quarta-feira, maio 27, 2009

Anjos e Demônios



Há uma discussão interessante em Anjos e Demônios (Angels & Demons, 2009) sobre o embate entre religião e ciência e o papel da fé e da razão no mundo atual. São dois lados que podem ser vistos tanto como contraditórios quanto como necessários em nossas vidas. E essa é a principal característica a ser valorizada no filme de Ron Howard.

Anterior a O Código Da Vinci, a aventura descrita no livro de Dan Brown foi adaptada para o cinema como posterior aos eventos narrados no filme de 2006 também dirigido por Ron Howard. Sei que alguns fãs acham Anjos e Demônios mais fantástico em relação a O Código Da Vinci, por causa da presença da antimatéria em teoria e prática. Mas acho que uma trama sobre a investigação do paradeiro de quatro cardeais sequestrados no Vaticano por uma sociedade secreta em busca de vingança contra a Igreja Católica é algo muito mais plausível e "pé no chão" que a cruzada pelo Santo Graal e o solo sagrado do Museu do Louvre.

Em si, a trama de Anjos e Demônios é melhor, mas menos curiosa que O Código Da Vinci. Dentro disso, a implicância da Igreja com Dan Brown e Ron Howard é compreensível por causa de Da Vinci, mas não por Anjos e Demônios. Foi no mínimo estranho saber que Howard & Cia. não tiveram autorização para filmar aqui ou ali. O protagonista dos livros jamais ataca os dogmas, porém não acredita neles, mas tanto Brown quanto Howard não reclamam, porque toda essa polêmica só enche
de dinheiro os bolsos da dupla. De certo modo, Robert Langdon (Tom Hanks) começa Anjos e Demônios representando seus criadores ao ser tratado como persona non grata pela Igreja. Mesmo assim, eles não conhecem especialista mais capacitado para auxiliar a Guarda Suíça a encontrar os quatros cardeais e evitar que uma bomba de antimatéria detone o Vaticano e parte de Roma. Muita coisa para um filme de duas horas, não? Pelo menos, não dá tempo de rolar um romancezinho entre o herói e a Langdon Girl, Vittoria (Ayelet Zurer).

Mas, desta vez, o diretor Ron Howard apostou numa narrativa ágil ao priorizar a correria e a tensão, aliadas ao carisma do Prof. Langdon, que era coadjuvante do mosaico conspiratório criado por Dan Brown, em O Código Da Vinci. Essa preocupação com o protagonista não existia no filme anterior e os méritos são mais de Ron Howard que de atores e roteiristas. O diretor conseguiu envolver a plateia que paga caro pra ver cinema e não literatura, por mais que todos queiram apreciar as teorias do autor do livro. E se você quer saber mais sobre antimatéria, Ilumminati e o Caminho da Iluminação, o problema é seu. Leia o livro e seja feliz. O negócio aqui é cinema e não aula de Ciência ou História.

Por mais que você procure por furos na trama, o importante é relaxar e aproveitar a diversão. Há uma cena ridícula, no entanto, que entra em contradição com a proposta narrativa de Ron Howard. É o momento em que o Camerlengo James Bond (Ewan McGregor) explica aos cardeais reunidos para o conclave sobre a história da Igreja Católica. Eu posso não saber da missa a metade, mas aqueles cardeais seriam capazes de gabaritar uma prova sobre tudo o que foi dito pelo personagem de McGregor. Não precisava desse blá blá blá artificial só para situar a plateia leiga. Ok, Ron, eu perdôo você. Até porque você conseguiu filmar Roma e o Vaticano como ninguém antes o fez. Acho que nem mesmo Alfred Hitchcock, que certamente foi uma influência para a condução elegante de sua câmera no suspense de Anjos e Demônios.

Só acho que a estrutura das aventuras de Robert Langdon é sempre a mesma. Explico: No caso do terceiro livro, The Lost Symbol, já estaremos esperando pela reviravolta que apontará um culpado manipulando tudo e a todos.
Alguns podem ver esse ponto de forma positiva, porque o autor exercita seu poder de manipulação. Mas isso também pode virar um clichê dentro da saga de Langdon. Então, abre o olho, Dan Brown.

Mas gostei mesmo foi de ver Robert Langdon sendo questionado sobre sua fé. É a busca pela verdade que move O Código Da Vinci e Anjos e Demônios. Não deixa de ser uma análise das mudanças naturais de percepções e conceitos que o mundo enfrenta neste novo milênio. Há um belo diálogo entre os personagens de Tom Hanks e Ewan McGregor sobre isso. Assim como a cena final, que faz o próprio Langdon ficar dividido entre o profissional e o homem.

