sexta-feira, maio 23, 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal


Como Steven Spielberg prometeu, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008) é um filme para os fãs da série. E digo mais: esse é um filme para quem admira o espírito e, principalmente, o ritmo das produções fantásticas de aventura e ficção científica que dominaram os anos 1980. Muitas delas assinadas pelo próprio Spielberg - seja como diretor ou produtor. Mas se você, amigo, não acredita mais nesse tipo de cinema, escolha outro filme. Depois não adianta reclamar.

19 anos após A Última Cruzada, Harrison Ford envelheceu. Como todo mundo. E o filme leva isso em consideração. Cronologicamente, a trama de O Reino da Caveira de Cristal também deu um salto de 19 anos e foi parar no ano de 1957, a época paranóica da Guerra Fria entre americanos e soviéticos. Saem os nazistas, entram os agentes de Stalin como vilões. O irônico é que Spielberg sempre quis dirigir um James Bond e a Guerra Fria joga Indy exatamente no cenário em que 007 iniciou suas aventuras com Sean Connery no papel principal. É um contexto reforçado pela presença da maravilhosa Cate Blanchett como Irina Spalko, uma agente soviética bizarra, mas capaz de despertar outros interesses no herói sem a ajuda do Viagra, que nem existia naquela época, claro.


Bom, mas se os filmes originais de Indiana Jones bebiam na fonte das matinês dos anos 1930, o novo se inspira no tipo de produção que levava o público aos cinemas nos anos 1950: a ficção científica B, que abordava invasões alienígenas como metáfora para a ameaça externa do comunismo e brincava com essa paranóia americana. E isso é um prato cheio para Steven Spielberg e George Lucas homenagearem não somente Indy e os filmes da dupla, mas o próprio cinema.

O Reino da Caveira de Cristal abre com um racha ao som de Elvis Presley. Sem qualquer diálogo, sabemos que o tempo passou e estamos vendo os anos 1950. Com a abertura bacana, o fã mais atento sabe que veículos em alta velocidade são paixões de George Lucas, que explorou isso em American Graffiti. Outros irão se divertir com as referências aos filmes originais de Indy e clássicos de Spielberg como E.T., Contatos Imediatos do Terceiro Grau e até De Volta Para o Futuro. Até aí, tudo normal para o fã de Indiana Jones, afinal as referências ao cinema sempre fizeram parte da série.

Mas e quanto a Harrison Ford? Ele ainda convence como o arqueólogo? Como Spielberg disse em Cannes, os filmes não seriam os mesmos sem a presença do astro. Quer saber? Ele tem razão. Nada de reinventar o personagem com um Indiana Jones Begins. Quando Ford aparece em cena pela primeira vez com o chapéu de Indy, o fã se enche de alívio e alegria. Ele ainda é Indiana Jones. Velho, mas ainda disposto, destemido e, graças a Deus, sempre desengonçado, ele foi afetado pela idade, mas o cara ainda agüenta a quilometragem. Inclusive, o filme respeita a inteligência da platéia ao evitar cenas muito brutas com Indy. Por exemplo, não vemos o vovô Jones sendo arrastado por caminhões ou esmagado por tanques - o que não seria plausível atualmente nem mesmo quando o assunto é Indiana Jones.

Eu citei o ritmo do cinema dos anos 1980 presente em O Reino da Caveira de Cristal. A ação deste filme, especificamente, remete a Os Caçadores da Arca Perdida, que tem mais história e menos correria - diferente de O Templo da Perdição e A Última Cruzada, que são mais acelerados. Mas quando os exageros habituais da série surgem na tela, a ação é espetacular. E é puro Indiana Jones. A perseguição de jipes e caminhões na selva amazônica é sensacional e ficará marcada na série. São momentos divertidíssimos a mil por hora com Shia LaBeouf mostrando carisma e habilidade para esse tipo de filme. E com Harrison Ford provando que ainda pode sair no sopapo com um inimigo grandalhão (cena que tem em todos os quatro Indiana Jones). A ação dos jipes inclui macacos, cataratas e formigas gigantes devoradoras de homens (é isso mesmo o que você leu). Mais uma vez: Isso é diversão. Isso é Indiana Jones.

