segunda-feira, junho 04, 2007

Zodíaco


No extraordinário Zodíaco (Zodiac, 2007), o diretor David Fincher (Seven, Clube da Luta) não quis contar novamente a história do jogo de gato e rato entre policiais e um serial killer. O interessante é que também não deixa de ser isso, além de uma crítica ao comportamento social e institucional. Na verdade, acima de tudo, Zodíaco é um filme sobre a obsessão do ser humano na busca por respostas nesta vida. Custe o que custar. E esse não é apenas o trabalho mais maduro de David Fincher. Até agora, Zodíaco é o melhor filme do ano.

O cenário é a Califórnia apavorada do final dos anos 60, e início dos 70, com uma série de assassinatos, principalmente, de casais adolescentes em plena época da liberação sexual. Uma pessoa assumiu os crimes e mandou cartas enigmáticas a jornalistas e policiais, que sempre tinham o mesmo início: “Aqui quem fala é o Zodíaco”. Ele fornecia pistas para comprovar sua autoria e alertava que iria fazer novas vítimas. Mais do que as investigações e as cenas tensas de assassinato, o filme dá importância às conseqüências dos ataques do Zodíaco nas vidas de três personagens: o cartunista Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), o jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr., que merece uma indicação ao Oscar de Coadjuvante), ambos do San Francisco Chronicle, e o policial Dave Toschi (Mark Ruffalo). Não falo de conseqüências físicas, mas psicológicas.


O trio principal precisa conhecer a identidade do assassino, principalmente Robert Graysmith, que escreveu os livros Zodiac e Zodiac Unmasked: The Identity of Americas Most Elusive Serial Killer Revealed. Mais do que buscar respostas, Fincher está preocupado em mostrar como as pessoas perdem o rumo por tão pouco. Esse é o filme que você vai ver. Não espere um outro Seven.

A análise do diretor sobre a obsessão humana por respostas é levada ao limite. Essa busca da sociedade está em pequenas coisas. Quantas pessoas você conhece que reclamam do final de um filme ou livro que não deixam respostas fáceis? Às vezes, essas perguntas estão na história do mundo como “Quem matou John Kennedy?” ou “Quem foi o verdadeiro arquiteto do 11 de setembro?”. E, claro, existem questões maiores como as dúvidas eternas sobre os segredos do universo. Ou seja, tudo intriga a mente humana. Resolver um grande mistério traz uma sensação de alívio e ordem, além da noção de nosso papel dentro da sociedade e a aceitação de nossa própria existência.

Fincher também alfineta a importância dada pela imprensa a um caso que não tem mais apelo popular. Quando deixa de ser interessante perseguir um assassino? Diversas pessoas morreram em vão? Fincher também cutuca quem acha que o cinema é responsável por atos de violência dentro da sociedade. O diretor mostra como o tal Zodíaco influenciou Hollywood. Por exemplo, numa cena, Graysmith está no cinema que exibe uma produção claramente baseada nos acontecimentos. Na saída do local, ele passa pelo pôster de um filme de Dirty Harry, em que Clint Eastwood perseguia um assassino inspirado no dito cujo. Aliás, há um minucioso trabalho de reconstituição de época (o cenário do San Francisco Chronicle tem cheiro do Washington Post de Todos os Homens do Presidente). O diretor ainda brinca com as diferenças tecnológicas dos anos 70 com a atualidade. Se fosse hoje, estudos de DNA e até a utilização de celulares e e-mails evitariam tanta dor de cabeça nas investigações.

Do ponto de vista técnico, Zodíaco é o filme mais contido da carreira de David Fincher. E ele ainda sentiu liberdade para exercitar suas habilidades com a câmera em, particularmente, três momentos. A primeira seqüência envolve a viagem da carta inicial do maníaco até a redação do San Francisco Chronicle. A segunda é uma vista aérea que acompanha a trajetória de um táxi pelas ruas da cidade. A terceira delas é a mais assustadora do filme: a fuga de Robert Graysmith de um porão. É o suspense elevado ao quadrado. Ao cubo, talvez. Para terminar, gostaria de citar a excelente trilha escolhida para retratar as diferentes décadas do roteiro com destaque para Miles Davis, John Coltrane, Santana, Three Dog Night, entre outros. E a canção Hurdy Gurdy Man, do escocês Donovan, nunca tocou tão apavorante como nos créditos finais de Zodíaco.

Zodíaco (Zodiac, 2007)

Direção: David Fincher
Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr, Anthony Edwards e Chloë Sevigny

21 Comments:

At 7:55 PM, junho 04, 2007, Blogger Wiliam Domingos said...

Irei Quarta conferir este tão comentado de Fincher!
Pela sua crítica, estou prestes a ver uma bélissima produção!
xD
abraço
http://eco-social.blogspot.com/

 
At 8:18 PM, junho 04, 2007, Blogger Alex Gonçalves said...

Interessante esta medida tomada por Fincher: levar até as últimas consequências a obsessão de um ser humano por enigmas.
O elenco é fabuloso e o diretor é um dos melhores na ativa. Provavelmente deve ser uma ótima obra.

 
At 9:04 PM, junho 04, 2007, Anonymous Anônimo said...

Puxa, Otavio, se você diz que "Zodíaco" é o melhor filme do ano até agora, é algo que posso acreditar. Estou contando os dias pra ver esse filme, pena que não chegou aqui (mas deve chegar nessa ou na próxima semana). Bela crítica, uma das melhores já publicadas aqui.

Abraço!

 
At 1:44 AM, junho 05, 2007, Anonymous Anônimo said...