Por mais uma vez, Ron Howard fecha seu filme com uma cena de arrepiar ao imaginar uma visão privilegiada que ninguém tem acesso no Vaticano: a janela indiscreta do Papa. Nos bastidores, Vossa Santidade é apenas um homem. Para o povo lá embaixo, ele é a representação humana mais próxima de Deus. E a plateia na Praça de São Pedro é formada por meros mortais capazes de feitos extraordinários, como Robert Langdon. Tudo isso ao som da linda trilha de Hans Zimmer, que alcança o sublime na nova versão com o violino do vencedor do Grammy Joshua Bell. Pena que toca tão pouco durante o filme.

Anjos e Demônios (Angels & Demons, 2009)
Direção: Ron Howard
Roteiro: David Koepp e Akiva Goldsman (Baseado no livro de Dan Brown)
Elenco: Tom Hanks, Ewan McGregor, Ayelet Zurer, Stellan Skarsgård, Armin Mueller-Stahl, Nikolaj Lie Kaas e Pierfrancesco Favino

10 Comments:

At 9:09 AM, maio 28, 2009, Blogger Flávia said...

Ótimo texto! Acho a trilha espetacular, marcante como não se vê há tempos no cinema. Mas eu gostei da cena do discurso no conclave. Mas talvez seja só pq sou fã do Ewan McGregor.

Bjs!

 
At 1:16 PM, maio 28, 2009, Blogger Unknown said...

Estou em dívida profunda com os novos blockbusters! Ainda não assisti "Anjos e Demônios", "Startrek", "Velozes e Furiosos", "X-Men" e "Uma Noite no Museu 2"!!!!!
Vou tentar corrigir o erro com um final de semana dedicado ao cinema.
Mas meu irmão leu o livro e disse que é ótimo. Um primo viu o filme e falou que esperava bem mais.
Veremos.
Abraço!

 
At 4:12 PM, maio 28, 2009, Anonymous Denis Torres said...

Boa crítica, Otávio. Falta mesmo nesse filme aquelas discussões enigmáticas entre Langdon e Teabing, que tornava o primeiro filme interessante. Aliás, o que faz um ator como o Ian McKellen, não? Bem, desviando o assunto, na falta do Papa vcs agora tem o imperador de Roma. E uma coisa que nunca faltou a torcida rubro negra foi a fé. Abs!!!

 
At 2:24 AM, maio 29, 2009, Anonymous Wally said...

Concordo bastante com você. O filme é mesmo bom, e mais interessante em seus conceitos do que "O Código Da Vinci". É cinema bem feito, mesmo que falho.

3 estrelas, idem.

Ciao!

 
At 2:33 PM, maio 29, 2009, Blogger Fábio Rockenbach said...

Dei duas estrelas e meia e explico na crítica porque. O fato de ter lido o livro prejudicou a experiência no cinema porque vi Howard negligenciar momentos que pediam para ser ampliados - a busca no túmulo de São Pedro - e toda a cruzada do Langdon por lugares históricos é minimizada: ele parece estar saindo da sala para entrar no banheiro. Não precisava explicar como no livro todos os pontos e dados históricos, mas a reverência a eles podia ser ampliada, pelo bem do material. E a física nuclear que acompanha ele, especialista em latim e história antiga, é um furo já no livro.
Mas me diverti, como no anterior. Langdon é legal nos livros e no cinema, Que venha "The Lost Symbol", com seus furos, erros e forçações de barra.

 
At 2:35 PM, maio 29, 2009, Blogger Fábio Rockenbach said...

PS: E o melhor momento da trilha são os créditos iniciais. Parecia que eu estava cruzando Paris no final do primeiro filme...

 
At 2:49 PM, maio 29, 2009, Blogger João Vicente Nascimento Lins said...

O pior que por mais que essa série não seja tão maravilhoso os filmes são iguais ao livro, vc começa a ler/assistir e não consegue mais parar (vide ontem assistindo o filme no axn, sem nem pensar em assistir antes, só zapeando e acabei assistindo)tomara que o segundo seja tão bom quanto o primeiro.

 
At 7:35 PM, maio 29, 2009, Anonymous Vinícius P. said...

Pelo jeito "Anjos e Demônios" também apresenta falhas como o primeiro, mas não deixa de ser uma experiência divertida. Escutei esse trecho da trilha e achei maravilhoso!

 
At 8:53 PM, maio 30, 2009, Anonymous Kamila said...

Otavio, seu texto reflete exatamente todas as razões pelas quais eu ADOREI "Anjos e Demônios".

Beijos!!

 
At 12:56 AM, junho 01, 2009, Blogger fichagas said...

Falei desse post no meu blog, Otavio! Mas te digo que o discurso do McGregor no filme é muito insosso e quase sem propósito se comparamos ao livro. No livro, é uma aula. Mas coo vc mesmo disse... cinema é entretenimento! Abs

 

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