sábado, novembro 08, 2008

Vicky Cristina Barcelona

Niñas, vamos a mi dormitorio,
mientras que Woody Allen no encienda la cámara


Woody Allen sabe representar as neuroses e a complexidade dos relacionamentos amorosos como ninguém. Acho que se todo mundo estudasse direitinho a cartilha que Allen preparou durante os anos 70 e 80, as dores de cotovelo seriam reveladas em índices menores. Não que ele mostre soluções fáceis para o fim do sofrimento nos romances, mas as dicas estão lá. Principalmente em seus três melhores trabalhos: Annie Hall (ou Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), Manhattan e Hannah e Suas Irmãs. Nesses dois últimos, Woody apresenta conclusões românticas para quebrar a análise contundente do teatro da vida real em Annie Hall, a comédia romântica mais direta, profunda e estudiosa da mente humana no cinema.

Bom, até aqui você leu uma reprodução infiel do meu texto sobre Annie Hall, mas acho que a análise também serve para Vicky Cristina Barcelona (2008), primeiro longa do diretor na capital catalã e, provavelmente, o último de um ciclo europeu em sua bela filmografia. O importante é que, finalmente, Allen volta a falar sobre relacionamentos. Convenhamos, isso é o que ele faz de melhor.

No filme, a "certinha" Vicky (a ótima Rebecca Hall) está prestes a se casar e só pensa nisso. A impulsiva Cristina (Scarlett Johansson) vive la vida do jeito que der na telha. As duas amigas começam o filme chegando a Barcelona para uma bela temporada de férias. Não demora muito e elas se envolvem com o pintor espanhol Juan Antonio (Javier Bardem), que se divorciou da... err... digamos assim... emocionalmente instável Maria Elena (Penélope Cruz - mais bonita e melhor atriz do que nunca).


Enquanto Cristina se entrega ao momento, Vicky questiona o amor verdadeiro e o real sentido da vida. Vicky deve mesmo se casar? Ela será feliz numa vidinha segura, traqüila e sem surpresas? No caso de Cristina, o segredo da felicidade é aproveitar o momento e que se dane o resto? Qual delas está certa? Ou será que as duas personalidades juntas formariam uma mulher pronta para encarar a vida sem dúvidas, traumas e ressentimentos?

É um prato cheio para Woody Allen continuar analisando a complexidade do amor. E sem se perder no fácil encanto dos cenários locais, a força de Vicky Cristina Barcelona está na diversão e na sedução proporcionadas pelos personagens criados por Allen numa ciranda amorosa, ao mesmo tempo, consciente e (por que não?) inconseqüente. Como sempre, não espere respostas fáceis sobre o amor. E não culpe Woody Allen pela conclusão aparentemente conformista. Algumas pessoas mudam. Outras não. É somente mais uma análise do diretor sobre um tema universal, que permeia sua carreira.

Mais uma vez, Woody Allen oferece, pelo menos, um bom filme com um roteiro competente e uma entrega natural e absoluta de seu elenco. Isso já estaria bom demais. Porém, em sua turnê européia, eu ainda não tinha visto Allen retornar a suas origens. Diferentemente das reviravoltas de roteiro evidentes em Match Point, Scoop e O Sonho de Cassandra, as mudanças na história são sutis, intimistas e acontecem dentro das mentes e corações de seus personagens. Achei essa diferença interessante. E é exatamente o que ele fazia em seus maiores trabalhos, que traziam Nova York integrada como personagem. E a julgar pelo cenário da última cena, será que Vicky Cristina Barcelona é um ensaio para o retorno de Allen às origens? Só o tempo dirá.

Mas não pense que Vicky Cristina Barcelona está entre os cinco ou dez grandes filmes do diretor. Não é uma reclamação, mas você já viu coisa melhor em sua carreira. O filme satisfaz por trazer Allen de volta às discussões sobre relacionamentos. E é como no amor. Alguns namoros e casamentos ajudam você a amadurecer como pessoa. Você leva certas experiências para o resto da vida. Como Annie Hall, Manhattan e Hannah e Suas Irmãs. Já Vicky Cristina Barcelona é como aquele caso tórrido de verão ou em qualquer outra estação - intenso enquanto dura, mas que fica completamente no passado quando termina. Sem traumas e sem qualquer ensinamento para a vida.

