quinta-feira, julho 31, 2008

Vida longa ao Zé do Caixão


Encarnação do Demônio, o aguardado novo filme do lendário José Mojica Marins, o Zé do Caixão, estréia finalmente na próxima sexta-feira, dia 08 de agosto. Resolvi tocar na ferida porque não estou vendo muito barulho em torno do retorno de um ícone do cinema nacional. Ou melhor: mundial. Na verdade, Zé é muito mais valorizado lá fora do que aqui.

Com direção do próprio Coffin Joe, Encarnação do Demônio encerra a trilogia do coveiro iniciada com À Meia-Noite Levarei sua Alma (1963) e Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver (1966). Na trama, Zé precisa encontrar a mulher ideal capaz de gerar seu tão esperado filho das trevas. Ou seja, o ator e diretor não engana ninguém com seus filmes. É pura podreira e litros de sangue.

Se você nunca encarou a qualidade dos filmes do Zé do Caixão, não sabe o que está perdendo. Caso ainda não tenha visto o trailer de Encarnação do Demônio, prepare-se:


quarta-feira, julho 30, 2008

Mais e melhores Charlize Therons


Vocês não acham que Charlize Theron deveria fazer mais (e melhores) filmes? Pra ser sincero, acho que ela aparece muito pouco. Com todo o respeito, falta mulherão no cinema. Se esta sul-africana de (quase) 33 aninhos tivesse nascido na era de ouro de Hollywood, certamente, não estaria fazendo Hancock. Isso eu garanto, amigo. Marilyn Monroe teria de abrir bem os olhos para a concorrência.

Está certo que sempre tivemos atrizes esbeltas, mas admita que há um exagero nos dias de hoje. Estamos na época das magrelas e a mulher insiste em prejudicar sua própria beleza numa disputa insana pra ver quem tem menos barriga e as duas saboneteiras mais fundas do planeta. Pessoalmente, nada contra. Mas em tempos de atrizes que saem voando com a ajuda de uma rajada de vento, Charlize seria o que os antigos chamavam de... mulherão. Uma palavra que não existe mais no dicionário. Ok, Charlize é magra, mas em português claro, ela preenche bem as roupas que veste. Com todo o respeito. E é boa atriz, que obviamente é o mais importante.

Não me entenda mal, pois Keira Knightley e Angelina Jolie são lindas. Mas parece que só notam Charlize Theron quando ela tenta ficar feia como em Monster ou sem maquiagem como em Terra Fria. Pergunto: Não teria sido legal uma participação especial de Charlize em Onde os Fracos Não Têm Vez, por exemplo? Tem tanta gente feia naquele filme, que ela teria sido o colírio mais vendido daquele período. Ou como a única mulher com falas em Sangue Negro? Ou estrelando uma comédia romântica decente? Por que Christopher Nolan não a chamou para o papel que ficou com Katie Holmes, em Batman Begins? Por que Steven Spielberg não a colocou como uma assassina profissional em Munique?

Será que Charlize Theron teria elevado o nível de filminhos como PS: Eu Te Amo? Bom, não aconteceu com Hancock. Não importa. Acho que Hollywood deveria oferecer mais para Charlize. Não um aumento, mas bons roteiros. Talvez eu esteja cometendo uma injustiça e 10 entre 10 produtores ofereçam belos filmes a Charlize. Talvez a atriz não queira aparecer tanto. Mas bem que ela poderia ter ficado com o papel de Cameron Diaz em Gangues de Nova York ou ter feito uma ponta em O Aviador como uma beldade de Hollywood. E por que ela não ficou com o papel feminino de Os Infiltrados? Será que Martin Scorsese não foi apresentado a Charlize Theron?

Como vocês podem ver, eu ando irritado com a maioria dos filmes em cartaz. O ingresso está muito caro para gastar uma grana com filmecos. O exemplo a ser seguido é Hancock que, pelo menos, tem Charlize Theron. A história cai em desgraça quando ela ganha importância na trama, mas e daí?

Ok, Hancock é dose. Mas viram? Eu já estava caindo na armadilha de Hollywood... Conhece aquele papo básico? "Ah, não me importa se o filme é ruim, mas o ator é bonito", ou "O filme pode ser uma bomba, mas tem fulana de tal batendo um bolão." Olha o perigo, meus amigos! Veja só o que Hollywood faz. Eu aqui entrando em colapso e choramingando por um bom filme com Charlize Theron, só porque ela é linda.

O problema está no consumidor. É triste, mas é verdade. Quantas pessoas vocês conhecem que vão ao cinema só para ver um rostinho (ou algo mais) bonito? É por isso que Hollywood produz tranqueira em massa. A verdade é que, aos poucos, nós fomos preparados pacientemente para o que acontece hoje. Aceitamos qualquer coisa que surge nas telas. Temos várias salas de cinema pelo Brasil lotadas de Hancocks com a cara (e o beiço) do Will Smith estampando o pôster de ponta a ponta. E WALL-E já está desaparecendo do circuito. Mas WALL-E é pedir demais... É quase mudo e tem pai burro que não acredita na inteligência de seus filhos. Como é que um filme assim pode ter vida longa nos cinemas? E o que dizer dos longas nacionais? Ou Out of Hollywood?

