sábado, janeiro 13, 2007

Mais Estranho que a Ficção

Muito difícil escrever sobre Mais Estranho que a Ficção, filme de Zach Helm. Não. Deixe-me recomeçar. Muito difícil escrever sobre o novo filme de Marc Forster, de Em Busca da Terra do Nunca, sem entregar partes do roteiro de... Zach Helm. A verdade é que a premissa original - nem tanto, afinal, lembra O Mundo de Sofia - se perde na pretensão de Helm, que tem o roteiro filmado sem intervenção ou qualquer envolvimento emocional por parte de quem realmente deveria mandar: o diretor.

Se o filme fosse resultado de uma adaptação literária, eu diria aqui que se trata de uma "xerox" do livro. Forster confia demais no roteiro do novo "gênio" de Hollywood e entrega uma produção fria e muito arrastada até o final edificante.

Em Mais Estranho que a Ficção, Will Ferrell (em grande momento) é Harold Crick, um homem solitário que parece não ter encontrado seu papel no mundo. Para compensar tudo isso, Crick desenvolveu um método calculista que controla o seu patético dia-a-dia - desde quando levanta da cama até a hora de dormir. Crick pensa ser dono do próprio destino. Isso muda no momento em que passa a ouvir a voz de uma mulher em sua mente, que narra cada um de seus passos e pensamentos. Ele estaria louco se essa mulher não fosse a autora Kay Eiffel (Emma Thompson - magnífica), que escreve seu novo livro cujo protagonista é... Harold Crick. Como em toda sua obra, ela decide matar o herói da história no final. Sabendo que vai morrer, Crick terá como impedir seu destino cruel?

Mas o que parece uma grande sacada do roteirista acaba soando como um artifício, um truque. Todos os passos de Harold Crick são explicados pela narradora, o que irritaria se isso não estivesse inserido no contexto do filme. E toda a primeira metade é tratada com uma frieza incomum. Mas é claro: Kay é uma mulher deprimida que compensa essa dor matando seus protagonistas nos livros. Ela não está nem aí para Harold Crick e, por causa disso, o filme não envolve. A platéia acaba não se importando também se ele irá morrer ou não. O problema é que todo grande filme deixa o espectador envolvido com personagens e história em, pelo menos, 15 minutos de projeção. Isso não acontece em Mais Estranho que a Ficção - algo que funcionaria se a obra fosse um livro. Quem poderia colaborar nesse aspecto era o diretor, mas ele simplesmente olhou a banda passar. É uma pena, já que o texto é bom e poderia gerar um filmaço se houvesse um cineasta de verdade à frente do projeto (e pensando exclusivamente em cinema). Um filme sai da colaboração de toda a equipe - cinema não pode se apoiar somente naquele bom ator com uma bela interpretação ou um roteiro criativo.

Voltando ao truque de Zach Helm: o personagem de Dustin Hoffman acha que Harold Crick deve morrer, afinal o novo livro de Kay é uma obra-prima irretocável. Mas perto do final, a autora conhece Harold Crick em pessoa e começa a se importar com ele. Sua obra-prima fica comprometida. É hora de mudar o final e torná-lo moralista pois, como sabemos, a vida é mais cruel do que a arte. O filme ganha em ânimo e passamos a torcer para que Harold Crick mude o seu destino. Realmente nos importamos. Esperto esse Zach Helm. Por que fazer uma obra-prima se um final moralista deixa o público satisfeito? Não é essa a idéia de Hollywood? Talvez por isso estejam exaltando o trabalho de Helm. Enfim, a indústria encontrou uma voz contra seus detratores.

15 Comments:

At 1:24 AM, janeiro 14, 2007, Blogger Wanderley Teixeira said...

Achei as mesmas coisas que vc sobre Mais estranho que a ficção.O roteiro de Zach Helm acaba criando armadilhas que nos faz pensar q de fato trata-se de algo único,quando na verdade é uma imitação comercial do que Charlie Kaufman já havia realizado em seus roteiros.E Marc Foster se mostra um diretor sem nenhuma marca,indo de acordo com as ordens de seus roteiristas,por isso q de seus filmes lembramos mais dos roteiristas...

 
At 3:10 AM, janeiro 14, 2007, Anonymous Anônimo said...

Realmente esperava bem mais desse filme antes de ver as resenhas de vc e do Wanderley...não sei naum , viu. Esse estilo de filme me atrai muito. Vamos ver, né?

Até mais e parabéns pela ótima critica.

 
At 2:42 PM, janeiro 14, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

É verdade, Wanderley. Entrei no cinema cheio de expectativas e saí muito frustrado... E vc colocou muito bem sobre o Charlie Kaufman. Esse sim é criativo e original.

E obrigado, Rodrigo! Espero não ter acabado com suas surpresas, afinal eu não soube escrever sobre o filme sem citar algumas partes... Isso não vai acontecer sempre, sabe? Não gosto de contar sobre o filme...

Veja e depois me diga o que achou...

Abs!

 
At 8:35 PM, janeiro 14, 2007, Anonymous Anônimo said...

