Cartas de Iwo Jima
A Conquista da Honra é um filmaço, mas Cartas de Iwo Jima (Letters From Iwo Jima, 2006) é uma obra-prima profunda e verdadeira. Esse é o 27º filme de Clint Eastwood como diretor e o melhor de sua carreira.Há uma tristeza amarga em Cartas de Iwo Jima, mas nunca evidente. É a história do lado derrotado em uma das batalhas mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial. Cerca de 22 mil japoneses resistiram ao ataque de aproximadamente 100 mil americanos. A salvação dos soldados pode estar na figura paterna do General Kuribayashi (o extraordinário Ken Watanabe). Mais uma vez, Clint aposta na importância dos filhos para cessar a violência. Quando não há mais saída, a cultura de guerra japonesa solicita o harakiri – um ritual de suicídio e código de honra entre os samurais. Kuribayashi viveu um período de sua vida nos EUA. Ele conhece e admira os americanos, o que gera a antipatia de alguns oficiais japoneses. Por ter uma noção do inimigo, Kuribayashi respeita o harakiri, mas pede para que seus homens lutem até a morte para que o sacrifício não seja em vão. Acredite: você pode não aprovar o harakiri, mas vai respeitar a atitude dos japoneses no filme. É o conflito da honra. Como ótimo contador de histórias, Clint fez a mesma coisa em Menina de Ouro (2004), quando tocou de forma delicada no polêmico tema da eutanásia.
Pode-se dizer também que Cartas de Iwo Jima é uma homenagem de Clint ao cinema japonês, principalmente a Akira Kurosawa. Mas antes de tudo é uma leitura sobre a compreensão do inimigo, algo presente na segunda fase do cinema de John Ford. A coragem do diretor reside na câmera atuando como os olhos do exército japonês. Sempre vistos como inimigos impiedosos e sem alma, eles têm a mesma opinião sobre os americanos. A guerra em Cartas de Iwo Jima não é espetacular. Ela é íntima. Os túneis de Clint Eastwood simbolizam o interior humano. O pior medo está na cabeça e no coração dos homens. Talvez, o que aconteça neste reino (os túneis) seja pior do que ocorre lá fora, ou seja, a guerra propriamente dita contra o inimigo. A violência contra o lado desconhecido surge, primeiramente, do ponto em que o ser humano não se conhece inteiramente. Então, como pode compreender o outro? Há algo dessa idéia no personagem Ethan Edwards (John Wayne), de Rastros de Ódio (1956), o clássico de John Ford – ídolo de incontáveis diretores, inclusive de Akira Kurosawa.
Em uma cena particularmente tocante, um oficial japonês lê uma carta que estava no bolso de um prisioneiro ianque. É de sua mãe. Todos os soldados japoneses ficam comovidos e um deles diz algo assim: “Pensei que eles eram selvagens. Mas a mãe dele não pode ser tão diferente da minha”. Mais tarde, esse soldado japonês é capturado por um pelotão americano e assassinado a sangue frio. Como segmento de A Conquista da Honra, essa parte de Cartas de Iwo Jima se torna ainda mais poderosa. É o reconhecimento de cada um dos lados mostrado de forma sublime e a conclusão definitiva do cinema de que todos saem derrotados em uma guerra.
Cartas de Iwo Jima (Letters From Iwo Jima, 2006)
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Tsuyoshi Ihara, Ryo Kase e Shido Nakamura
17 Comments:
Expectativa grande em relação a esse filme, será o vencedor mesmo?
Tristeza nunca evidente... e você ainda toca em Rastros de Ódio! Perfeito!!!!!!
Otavio, você é a pessoa que mais invejo na face da Terra neste exato momento.
abs! e bom carnaval, seu sortudo!
Minha implicância com os filmes de guerra parecem ser gratuitas,mas muito disto se deve ao fato de naum adimirá-lo ao máximo como diretor e do meu cansaço do gênero em questão.Em todo caso reconheço as qualidades de Cartas de Iwo Jima,bem melhor q A Conquista da Honra.Mais bem dirigido e as cenas nas cavernas são muito boas.Mas infelizmente naum me encheu os olhos.Acho q gostarei de ver mais no lugar de Iwo Jima,Pecados Íntimos ou mesmo Dreamgirls,q ainda naum vi mas já tenho altas expectativas por ser um musical.Já deu para perceber q guardamos posições diferentes quanto a g~eneros.Principalmente Guerra e Musicais...rsrsrsrsViva a diversidade!
Achei um filme excelente, bem superior ao CONQUISTA DA HONRA. No entanto, achei curioso q justamente a cena q vc achou mto boa (qdo o soldado comenta sobre a carta da mãe do americano), achei desnecessária. Qdo a carta é lida, é clara a msg de que ali os japoneses percebem que os americanos tbm são pessoas como eles, e isso não precisava ser explicado logo depois (talvez essa seja um contribuição de Paul Haggis, que fez apenas isso em todo o seu CRASH).