Certa está a novela, que mostra a bunda da Céu para crianças que estão acordadas em suas casas. É disso que o povo gosta. Menos história, menos qualidade e mais apelação. Nós pedimos por isso. E tem gente que reclama. Como este paspalho que vos escreve - num blog com este nome. Fazer o quê? Eu gosto da Charlize Theron... Mas seria muito melhor se ela fizesse grandes filmes.

terça-feira, julho 29, 2008

Vestida Para Casar


Tenho um problema com comédias românticas do mesmo modo como não consigo rever filmes de ação dos anos 80. São sempre os mesmos clichês, as mesmas fórmulas, os mesmo heróis e vilões seguindo os mesmo caminhos e a mesma pataquada. Nesta década, no entanto, Hollywood proporcionou um upgrade no gênero celebrado pelo público masculino. E um dos grandes exemplos está na trilogia Bourne. Mas o que acontece com comédias românticas como Vestida Para Casar (27 Dresses, 2008)?

Não há nada de novo aqui. Tudo já foi visto antes. Então, para quê repetir a dose? Talvez seja umaa tentativa para lançar Katherine Heigl como estrela de cinema, mas Hollywood não tem a coragem necessária para colocá-la num filme de verdade. Quando surge um bom roteiro, eles ainda preferem Julia Roberts. Ou outra atriz que já tenha emplacado um sucesso de bilheteria. Pobre Katherine Heigl...

Tem gente que vai defender o filme da seguinte forma: "Ah, mas as roupas da Katherine Heigl são legais." Também pudera... a mulher tem 27 vestidos no guarda-roupa como bem diz o título e a roteirista Aline Mckenna escreveu a adaptação cinematográfica de O Diabo Veste Prada. Bom, agora você já pegou que eu não entendo nada de moda, que é um detalhe em comum e, por isso mesmo, curioso em alguns filmes do gênero.

Como Bonequinha de Luxo, por exemplo, que traz Audrey Hepburn com roupas que inspiram até hoje. Mas embora eu não conheça as grifes daquele clássico, eu sei que ainda há muito cinema ali. Desde a direção de Blake Edwards, passando pela atuação de Audrey, o roteiro e, claro, a trilha de Henry Mancini. Aliás, vocês notaram como não fazem trilhas marcantes para comédias? Saudades do grande Henry Mancini...

Talvez eu esteja pedindo demais, mas quando injetam uma ou outra coisa nova ou ousada em um filme do gênero, ele ganha destaque e a admiração de público e crítica. É o caso de Encontros e Desencontros, da Coppolinha, que joga dois perdidos numa noite suja com os habituais clichês em razão do significado do título nacional, mas com uma certa pitada de originalidade. Naquele filme, a diretora olha com sentimento particular para a situação e os olhares perdidos de Bill Murray e Scarlett Johansson em Tóquio. Há uma curiosa profundidade nisso. Sem falar no cenário diferente para sair da mesmice. Outro exemplo reside em O Casamento do Meu Melhor Amigo, que traz uma cena surpreendentemente natural e original (o musical regido por Rupert Everett) e um final incomum, mas justo para mim, e injusto para outros. Ou seja, gera discussão até hoje. Tem também o uso do romantismo exacerbado em Sintonia de Amor, o conto de fadas moderno em Uma Linda Mulher, o olhar crítico e exigente da moda em O Diabo Veste Prada, e a comédia romântica surgindo inesperadamente em um filme que não parecia comédia romântica em seu início: Melhor é Impossível. Enfim, existem bons exemplos. O problema é a tendência, a repetição, que sai de um filme que oferece um pingo de originalidade em cada gênero. Aí Hollywood aproveita a laranja até o bagaço.

Em Vestida Para Casar, tudo acontece como se a diretora Anne Fletcher e a roteirista Aline McKenna estivessem seguindo regras ou fórmulas. Tem até o momento O Casamento do Meu Melhor Amigo, com Katherine Heigl e James Marsden cantando Benny and the Jets, clássico de Elton John. Só que diferente do filme com Julia Roberts e Rupert Everett, o tal momento não é espontâneo e, segundos antes, você é capaz de antecipar que, a qualquer hora, o casal pirar e colocar a vitrola pra tocar. Além disso, você vê o casal brigando, mas eles reatam no final (com direito a discurso em público). Tem até o momento "provador", com Katherine Heigl experimentando seus 27 vestidos com trilha sonora esperta ao fundo. É clichê atrás de clichê.

Se tem algo de bom que eu possa dizer é que absolvo Katherine Heigl, ótima, linda e carismática. Ok, James Marsden (o interesse romântico da protagonista) se sai bem e Malin Akerman (a irmã bonitona-ou-algo-assim, mas pentelha, da personagem de Katherine) até que é boa atriz. Mas é pouco. Nem comentei sobre a trama, não? Deixa pra lá! Mas pode ser que você seja capaz de extrair algo dali. Desculpe-me, mas eu não consegui.