Não leia se não tiver visto o filme, pois contém spoilers e pode estragar a apreciação do filme:

Realmente Otávio, concordo com vc em grau e gênero. Fui assistir este filme no dia do lançamento e superou minhas expectativas. É o melhor filme que vi nos cinemas até agora neste ano. É uma pena que tenha pessoas que esperam mais do mesmo e se decepcionem com o filme, acreditando que Zodíaco seria parecido com Seven, pois vi várias pessoas reclamando ao final da projeção, principalmente por desejarem que o culpado seja pego no final. É aí que as pessoas falham no entendimento do filme, pois a abordagem do Fincher é fiel a história real e mais do que original ao mostrar o efeito tão devastador quanto um assassinato na vida daqueles que participavam intensamente na investigação sobre o serial killer Zodíaco, principalmente no repórter e cartunista do Chronicle. Um filme que merece ser revisto o quanto antes, de tão bom.

 
At 9:04 AM, junho 05, 2007, Blogger Flávia said...

Querido, se o filme for tão bom quanto esse seu texto, deve ser mesmo uma obra-prima.

Bjs!

 
At 10:48 AM, junho 05, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Muito obrigado, pessoal! É um grande filme mesmo! Obra-prima? Não sei. Muito cedo pra dizer algo assim. Não sei ainda se é o meu filme favorito do David Fincher, mas certamente é o mais "adulto" da carreira dele.

E concordo com vc, Denis! Quero muito rever o filme. E não é mesmo um filme para a "massa". E é longo (cerca de 2h40). Os nomes "Seven" e "Clube da Luta" no poster estão lá para vender o filme. Mas às vezes, isso atrapalha. Mesmo nessa era de tanta informação, tem gente que ainda vai desinformada aos cinemas. Tem gente que nem sabe que o filme é baseado em fatos reais... E ler que é do diretor de "Seven" faz vc esperar uma coisa... É perfeitamente compreensível a decepção da maioria.

Abs!

 
At 12:48 PM, junho 05, 2007, Blogger Ronald Perrone said...

concordo que é um filmaço, mas só não acho que é o melhor do ano por que eu acabei vendo Grindhouse antes da hora... então pra mim é Death Proof do tarantino... mas com certeza, entra na lista dos melhores do ano fácil!
Abraços!

 
At 2:19 PM, junho 05, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Ah, mas assim não vale, Ronald! Eu não vi GRINDHOUSE ;-)

Abs!

 
At 3:19 PM, junho 05, 2007, Blogger gustavo said...

filmaço mesmo !!!!
concordamos quanto a futura indicação do Downey Jr...
só acho que a hloë Sevigny merecia mais atenção no filme...

 
At 4:28 PM, junho 05, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

É um bom filme, mas tá muito longe dos anteriores do diretor, mas isso acaba sendo uma questão pessoal no fim das contas, como acontece com Tarantino por exemplo.

O fato é que a trilha foi excepcional, uma escolha muito boa mesmo e q tem tudo a ver com o tema.

 
At 5:19 PM, junho 05, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Pois é, Gustavo! Embora o Jake Gyllenhaal esteja ótimo, tem algo de monstruoso na entrega do Robert Downey Jr.

Cassiano, a trilha é mesmo excepcional!

Gente, na enquete anterior ("Até agora, qual foi o melhor filme de David Fincher?") deu empate entre SEVEN e CLUBE DA LUTA. Agora, temos uma nova enquete aí ao lado.

Abs!

 
At 10:36 AM, junho 06, 2007, Blogger Carla Martins said...

Tô louca pra ver esse filme! Adoro o estilo do David Fincher!

Seu texto tá ótimo!

Beijos

 
At 10:40 AM, junho 06, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Obrigado, Carla!

Bjs!

 
At 11:08 AM, junho 06, 2007, Blogger Museu do Cinema said...

Otávio, tô esperando a trilha hein!

 
At 12:38 PM, junho 06, 2007, Blogger Heloísa said...

Me impressionou, sabia? Tanto o filme quanto sua crítica! Parabéns, viu???

 
At 5:46 PM, junho 06, 2007, Blogger Rodrigo de Oliveira said...

E aí, Otávio? Agradeço a visita e a retribuo. Bela crítica sobre este excelente filme do David Fincher. Noto que, coincidentemente, assim como no meu blog, há uma crítica aqui sobre "Todos os Homens do Presidente", outro longa-metragem que privilegia a investigação. Abraço.

 
At 8:13 PM, junho 06, 2007, Anonymous Anônimo said...

Um dos 5 melhores filmes do ano, Zodiaco é uma obra de mestre perfeita e completa, fico sem palavras para descreve-lo

4/4 estrelas ou 5/5 estrelas

 
At 1:48 PM, junho 09, 2007, Blogger Wanderley Teixeira said...

Zodíaco tb me pegou de jeito cara.Os recursos utilizados por Fincher para determinadas cenas como a do Taxi e a do porão são formidáveis.E ainda tem o melhor desempenho da carreira de Gyllenhaal(sério mesmo!) e o retorno de Downey Jr.
O filme q mais gostei do Fincher!

 
At 3:26 PM, junho 11, 2007, Blogger Dani Fernandes said...

Ok, me convenceu... Fiquei louca pra assistir!
Parabéns pela crítica, viu?
Bjs

 
At 5:56 PM, junho 11, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Obrigado, pessoal! E eu gostei bastante do filme! E... Kamila... vc ainda não viu?

[]s

 
At 1:55 AM, junho 23, 2007, Anonymous Anônimo said...

Sabe o q falta nesses filmes?
Caras fodas com Sylvestre Stallone para estrela-los!

Esses atores saum fraquinhos de mais!

 

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