quinta-feira, janeiro 04, 2007

A trilogia de Spielberg sobre a Segunda Guerra

Todo mundo fala sobre A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, os novos filmes de Clint Eastwood. Mas não vejo ninguém comentar o trabalho de Steven Spielberg como o produtor desses dois concorrentes ao Globo de Ouro. A importância de Spielberg cresce se considerarmos que os filmes fecham uma trilogia pessoal do cineasta (iniciada com O Resgate do Soldado Ryan) sobre a Segunda Guerra Mundial.

A ferocidade de O Resgate do Soldado Ryan mudou para sempre o gênero e, para mim, representa o melhor filme da década passada – mais do que A Lista de Schindler, eleito pelos críticos americanos. Mas as preocupações artísticas de Spielberg sempre estiveram diretamente relacionadas com a Segunda Guerra Mundial. O conflito retratado pelo cineasta foi além das telas do cinema – ao lado de Tom Hanks, ele produziu Band of Brothers, a melhor coisa que já fizeram pela TV.

Antes mesmo de ser considerado um diretor sério, Spielberg viu a guerra pelos olhos de uma criança em Império do Sol. Era uma época em que o cinema de Spielberg (e o mundo) era mais inocente. O primeiro e o terceiro Indiana Jones, por exemplo, trazia os nazistas como vilões. O Holocausto como parte devastadora do conflito ditou o seu cinema inclusive em filmes como E.T. – O Extraterrestre e O Terminal – onde “estrangeiros” precisavam sobreviver em ambientes e sistemas, até então, desconhecidos e, por muitas vezes, hostis. Vivendo um período mais amargo, Spielberg optou por contar suas histórias com mais contundência. As ramificações da Segunda Guerra Mundial são retratadas por Spielberg em A Lista de Schindler, claro, e Munique (neste aqui, a briga é outra, mas novamente toca no tema dos judeus). O massacre dos robôs em A.I. – Inteligência Artificial, um dos filmes mais subestimados da década, é obviamente inspirado no Holocausto. Algo que também podemos refletir das pessoas correndo desesperadas dos aliens de Guerra dos Mundos.

Spielberg nunca deixou de analisar a sociedade (e a política) de cada época em seus filmes. Meu colega Luiz Carlos Merten, do jornal O Estado de S. Paulo, considera O Terminal, Guerra dos Mundos e Munique como uma trilogia involuntária do diretor sobre o pós-11 de setembro, sem uma vez citar a catástrofe ou as torres gêmeas. É um ponto de vista interessante e totalmente relevante.

Claro que os filmes são de Clint Eastwood, mas depois de A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, vai ser interessante analisar se Spielberg ainda vê a Segunda Guerra Mundial (e os EUA) como em O Resgate do Soldado Ryan, quando o 11 de setembro estava distante.

8 Comments:

At 11:56 AM, janeiro 04, 2007, Anonymous Anônimo said...

Eu espero que a dulogia de Eastwood não tenha muito de O Resgate do Soldado Ryan, que é um dos piores filmes de guerra que eu já vi, assim como A Lista de Schindler. Ambos são trabalhos imaturos de Spielberg, uma vontade de expor para o mundo um sentimento pessoal de forma grandiosa, convincente. Os filmes dele sobre a guerra já começam como se fossem OS filmes, desde o começo é algo feito para enganar o espectador. Sem hesitar, ninguém me convenceu haver algum outro filme na carreira de Spielberg melhor ou sequer no mesmo nível que a primeira e última obra-prima, Contatos Imediatos do Terceiro Grau.

Abraço!

 
At 11:59 AM, janeiro 04, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Hmm... vc não gosta do Spielberg... hmm... Não considera nem E.T.? E os INDIANA JONES?

 
At 12:03 PM, janeiro 04, 2007, Anonymous Anônimo said...