Vestida Para Casar (27 Dresses, 2008)
Direção: Anne Fletcher
Roteiro: Aline McKenna

Elenco: Katherine Heigl, Malin Akerman, Edward Burns, James Marsden, Judy Greer, Michael Ziegfeld, Krysten Ritter, Maulik Pancholy e Melora Hardin

Obs: Disponível em DVD pela Fox

sexta-feira, julho 25, 2008

A série que mudou a TV para sempre


- Acabou, Scully.
- Você tem de fazer uma reclamação. Eles não podem...
- Podem sim.
- O que vai fazer?
- Eu vou... não vou desistir, não posso. Não enquanto a verdade estiver lá fora.

Diálogo entre Mulder e Scully, do episódio Jogo de Gato e Rato, final da primeira temporada.


Por Marcus Vinicius*
Especial para o HOLLYWOODIANO

Uma das maiores séries de todos os tempos, senão a maior, está para retornar. Pelo menos em termos. Série essa que serviu de base para praticamente todas as séries de investigação policial que vieram depois. Um fenômeno que angariou vários Emmys e Globos de Ouro durante suas nove temporadas. Agora, a saga em busca da verdade terá um novo capítulo a partir deste 25 de julho, com a estréia de Arquivo X - Eu Quero Acreditar. Por isso, nada melhor do que uma breve revisitada na cruzada percorrida por nossos caçadores de homenzinhos verdes preferidos.

Criada em 1993 por Chris Carter, que sempre contou com o roteirista Frank Spotnitz, e exibida no Brasil pela Rede Record, Arquivo X trazia uma premissa diferente das demais séries: dois agentes do FBI encarregados de resolver casos sem explicações lógicas ou científicas, mas que aos poucos vão entrando numa trama mais complicada do que imaginavam. De casos bizarros e inexplicáveis, eles acabam dando de cara com uma conspiração, que vai aos níveis mais altos do governo para esconder a existência de vida extraterrestre do público, além de futuros planos de colonização. É essa caça por alienígenas e essa conspiração absurdamente fantástica, que dá fôlego e move a série.

Porém, não seria exagero nenhum dizer que o ponto principal é o relacionamento e o equilíbrio entre os protagonistas. Fox Mulder (David Duchovny), que viu a irmã ser abduzida quando tinha apenas oito anos, realmente acredita na existência de vida extraterrestre e fará de tudo para provar isso; e a extremamente cética Dana Scully (Gillian Anderson), que contrapõe a visão de Mulder com o argumento científico. Esse antagonismo dá uma dinâmica muito boa para a trama. Há uma sensação de embasamento para todos os fatos - as explicações não ficam simplesmente no ar, por assim dizer.

Mas não é somente de Mulder e Scully que sobrevive o universo de Arquivo X. Vários personagens são tão importantes quanto os dois agentes. Exemplo: os três amigos nerds de Mulder, que lhe ajudam de vez em quando e editam a fictícia revista Pistoleiro Solitário. Eles ficaram tão famosos que ganharam um seriado, que foi exibido somente nos Estados Unidos. Personagens como Skinner (Mitch Pillegi), aliado dos agentes, e o Canceroso (William B. Davis), que é o representante da conspiração, têm suas parcelas de importância em episódios especiais - destaque para Meditações Sobre um Canceroso (4ª temporada), Suspeitos Incomuns (5ª temporada) e S.R. 819 (6ª temporada).

E já que estamos falando de episódios marcantes, a Fox lançou um box especial com os oito melhores episódios de acordo com Chris Carter e Frank Spotinz. O DVD Arquivo X Essencial apresenta comentários da dupla contando o porquê da escolha de tais episódios. Trata-se de uma forma de tirar uns trocados, claro, e também de acalmar os inveterados fãs - já que foram reveladas pouquíssimas informações sobre o novo filme. Os produtores se esforçaram muito para manter tudo debaixo dos panos.

Do pouco que se sabe, o foco de Arquivo X - Eu Quero Acreditar está na relação entre Mulder e Scully. Segundo o criador, o filme é uma mistura de suspense e terror. Não é exatamente um filme sobre ETs, OVNIs e conspirações. É difícil que conquiste novos adeptos, mas os antigos fãs certamente estão contando as horas pra matar a saudade de seis anos desde o encerramento da série.

No mais, pode-se fazer uma leitura geral que Arquivo X também discute como nos relacionamos com o desconhecido; de como nos relacionamos uns com os outros nesse mundo que esconde mais mistérios entre o céu e a terra do que podemos imaginar. Eu quero acreditar que a verdade continua lá fora e que continuará lá por muito tempo ainda.

