quinta-feira, novembro 29, 2007

Um bom ano para Tommy Lee Jones


Há algo em Tommy Lee Jones que eu não consigo expressar em palavras. Talvez a dica para compreender a alma de seus personagens esteja em seu olhar aparentemente triste. Eu disse "triste", mas muitos vêem uma expressão de raiva ali. Pode reparar: os olhos de Tommy Lee Jones estão sempre caídos. São olhos que só podem demostrar o que ele está sentindo. Olhos que devem funcionar como a chave do enigma para decifrar a intensidade de cada uma das reações do ator em cena.

Tem gente que vai dizer que Jones é o mesmo em Três Enterros, No Vale das Sombras e Onde os Fracos Não Têm Vez. Mas não é não. É um ator econômico em suas expressões. Sem dúvida. Mas é grandioso ao lançar um certo (e raro) desafio ao cinéfilo, que precisa compreendê-lo na tela.

Antes dessa "maturidade" do ator, tenho certeza de que vi Tommy Lee Jones em algum episódio de As Panteras. Numa reprise, claro. Não sou tão velho assim. Mas acho que a primeira vez que eu vi Tommy Lee Jones (ou quando guardei o nome dele) foi numa aventura da Sessão da Tarde chamada Piratas das Ilhas Selvagens (pode procurar o DVD nas melhores locadoras, porque ele existe) e, pouco tempo depois, em Os Olhos de Laura Mars, um interessante filme de Irvin Kershner, o diretor de O Império Contra-Ataca.

O reconhecimento veio no início da década de 90 com a elogiada atuação em JFK e o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por O Fugitivo (na época, eu torci pelo John Malkovich de Na Linha de Fogo). Deste momento em diante, Jones começou a moldar esse ator enigmático que conhecemos hoje, uma figura que uns adoram dizer que interpreta a si mesmo (Nicholson e Pacino também recebem tais acusações). Prefiro dizer que Tommy Lee Jones encontrou seu próprio equilíbrio.

Ainda é muito cedo para dizer, mas entre os filmes que vi neste ano, Tommy Lee Jones entregou as melhores atuações do ano em No Vale das Sombras (leia a crítica aqui) e Onde os Fracos Não Têm Vez. O primeiro é dirigido por Paul Haggis, o mesmo de Crash. Repare na cena em que um soldado surpreende Tommy Lee Jones com a notícia do provável destino de seu filho. Preste atenção no rosto do ator. O segundo é dirigido pelos irmãos Joel e Ethan Coen. Dizem que Javier Bardem está sensacional no filme, mas não concordo. A melhor coisa de Onde os Fracos Não Têm Vez é Tommy Lee Jones. Sua principal cena fecha o filme dos Coen. É um monólogo pra te deixar sem palavras na saída do cinema.

2007 foi um ano de grandes atuações: Emile Hirsch (Into the Wild), James McAvoy (Desejo e Reparação), Joaquin Phoenix (Os Donos da Noite), entre outros. Muitos comentam sobre Daniel Day-Lewis no inédito There Will Be Blood. No trailer, ele está mesmo impressionante. Mas sabemos que não é justo avaliar qualquer coisa por um mero trailer. O que sei é: Tommy Lee Jones alcançou um patamar invejável em sua carreira. Será um absurdo não ver seu nome entre os indicados ao próximo Oscar.

6 Comments:

At 10:37 PM, novembro 29, 2007, Anonymous Anônimo said...

Eu nunca gostei realmente de Jones, sempre achei ele seco e tinha grande antipatia por ele. Porém, eu decidi ver Os Fugitivos e Três Enterros de uma só vez e, bem, começei a admirar o ator. Você está certo quando descreve como atua, mas ainda preciso ver os filmes de Haggis e os Coen para poder dizer ao certo. O que é ainda mais interessante é que ele é um excelente diretor. Afinal, o crédito de Três Enterros não é só do roteiro excepcional de Arriaga e as performances.

Ciao!

 
At 11:04 AM, novembro 30, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Tommy Lee Jones é um atorzasso, belo post.

 
At 6:25 PM, novembro 30, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Wally, não sei se vc vai gostar de NO VALE DAS SOMBRAS, mas garanto que vc vai adorar Tommy Lee Jones.

Valeu, Cassiano!

Abs! E bom final de semana!

 
At 1:13 AM, dezembro 01, 2007, Anonymous Anônimo said...

Essas últimas semanas foram péssimas em relação às estréias por aqui. Quer dizer, muitos filmes atrasados finalmente entraram em exibição (como "Garçonete"), mas ainda não vi "O Assassinato de Jesse James", "Viagem à Darjeeling" e o próprio "No Vale das Sombras", só para citar alguns...

Quanto ao Lee Jones, nunca gostei muito dele como ator (adorei seu "Três Enterros"), nem achei merecido aquele Oscar de coadjuvante, mas de vez em quando ele acerta - e sem dúvida esse é um ótimo ano para ele.

 
At 2:59 PM, dezembro 02, 2007, Blogger Kamila said...

Além da "maturidade", Otavio, o que Tommy Lee Jones dá aos seus personagens é um ar de credibilidade. A gente acredita que ele é aquele ser que ele interpreta, mesmo que seja um xerife durão que tem que proteger um grupo de meninas de uma fraternidade de uma universidade dos EUA! :-)

Beijos.

 
At 3:09 PM, dezembro 02, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Vinicius, espero que vc possa ver esses filmes o quanto antes.

Kamila, isso mesmo! E torço por uma indicação ao Oscar e ao Globo para Tommy Lee Jones.

 

Postar um comentário

<< Home