Também citei o espírito dos filmes originais e da década de 1980. Começa pela fotografia do grande Janusz Kaminski, que assistiu aos três Indiana Jones para seguir o estilo de Douglas Slocombe, que já se aposentou. Vemos um trabalho contido do diretor de fotografia, que adora estourar a luz em muitas cenas e ele faz isso neste filme, embora em pouquíssimos frames. Nas seqüências de ação, felizmente, o editor Michael Kahn e o diretor Spielberg ainda trabalham como antigamente. Ou seja, Indy envelheceu, mas parece que A Última Cruzada foi ontem. Mas toco em um ponto importante para desenvolver o assunto: diferente de George Lucas, Spielberg se recusou a exagerar no uso de CGI em O Reino da Caveira de Cristal. Veja bem, meu caro, os efeitos digitais estão lá, mas comedidos. Lembre-se do clímax de Os Caçadores da Arca Perdida, por exemplo, com aquelas almas penadas voando e levando os nazistas para o céu, etc. O clímax de O Reino da Caveira de Cristal lembra muito o final de Caçadores, mas seria absurdo não aproveitar os recursos da tecnologia atual em cenas que exigem um visual extraordinário ou fantástico diante de nossos olhos mortais. Mais uma vez, aproximei o clima do filme novo com o original de 1981. É bom você não esquecer disso.

Mas o que mais me chamou a atenção, além da reconstituição fiel dos anos 1950, que não vejo de uma forma tão bem feita no cinema desde De Volta Para o Futuro, é o tema principal de O Reino da Caveira de Cristal. O filme é sobre educação e conhecimento. No início, o reitor da universidade interpretado por Jim Broadbent diz a Indy que ambos estão numa fase em que a vida não dá nada e só tira. É a parte mais emocionante e o herói realmente considera que chegou a hora de se aposentar, mas quando ele conhece o impetuoso Mutt Williams (Shia LaBeouf), tudo muda. O professor universitário que ensina a teoria, descobre que ainda tem muito a aprender e também a ensinar. Mais responsável, Indy precisa dosar a juventude de Mutt, que também faz o herói lembrar que a prática é mais divertida do que a teoria. O ensino se baseia na troca de experiências e o maior tesouro de todos é o conhecimento. Ou seja, a vida não pára. E o contexto se encaixa perfeitamente ao significado dos crânios de cristal, que não posso comentar ou isso estragaria a sua experiência.

Eu poderia escrever um texto até amanhã, mas bastaria dizer que Spielberg devia um filme divertido para o seu público. Ele ensinou ao mundo que o bom cinema também pode ser divertido e, agora, dá novamente o recado. Para isso, ele trouxe Indiana Jones de volta - heróico, apaixonado pela antiga namorada Marion Ravenwood (Karen Allen) e mostrando que, apesar da idade, o chapéu tem dono. Literalmente.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: David Koepp
Elenco: Harrison Ford, Cate Blanchett, Karen Allen, Shia LaBeouf, Ray Winstone, John Hurt e Jim Broadbent

15 Comments:

At 9:17 PM, maio 23, 2008, Blogger Pedro Henrique Gomes said...

Ótimo texto, Otávio!
Pois é, eu ainda não vi. Vou ver só daqui uns dias. Mas é bom saber que o filme diverte, afinal, isso que é Indiana Jones, pura diversão.

Abraço!!!

 
At 9:48 PM, maio 23, 2008, Blogger Fábio Rockenbach said...