* Marcus Vinicius é cinéfilo, gremista e, claro, fã de "Arquivo X".

quarta-feira, julho 23, 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas


Dentro de uma sociedade, em qualquer época, heróis e vilões ajudam a escrever a História. Homens loucos, gananciosos, corajosos ou perversos desenham cenários dignos de lendas ou mitos. Sempre foi assim. O que poucos param pra pensar é que o homem que se torna lenda é um sujeito de carne e osso, um fruto da sociedade na qual ele vive. Para quem ouve as histórias, no entanto, o que importa é somente a lenda. Ou o mito. Não interessa se o conto é inteiramente verdadeiro ou não. As pessoas precisam de lendas e mitos de heróis e vilões em suas vidas.

Para chegar nesta conclusão, o diretor Christopher Nolan fez de Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008) não exatamente uma seqüência de Batman Begins, mas seu complemento. A primeira parte não deixa de ser um "filme de super-herói", mas antes de Nolan reinventar o Homem-Morcego, o cinema jamais havia mostrado um filme do gênero com os pés no chão; dentro de nossa realidade.

Já em O Cavaleiro das Trevas, o diretor não teve medo da pressão e da cara feia dos fãs de um personagem adorado por gerações. Com o sucesso de Batman Begins, ele ganhou mais liberdade para tomar decisões e atravessou os limites da fórmula "filme-baseado-em-quadrinhos". Se O Cavaleiro das Trevas pode ser definido por um gênero, não me diga que temos aqui mais um "filme de super-herói". A estética visual e o conteúdo de O Cavaleiro das Trevas vêm do cinema brutal e político dos anos 70. Como conseqüência, Nolan fez um épico policial moderno e intimista com mocinhos e bandidos verossímeis, que reagem à violência e ao caos de seus tempos - mesmo que o tira em questão utilize uma fantasia de morcego.

Mas o gênero policial é apenas o território e a estrutura. O que Nolan quer dizer é algo muito maior. Em um típico "filme de super-herói", como Homem-Aranha, Superman, Homem de Ferro e até Batman Begins, o herói triunfa sobre o ambiente desenvolvido pelas falhas do governo e suas conseqüências na sociedade. Com uma análise mais profunda do que podemos ver na Hollywood de hoje sobre as origens do bem e do mal, Chris Nolan vai além em sua alegoria política e social. No estudo proposto pelo diretor em O Cavaleiro das Trevas, heróis e vilões são derrotados. Todos perdem, mas o ambiente permanece. Resta o mito ou a lenda. As histórias vivem para sempre em contos, livros e canções. Para Chris Nolan, o bem não existe sem o mal. E vice-versa. Um completa o outro. Essa é a forte conexão entre o Batman e o Coringa.

Na mitologia de Gotham City, o herói ideal nasce do caos. Os criminosos atrás de dinheiro e poder não são páreos para o Batman. Mas como tudo é parte de um ciclo, o perfil do Coringa é o resultado inevitável e previsível da gênese do Homem-Morcego. Ambos nasceram do mesmo caos. Porém, a evolução do tipo de vilão rompe com qualquer regra ou objetivo. Com isso, o herói não consegue compreender seu inimigo. Então, como derrotá-lo? Adepto máximo da anarquia, o Coringa de Heath Ledger é um psicopata, um agente do caos. Ele quer mostrar que qualquer um é capaz de roubar, matar, mentir ou agredir quando a lei e a ordem desaparecem. Infelizmente, não importa se você concorda ou não, o Coringa tem razão. Ou, pelo menos, Heath Ledger prova que sim.

Para pegar o Coringa, que inspira o mal e a histeria coletiva, o incorruptível Batman questiona se ele deverá quebrar as regras do jogo. Antes de chegar neste ponto, o herói pensa em se aposentar e acredita que a esperança de Gotham reside na figura do promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart), um justiceiro que, ao contrário dele, mostra seu verdadeiro rosto ao povo. Mas numa sociedade à beira do caos, como diz o promotor a Bruce Wayne/Batman (Christian Bale), "ou você morre como um herói, ou vive tempo suficiente para se tornar o vilão." Por isso, Harvey Dent é o mediador de todos os conflitos do filme - o bem e o mal, a ordem e a anarquia, Batman e o Coringa.

Dentro desta análise aparentemente louca, a base do roteiro de Christopher Nolan (e seu irmão Jonathan Nolan) não é o Batman clássico dos quadrinhos. Para chegar à conclusão de que tudo passa, mas a lenda permanece, O Cavaleiro das Trevas desconstrói heróis e vilões de forma niilista num filme policial violento cheio de camadas complexas e surpreendentes - algumas visíveis aos olhos do espectador, enquanto outras nem tanto.

