terça-feira, março 18, 2008

O cinemão de Anthony Minghella

O Paciente Inglês
(1996)

Não sou fã dos filmes do diretor britânico Anthony Minghella. Mas reconheço em suas produções alguns aspectos que procuro no cinema. A sensação de grandiosidade que um filme pode proporcionar na tela está entre as qualidades de Minghella. Sensação um tanto esquecida nos dias de hoje pela maioria dos novos diretores e até mesmo dos grandes estúdios, que cresceram às custas de produções imensas como E o Vento Levou.

Como poucos, Minghella sabia preencher a tela inteira com paisagens e cenários que podemos ver até onde os olhos alcançam. Posso estar enganado, mas Minghella devia ser fã incondicional do modo como seu conterrâneo Sir David Lean filmava.

Os heróis de Lean tinham conflitos internos tão grandes quanto os imensos planos que suas câmeras capturavam. Para mim, isso é épico. Na verdade, Lean não contava histórias de heróis, mas de anti-heróis. Foi assim em A Ponte do Rio Kwai, Lawrence da Arábia, Doutor Jivago, A Filha de Ryan e Passagem Para a Índia. Pelo menos em sua fase extravagante. Ele foi bem mais contido num período anterior a Kwai, quando fez o maravilhoso Desencanto e Grandes Esperanças. Se os anti-heróis de David Lean não foram tão românticos assim - nem mesmo Jivago -, seus filmes foram apresentados de forma extremamente romântica. Apesar de não ter sido tão genial quanto o mestre, Anthony Minghella foi um bom (e genuíno) representante do estilo de Lean nos últimos tempos.

O Talentoso Ripley
(1999)

Outro aspecto que me agrada nos filmes de Minghella é o incessante uso da trilha sonora. E não qualquer música. E não por serem composições de Gabriel Yared necessariamente. Mas porque Yared criou trilhas maiores que a vida - daquelas que funcionam sem o filme. Enfim, algo cada vez mais raro no cinema atual. Para citar um último aspecto, mas não menos importante: as fotografias nos filmes de Minghella como cortesias de John Seale.

O Paciente Inglês
apresentou o diretor ao mundo, embora não fosse o seu primeiro trabalho atrás das câmeras. É um épico sobre um homem individualista, egoísta e antipático, que se apaixona por uma mulher casada na época da Segunda Guerra Mundial. No entanto, o anti-herói de Ralph Fiennes, como Peter O' Toole em Lawrence da Arábia, ama o deserto. O filme parece cuidadosamente retirado do livro (antes considerado como "infilmável") de Michael Ondaatje. Talvez, por isso, que O Paciente Inglês seja visto por muitos como um filme "chato" ou arrastado. A verdade é que Minghella conseguiu seduzir mais pelas imagens e a beleza trágica da música de Gabriel Yared do que pelo conteúdo. No fim, ganhou nove Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.

Cold Mountain
(2003)

Logo depois, Minghella fez O Talentoso Ripley, uma releitura do livro de Patricia Highsmith. Aqui, o diretor confessou ainda mais seu bom gosto para música. O jazz tomou conta dessa trama sobre inveja e ciúmes nos improvisos do canalha Tom Ripley (Matt Damon). Minghella revelou Jude Law, que roubou praticamente todas as cenas. Depois deste filme, Law virou o ator preferido do diretor. Com cinco indicações ao Oscar, O Talentoso Ripley é visualmente irretocável e exercitou o lado sombrio de Minghella, que se arriscou pelo suspense verdadeiro. O filme tem uma cena estupenda, que sucede ao assassinato do personagem de Philip Seymour Hoffman: Tom Ripley vê seu reflexo no piano separar duas personalidades.

Alguns disseram que o diretor se inspirou em Hitchcock, mas não sei bem se foi isso, afinal o próprio Hitch adaptou outro livro de Patricia Highsmith: Pacto Sinistro. Ou seja, Minghella foi Patricia Highsmith e não Hitchcock.

Cold Mountain talvez seja o filme mais romântico de Minghella. Desta vez, ele não ficou nem um pouco contido. Jude Law é uma espécie de Ulisses nesta moderna versão de A Odisséia. Law abandona o horror da Guerra Civil americana para retornar aos braços da amada Nicole Kidman, que ainda não estava carregada de botóx ou algo assim. O filme é muito bonito, mas escorrega num final forçado demais. Foram sete indicações ao Oscar e Renée Zellweger ganhou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante.

Anthony Minghella também produziu filmes premiados como Conduta de Risco ao lado do amigo cineasta Sydney Pollack. Minghella podia não ser um diretor perfeito, pois sempre se deixou levar pela beleza visual de seus próprios filmes. Mas ele estudava um cinema envolvente e sedutor pela imagens, que é um esforço digno. Acredito que sua obra mereça uma revisão. Ainda mais por causa desse cineminha atual, que está cada vez mais feio, sujo e econômico. Nem mesmo os grandes filmes de hoje são tão bons quanto os grandes filmes do passado.

Pelo cinema que queria contar, Minghella fará falta. Meu favorito dele é O Talentoso Ripley. E o seu?

17 Comments:

At 1:26 AM, março 19, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, veja que uso interessante da música e como ela influi nestes 2 trailers de Gallipoli:

http://www.youtube.com/watch?v=i8e7ECdG69U&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=Q6wyD4Eo4t4&feature=related

 
At 1:26 AM, março 19, 2008, Anonymous Anônimo said...