Bela análise. Como formei minha paixão pelo cinema acompanhando Indy, sofri um misto de decepção e entusiasmo ao longo do filme. Dei nota 8 para ele no blog e recomendei em minha crítica ao jornal exatamente porque, como vocë comentou, é um típico filme de Indiana Jones, feito para quem sempre amou Indiana Jones. Há determinados exageros - a "homenagem" a tarzan e John Hurt ficaram meio fora do contexto - mas na soma geral, ver Indiana Jones de novo nas telas não tem o que pague. É embarcar em uma montanha russa e sair andando com a sensação de sair rodopiando. Lamento apenas, Otávio, que o trabalho de john Williams não tenha a mesma qualidade dos anteriores. Ele faz uso dos temas de Caçadores e de Cruzada em dois momentos nostálgicos mas falta uma identidade própria á trilha de "Reino..."
Fora isso... é Indiana Jones em tela grande, de novo. Isso basta.

 
At 10:05 PM, maio 23, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, concordo com todos os pontos do seu texto e achei o filme divertido como pouco se consegue fazer no cinema atual. Como fã da série, você deixou propositalmentede fora os pontos negativos, que são poucos. Karen Allen está deslocada no filme e claramente sem ritmo para cenas de ação, principalmente quando ela dirige o jipe no penhasco e só sabe ficar dando risadas numa situação alarmante. A perseguição de jipes é uma ótima cena, mas Shia LaBeouf dando uma de tarzan nos cipós e as 3 quedas gigantes com o pessoal dentro do jipe foi forçado demais! Isso não estraga o filme, mas deveria ser pensado uma melhor solução para essas cenas. Adorei quando eles estão na nascente do rio Amazonas e citam que sleep em português é sono, claramente reconhecendo o Brasil como um dos países visitados por Indie na sua rica trajetória pelo mundo. Coisa que poucos filmes fazem, sempre achando que a língua no Brasil é espanhol. Chupa Argentina! O final é 10 e mostra que Indiana Jones é um só e se chama Harrison Ford, pois por um momento eles brincaram com a idéia que Shia LaBeouf seria o sucessor e a série continuaria... Abs.

 
At 3:10 AM, maio 24, 2008, Anonymous Anônimo said...

Texto excelente! Me animou e muito para DOMINGO! Eu tinha ficado desanimado com alguns comentários. Mas você reviveu minha ansiedade.

Ciao!

 
At 3:26 AM, maio 24, 2008, Blogger Rodrigo Fernandes said...

pra mim foi somente uma diversão... nada mais...
naõ sou fã de Indy como vc e tantos outros blogueiros por aqui... até, acho que mais pela razão da minha idade... mas senti que o filme exagerou demais nos efeitos especiais, uma história cheia de fugas mirabolantes e um complexo enorme do Harrison Ford em ser CHuck Norris ao sobrebiver a uam explosão atomica e a uma queda nas cataratas... tudo isso achei extremamente forçado, mas 'engoli' por se tratar de uma aventura e estar me divertindo... até 'engoli' tambe´m as baboseiras que aquele professor amigo do Indy que pirou falava ao longo do filme e a explicação furada que ele deu no final do filme... mas é a volta do Indy... e por isso valeu como diversão...

 
At 8:59 AM, maio 24, 2008, Blogger Dr Johnny Strangelove said...

Esse ano não está sendo um ano do cinema ... mas sim para os fãs de cinema ...

Estamos vendo os verdadeiros herois das nossas infancias se tornando real ou voltando a encantar os nossos olhos. mas a nova geração está realmente longe de compreender a essencia de ver algo que só viamos ou no dvd, ou na tv.

O mais importante para nós, fãs, é que ele está de volta depois de tanto tempo. se alguns acharam isso ou aquilo, nem se importa, o importante é ver algo que enche os nossos olhos e a alegria de estar dentro de uma sala de cinema, vendo a fantasia e a diversão rolar
abraços

 
At 3:23 PM, maio 24, 2008, Blogger Robson Saldanha said...

Vou nem ler. Quero ver, é quase uma promessa, tenho que rever os três antes!

 
At 4:51 PM, maio 24, 2008, Blogger Kamila said...

Otavio, entendo seus argumentos e gostei do seu texto. Mas, não gostei muito do filme.