Pensando assim, seria injusto com Aaron Eckhart se todos falassem somente da atuação "possuída" de Heath Ledger, que desaparece para dar lugar ao Coringa. Seria injusto com Gary Oldman, perfeito como o contido e correto Comissário Gordon. É ele quem "vive" para contar a história e divulgar a lenda. Seria injusto com o ótimo trabalho de direção de Chris Nolan - ele é talentoso ao orquestrar ação, tensão, drama e diálogos memoráveis, além de ser extremamente competente na hora de arrancar o máximo de seus atores. Nolan também lembra como a trilha sonora é importante num filme. Composta por James Newton Howard e Hans Zimmer, a música é aproveitada de maneira clássica pelo diretor - ela empolga nas atitudes heróicas do Batman, emociona quando o drama é exigido e coloca os nervos da platéia à flor da pele com um ruído irritante que antecipa a entrada do Coringa em cena. O Palhaço do Crime está magnífico, você sabe, porém o mais impressionante, ao compreender as intenções do filme, é constatar que a atuação de Heath Ledger é apenas parte de um plano comandado pelo diretor.

No fim, Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas formam um filme completo. Vejo a saga do Batman de Chris Nolan como um ciclo. Muita gente espera que o final emocionante, poético e inesperado seja reduzido a um gancho perfeito para a terceira parte. Ela deverá existir, claro, mas temo pelo futuro da série. Colocar Batman contra o Pingüim ou a Mulher-Gato pode deixar a inevitável continuação um tanto repetitiva. Nolan mostrou que Batman é conseqüência do caos. Assim como o Coringa, que veio em seguida para provar ao herói que o bem e o mal são apenas pontos de vista diferentes. O próprio Coringa diz ao Batman que ambos estão destinados a uma luta eterna. Então, a mensagem já foi passada. Não há razão para continuar uma série que chegou ao topo da genialidade artística.

Para terminar, um grande filme não se prende a um gênero só, mas se você insiste que Christopher Nolan fez mais um "filme de super-herói", então existe o "antes" e o "depois" de O Cavaleiro das Trevas.

Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008)
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Jonathan Nolan e Christopher Nolan (Baseado nos personagens criados por Bob Kane)
Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Gary Oldman, Maggie Gyllenhaal, Morgan Freeman, Michael Caine e Eric Roberts

terça-feira, julho 22, 2008

Hollywood redescobriu a essência do grande vilão?


A impressão é que Hollywood havia esquecido como é que se faz um grande vilão no cinema. O Coringa de Heath Ledger está aí para comprovar uma fórmula que os irmãos Coen já relembraram em Onde os Fracos Não Têm Vez - um vilão de verdade deve despertar o medo (em seu estado puro) no herói e na platéia. Não somente isso. O espectador e os protagonistas devem saber absolutamente NADA (ou quase nada) sobre sua origem e seus motivos. A essência do vilão deve passar a sensação de que estamos diante do mal absoluto.


Antes do Anton Chigurh de Javier Bardem, no entanto, os vilões eram movidos a vingança ou traumas de infância, etc, etc. Na vida real, até pode ser assim, claro. Mas na telona, o bom é viajar e exercitar a mente em busca de uma mera explicação para a razão de todo o mal. Para seguirmos em frente, precisamos de respostas. Isso é fato. É da natureza do ser humano. Mas o que instiga a mente e causa calafrios é enfrentar o desconhecido.


Os melhores vilões do cinema enchem os espectadores de dúvidas. É um recurso que domina as atenções - gerando fãs e projetando a imagem do vilão para a eternidade como objeto de fascínio e estudo. As origens desses personagens fantásticos pouco importam, na verdade. Eles não querem dinheiro ou uma máquina capaz de dominar o mundo. O que importa é gerar a discórdia, o caos e ver o circo pegar fogo. É o maior pesadelo para o herói: a impossibilidade de compreender seu inimigo.

É a magia cinematográfica durando para sempre. Mas nada que uma prequel ou uma seqüência possam estragar - George Lucas transformou o grande Darth Vader num moleque mimado e os derivados de O Silêncio dos Inocentes tentaram estragar o Dr. Hannibal Lecter. Ainda assim, Vader e Lecter resistiram ao tempo ou a violência artística de seus criadores. Portanto, diga "NÃO" a qualquer continuação ou prequel inspirada em Anton Chigurh. Ou no Coringa de Heath Ledger. Se isso acontecer, claro, a culpa não será de Ledger. Por enquanto, palmas para Christopher Nolan.

domingo, julho 20, 2008

As primeiras imagens de Watchmen


O teaser trailer de Watchmen mostrou que o diretor Zack Snyder (300) está tentando manter a fidelidade ao material original de Alan Moore e Dave Gibbons. Mas quem nunca leu a idolatrada HQ deve ter achado tudo um grande delírio de uma mente esquizofrênica.

Acreditem: Snyder está no caminho certo. O visual está lá, mas se ele acertar no que Watchmen realmente quer passar, prepare-se para um dos filmes mais extraordinários de 2009. Ainda não viu o teaser? Então, dê uma olhada abaixo.


sábado, julho 19, 2008

Viagem ao Centro da Terra


Deixando de lado o fato que este Viagem ao Centro da Terra (Journey to the Center of the Earth, 2008) foi rodado para exibições digitais em 3D, a mais recente adaptação da obra de Júlio Verne é um lixo. Alguns dirão que é um filme para a garotada conhecer o clássico do autor, etc, etc. Mas embora eu saiba que literatura é uma coisa e cinema é outra, Viagem ao Centro da Terra nunca foi infantil ou juvenil - o que faz do filme do estreante Eric Brevig um desrespeito ao trabalho de Verne e uma ofensa à capacidade do público fazer algo bem simples: pensar.

