terça-feira, março 31, 2009

Crianças, não cresçam!


Na última semana, eu quase bati as botas por causa de uma infecção na garganta. O negócio foi "brabo", mas estou aqui pra dar uma satisfação, afinal não atualizo o blog desde 20 de março. Peço desculpas, mas agora já posso voltar à ativa. E nesse meio tempo, andei repensando algumas coisas, principalmente longe do cinema, o que deixa qualquer um com a consciência em constante regressão cultural e com um pezinho na dura realidade. Andei pensando mais na vida e decidi dar mais valor a ela. A começar pelo princípio de tudo.

Por muito tempo, acho que dei ouvido demais aos adultos e cresci com a pressão de me tornar "mais velho" o quanto antes. Isso foi um veneno, vejo hoje, porque acho que deixei de fazer e curtir certas coisas de criança bem cedo. Eu queria assistir a filmes como Os Goonies, mas me mandavam O Poderoso Chefão. Eu queria ver Os Trapalhões, mas me passavam as fitas de Os Caçadores da Arca Perdida e O Homem Elefante. Vi Dersu Uzala, de Akira Kurosawa, com nove anos de idade. Pode isso? Foi um assassinato à inocência. Por causa disso, deixei de brincar no play algumas vezes pra assistir a Rain Man e Império do Sol. Tentei convidar uma garota certa vez pra ver Dança Com Lobos comigo no cinema e sei que até hoje ela não apareceu. Talvez se eu tivesse pensado em convidá-la para Fievel, aí sim eu teria me dado bem. Mas vai saber...

Esse vício cinéfilo me fez aquilo que sou hoje, mas minha avó dizia na época que isso funcionava pra mim como uma fuga da realidade. Talvez ela tivesse sua dose de razão, pois lembro que cheguei a matar aula pra ver Jurassic Park na primeira sessão - como se não houvesse horário mais tarde. Mas, enfim, não pude resistir. Após a infecção na garganta, penso que cheguei até aqui porque foram "adultos" demais comigo. Acho que gasto grana pra ver uma bobagem hollywoodiana nos dias de hoje porque fico nesse eterno conflito com minha criança interior.

Talvez se eu tivesse crescido indo aos cinemas somente para ver Xuxa, Os Trapalhões e desenhos da Disney, fatalmente eu teria aproveitado melhor minha infância. Sabe como é... Cada etapa de uma vez. Talvez estivesse hoje mais preparado para umas e outras responsabilidades. Se eu tivesse conhecido a garota dos meus sonhos antes dos meus 10 anos de idade, por exemplo, a vida teria me poupado do sofrimento e o medo de ser rejeitado por ela, afinal eu não conheceria imperfeições e aproveitaria a magia de minha inocência. Mas Deus colocou Casablanca no meu caminho cedo demais. Naquela época, eu não consegui entender nem somando A+B porque Humphrey Bogart e Ingrid Bergman não podiam ficar juntos no final. Aquilo simplesmente não entrava na minha cabeça. Mas, talvez se eu tivesse visto o filme hoje, pela primeira vez, isso estaria mais claro pra mim. Como adulto, eu compreendo o desencanto e o final do clássico de Michael Curtiz.

Não pensem que quero meus filhos vivendo num mundo de ilusão, mas adoraria levá-los ao cinema pra ver Monstros Vs. Alienígenas, que estreia sexta. E dar risada com as gargalhadas deles. Acho que a criança precisa dessa fase. Hoje, penso que foi um erro uma geração inteira de menininhas idealizar o Leonardo DiCaprio como "Príncipe Encantado", em Titanic, só para vê-lo morrer no final congelado até o estômago. Por que os pais tiveram a "brilhante ideia" de levar suas crianças para ver Titanic? Não há honra alguma em morrer por amor. Pior: Por que a molecada de hoje já viu Tropa de Elite? É como matar a criança dentro de nós antes do tempo. Antes de pagar contas, antes do casamento, antes de responsabilidades... Antes de ver aqueles que você ama partindo para sempre...

Apesar de adorar O Poderoso Chefão, Lawrence da Arábia, A Felicidade Não Se Compra e outros tantos, prometo criar meus filhos com filmes infantis. Seguirei o termo "dê tempo ao tempo". Se eles tiverem de crescer cinéfilos, eles farão isso com ou sem a minha ajuda. Quero que eles conheçam Branca de Neve e Cinderela antes de Don Corleone e Travis Bickle. E se tenho um conselho para a criançada, ele é: "Não cresçam!"

