terça-feira, março 06, 2007

O Último Rei da Escócia

Forest Whitaker ganhou o Oscar de Melhor Ator por sua interpretação do ditador Idi Amin Dada, que aterrorizou Uganda nos anos 70. O engraçado é que ele nem é o ator principal de O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland, 2006). Mas sua presença na tela é tão assustadora, que a imagem do ditador não sai da cabeça por um bom tempo.

Na verdade, o filme não é focado no ditador, mas no recém-formado Dr. Nicholas Garrigan (James McAvoy). Entediado com sua vida na Escócia, ele parte para exercer a profissão em Uganda e, como todo jovem, anseia por um pouco de aventura. Convidado pelo temido Idi Amin para ser seu médico particular, Garrigan embarca numa jornada de amadurecimento e inicia uma inesperada amizade com o presidente admirador dos escoceses.

A grande sacada do roteiro de Jeremy Brock e Peter Morgan é narrar os acontecimentos sob o ponto de vista de Garrigan. No início, ele se dedica ao amigo Idi Amin e ganha até status de conselheiro do presidente. Ele nem liga para os conselhos de opositores, que alertam para o verdadeiro caráter de Amin. Aos poucos, Garrigan enxerga o outro lado do déspota e o filme fica mais violento e tenso nos minutos finais. Talvez o Garrigan do começo de O Último Rei da Escócia represente o perfil de algumas pessoas que simplesmente deixaram Amin ficar no poder por tanto tempo.

Forest Whitaker e James McAvoy contribuem diretamente para essa visão. O vencedor do Oscar de Melhor Ator consegue mudar (em uma fração de segundos) de um sujeito carismático e brincalhão para um monstro capaz das piores atrocidades. Sua atuação sugere que ali existe um ser humano horrendo e o filme jamais recorre a provas, como mostrar Amin executando “rebeldes”. Neste caso, o mérito é 100% de Whitaker. Já McAvoy, o fauno Mr. Tumnus, de As Crônicas de Nárnia (2005), revela talento ao encaminhar seu personagem rumo ao inferno (interno e externo). Garrigan atua como um ponto de equilíbrio para o Amin de Whitaker.

Embora os atores sejam ótimos e o roteiro deixe tudo pronto para o diretor estreante Kevin Macdonald, sua falta de experiência é evidente em alguns momentos. Por exemplo, para explicar a mudança de Garrigan, o diretor deixa a história um pouco de lado para embarcar em desnecessárias imagens lentas e “alucinógenas”, que não acrescentam nada ao filme. Ao menos, em seu primeiro longa de ficção, o documentarista Macdonald entendeu que cinema não é aula de História. Não chega a comprometer o resultado final de O Último Rei da Escócia, que pode servir de treinamento para o diretor, que tem tudo para acertar a mão (ainda pesada) em seu próximo filme. Rodeado de gente boa, ele já está.

O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland, 2006)
Direção: Kevin Macdonald
Elenco: Forest Whitaker, James McAvoy, Kerry Washington, Gillian Anderson e Simon McBurney

7 Comments:

At 4:20 PM, março 06, 2007, Blogger Wanderley Teixeira said...

Apreciei muito mais a atuação de McAvoy nesse filme do q a do Whitaker.E de fato o elemento chave deste filme está em seus protagonistas,o roteiro do Morgan naum está nem tão bom como o escrito pelo mesmo ,A Rainha.

 
At 5:30 PM, março 06, 2007, Anonymous Anônimo said...

Pra mim é um típico filme "carregado" por uma atuação - nesse caso, duas, já que o James McAvoy também está ótimo, mesmo que prefira o Whitaker (que foi o único motivo para eu ir no cinema ver o filme). Além da direção do Macdonald, também não gostei muito do roteiro do Morgan (que não é ruim, mas que em certos momentos toma alguns sentidos duvidosos).

Até mais!

 
At 6:59 PM, março 06, 2007, Blogger Túlio Moreira said...

"(...) encaminhar seu personagem rumo ao inferno (...)"

Quero muito ver esse filme logo, mesmo que alguns cinéfilos tenham falado que só vale pela atuação do Forest como o Idi Amin - o que não dúvido nada, muitos filmes vencedores de Oscar são assim mesmo.

Agora, Otavio, sabe o que falta? Simplesmente as salas de cinema de Goiânia tomarem vergonha na cara!

abs.

 
At 8:57 PM, março 06, 2007, Blogger Kamila said...

Mais um filme que está na minha lista e ao qual eu não sei se poderei assistir.

 
At 10:02 AM, março 07, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Filmão Otávio, ótimo roteiro, excelente interpretações e uma história poderosa, o grande problema do filme é saber o que é verdade e o que foi mentira...

 
At 11:12 AM, março 07, 2007, Blogger Heloísa said...

Até fiquei com vontade de ver agora...rss

 
At 7:33 AM, março 25, 2007, Blogger Revolinker said...

Faltou o elemento político do filme (que surpresa). Apesar de "ameaçar" explicar alguma coisa, no final não se esclarece praticamente nada sobre o ambiente e o mundo de Amin (e da África e sua relação com a Guerra Fria, Inglaterra, Palestina, etc). Enfim... só um relato com pouca abrangência e provavelmente prejudicial para a África . Apesar de, em termos de Hollywood, ter ido muito além de 99,9% dos filmes que tratam dos temas referente á África.

 

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