Como adaptação, este Viagem ao Centro da Terra não justifica todo o barulho em torno da história de Verne. Como adaptação, pior, lembra A Feiticeira, com Will Ferrell e Nicole Kidman - quando novos personagens embarcam numa história inédita em cima de uma obra já dominada pelo imaginário coletivo. Neste caso, seria mais inteligente fazer algo como a trilogia De Volta Para o Futuro, em que temos o cientista Doc Brown (Christopher Lloyd) apaixonado e movido pelas histórias de Júlio Verne, mas em filmes completamente diferentes.

Existe uma diferença entre fidelidade ao material original e as escolhas de um diretor na hora de adaptar um livro para o cinema. Um diretor pode cortar uma ou outra passagem, mas o clima, a mensagem e os conflitos dos personagens precisam resistir a qualquer alteração para que a história caiba no formato de cinema. Isso não acontece com o novo Viagem ao Centro da Terra. E se é para crianças e adolescentes, essa faixa do público já viu coisa melhor - e até pode ver algo superior na sala de cinema ao lado.

Mas o filme não funciona somente pela desastrosa adaptação. O roteiro foi escrito para jogar o público dentro de uma experiência tridimensional. As falas e as reações dos protagonistas, no entanto, antecipam qualquer surpresa para o espectador - o que é um erro, que já me irritava nas atrações em 3D de parques temáticos. Em português claro, isso acaba com o direito da platéia se assustar ou se surpreender numa cena.

Como eu disse lá no primeiro parágrafo, o filme foi feito para exibições em salas 3D. Então, talvez seja injusto deixar isso de lado. A tecnologia realmente é um espanto - o que mais impressiona não é ver um monstro ou uma pedra saltando em direção aos seus olhos, mas observar a profundidade visual de uma cena. Mas quanto ao drama no desenvolvimento dos personagens, não há óculos 3D que coloque isso diante da platéia. Se estamos falando de cinema, este Viagem ao Centro da Terra é um desastre. Se é uma atração de parque de diversões, então, a conversa é outra.

Viagem ao Centro da Terra (Journey to the Center of the Earth, 2008)
Direção: Eric Brevig
Roteiro: Michael Weiss, Jennifer Flackett e Mark Levin (Baseado no livro de Júlio Verne)
Elenco: Brendan Fraser, Josh Hutcherson, Anita Briem, Seth Meyers, Michel Pare e Jane Wheeler

Hancock


Will Smith é um cara legal. Astro de verdade e ator competente, ele é capaz de levar ao cinema até quem não curte um blockbuster. É claro que nem todos os seus filmes são excelentes, mas 99% da safra do ex-Fresh Prince of Bel Air é garantia de boa diversão. Sabendo disso tudo, estranho é constatar que Hancock (Hancock, 2008), apesar da premissa interessante e (assim, assim) original, resulta numa decepção de proporções catastróficas.

John Hancock (Will Smith) é um super-herói do mundo real, mas ninguém gosta dele. E não é pra menos. Hancock voa, não pode ser derrubado com tiros e explosões, impede ações de criminosos e ajuda inocentes, mas para isso, ele não se importa em destruir metade da cidade - o que obviamente gera prejuízos pra todo mundo que paga impostos. Além disso, ele não tem bons modos e é alcóolatra. Mas qualquer um merece uma segunda chance, não?

Depois de ser salvo por Hancock, o relações públicas Ray Embrey (Jason Bateman) vê a oportunidade perfeita para dar a volta por cima no trabalho ao limpar a imagem do herói. A bela esposa de Embrey, Mary (Charlize Theron), no entanto, odeia Hancock sem qualquer razão aparente. Algum tempo depois, pagando contas e serviços para o governo e a sociedade, Hancock volta às ruas - desta vez, como um herói educado e pronto para ser admirado pelo povo.

Tirando a câmera no estilo documentário do diretor Peter Berg e a trilha exageradamente dedicada ao rap - imagine se o herói fosse da Rocinha e o público americano tivesse a obrigação de aturar uma trilha movida a funk carioca -, o filme até que começa a agradar depois que Hancock volta de uniforme engomado e barba feita. Até este momento, a sensação é: o filme demorou a engrenar, mas está começando a ficar legal. Mas, inexplicavelmente, essa é a hora em que Peter Berg e os roteiristas Vincent Ngo e Vince Gilligan detonam Hancock de vez.

Sem querer estragar a sua diversão (ou decepção), é exatamente quando a personagem de Charlize Theron ganha mais importância na trama. Sinceramente, não sei o que houve. Parece que Hancock vira dois filmes em um. É como se Hancock 2 começasse da metade para o final. Entendeu? Deste ponto até a última cena, o filme perde o rumo da ação, da comédia e dos efeitos visuais. A impressão é que Michael Bay pegou a câmera emprestada e terminou Hancock. E falo de um Michael Bay em seus piores dias. É poluição visual e muito, mas muito barulho.


