terça-feira, fevereiro 13, 2007

O Diretor da Década

Independente do que faça daqui para frente, Clint Eastwood já tem seu lugar garantido entre os grandes nomes do cinema. Depois de Sobre Meninos e Lobos (2003), Menina de Ouro (2004), A Conquista da Honra (2006) e Cartas de Iwo Jima (2006), seria exagero apontar Clint como o diretor da década? Embora ainda faltem alguns anos, esses quatro trabalhos têm tudo para figurar na lista de críticos e cinéfilos para os melhores filmes de 2001 a 2010.

Claro que outros diretores sacudiram essa década. É o caso de Martin Scorsese, que com Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004) e, principalmente, Os Infiltrados (2006), voltou a colocar o seu nome no topo de Hollywood. Steven Spielberg também fez bonito com A.I. – Inteligência Artificial (2001), Prenda-Me Se For Capaz (2002) e Munique (2005). Mas tanto Spielberg quanto Scorsese já viveram décadas mais proveitosas – como as de 70 e 80 (e 90, no caso de Spielberg). Vale citar Peter Jackson, que talvez tenha feito a produção da década com a trilogia O Senhor dos Anéis (2001/2002/2003), o maior símbolo do cinemão de Hollywood. Jackson também caprichou na refilmagem de King Kong (2005), um dos melhores remakes da história. Mas como será a sua carreira depois dessas extraordinárias aventuras? Talvez ele ainda possa fazer mais e mais. E melhor. Quem sabe?

Já Clint Eastwood é uma lenda viva do cinema. Desde os tempos de ator durão de faroestes como Três Homens em Conflito (1966), de Sergio Leone, ao policial Dirty Harry (1971), de Don Siegel, Clint era adorado pelo público. Ainda assim, naquela época, a crítica teimava em chamá-lo de “canastrão”. O respeito começou com a estréia na direção em Perversa Paixão (1971) – logo depois de uma elogiada atuação em O Estranho que Nós Amamos (1971), de Don Siegel. A verdade é que Clint aprendeu tudo o que precisava para ser um bom cineasta com Leone e Siegel.

Para Clint, o diretor tem que ser muito ruim para estragar tudo. Ele acha que filmes de qualidade saem da colaboração entre ótimos roteiros, atores e, claro, uma precisão cirúrgica na sala de edição. Preocupado com as trilhas de seus filmes e fã assumido de jazz, Clint fez de Bird (1988), um dos grandes filmes sobre personalidades marcantes da música. Por esse trabalho, Clint ganhou o Globo de Ouro de Melhor Diretor e conquistou a crítica de vez. Hoje, ele tem segurança total de seu ofício como ator, produtor, diretor e... compositor de trilhas sonoras. E que trilhas!

Sempre interessado em discutir os dilemas morais de personagens tentando sobreviver em um mundo de violência (física ou mental), Clint aposta a salvação de seus heróis sofredores na importância dos filhos. Na verdade, são conceitos explorados em seus melhores trabalhos por trás das câmeras. Foi assim com Os Imperdoáveis (1992), que lhe rendeu seus primeiros Oscar de Filme e Direção, Um Mundo Perfeito (1993), belíssimo drama subestimado com Kevin Costner, e As Pontes de Madison (1995). Até 2003, Clint se preocupou em realizar produções mais comerciais, que chegavam até a agradar, mas não estavam à altura de sua filmografia. Parece que Clint estava juntando dinheiro para nunca mais se preocupar com os retornos financeiros de seus filmes. Sobre Meninos e Lobos (2003) surgiu como uma carta na manga. Indicado a seis Oscar, o filme levou as estatuetas de Melhor Ator (Sean Penn) e Melhor Ator Coadjuvante (Tim Robbins) – só não ganhou novamente os Oscar de Filme e Direção porque foi o ano da consagração de O Senhor dos Anéis. Nada que não pudesse ser corrigido no ano seguinte com Menina de Ouro (2004). Foram quatro Oscar, incluindo Melhor Filme e Diretor, além de uma indicação como Melhor Ator para o velho Clint. Agora, com Cartas de Iwo Jima (2006), ele emplacou mais quatro indicações da Academia. Trata-se de um filme de suma importância por abordar (com muita delicadeza) a visão japonesa de uma das batalhas mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial – Clint foi ousado e corajoso como nenhum outro cineasta americano em muito tempo. Mas isso é assunto para um próximo post.

