando por aqui! espero q retorne!

 
At 6:01 PM, outubro 15, 2007, Blogger Kamila said...

Mas, esses baianos reclamam muito de barriga cheia!!! :-)

Garanto, Wanderley, que, se "Piaf" estrear em alguma capital nordestina, será em Salvador.

Os natalenses e pernambucanos (né, Vinícius???) é que deveriam ter fúris com a distribuição de filmes no país!!! :-)

 
At 6:01 PM, outubro 15, 2007, Blogger Kamila said...

eu quis dizer fúria no meu comentário anterior. :-)

 
At 6:19 PM, outubro 15, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

"Fúris" é igual ao Mussum!

 
At 7:14 PM, outubro 15, 2007, Blogger Kamila said...

Otavio, me acabei de rir agora com esse seu comentário. :-)

 
At 11:20 AM, outubro 16, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Hahahahahahaha... desculpe-me por isso. Mas foi legal! Bjs!

 
At 4:01 PM, outubro 16, 2007, Blogger Adriano Brito said...

Vou ver o filme nesta quinta-feira. E estou ansioso.

Sou fã da Piaf, acho realmente um pecado não deixarem "La Vie En Rose" como nome do filme aqui - bah, como eu odeio as traduções que fazem dos nomes dos filmes para o mercado brasileiro - e já fiquei emocionado com o trailer.

Para quem já passou uma madrugada de sábado para domingo ouvindo o The Best Of da Édith Piaf - deprimido, é claro - ver esse filme certamente vai ter um significado bem além.

Daí, vamos ver se eu concordo com esse "a maior atuação feminina da década".

Abraço!

 
At 3:54 PM, dezembro 11, 2007, Blogger André Gonçalves said...

aqui em Teresina finalmente estreou. Um filme belíssimo e, convenhamos... se a interpretação da Marion não for a melhor da década, nem sei, viu? ela tá melhor que a Elizabeth da Helen Mirren. Abraço, bom conhecer aqui.

 
At 3:07 PM, março 28, 2008, Blogger gustavo said...

[i]com certeza, o melhor trabalho feminino da década !!!!!

incrível!

 

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