Ah, claro. Charlize Theron continua linda. Mas isso não é surpresa nenhuma. Surpresa - se é que podemos chamar assim - é ver como Will Smith deixou Hancock virar uma bagunça. E pensar que o diretor Michael Mann, de O Informante e Fogo Contra Fogo produz essa porcaria. Acho que eu disse a mesma coisa no final da crítica de O Reino, outra produção de Michael Mann para um filme de Peter Berg.

Hancock (Hancock, 2008)

Direção: Peter Berg
Roteiro: Vincent Ngo e Vince Gilligan
Elenco: Will Smith, Charlize Theron, Jason Bateman, Jae Head, Eddie Marsan e David Mattey

segunda-feira, julho 07, 2008

Fugindo do inferno


Amigos, como ninguém é de ferro (tirando o Tony Stark), chega uma hora em que qualquer um precisa parar, respirar e valorizar a vida um pouquinho mais. Chamo isso de férias! Espero que você também possa fazer isso um dia, pois conheço gente que não tira férias nem que a vaca tussa.

Bom, amigos, muito obrigado pelas visitas. Prometo retornar no dia 19 de julho com novos posts. Até lá, ficarei longe dos blogs de vocês e, claro, do meu. Um grande abraço a todos, juízo e que a Força esteja com vocês!

sexta-feira, julho 04, 2008



Entre aqui, siga as instruções e divirta-se.

quinta-feira, julho 03, 2008

Kung Fu Panda

"Eu fui desenhado assim, mas represento
o perfil do espectador moderno de cinema"


Há alguns anos, eu conversei com um amigo sobre as animações da Dreamworks e ele disparou uma teoria que considero brilhante: o estúdio só faz desenho sobre malandros. Foi assim em Shrek, Madagascar, O Espanta Tubarões e, agora, em Kung Fu Panda (Kung Fu Panda, 2008).

Talvez Bee Movie fique de fora, mas aquele foi um projeto de Jerry Seinfeld. Geralmente, o foco de uma animação da Dreamworks está sempre no protagonista desleixado e preguiçoso. Até o final, ele prova ter coragem e coração. É sempre assim. A trama de cada produção também existe em função de grandes sucessos do cinema com citações ora inteligentes, ora gratuitas. Porém, Shrek foi o único que realmente apresentou um universo capaz de render uma franquia. Goste ou não, Shrek é um ícone da cultura pop. As outras animações da Dreamworks são divertidas, mas terminam facilmente esquecidas pelo público apenas algumas horas após o fim da sessão. Com Kung Fu Panda é a mesma coisa.

A bola da vez está nos filmes de artes marciais. A trama mantém a atenção da garotada (e dos adultos) por cerca de uma hora e meia com personagens divertidos, lutas caprichadas e demoradas. Para quem pensa que um filme começa na divulgação de seu trailer, um aviso: Kung Fu Panda não é imbecil como Madagascar (digo "imbecil" no bom sentido do humor). A comédia está lá, mas a ação predomina. É pancadaria total. Kung Fu Panda é mais para meninos do que meninas.

Por isso, não entendo o motivo que leva o estúdio a desenhar seus personagens como bichinhos. Por que colocar um panda fofinho como protagonista? É claro que a resposta reside no ponto de vista comercial, mas imagine só como seriam os heróis de Os Incríveis, da Pixar, nas mãos da Dreamworks... Pois é. O Sr. Incrível me sairia como um hipópotamo falante, por exemplo. Quero dizer que não há razão para colocar bichinhos neste filme. Cada guerreiro descrito no roteiro de Kung Fu Panda poderia ganhar traços de seres humanos. Talvez eu esteja pedindo demais, afinal é um produto para crianças. Mas comparando com as animações da Pixar, há razões de sobra para vermos um rato numa cozinha de Paris ou um robô numa missão nas estrelas em, respectivamente, Ratatouille e WALL-E.


Bom, mas ninguém sairá do cinema dizendo que Kung Fu Panda é ruim. Pelo contrário - é muito bem feito, divertido, rápido e faz qualquer um sair cantarolando Kung Fu Fighting. Mas é como fast food ou outro produto direcionado para quem está com pressa e não quer pensar muito. Esse é o nosso mundo atual e não adianta reclamar, pois enquanto houver consumidor, assim será.

Kung Fu Panda é só um exemplo de como Hollywood vê o público moderno, que sai do conforto de suas casas rumo aos cinemas: consumidores que não querem muito esforço. Nem mesmo na hora de colocar o cérebro para trabalhar. Para os engravatados dos estúdios, somos todos Kung Fu Pandas preguiçosos e desleixados, mas cheios de potencial. É blockbuster o ano inteiro, mas na época das premiações, eles querem que a gente pense um pouquinho. Me engana que eu gosto.