Aos 76 anos, ele enche os olhos dos cinéfilos nesta década. Que outro cineasta abordou, em sua filmografia, alguns mitos ou heróis americanos (ou de meninos) como cowboys (Os Imperdoáveis), astronautas (Cowboys do Espaço), policiais (Dirty Harry) e soldados (A Conquista da Honra)? Não é para qualquer um. Spielberg chegou a dizer que Clint é um exemplo, afinal consegue fazer seus melhores filmes depois dos 70 anos. Para Clint, isso é simples. Ele diz que ainda não parou de aprender.

9 Comments:

At 6:42 PM, fevereiro 13, 2007, Anonymous Anônimo said...

Otavio, acho que Clint é mesmo o diretor da década, a não ser que Scorsese e Spielberg venham a fazer filmes muito bons nos próximos anos. "Sobre Meninos e Lobos" e "Menina de Ouro" são excelentes e espero o mesmo de "Cartas de Iwo Jima". Scorsese errou com "Gagues de NY", já Spielberg fez ótimos trabalhos, mas não teve o mesmo reconhecimento das décadas anteriores.

 
At 7:20 PM, fevereiro 13, 2007, Anonymous Anônimo said...

O Clint desafia aqueles que dizem que criatividade e genialidade sao frutos da juventude. Um belo exemplo, sem duvida. Estou louca pra ver "A Conquista da Honra" e "Cartas de Iwo Jima". Abs!

 
At 10:34 AM, fevereiro 14, 2007, Blogger Kamila said...

Eastwood não só é o diretor da década, como é o melhor diretor em atividade. Acho que, há muito tempo, não víamos um diretor entregar bom filme atrás de bom filme. A criatividade e a genialidade dele estão em alta.

 
At 4:03 PM, fevereiro 14, 2007, Blogger Gustavo H.R. said...

A cada ano, Clint Eastwood desconcerta aqueles que, como eu, subestimavam sua capacidade como realizador (por pura ignorância, já que ainda tenho de ver suas produções dos anos 70 e 80). Por mais que se faça uma ou outra objeção aos seus filmes, desde 2003 ele vem demonstrando um controle de qualidade admirável em suas obras. As comparações com Buñuel feitas por alguns críticos, outro cineasta que manteve um nível altíssimo em idade avançada, não parece gratuita.

Spielberg está procurando adentrar novos terrenos (como o fez em "A.I." e "Munique"), mas nem sempre acerta.

Cumps.

 
At 8:42 PM, fevereiro 14, 2007, Blogger Túlio Moreira said...

Otavio, certa vez, numa entrevista que eu fiz com o professor de cinema da UFSCAR, José Gatti, apareceu o assunto Clint Eastwood no meio. Concordo exatamente com as palavras que o entrevistado usou na ocasião: "Clint Eastwood é um diretor tardio, mas que bom que chegou a sua hora."

abs!

 
At 9:42 AM, fevereiro 15, 2007, Anonymous Anônimo said...

P.S.: Sugestão para a "frase da vez":

"The doll is cocaine." Putz, fiquei arrepiado quando Catherine Zeta-Jones disse isso em Traffic, hehehehehehe...

abs!

 
At 10:06 AM, fevereiro 15, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Sábio professor! Não há como ignorar a contribuição recente de Clint Eastwood como diretor...

E obrigado pela sugestão!

Abs!

 
At 8:31 PM, fevereiro 15, 2007, Blogger Susana Fonseca said...

Realmente Clint Eastwood é um realizador tardio, mas que, cada vez mais, surpreende pela criatividade e consistência dos seus filmes.

 
At 12:56 AM, fevereiro 23, 2007, Anonymous Anônimo said...

Otávio, Clint Eastwood é, antes de tudo, um chato. Menina de Ouro não é um filme. É coisa de Oscar.
Sobre meninos e Lobos não é cinema, é coisa de ex-marido de Madonna.
Vá ver o Peter O toole de Venus e esqueça Clint e Helen Mirren...........

 

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