quinta-feira, março 08, 2007

Hollywoodland

Ao assistir a uma produção da época de ouro de Hollywood, sempre passa pela cabeça de qualquer cinéfilo algo como "Não se faz mais filme como antigamente". Parece que tudo era mais fácil para os envolvidos no processo de desenvolvimento de um filme - desde a idéia inicial aos últimos retoques na pós-produção.

Mas não é bem isso o que acontece em Hollywoodland - Bastidores da Fama (Hollywoodland, 2006).
Em 1959, o ator George Reeves, que interpretou Superman na TV americana, cometeu suicídio. Ao menos, essa é a versão oficial. No filme que marca a estréia cinematográfica de Allen Coulter, diretor experiente de séries como Família Soprano, a investigação da misteriosa morte de Reeves deveria ser a parte mais interessante. Mas não é.

O detetive particular Louis Simo (Adrien Brody) não vive um bom momento em sua vida. Com pouca grana, muitas dívidas, uma ex-esposa e um relacionamento problemático com o filho, ele é contratado pela mãe de Reeves, que não acredita na hipótese de suicídio. Jogando todas as fichas na investigação, Simo descobre alguns podres na meca do cinema, que podem reabrir o caso. Em flashbacks, acompanhamos Reeves (Ben Affleck) tentando alcançar a fama em Hollywood. Apesar de atuar em um pequeno papel em E o Vento Levou, não era nada fácil ser contratado se você não tinha o status de um Clark Gable. Sua porta de entrada é um caso com Toni Mannix (Diane Lane), esposa de um chefão de estúdio (Bob Hoskins).

O diretor tenta caprichar no clima noir da metade dedicada ao personagem de Adrien Brody, mas só consegue acertar na cara. Não na alma do gênero. Falta alma ao filme, que parece ganhar força nas partes envolvendo a ascensão e queda de Reeves. E o que dizer de um filme em que a atuação mais vibrante é a de Ben Affleck?

Lógico que o prêmio entregue ao ator em Veneza e a indicação ao Globo de Ouro são exageros, mas Affleck parece que encontrou o papel de sua vida. Ele mostra um Reeves rodeado de incertezas e decepções, mas movido pela esperança. A chance que ele recebe para encarnar Superman na TV é vista sempre com desprezo pelo ator. O filme mostra que ele jamais gostou de usar aquele tradicional uniforme com a cueca por cima da calça. A melhor cena do filme representa o sonho que Reeves almeja: a fama. Um grupo de crianças vai à loucura quando descobre o Superman em um bar. O ator apaga o cigarro (Superman não fuma) e vai até os pequenos fãs para fazer pose de herói.

Como nunca descobriram o que realmente aconteceu com o ator, a investigação de Adrien Brody se torna chata e vai do nada a lugar nenhum. Na tentativa de criar duas histórias poderosas, o diretor acabou fazendo um "meio filme". São erros que não vão manter Hollywoodland na mente do espectador por muito tempo. Antes fosse uma produção sobre a vida de George Reeves, que terminou de forma triste e consumida pela indústria do cinema.

Hollywoodland - Bastidores da Fama
(Hollywoodland, 2006)
Direção: Allen Coulter
Elenco: Adrien Brody, Ben Affleck, Diane Lane e Bob Hoskins

7 Comments:

At 11:53 PM, março 08, 2007, Anonymous Anônimo said...

Estou querendo muito ver desde que saiu o trailer.
Sem dúvida verei este fim de semana.

 
At 12:14 PM, março 09, 2007, Blogger Túlio Moreira said...

Superman não fuma!

Otavio, eu nunca tive esse problema de achar que não se faz mais filme como antigamente, porque sempre gostei mais das produções de 1970 em diante. Mas tenho descoberto o cinema dessa época que passa Hollywoodland, e cada vez mais aprecio a "época áurea" do cinema.

Só uma curiosidade: o Ben Affleck aparece vestindo o uniforme do Super?

abs!

 
At 12:40 PM, março 09, 2007, Anonymous Anônimo said...

Otavio, tenho uma sugestão de frase pra vc colocar no blog:

"I don’t want to be a product of my environment.I want my environmentto be a product…of me."

OS INFILTRADOS

Abs!

 
At 12:50 PM, março 09, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Bela fala, Tulio!

Sim, ele aparece de Superman! Tentando voar e tudo... mostra os "enchimentos" da roupa e revela um truque para a fotografia em preto e branco do uniforme.

As partes com o Ben Affleck são as mais bacanas. Mas como "crítica" a Hollywood clássica, o filme deve cair no esquecimento. Aí vêm alguns filmes na mente como SUNSET BOULEVARD... mas aí é covardia. Só que HOLLYWOODLAND não tem nada de novo... Assim, nenhum apelo... Nada que fique na memória.

Acho que ficaria melhor como uma biografia do George Reeves, inclundo a morte dele. Aí no finzinho, apareceria aquele famoso texto de explicação antes dos créditos, sabe?

Abs!

 
At 6:58 PM, março 09, 2007, Blogger Kamila said...

Não gosto do Ben Affleck, mas vou dar uma chance para "Hollywoodland".

 
At 11:34 PM, março 10, 2007, Anonymous Anônimo said...

Vi o filme hoje e fiquei um pouco decepcionado. Não que seja ruim, mas esperava bem mais, a começar pelo elenco envolvido. Primeiro que o roteiro é totalmente equivocado em alguns pontos (como ocupar boa parte da trama com as possíveis hipóteses de morte do George Reeves, se foi suicídio ou não e blá blá blá). Segundo porque a Diane Lane é mal aproveitada num papel meio ingrato - digo 'meio' porque a atriz, com sua simpatia característica, consegue dar um pouco de 'alma' à sua personagem. Enfim, mas o Ben Affleck está ótimo mesmo (não é exagero dizer que ele é a melhor coisa do filme). Talvez se ele tivesse mais destaque na trama (e não o Brody), tudo fosse diferente...

 
At 5:06 PM, março 11, 2007, Anonymous Anônimo said...

Eu gostei muito do filme. Mais pela parte técnica e pelos atores que entregam excelentes atuações, principalmente Ben Affleck.
O ponto fraco do filme é sua lentidão, mas eu adorei o clima, a atmosfera, os diálogos e a devoção do filme aos seus personagens complexos. Cria uma narrativa bem envolvente e que me conquistou com o estilo e a elegância.
Um ótimo filme.

Eu dou 3 estrelas.

 

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