segunda-feira, novembro 17, 2008

[REC]

"Por que estamos passando por isso, Pablo? Já vimos este filme antes!"


Nada se cria, tudo se copia. [REC] (2007) é mais um filhote da visão em primeira pessoa do horror, recurso que caiu nas graças do público desde A Bruxa de Blair, de 1999. Na verdade, em 1980, um trash chamado Holocausto Canibal já brincava com a técnica da câmera na mão documentando o desespero e a morte de todos os infelizes diante da lente. Em [REC], você também segue o ponto de vista único da fita encontrada dentro da câmera. Só que Holocausto Canibal não teve a divulgação boca-a-boca de A Bruxa de Blair e [REC]. Muito menos a campanha publicitária devastadora de Cloverfield.

Desta vez, não quero discutir a manipulação da imagem ou qualquer outra metáfora
atual, psicológica ou inteligente que exista nesta brincadeira dos diretores e roteiristas espanhóis Jaume Balagueró e Paco Plaza. Também não vou falar de cinema - até porque não considero [REC], A Bruxa de Blair e Cloverfield como obras da sétima arte. Vou me concentrar na diversão mesmo. Como se eu estivesse numa atração assustadora de um parque de diversões.

Encarando desta forma, [REC] funciona que é uma beleza. É de deixar qualquer um tenso esperando pelo próximo susto inevitável. Tudo começa com uma reportagem sobre a rotina de um corpo de bombeiros para o programa noturno Enquanto Você Dorme, apresentado pela linda e carismática Ángela Vidal (Manuela Velasco). Na companhia de seu câmera Pablo (o próprio diretor de fotografia do filme, Pablo Rosso), que representa os olhos da platéia, Ángela só não morre de tédio durante a matéria, porque os bombeiros recebem um chamado para ver o que acontece com uma velha obesa gritando em seu apartamento. Empolgada, Ángela resolve ir junto para documentar os profissionais em ação. Chegando lá, a câmera de Pablo mostra que os moradores estão reunidos no térreo, afinal eles não conseguem dormir com os berros da velha coroca. Quando os bombeiros chegam ao apartamento da vovózona, o espectador descobre que participará em primeira pessoa de mais um filme de zumbis, mortos-vivos, whatever. E como a polícia sabichona isola o prédio em quarentena, a sentença de morte de quem está lá dentro é finalmente assinada. Daqui pra frente, tome seu remédio contra enjôo, pois a câmera segue a expressão "Pernas, pra que te quero?"

De fato, [REC] assusta. E não com ajuda daquele efeito sonoro chinfrim, vagabundo e tradicional (PAM!) na hora em que o diretor quer fazer você pular da cadeira. Nem mesmo há o recurso da trilha sonora. Temos apenas o som ambiente, a cara, a coragem e os olhos de Pablo. Se o câmera largar a filmadora ou se a bateria acabar ou se ele for obrigado a desligar a dita cuja ou se ele virar zumbi, você já sabe, ninguém vê mais nada e é game over.


Pelo menos, peguei algo positivo na comparação com A Bruxa de Blair e Cloverfield. Em [REC], o olhar de Pablo não foge do perigo e, com isso, o espectador vê tudo. A câmera balança que é uma beleza, os personagens correm pra cá, correm pra lá, sobem e descem escadas, tropeçam, levam mordidas, enquanto nós ficamos com náusea no meio da ação, mas ninguém pode reclamar que não viu os monstros. Acho até que a desculpa utilizada para documentar o banquete é justificada ao longo do filme com a insistência de Ángela em prosseguir com a matéria (até como forma de denúncia) custe o que custar. Pelo menos, parece mais convincente e eficiente que seus primos A Bruxa de Blair e Cloverfield.

Enfim, você já viu este "filme" antes. Sabe até como irá terminar. [REC] é divertido como uma rápida viagem por aquela atração de terror, que gera filas quilométricas num parque de diversões. Mas me recuso a analisá-lo como cinema. Mesmo com as boas idéias e intenções propostas por Jaume Balagueró e Paco Plaza durante a brincadeira. Sei que a tentativa de inovar ou recuperar a sensação de medo na tela é compreensível, afinal os filmes de terror andam menos assustadores que muitos games. Se duvida, tente experimentar (à noite) alguns exemplares do gênero no XBox ou no Playstation. É... a indústria de games está fazendo o cinema pedalar.

Ao término de [REC], proponho um desafio. Tente adivinhar com seus amiguinhos qual será a próxima ameaça documentada com uma única câmera na mão nos cinemas. Bruxas, zumbis e Godzillas ianques já foram. Eu posso começar com a minha idéia: O apresentador "intelectual" do novo BBB enlouquece e tenta matar candidatas a capas de revistas masculinas. Sexo e sangue diante das câmeras. Daria mais um filme nos moldes de [REC] e afins.