Vicky Cristina Barcelona
(Vicky Cristina Barcelona, 2008)
Direção: Woody Allen

Roteiro: Woody Allen
Elenco: Rebecca Hall, Scarlett Johansson, Penélope Cruz, Javier Bardem, Christopher Evan Welch, Chris Messina, Patricia Clarkson, Kevin Dunn, Julio Perillán e Josep Maria Domènech

14 Comments:

At 4:27 PM, novembro 08, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otavio, gostei do texto! Me deixou com vontade de assistir "Vicky Cristina Barcelona". Dá para perceber mesmo que o Allen vai falar sobre o amor usando os seus personagens, especialmente as femininas - que, pelo trailer, me pareceram ser mais fortes que o galã vivido pelo Bardem.

Beijos!

 
At 7:56 PM, novembro 08, 2008, Anonymous Anônimo said...

Pelo visto, "Vicky" é um tanto diferente dos últimos do Allen, mesmo aqueles que foram filmados na Europa. Isso é algo positivo mesmo, fiquei mais ansioso para ver o filme.

 
At 9:23 PM, novembro 08, 2008, Blogger Daniel Sanchez said...

Fim de semana em Oviedo: "Jajajajaja" (rindo em espanhol)

 
At 12:41 AM, novembro 09, 2008, Blogger Vivi Ferreira said...

to louca pra ver o filme, e a trilha deste longa é boa demais!
hehehe
bjokas,
vivi

 
At 1:31 PM, novembro 09, 2008, Blogger Kau Oliveira said...

Sabe, Otavio, a cada texto que leio sobre este filme, com mais vontade eu fico de assistí-lo. Pode até ser por que amo de paixão Penélope e por que sou fã de Allen. Entretanto, o que vc afirmou sobre o diretor voltar às suas origens, me deixou muito feliz.

Sem pretensão nenhuma, ok? Mas eu adoraria ver Cruz recenbendo o Oscar, hahahahahaha.

Abraços.

 
At 9:28 PM, novembro 09, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Valeu, amigos! Acho que vcs vão gostar de VICKY CRISTINA BARCELONA!

Mas quando assistirem ao filme, por favor, não me digam que Woody Allen homenageia ou dá uma de Pedro Almodóvar. Tem gente graúda de grandes veículos do País falando tamanha bobagem. Isso só pq Allen filma na Espanha e fala de relacionamentos com mulheres como protagonistas. Como se Allen só pudesse falar disso em NY. Uma bobagem da grossa, não?

Ora, na esmagadora maioria dos filmes de Allen, as mulheres são as protagonistas. Enfim, nem temos em VICKY CRISTINA BARCELONA as cores berrantes de Almodóvar e até o sexo que se falou tanto durante as filmagens é mostrado por Allen de forma sutil, comedida... Nem temos "homens femininos" em VICKY CRISTINA BARCELONA. Não se enganem, pois isso ainda é Woody Allen.

E isso só prova que tem muita gente por aí despreparada na crítica especializada em cinema no Brasil. E pior: sendo paga pra isso.

Abs a todos!

 
At 11:26 AM, novembro 10, 2008, Blogger fabiana said...

Eu gostei de Match Point e acho bem ok os filmes de Manhattan, mas nem sou fã incondicional de Allen. Não vi, por exemplo 'O sonho de Cassandra' e 'Scoop'. Mas, estou bem curiosa para Vicky Cristina Barcelona!

 
At 5:31 PM, novembro 10, 2008, Blogger Museu do Cinema said...

Woody Allen é gênio, mas me incomoda esse negocio dele filmar todo ano.

 
At 6:06 PM, novembro 10, 2008, Anonymous Anônimo said...

Ah, Otavio, não me diga que não gostas da Isabela Boscov, da VEJA, que fez a comparação entre Almodóvar e Allen??? Eu até aprecio os textos dela. Acho que ela é bem imparcial no que escreve.

Beijos!

 
At 7:11 PM, novembro 10, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Kamila, ela é uma pessoa adorável! E sempre acompanho as críticas da Isabela.

Bjs!

 
At 3:50 AM, novembro 11, 2008, Anonymous Anônimo said...

Acho que parece mesmo ser um Woody novo, a la Almodovor e ousando. Quero muito ver.

Agora, adorei o One Hit Band!

Ciao!

 
At 3:02 PM, novembro 11, 2008, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Almodóvar não é Woody Allen!Não gosto dessas comparações.

Otávio, esse sim nunca erra, e não foi com Vicky Cristina a primeira vez...

Abs!

 
At 3:20 PM, novembro 11, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Valeu, Wally!

Pedro, Clint Eastwood também nunca erra! Só quando ele quer! Lembre-se disso! :) E Woody Allen não é Pedro Almodóvar, nem Pedro Almodóvar é Woody Allen!

Abs!

 
At 4:55 PM, novembro 13, 2008, Blogger Hypado said...

Meu diretor preferido. Quero ver em breve.

 

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