segunda-feira, maio 18, 2009

Star Trek


Sinceramente, eu não sou muito amigo de refilmagens, reinvenções e prequels. Mas cá entre nós, Jornada nas Estrelas estava indo de mau a pior no cinema. Desde Primeiro Contato (1996), o melhor (e único bom) filme da Nova Geração liderada pelo Capitão Picard (Patrick Stewart), que a saga não dava uma dentro. Coube a J.J. Abrams, autor de séries de TV criativas como Alias, Lost e Fringe, e diretor de Missão Impossível III, a tarefa de renovar uma das franquias de ficção científica mais nerds e relevantes de todos os tempos. Sua contribuição para o universo de Star Trek (Star Trek, 2009) foi inserir agilidade, dinamismo e ousadia, elementos que vêm dando certo na TV, em um blockbuster com a cara do novo milênio, mas com a alma dos melhores exemplares dos anos 80, que teve a safra de maior qualidade em matéria de entretenimento.

É engraçado admitir isso, afinal Star Trek (como agora somos obrigados a dizer) nunca foi um blockbuster. As aventuras de todas as gerações que surgiram na TV e no cinema sempre foram voltadas para seus fãs, os trekkers. Agora, J.J. Abrams abriu esse universo criado por Gene Roddenberry para outros fãs: os cinéfilos que admiram e respeitam todo e qualquer tipo de bom cinema, independente de gênero, número e grau. Mesmo conhecendo absolutamente nada de Star Trek, o espectador pode (e deve) se divertir durante duas horas do mais puro e belo entretenimento carregado de emoção formada por um ótimo equilíbrio de ação, drama, efeitos visuais e sonoros extraordinários, atores e personagens carismáticos e uma deliciosa nostalgia vinda não exatamente da saudosa série de TV, mas dos bons tempos de George Lucas e Steven Spielberg, que dirigiram e produziram filmes que envolviam, conquistavam e apaixonavam o público em geral pela proposta única de oferecer a diversão mais fantástica de nossas vidas dentro de uma sala de cinema.

Ainda mantendo o otimismo e a celebração do espírito humano visto nas histórias originais de Gene Roddenberry, o diretor J.J. Abrams imagina a primeira aventura dos heróis clássicos da USS Enterprise. Antes interpretado pelo grande William Shatner, Kirk é um jovem rebelde, que já apresenta a elegante arrogância do velho capitão que os fãs conhecem. O novo rosto de Kirk pertence ao ator Chris Pine, que surpreende e entrega uma atuação que honra o carisma de Shatner. Ele não é genial, mas demonstra muita garra em seu primeiro grande papel no cinema.

Quem conhece a série, sabe da amizade entre Kirk e Spock (respectivamente Shatner e Leonard Nimoy no original), mas até esse sentimento se concretizar no filme de J.J. Abrams, os dois se desentenderão de forma insuportável. Isso me leva aos valores básicos de amizade trabalhados pelo diretor, que andavam esquecidos pelo cinemão até que Peter Jackson filmou O Senhor dos Anéis. E desde então, não vi nada semelhante neste quesito. No caso dos novos Kirk e Spock é lindo ver como aquela pessoa que você odeia pode se tornar o amigo de sua vida. Enfim, são valores básicos que a garotada que vai hoje ao cinema não compreende.

Para os fãs de Star Trek, Abrams ainda deixou uma série de referências quase que impossíveis de serem notadas sem uma revisão. Sem falar que a trama é fantástica até não poder mais. Alguns céticos podem reclamar da complexidade da história com suas idas e vindas no tempo, realidades alternativas e a total imersão numa mitologia que só existe do lado de lá da tela, mas não importa o tamanho da universo de Star Trek ou a riqueza de detalhes e a ambição filosófica de Abrams (e dos roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci). O filme funciona porque os atores e os personagens convencem. Porque eles são amigos e valorizam esse elo. Porque eles sabem ser divertidos, sem ser engraçadinhos. Aliás, o timing para o humor é cronometrado com muita precisão pelo diretor. Cada piada, cada olhar, cada cena, tudo está ali por uma razão: envolver a plateia.

Gosto de todos os atores, principalmente do já falado Chris Pine, além de Karl Urban, como o Dr. McCoy, e Simon Pegg, como o Sr. Scotty, papéis que foram de DeForest Kelley e James Doohan, dois atores inesquecíveis. E não dá para esquecer de um irreconhecível e vibrante Eric Bana, como o vilão Nero, assim como Leonard Nimoy, como o velho Spock, numa participação especial, que deveria ter sido tratada como surpresa, afinal a cena em que este ícone da ficção científica conversa com o jovem Kirk é tão bem escrita que representa a síntese de Star Trek. A cena também seria capaz de provocar lágrimas nos fãs mesmo que não houvesse diálogo algum.