[REC] ([REC], 2007)

Direção: Jaume Balagueró e Paco Plaza
Roteiro: Jaume Balagueró, Luis Berdejo e Paco Plaza
Elenco: Manuela Velasco, Vicente Gil, Manuel Bronchud, Carlos Lasarte, David Vert, Javier Botet, Martha Carbonell e Maria Lanau

23 Comments:

At 8:50 AM, novembro 18, 2008, Anonymous Anônimo said...

Assim, eu não espero muita coisa de "REC", mas tenho lido textos que me deixaram bem curiosa para conferir o filme. Concordo com você que a proposta dos espanhóis não é nova, que a gente já viu filmes assim outras vezes, mas se o filme realmente assusta (como você mesmo diz), acho que acaba cumprindo seu papel.

Beijos!

 
At 9:06 AM, novembro 18, 2008, Blogger Dr Johnny Strangelove said...

Rapaz ...
Se levar susto é se assustar ...
Esse filme dá vexame ...

This Movie Is SUCKS!

 
At 11:42 AM, novembro 18, 2008, Blogger Museu do Cinema said...

REC - Ruim, Embaraçoso e Comercial.

 
At 11:55 AM, novembro 18, 2008, Blogger Robson Saldanha said...

Pra mim só o primeiro Bruxas de Blair vale a pena, o resto é fraco demaaaas!

 
At 2:48 PM, novembro 18, 2008, Blogger Kau Oliveira said...

Otavio, raramente discordo de você (acho que nunca ocorreu). Mas desta vez, a discordância acontecerá, se me permite.

Achei este filme espetacular. Melhor que A Bruxa de Blair e Cloverfield (não vi aquele outro que vc citou). Além de funcionar muito bem no que propõe (assustar), ele tem todo um embasamento ético que pende para o lado científico (manipulação de insumos biológicos e coisas do tipo, visando perguntar "até onde isso é correto?"). Meu texto sai hj a noite e espero seu comentário!!

Abraços.

 
At 5:28 PM, novembro 18, 2008, Anonymous Anônimo said...

Gosto muito dos seus textos e, algumas vezes, concordo plenamente com sua opinião.
Dessa vez discordo totalmente! Acho [REC] um filme admirável, que embora não traga nada novo é honesto na sua proposta e muito bem realizado.
Porém, o que mais que chamou atenção foi o fato de comentar não considerar o filme um exemplar da sétima arte. E pergunto: qual a razão disso?
Porque por pior que seja o filme, ele não deixa de ser cinema ou mesmo uma obra de arte, é apenas mau cinema ou uma equivocada obra artística.

 
At 6:43 PM, novembro 18, 2008, Anonymous Anônimo said...

COMO ASSIM? ESSE FILME NÃO ERA BOM? AGORA PERDI A VONTADE DE VER.

 
At 6:45 PM, novembro 18, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Kamila, depois vc me conta o que achou de REC. E o filme assusta sim.

Johnny, eu me diverti como se fosse um parque de diversões. Mas não quer dizer que seja bom cinema.

Cassiano, espero que goste de REC e encontre neste filme a genialidade que não vi.

Robson, eu respeito. Mas vc vai odiar minha opinião sobre A BRUXA DE BLAIR: Já vi trabalhos de conclusão de curso de cinema mais competentes.

Kau e Gustavo, respeito suas opiniões. Ainda assim, eu me diverti muito mais em REC do que em CLOVERFIELD e A BRUXA DE BLAIR. Mas penso que REC é tão competente quanto um videogame de horror ou uma atração de um parque temático com o intuito de assustar as pessoas. Entenderam minha opinião? Para mim, isso não é cinema. Ou então, eu também faço cinema com uma câmera digital filmando festas de aniversário, casamentos e batizados. Sorry. Mas é o que acho. Peguem O NEVOEIRO, por exemplo. Também poderia ter sido feito como REC ou CLOVERFIELD. Mas não é. Para mim, O NEVOEIRO é cinema. O NEVOEIRO, REC, CLOVERFIELD, bom, é tudo ficção, ok? Mas, para mim, essa aproximação exacerbada da realidade de REC não me desperta a paixão cinematográfica. Em O NEVOEIRO, por outro lado, sinto a paixão transmitida por obras viscerais, porém clássicas e sem compromisso com a realidade. A vida real, claro, pode sre retratada, mas o drama, os conflitos precisam ser cinematográficos, maiores que a vida... Entendem? Talvez eu possa explicar melhor... Acabei viajando.

Abs!

 
At 6:45 PM, novembro 18, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Denis, eu me diverti. Mas também me divirto na CATACUMBA, do Hopi Hari. Entende? Abs!

 
At 6:55 PM, novembro 18, 2008, Anonymous Anônimo said...