Kung Fu Panda (Kung Fu Panda, 2008)
Direção: Mark Osborne e John Stevenson
Roteiro: Jonathan Aibel e Glenn Berger
Com as vozes de Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Ian McShane, Jackie Chan, Seth Rogen e Lucy Liu

quarta-feira, julho 02, 2008

Coringa pode roubar o Oscar


Não há batmaníaco neste mundo que não tenha decorado a fala do Coringa, que abre o primeiro trailer de Batman - O Cavaleiro das Trevas: "You've changed things... forever. There's no going back. See, to them, you're just a freak... like me!"

Ok, os nerds de plantão assistiram aos vídeos milhares de vezes, mas acredito que ninguém está exagerando nos comentários sobre a atuação de Heath Ledger como o Palhaço do Crime. O fato é que existe uma corrente em Hollywood, que aponta o nome do falecido astro como um dos prováveis indicados ao próximo Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. E mais: até agora, Ledger não tem forte concorrência.

O crítico Peter Travers, da Rolling Stone, e colegas de elenco como Gary Oldman e Aaron Eckhart são apenas alguns dos nomes que falam sobre um merecido Oscar póstumo para o ator. Se isso acontecer, Ledger não será o único a receber tamanha honra.

Houve o caso único de Peter Finch entre os atores - ele morreu poucos meses antes de ser anunciado como o vencedor da estatueta de Melhor Ator, por Rede de Intrigas, em 1977. Nesta década, temos um exemplo em outra categoria: o diretor de fotografia Conrad L. Hall, falecido em janeiro de 2003, recebeu o prêmio da categoria, por Estrada Para Perdição, na festa daquele ano. Mas se não ganhar, Ledger terá a companhia de nomes como o italiano Massimo Troisi, homenageado com uma indicação póstuma por O Carteiro e o Poeta.

Tenho duas perguntas aos Hollywoodianos: O que vocês acham dessa possibilidade para Heath Ledger? Vocês concordam com indicações póstumas?

terça-feira, julho 01, 2008

O mês do Morcego


Sei que teremos Kung Fu Panda e Hancock em julho, mas as atenções estão voltadas para o Morcegão. Não adianta fugir: Batman - O Cavaleiro das Trevas chega aos cinemas no próximo dia 18 de julho carregando altas expectativas. E isso não é delírio de fã. A culpa é do próprio diretor Christopher Nolan, que acostumou mal o público graças ao resultado de Batman Begins - sem falar na assustadora divulgação, que inclui uma quantidade absurda de pôsteres, vídeos, imagens e trailers do novo filme.

Como é clichê entre os diretores que adaptam HQs para o cinema, Christopher Nolan pode até dizer que não leu muitas histórias do Morcegão quando era moleque. Mas com certeza, alguém entregou em sua mão A Piada Mortal, de Alan Moore, e Batman - O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, para que ele trabalhasse o personagem de forma digna e atual.

A diferença do Batman de Tim Burton e, principalmente de Joel Schumacher, para o Batman de Christopher Nolan começa num ponto importante: a saudosa série cômica de TV estrelada com Adam West e Burt Ward ficou, definitivamente, para trás. Aquilo foi produto de uma época que não funcionava mais nos anos 90. Não em um filme levado a sério, pois a intenção de Tim Burton e Joel Schumacher não estava na comédia. Adoro a série que marcou os anos 60, mas é melhor deixar os fãs reviverem suas emoções em DVD. No cinema, Batman precisava seguir outro rumo.


Tim Burton tentou fazer um filme bacana para os fãs dos quadrinhos, mas sofreu com as pressões da Warner, que ainda imaginava Batman como o herói da série de TV. Quando Joel Schumacher entrou na festa, aí então é que Batman virou desfile de escola de samba com mais alegorias que a Beija-Flor de Nilópolis. Porém, tanto Burton quanto Schumacher erraram ao mostrar que qualquer vilão poderia ser mais interessante que o Homem-Morcego. Com o herói no fundo do poço, obviamente, a Warner deu carta branca para Christopher Nolan reinventar o personagem. O diretor de Amnésia, Insônia e O Grande Truque tirou qualquer brincadeira carnavalesca para transformá-lo, finalmente, em um herói atormentado e protagonista de suas próprias aventuras no cinema. Nolan provou que Batman não é gay. Ponto final.

No próximo dia 18 de julho, Batman - O Cavaleiro das Trevas vai brigar pelo título de blockbuster do ano contra favoritos como WALL-E, Homem de Ferro e Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (este último, até agora, é o campeão do ano com mais de US$ 700 milhões arrecadados pelo planeta).

Você pode desdenhar, mas vai ter de comprar. Os santos, orixás e avatares estão do lado do Homem-Morcego. Até quem não curte tanto as aventuras do herói criado por Bob Kane vai pagar ingresso pra dar tchauzinho ao Heath Ledger, que bateu as botas sabe-se lá como. Motivo é o que não falta para entrar numa sessão de Batman - O Cavaleiro das Trevas.