Alguns críticos têm comparado esse filme com as loucuras de Charlie Kaufman e Cia. Preciso ver pra tirar conclusões, mas posso concordar com vc: talvez se a obra fosse um livro, a metalinguagem funcionaria melhor.

abs!

 
At 8:50 PM, janeiro 14, 2007, Blogger Wanderley Teixeira said...

O negocio é esse naum há comparações Kaufman conseguiu um ótimo resultado nesse tipo de abordagem em Adaptação e Mais estranho que a Ficção naum consegue nem chegar aos pés deste filme...

 
At 10:09 PM, janeiro 14, 2007, Blogger Flávia said...

Olha, eu gostei do filme, não é assim extraordinário, mas achei bom. Claro que não vejo com os seus olhos de cinéfilo... O filme demora mesmo até te envolver, mas do meio pro final vc passa a torcer pelo protagonista. Gostei muito das atuações, e da cena dos dois no sofá com o violão...

Acho mesmo que o roteiro, apesar de diferente, não é assim tãaaaaao original, mas hoje em dia, nada se cria...

P.S. Vc contou o filme todo!

Bjs!

 
At 10:21 AM, janeiro 15, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Sim, Flavia. Achei difícil concluir a minha opinião sem mencionar partes importantes. Peço desculpas...

Mas não é um bom filme. Vc disse tudo: Sobre a primeira e a segunda parte do filme. Mas a diferença é que vc caiu nessa...

Bjs!

PS: Pessoal, não pretendo fazer mais isso... Sobre contar o filme, ok?

 
At 5:40 PM, janeiro 15, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Hmm... tem razão, Tulio! Obrigado!! Veja logo! Já estreou por aí?

Abs!

 
At 11:01 AM, janeiro 16, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

FILMASSO!!!

o mais criativo do ano!!!

 
At 11:53 AM, janeiro 16, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Nossa, Tulio! Os cinemas de Goiânia fazem isso? Aqui em SP não temos essas sessões com clássicos como APOCALYPSE NOW. Pena... Sempre quis fazer como nos filmes americanos, quando o Woody Allen entra num cinema de NY para ver algo do Bergman, por exemplo...

Abs!

 
At 12:43 PM, janeiro 16, 2007, Anonymous Anônimo said...

Sim, eu também estou "exaltando o trabalho de Helm"!!!!! E o que leva o venerando autor do blog a dizer que o diretor "olhou a banda passar"?. O autor do blog concede três estrelas para a "O Amor não Tira Férias" - talvez o pior lixo produzido em Hollywood no ano passado, quase insuportável de assistir até o fim - e pinga apenas duas estrelas a um roteiro absolutamente bem-feito e encadeado, com diálogos esmerados, em um filme agradabilíssimo e inteligente? (sem falar nas quatro estrelas de Litlle Miss Sunshine, um pequeno laboratório de obviedades com cara de roteiro independente para o americano médio da era Bush se sentir inteligente).
Venerando autor do blog: menos hollywood, mais cinema. Sobre Stranger Than Fiction, empresto as palavras do Los Angeles Times: Clever throughout, "Stranger" will merit year-end awards consideration, especially for writing and acting. It manages to be smart and surprising and provides this season of serious movies with a much-needed shot of whimsy. As technology threatens to limit human contact, it's refreshing to see a film in which the big questions are handled in an entertaining and thoughtful manner that encourages non-electronic interconnectivity. It may not answer any big questions, but it makes considering them more fun.".
Um abraço ao venerando

 
At 12:53 PM, janeiro 16, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Digníssimo Marcelo, cinema não é literatura! E para quem não curte o Alejandro González Iñárritu como o senhor, e menospreza o trabalho de Sean Penn, como pode me acusar de fã solitário de Hollywood? Vc tb gosta de bobagens do cinemão. Vc é o cara que já me confessou ter gostado de A SOGRA e PROCURA-SE UM AMOR QUE GOSTE DE CACHORROS. Deixe-me gostar de O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS, uai! Não somos tão diferentes assim...

E... já viu o nome do blog?

Abs!

 
At 2:55 PM, janeiro 16, 2007, Anonymous Anônimo said...

O problema não é gostar de lixo hollywoodiano. Afinal de contas fomos criados neste ambiente plástico e nem sempre artístico, que por vezes gera um belo gremlim - e nos emociona. O problema é criticar o pouco de vida inteligente que holywood preserva, e valorizar o lixo "acima" do que é bom.
Humildemente devemos aprender com quem é bom. É preciso ver de novo o que é bom e esquecer o que é bom, e não o contrário. Veja mais uma vez o Helm e esqueça o filme da Cameron Dias... que devia se chamar uma atriz engraçadinha em um museu.
Abssssssssssssssssssssss

 
At 4:16 PM, janeiro 16, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

CUMA??? Belo Gremlin??? I'm sorry... WHAT????

Mas veja só, Ó Marcelo, não sou fanático por O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS. Só gostei... Ora essa! Acho que ainda vou para o céu por isso. E o que significa esse UMA ATRIZ ENGRAÇADINHA EM UM MUSEU???? Hahahhahahahha.... Em que cinema está passando?

Abs!

 
At 11:37 PM, março 06, 2007, Anonymous Anônimo said...

3/4 estrelas.

Genial filme.

 

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