"Encontrar a genialidade que não vi", huahuahua. You´re so cruel...

 
At 6:56 PM, novembro 18, 2008, Anonymous Anônimo said...

"Encontrar a genialidade que não vi", huahuahua. You´re so cruel...

 
At 7:07 PM, novembro 18, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, se o filme diverte, não cabe aí incluir um tipo diferente de avaliação, como nível de diversão? Igual aquelas revistas de game, que avaliam diversos aspectos do jogo... Qualidade do filme: 1 estrela, Nível de diversão: 3 estrelas, rsrs.

 
At 7:14 PM, novembro 18, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Não. Dá muito trabalho. Mas posso considerar isso para um filme de terror de verdade. Como O EXORCISTA. Ou O BEBÊ DE ROSEMARY.

 
At 7:52 PM, novembro 18, 2008, Blogger Kau Oliveira said...

Otavio, respondi seu comentário sobre isto lá no Bit. Se quiser, dá uma passada lá novamente! Hahahahahaha.

Abração!!

 
At 1:18 AM, novembro 19, 2008, Blogger Dr Johnny Strangelove said...

e outra ... o menina sem sal é a protagonista ... nem pra pagar peitinho presta ...

 
At 10:50 AM, novembro 19, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Ok, Kau! Vou lá! Abs!

Johnny, I love chicks without salt!
Abs!

 
At 12:04 PM, novembro 19, 2008, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Nem cita O Bebê de Rosemary perto desse filme, é sacrilégio!

Abraço!

 
At 1:49 PM, novembro 19, 2008, Blogger Kau Oliveira said...

Ah gente. Poor Manuela Velasco... ela foi super legal no filme!! =)

E Otavio, agora que reli oq comentou acima (a sua resposta ao meu comentário), acho que entendi seu ponto de vista. O Nevoeiro é ficção, mas eles não fazem questão de trazer aqueles bichos tão para a realidade, quanto fizeram com a enzima modificada em [REC]; é isso? Esquecer do fator "real" e deixar que o roteiro flua normalmente, mesmo aquilo tudo sendo meio maluco? (não tô criticando, é só para entender mesmo).

Abs!!

 
At 6:01 PM, novembro 19, 2008, Blogger Romeika said...

Minha nossa senhora... eh ruim assim?!? Parece que as opinioes sobre este filme diferem bastante:-)

 
At 5:08 AM, novembro 20, 2008, Blogger Unknown said...

Esse filme elevou a mitologia de zumbis a outro patamar!!

me diga se aqueles 15 minutos finais nao sao geniais?
como ninguem teve aquela ideia antes!uma coisa ate simples de se chegar..
Q COISA MACABRA!o final é puro horror psicologico!
Assistam logo,nao deixem de experimentar esse filme no Cinema.

 
At 1:39 PM, novembro 21, 2008, Blogger Alex Sandro Alves said...

'A Bruxa de Blair' lixo!
'Cloverfield' lixo!
[REC]' muito bom!

Finalmente alguém soube usar a estrutura narrativa de câmera na mão. Cumpre com louvor seu propósito de deixar o espectador angustiado e tenso! Vá preparado!

 
At 9:16 PM, dezembro 06, 2008, Anonymous Anônimo said...

Ok. O legal é que você Otávio, consegue justificar o porque do gostar ou não gostar. Parabéns.

Ainda fico meio chateado quando ouço falar mal de "Cloverfield", "Rec" e afins. Eu discordo com você sobre o fato deles "não serem cinema". Primeiro eu pergunto: O que seria o cinema para você? Considero como uma viagem para alguma história, de algum envolvimento com a tela, da apresentação de outros personagens de alguma realidade e sua capacidade de documentar e expressar sentimentos e emoções. E até onde entendo, todos os filmes citados compreendem-se nesse conceito PARTICULAR.

Eu creio que existem diversas maneiras de se contar uma história, e é muito interessante quando conseguimos estabelecer uma relação com a vida real. E vejo que o propósito dos três filmes é justamente fazer que aquilo constitua a nossa realidade, ainda que seja bolado para perecer, e não para ser tal.

Quanto ao fato de Ângela insistir o tempo todo para que Pablo continue gravando, consiste no puro espírito jornalístico. Ou será que só eu vi uma matéria onde o repórter da Globo está filmando enquanto diversas bombas caem atrás dele? Ou aquele vídeo onde os repórteres estão sendo baleados, mas continuam gravando?

Então Rec, ao menos para mim, não apresenta-se tão inadequado quanto parece.

Abraço

 
At 12:00 PM, julho 28, 2009, Anonymous Anônimo said...

O que é industrial e necessita de publicidade constante não pode ser considerado arte.O Cinema é apenas mau ou bom cinema...

 

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