sábado, agosto 11, 2007

O segredo do MacGuffin


O grande Alfred Hitchcock talvez nunca tenha se considerado como intelectual ou teórico. Mas o cara foi um gênio do cinema. Ele não definiu somente um padrão para o bom suspense na tela, mas também conseguiu usar uma narrativa capaz de envolver até mesmo o sujeito mais cético da platéia. Hitchcock foi um exímio contador de histórias e, ao mesmo tempo, um cineasta habilidoso com a câmera. Se ele jamais se achou um gênio, então o que dizer, no mínimo, do MacGuffin? Aliás, você sabe o que significa a palavra MacGuffin?

Esse é o termo popularizado pelo diretor para identificar um objeto que não tem a mínima importância para o espectador, mas que pode valer a vida do protagonista. É a mulher morta, em Janela Indiscreta, ou a pedra que faz Cary Grant arriscar a vida de Ingrid Bergman, em Interlúdio. Um outro exemplo é o dinheiro que a personagem de Janet Leigh rouba em Psicose. Embora seja importante para a moça, a grana é irrelevante para a trama, que se concentra no suspense do Motel Bates. Ou seja, MacGuffin não é um simples exercício narrativo. O termo pode ser o motivo da trama.

O artifício também foi muito bem utilizado por outros cineastas. Em O Falcão Maltês, o MacGuffin de John Huston é a própria estatueta da ave - aquela que todos procuram. E o Rosebud de Cidadão Kane? Em Os Caçadores da Arca Perdida, um ótimo exemplo de como usar o MacGuffin em um gênero que não seja o suspense, Spielberg colocou o mistério dentro da arca. O que tem dentro dela? Por que é tão poderosa?

O cinema atual também tem seus MacGuffins. Você lembra de alguns? Temos exemplos diretos como a mala de Pulp Fiction, a valise de Ronin e o Pé de Coelho de Missão Impossível III. Entre alguns exemplos indiretos, destaque para a caixa da Fedex que Tom Hanks não abre em Náufrago e a pergunta por trás de A Identidade Bourne e A Supremacia Bourne: Quem é Jason Bourne?

Ainda assim, a Hollywood de hoje tem pouca confiança na platéia e quase não corre riscos. Muitas vezes, o andamento de um bom filme é comprometido por respostas que acabam com todo o mito em torno de um MacGuffin. Infelizmente, o termo também é um motivo para qualquer amante da sétima arte cair na real e compreender que já não se faz cinema como antigamente.

8 Comments:

At 12:51 AM, agosto 12, 2007, Anonymous Anônimo said...

Sem dúvida, o melhor e mais relevante texto que já li aqui no Hollywoodiano. O cinema atual realmente está necessitando alguns MacGuffins e mesmo que ainda não tenha vista NENHUM filme de Hitchcock (não me culpe, culpe a falta de cultura de onde moro), compreendo o que você quis dizer e o ponto que queria chegar. Os melhores filmes são movidos por mistérios, elementos e se não somos envolvidos por um filme, ele obviamante falha e o MacGuffin é um elemento crucial na hora de envolver. Parabéns pelo texto.

O melhor MacGuffin de qualquer filme que já vi foi, sem dúvida, Rosebud.

 
At 3:26 PM, agosto 12, 2007, Anonymous Anônimo said...

Puxa, Wally! Muito obrigado!

E saiba que vc ainda tem muito tempo para ver a filmografia de Hitchcock. Isso não é vergonha nenhuma!

O primeiro passo já foi dado: vc ama o cinema. Para vc, é apenas uma questão de tempo ver os filmes de Hitchcock. Ou de qq outro mestre.

Grande abraço!

 
At 3:32 PM, agosto 12, 2007, Blogger Romeika said...

Otávio, excelente esse texto! Não conhecia essa palavra, mas que coisa interessante. Realmente o cinema do mestre Hitchcock tem muito disso. Se não foi ele que lançou esse exercício narrativo no cinema, sem dúvida o aperfeiçoou muito bem. Até em seus filmes "menores" ele usa o artifício. Fiquei pensando agora... Seria o conhecimento científico da personagem de Paul Newman em "Cortina Rasgada" um MacGuffin? Não sei se vc viu o filme, mas na trama, ele é um cientista americano que decide publicamente se mudar em definitivo para a Alemanha socialista em busca de suporte financeiro para o seu projeto científico. Enquanto na verdade, a história vai se concentrar na espionagem que ele fará no país, mas, exatamente que tipo de espionagem? Não é nenhuma obra-prima, mas acho que a coisa é por aí.

Até quando era despretensioso, Hitchcock ainda entregava ao menos um bom filme.

P.S.:vi seu recado no blog do Cassiano, mas já tinha tomado providências. Em breve poderei assistir "Os bons companheiros".

 
At 6:33 PM, agosto 12, 2007, Blogger Alex Gonçalves said...

Otavio, ser artigo está show!
Não me vem na mente neste instante em questão do MacGuffin, mas acredito que o diário de Barbara em "Notas Sobre Um Escândalo", alguns objetos que ficam de segundo plano em "Femme Fatale", os livros de Catherine Tramell em "Instinto Selvagem" ou o disquete na refilmagem "Glória - A Mulher" podem ser alguns exemplos curiosos.
Grande Semana.

 
At 8:46 PM, agosto 12, 2007, Blogger Kamila said...

Otávio, adorei o texto. Também não conhecia o termo "MacGuffin", mas concordo plenamente com você: não se fazem mais filmes como antigamente. A impressão que a gente tem é a de que as pessoas não querem mais se arriscar, preferem seguir aquilo que sabem que dará certo; ou então, quando tentam algo novo parece uma coisa tão planejada que soa artificial demais.

Uma boa semana!

 
At 3:02 PM, agosto 13, 2007, Anonymous Anônimo said...

Parabéns pelo texto, Otavio. Realmente não sabia disso, muito relevante! Repito: está de parabéns!

 
At 3:10 PM, agosto 13, 2007, Blogger Otavio Almeida said...

Muito obrigado, pessoal!

E Romeika, minha lição agora é alugar o DVD de CORTINA RASGADA.

Abs! E boa semana a todos!

 
At 3:55 PM, agosto 13, 2007, Blogger Romeika said...

hehehe Alugue, mas não espere um filmaço. É um bom filme, mas não foi um dos projetos favoritos do diretor. Parece que ele não estava satisfeito com os casting (Julie Andrews e Paul Newman) e fez pouco pela direção deles no set. Mas há uma cena de assassinato memorável, tipicamente hitchcockiana.

 

Postar um comentário

<< Home