Cara, gosto muito do Spielberg! Está entre os diretores mais influenciantes (sic) da minha vida! Mas eu só acho que essa história de "filme sério" dele não cola... ele é muito mais "sério" quando faz sci-fis e aventuras, que são justamente gêneros considerados como "infantis". Acho que é o mesmo que acontece com o Ridley Scott. Porra louca, ele dirigiu Alien e Blade Runner, alguns dos filmes mais complexos que eu já vi (especialmente o de 82), mas depois fez merda com Gladiador, que, valha-me Deus!, é justamente considerado um filme "mais sério"...

é mais ou menos isso...

 
At 12:29 PM, janeiro 04, 2007, Blogger Wanderley Teixeira said...

A carreira do Spielberg é vista por mim com uma certa falta de linearidade(desculpem-me seus fãs) no que diz respeito a qualidade de suas obras...Ao mesmo tempo que o cara tem filmes ótimos ,os melhores para mim são A.I.-Inteligência Artificial e Jurassic Park,ele fez filmes que são um pouco desastrosos ao meu ver como Terminal e Guerra dos Mundos.Não gosto muito de suas histórias autoexplicativas,mas enfim vamos ao tema...Gostei muito de A lista de Schindler,O Resgate e Munique,são filmes muito bem realizados.Talvez a sagacidade e as investidas bem sucedidas de Spielberg com relação a Guerra toque em toda a sua história e por isso o cara tenha um olhar tão sensível desse tema.

 
At 4:32 PM, janeiro 04, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Túlio, tb prefiro o Spielberg mais inocente do início da carreira... bom, até JURASSIC PARK, de 93... esse foi o Spielberg mais importante para o cinema. Mas não deixo de ver importância em seus trabalhos "sérios" tb. É um cineasta que sabe acompanhar a evolução do cinema e não fica no passado. Ele sempre soube o que o público gosta ou procura em certa época. MUNIQUE, por exemplo, representa o que Hollywood faz hoje... um cinema mais econômico e sério, sempre comprometido com a situação política e social do momento (claro, que mais preocupada com os EUA). É só ver os cinco indicados ao Oscar de Melhor Filme do ano passado. Spielberg ainda dá o tom das futuras produções de Hollywood. Ainda que ele esteja preocupado com um cinema mais político hoje em dia.

Aliás, seguem os meus Spielbergs favoritos:

1)Os Caçadores da Arca Perdida
2)E.T. – O Extraterrestre
3)Indiana Jones e a Última Cruzada
4)Indiana Jones e o Templo da Perdição
5)O Resgate do Soldado Ryan

Abs,

O.

 
At 5:01 PM, janeiro 04, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

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At 5:06 PM, janeiro 04, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Entendo o que quer dizer com “linearidade”, Wanderley. Mas sempre considerei o Spielberg como autor. Mesmo fugindo de um gênero para o outro. E mesmo assim, ele consegue assinar cada uma de suas produções. Com a cara de Steven Spielberg. Uma marca. Para o bem ou para o mal. E sobre qualidade, eu acho que ele consegue manter isso também. É dessa linearidade que você está falando, não? Mas não penso que ele jamais errou, sabe? Não gosto de O MUNDO PERDIDO – JURASSIC PARK (1997) e dos 20 minutos finais de MINORITY REPORT (2002). AMISTAD (1997) tb não é dos meus favoritos... E do ponto de vista lucrativo, ele salvou Hollywood do buraco nos anos 70, junto com George Lucas. Essa linearidade lucrativa continuou em 90% de suas produções mais comerciais – até mesmo com GUERRA DOS MUNDOS. Sempre soube em que gastar (e quanto gastar), sem dar prejuízo. HOOK não foi bem de bilheteria, mas dois anos depois ele fez JURASSIC PARK e o resto é história.

Abs,


PS: Tb adoro A.I. - Inteligência Artificial!!!!

 
At 7:45 PM, janeiro 04, 2007, Anonymous Anônimo said...

Me too!

 

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