Dificil escolher. Eu ficaria entre esses tres mesmo, mas teria que rever O Paciente Ingles e Cold Mountain. Mas devo ficar com Ripley mesmo. A cena que mencionou e aquela final são assombradoras. Faltou-lhe uma obra-prima. Pena que teve que ir sem ter apresentado uma.

Belo post!

Ciao!

 
At 1:35 AM, março 19, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, outro bom filme que eu me referia do Peter Weir é este (já saiu no Brasil em dvd):

http://www.youtube.com/watch?v=Usn-RxTemdE&feature=related

 
At 4:28 AM, março 19, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, outro filme imperdível de Peter Weir que esqueci de mencionar, A costa do Mosquito, também estrelado por Harrison Ford. Uma jornada inesquecível, que lembra um pouco Apocalypse Now na sua jornada à loucura.

 
At 8:34 AM, março 19, 2008, Blogger Romeika said...

Meu favorito eh "O Paciente Ingles", mas "O Talentoso Ripley" tb eh um trabalho excelente, e bem diferente do estilo habitual do diretor, que realmente seduz pelas imagens e pela musica. Quanto a "Cold Mountain", o considero um bom filme, e soh. Nao gostei muito do ultimo filme do Minghella que vi, "Invasao de Domicilio".

 
At 9:26 AM, março 19, 2008, Blogger Museu do Cinema said...

Gosto demais do O Paciente Inglês, acho o oscar mais do que merecido, é uma produção genial, um roteiro brilhante, interpretações marcantes e um diretor soberbo.

Agora acho que ele não deveria ter ganho o oscar de melhor diretor, os Coen mereciam mais.

 
At 10:44 AM, março 19, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Denis, vou olhar os links. Obrigado!

Wally, faltou uma obra-prima mesmo. Mas ele pensava alto e se arriscava. Isso é bom.

Romeika, ainda não vi INVASÃO DE DOMICÍLIO. Mas acho que deve ter algo de bom no filme, não?

Cassiano, não sou fã de O PACIENTE INGLÊS assim. Naquele ano, os meus favoritos foram FARGO e O POVO CONTRA LARRY FLYNT - este último foi tremendamente injustiçado no Oscar.

Abs!

 
At 11:34 AM, março 19, 2008, Blogger fabiana said...

O Paciente Inglês é meu preferido, mesmo com a narrativa lenta.

 
At 12:14 PM, março 19, 2008, Anonymous Anônimo said...

Adoro "Cold Mountain", acho excelente e é meu preferido do Minghella. Em seguida, também gostei muito de "O Talentoso Ripley", um trabalho bastante elegante do cineasta. Não sou muito fã de "O Paciente Inglês", acho superestimado até. Mas o pior é "Invasão de Domicílio", uma bomba. Belo texto!

 
At 2:00 PM, março 19, 2008, Blogger Rodrigo Fernandes said...

grandes filmes... acho uma grande trama a do ripley, além do Jazz embutido em toda a projeção ser fantástico...
é o céu vai produzir um filmão, já que está 'contratando' tantos diretores e atores bons por aqui... a concorrencia tá brava..rs
abraços

 
At 3:37 PM, março 19, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, A costa do Mosquito foi feito um ano após A Testemunha e é o filme que precede A Sociedade dos Poetas Mortos. É , na minha opinião, o filme mais ambicioso de Peter Weir. Já Gallipoli é o seu filme mais pessoal, pois mexe com feridas de sua terra natal, a Austrália. Abs.

 
At 6:10 PM, março 19, 2008, Blogger Kamila said...

Assim como você, também não era a maior fã do cinema de Anthony Minghella, mas "O Paciente Inglês" foi o filme que ele fez e que se tornou o meu favorito da filmografia dele.

E assino embaixo do que você escreveu aqui!

Beijos.

 
At 7:38 PM, março 19, 2008, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Tenho o DVD de "O Paciente Inglês", mas acho "Cold Mountain" o melhor dele.

Abraço!!!

 
At 9:16 PM, março 19, 2008, Blogger Flávia said...

Para mim, "O Talentoso Ripley" é o melhor. Acho Cold Mountain chatoooo...

Bjs!

 
At 9:44 PM, março 19, 2008, Blogger Unknown said...

Eu achei "O Paciente Inglês" chato e arrastado, como você mesmo disse, é a imagem e semelhança do livro, um porre de ruim, que não consegui ler inteiro. Mas o trabalho artístico e a direção do filme merecem ovações, é tudo muito bonito e merecedor de prêmios.
"Talentoso Ripley" é muito charmoso, cheio de personagens poderosos e atuações magistrais, especialmente de Law e Blanchett.
Mas meu preferido é "Cold Mountain", um filme muito bom mesmo, que poderia bem ter tirado a indicação de "Seabiscuit".
Abraço!

 
At 9:11 AM, março 20, 2008, Blogger Museu do Cinema said...

Ah Otávio, tb gosto demais de Fargo e Larry Flynt, mas O Paciente Inglês leva uma ligeira vantagem, mas o Oscar de melhor diretor era dos Coen.

 
At 4:25 PM, março 20, 2008, Blogger Daniell said...

Gosto muito de todos os filmes dele, especialmente O Paciente Inglês, é arrastado? É, mas eu não ligo. Não tenho nada melhor pra fazer do que assistir filmes mesmo. Só não gosto muito de Invasão de Domicílio.

 

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