Kem Watanabe é formidável e o tom metafísico adotado por Eastwood, assim como a fotografia, dão ao filme uma profundidade que se aproxima de OS IMPERDOÁVEIS.
Mto bom o seu blog. Parabéns!
www.rosebudeotreno.com
Ah, como eu queria ver esse filme...!
Otavio, fiz um comentario sobre "Little Children" no respectivo post. Abs!
Opa, não assisti à esse filme, mas espero muito. Ahhh, se vc quiser participar do Bolão dos Vencedores ao oscar, passe lá no blog!
Valeu
Estava com muita vontade de ver essa versão japonesa de uma mesma guerra (que acredito ser bem melhor do que A Conquista da Honra, que também não vi). Será que Clint Eastwood ganhará novamente de Martin Scorsese?
Bom carnaval!
Alex, por favor, não toque nessa possibilidade. SCORSESE vai GANHAR o OSCAR com OS INFILTRADOS, aliás, o melhor filme do gênero desde... desde muito tempo!
abs!
Mais um filme que discordamos amigo, achei um bom filme, mas na comparação com A Conquista ele leva a pior, falta folêgo em alguns momentos, o que faz perder o vigor da história, enquanto que as cenas de batalhas, já mostradas no longa anterior mostra-se completamente desnecessárias.
Túlio, não gostaria de ver Scorsese ganhando o Oscar por um filme protagonizado por DiCaprio. Brincadeira!
De qualquer maneira, já passou da hora de Scorsese ser lembrado com o Oscar de Melhor Diretor. Torcemos para que um dia o mesmo aconteça com De Palma...
Olá pessoal! Voltando depois de um longo carnaval... Espero que tenha sido legal para vcs. Vamos lá:
Tulio, CARTAS DE IWO JIMA é um filmaço e talvez ganhe importância com o tempo. É um absurdo a ausência de Ken Watanabe na categoria Melhor Ator do Oscar. Tomara que vc goste do filme... Ah! Concordo com vc sobre OS INFILTRADOS!!!!!
Cassiano, que pena que vc não achou o filme tudo isso... Eu até revi CARTAS DE IWO JIMA e achei qualidades que me passaram na primeira vez. Não sei se o filme ganha o Oscar. Amigo meu da revista SET sempre acerta... ele disse que CARTAS ganha... mas acho que dessa vez ele erra. Hahahaha...
Anderson, muito obrigado. Passe mais vezes para discutirmos mais e mais... esse endereço é o seu site? Vou passar lá.
Rodrigo, vou lá pra apostar no bolão. Obrigado!
Alex, acho que o Clint não ganha dessa vez. Não seria injusto (se não houvesse ali o Scorsese, que já merecia em 1980, quando Robert Redford derrotou TOURO INDOMÁVEL, e em 1990, quando Kevin Costner derrotou OS BONS COMPANHEIROS).
Wanderley, o bom mesmo é discutir a sétima arte com quem realmente gosta dela. Viva o cinema! E agradeço a todos vcs por visitar o blog e discutir esses dois trabalhos do Clint.
Boa semana a todos!
Puxa, Romeika... obrigado! Minhas impressões sobre PECADOS ÍNTIMOS ainda são as mesmas... fiquei decepcionado com o final. É bom, mas é tudo isso o q vc falou... se puder, depois me conta como é o final do livro, por favor. Manda um e-mail pra mim: ottavioalmeida@hotmail.com
Bjs!
Otavio, e enquanto CARTAS não chega a Goiânia, vou aproveitar pra rever OS INFILTRADOS, que reestreou nos cinemas daqui.
Ah, deixei um comentário sobre o Verhoeven lá no Cinema Kabuki.
Abração!
Otávio, adorei "Cartas de Iwo Jima". Achei um filme belíssimo, triste e muito verdadeiro. Concordo com seu comentário de que o filme não faz com que a gente julgue o ritual japonês de suicídio e ainda mais no seu comentário final. A cena que você citou é só uma das lindas cenas que esse filme possui.
Outro belo trabalho do Clint, que merecia o Oscar de diretor de novo, mas ainda acho "A Rainha" o melhor filme de 2006. :-)
Ah, como eu queria ver esse filme...!
(02) !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Otavio, mandei um email contando o final do livro... Nada de "Cartas de Iwo Jima" pra mim=/, mas pra compensar talvez assista "Notes on a Scandal" e "The Good Shepherd".
abs!
Obrigado, Romeika! Vou ler o e-mail. Depois te respondo. E que inveja... vc vai ver o filme do De Niro...
E Kamila, CARTAS DE IWO JIMA é extraordinário! Acho que o Ken Watanabe merecia uma indicação ao Oscar, mas... CARTAS DE IWO JIMA, inclusive, é um filme de extrema importância e que deve ser mais respeitado ao longo dos anos por seu "diálogo e compreensão do outro". Não deixa de ser uma análise ocidental, mas é um olhar com respeito. CARTAS é sobre a inevitabilidade da morte e a jornada do Homem se conhecendo por inteiro para, enfim, compreender o outro.
Bjs!
Postar um comentário
<< Home