Acho que a parte técnica foi perfeita, especialmente a direção de arte e figurinos. Mas, o roteiro nunca decola. O filme não conseguiu me deixar empolgada.

Beijos!

 
At 1:25 PM, maio 25, 2008, Blogger Otavio Almeida said...

Sim, Pedro! É "apenas" diversão! E uma ótima ficção científica!

Sim, Fabio! É a trilha mais fraca da série. Mas John Williams brinca com as notas de CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU para fazer o tema do crânio de cristal. Prestou atenção nisso?

Denis, Indiana Jones sempre foi forçado demais! E você acha que a ação de hoje de JASON BOURNE é totalmente realista perto de INDIANA JONES?

Wally, eu adorei. Vi ontem pela segunda vez e gostei ainda mais. Mas ainda prefiro os anteriores.

Rodrigo, tem razão. É muito divertido. E é isso.

Johnny, você disse tudo. Concordo 100%.

Robson, é bom rever os anteriores para entrar no clima.

Kamila, que pena... Mas respeito sua opinião, claro. Vi de novo ontem e quero ver pela terceira...

Abs!

 
At 1:33 PM, maio 25, 2008, Blogger Dr Johnny Strangelove said...

e outra ... Jason Bourne sucks!
revi ontem o filme de novo ... passou tão rapido ... isso prova que tudo que é bom é tão rapido e gostoso de se provar ...
abraços

 
At 8:53 PM, maio 25, 2008, Blogger Flávia said...

Eu ameeii o filme. É exagerado, é divertido, é Indiana Jones. Quero ver denovo.

Bjs

 
At 11:45 PM, maio 25, 2008, Anonymous Anônimo said...

Otávio, há uma linha entre o forçado que você consegue acreditar, o que é o caso dos filmes anteriores. Já neste último filme a forçação em algumas cenas é absurda, o que tira aquela áurea do palpável e entra na área do "acredite se puder". Por exemplo, a cena da explosão nuclear (sim, nuclear) em que Indiana é arremessado pelos ares a quilômetros de distância dentro de uma geladeira jamais aconteceria nos outros filmes. Talvez o único filme das séries anteriores que tenha situações parecidas é O Templo da Perdição, que a maioria dos críticos e pessoas consideram sempre em 3ºlugar. Os filmes da série Jason Bourne se passam na era moderna e por isso tomam mais liberdades, pois Jason Bourne é uma máquina de guerra treinada e quase infalível. Indiana Jones sempre foi em sua essência um herói à antiga, clareamente baseado nos ídolos de ação das matinês antigas, como Errol Flyn e outros, e é exatamente nisso que consiste o seu charme, pois é um personagem com defeitos e o mais próximo de seres humanos normais, como nós. Essa é a essência desse personagem e a razão principal de seu sucesso. Abs.

 
At 10:31 AM, maio 26, 2008, Blogger fabiana said...

http://imitation-off-life.blogspot.com/2008/05/indiana-jones-e-o-reino-da-caveira-de.html

 
At 12:58 PM, maio 26, 2008, Blogger Ygor Moretti said...

Ta ai seu texto me deixou mais animado pra ver o filme parabens. Lembro da série Indiana que foi um do sprimeiros filmes que eu vi ainda no Boom do Video Cassete... Nostalgia pura rsss.

 
At 12:01 PM, maio 30, 2008, Blogger Gustavo H.R. said...

Olá, Otávio! Agora me recordo que já visitei seu lugar algumas vezes e, salvo engano, já até tinha lido algo sobre INDIANA JONES aqui antes!

Dá para perceber o quanto você admira a série e o personagem, o que é ótimo pois algumas das críticas mais impiedosas ao novo filme vêm justamente de alguns fãs que estavam esperando alguma coisa diferente (o que será?).
Realmente um dos destaques do roteiro é sua atenção a temas como o conhecimento e o aprendizado - não é todo arrasa-quarteirão que se preocupa em adicionar substância em meio à ação.

INDY IV é uma grande diversão, e algo mais.

Cumps.

 

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