O filme empolga pela diversão e, hoje em dia, isso já é motivo para comemoração. Mas nada além disso. Como Batman Begins, o novo Star Trek serviu para tirar o mofo e sacudir a poeira de um mito da cultura pop. Sem desrespeitar os fãs, mas ao mesmo tempo abrindo espaço para aventuras inéditas da Enterprise, o filme organiza a franquia e aponta o caminho para uma sequência ainda melhor e mais ousada, assim como aconteceu com O Cavaleiro das Trevas. Pelo menos, quem conhece os nomes J.J. Abrams e Gene Roddenberry, sabe que ainda há muita coisa para ser desvendada e explorada no espaço, a fronteira final.

Star Trek (Star Trek, 2009)
Direção: J.J. Abrams
Roteiro:
Roberto Orci e Alex Kurtzman (Baseado na série criada por Gene Roddenberry)
Elenco:
Chris Pine, Zachary Quinto, Simon Pegg, Eric Bana, Karl Urban, Dr. Leonard 'Bones' McCoy, Amanda Grayson e Zoe Saldana

Obs: Esta crítica é dedicada à minha avó, a maior fã de "Star Trek" que já conheci, de quem sinto muita saudade.

10 Comments:

At 12:56 AM, maio 19, 2009, Blogger Otavio Almeida said...

Caros, desculpem-me pela demora! Mas, finalmente, eis minha opinião a respeito de STAR TREK. Abs!

 
At 3:44 AM, maio 19, 2009, Anonymous Denis Torres said...

Otávio, vale uma menção honrosa ao Zachary Quinto, que fez um Spock jovem impecável. Um papel difícil que trabalha muito bem a frieza da sua raça Vulcan e a luta em aceitar o lado emocional de sua meia parte humana. Aliás, conheço muita gente na vida real que é desse jeito, rs. E mais uma vez você foi preciso na frase "é lindo ver como aquela pessoa que você odeia pode se tornar o amigo de sua vida". A sequência promete muito mesmo. Abs!

 
At 3:49 PM, maio 19, 2009, Blogger Dr Johnny Strangelove said...

Eu te disse que era foda ...

 
At 3:57 PM, maio 19, 2009, Blogger Mayara Bastos said...

Vejo quarta ou quinta, com ótimas expectativas. Depois passo aqui e expresso o que achei dele. ;)

 
At 7:58 PM, maio 19, 2009, Blogger altieres bruno machado junior said...

Olá

Uau, seus coments so fez aumentar minha expectativa. Não sei se vai dar para eu ir ver no cinema, qualquer eu espero sair em DVD : )

até mais

 
At 1:41 PM, maio 20, 2009, Anonymous Robson Santos Costa said...

Eu gostei do filme mas não achei essa maravilha toda não. Sou fã de Star Trek desde 1991, já vi a série clássica (minha preferida de longe) centenas de vezes.
Sei lá, tem umas coisas dispensáveis: aquele rock no início não combina com o filme; o Kirk comendo maçã em um teste importante da Frota(sem necessidade pra acentuar o sarcasmo e ironia dele)? Algumas partes meio Barrados no Baile? Realidade alternativa só pra ficar livre do universo antigo e não ser muito fiel sem culpa? Vulcano destruído e mãe morta? Sei lá...tenho que ver de novo (infelizmente vi dublado arrrgh, embora a dublagem até que não é das piores, nem um cinema perto de csa legendado, ridículo).
Mas pontos positivos: a participação de Nimoy extremamente emocianante (faltou o Shatner, aí eu chorava); os uniformes iguais a série clássica, os atores ótimos (achei o pai do Kirk mais parecido com o Kirk antigo que o Chris Pine).
Tem gente reclamdno do romance Spock/Uhura (achei um pouco exagerado também, o lógico Spock jamis a beijaria no teletransporte) mas no primeiro ano da série clássica há referências a isso como no episódio "O Estranho Charlie" quando a Uhura toca uma canção de amor pro Spock.
Mais no geral um filme (muito) bom mas que tenho que ver de novo. A mistura de músicas da série clássica nos créditos é 10. Agora o Shatner tinha que tá no filme pra falar a famosa abertura, mas o Spock mandou bem...
O fato é: esse filme foi uma introdução, agora o 2 tem tudo pra, esse sim, ser filmaço...não deixem a peteca cair.
Desculpa o tamnho do texto Otávio, me empolguei.

 
At 1:43 PM, maio 20, 2009, Anonymous Robson Santos Costa said...

Ah e a Enterprise por fora não metade do charme da antiga como a foto que vc colocou abaixo.

 
At 2:57 AM, maio 21, 2009, Anonymous Wally said...

Eu adorei o filme. Muito bem conduzido e possui roteiro bem esperto. O visual é formidável. Antes dele havia visto só os dois primeiros filmes, e considero este o melhor, apesar de gostar muito de "A Ira de Khan". Estou conferindo o resto da saga.

 
At 9:35 AM, maio 21, 2009, Anonymous Robson Santos Costa said...

Wally, veja o 4 e o 6 que são ótimos (o 6 é uma despedida fantástica), só o 5 que é bem fraquinho (embora não seja péssimo). Mas o 4 e o 6 são nota 10.

 
At 1:46 AM, maio 24, 2009, Anonymous Vinícius P. said...

Finalmente vi o filme hoje e adorei, realmente é a surpresa dessa temporada. J.J. Abrams tem um belo futuro!

 

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