Isso me lembra que teremos uma grande filme infantil neste ano. Ou, pelo menos, tem tudo para ser. Falo de Onde Vivem os Monstros, de Spike Jonze, baseado no maravilhoso livro de Maurice Sendak, que muitas crianças sequer tocaram. A garotada conhece Clone Wars e Ben 10, mas nunca leu esse livro. Eu mesmo li quando já era burro velho. Mas digo isso porque temos bons materiais infantis hoje em dia, mas quem é que liga para isso quando dinheiro bem investido é aquele que se dedica a reciclagens americanas de fantasias orientais? Como evitar que a inocência caia em desuso quando executivos que não entendem nada de arte só pensam com o bolso? Nada contra a cultura de massa, mas não podemos deixar o molho azedar. E o caminho dessa garotada de hoje começa comigo. E com você.

sexta-feira, março 20, 2009

Gran Torino


Na crítica de A Troca, eu disse que Clint Eastwood continuava seu estudo sobre uma América intolerante, racista e acima de tudo e de todos. Disse também que a ideia de conviver em paz e de forma civilizada num país assim, só pode ser algo próximo à utopia. Mas, em A Troca, em plena transição da Era Bush para a Era Obama, Clint apresentou uma fagulha de esperança. Só que, para isso, faltava uma coisa: Deixar o conceito de Dirty Harry de vez no passado. Comportando-se como uma espécie de filme-testamento, Gran Torino (Gran Torino, 2008) traz todos os elementos vistos no cinema de Clint Eastwood pós-Os Imperdoáveis, obra que marcou seu amadurecimento e reconhecimento como diretor. Mas, ao mesmo tempo, parece exorcizar o que ficou de sua imagem mais popular como ator para seguir com sua fase de cineasta.

Com o tom fúnebre habitual do velho Clint - desta vez o filme até abre e fecha com um velório -, Gran Torino fala de preconceito, fé, terceira idade, família e violência. É tudo o que você já viu muito bem distribuído entre Os Imperdoáveis, Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, A Conquista da Honra, Cartas de Iwo Jima e A Troca. Dito isso, não posso esconder que considero Clint um autor. Seus temas favoritos estão lá, mas ele jamais faz um filme igual ao outro.

Estranhamente, se Gran Torino fosse seu último trabalho (como ator e diretor), Clint teria fechado com chave de ouro seu estudo sobre a América. Sabemos que ele já está rodando The Human Factor, com Matt Damon e Morgan Freeman, mas Gran Torino tem cara de o "último filme de Clint Eastwood". Ou é como se ele tivesse a intenção de virar uma página. Mas o próprio diretor afirmou em entrevistas que não pensou em Dirty Harry ao filmar Gran Torino. Até acredito nele, mas que Clint entende que o estilo de seu anti-herói grosseiro, racista e fascista já tem cheiro de mofo, ah, entende. É como se Walt Kowalski, seu personagem em Gran Torino, entendesse que seu tempo passou e que não adianta viver o resto de seus dias resmungando. O que ele pode fazer para essa nova geração é dar o bom exemplo.

Mas antes de voltar a isso, quero ressaltar Clint Eastwood como profundo conhecedor do cinema. Ele disse que aprendeu a ser diretor observando Don Siegel e Sergio Leone. Já revelou, inclusive, que um filme bom precisa de um bom roteiro e um bom montador. Com tudo isso nas mãos, Clint acha que o diretor não tem muito a fazer ou que ele precisa ser muito ruim para estragar o que já está bem encaminhado. Em Gran Torino, mais do que achar que Clint Eastwood quer acabar com Dirty Harry, penso que ele tenta deixar certos valores no passado, tendo a consciência de que pode passar o bastão para uma nova era de atores e diretores.

Para mim, mais do que ser um filme 100% Clint, Gran Torino é mais uma viagem do mestre por um de seus filmes prediletos: Os Brutos Também Amam, de George Stevens. Aliás, o título cairia muito bem. É verdade que Clint já fez sua versão de
Os Brutos Também Amam (ou homenagem) em O Cavaleiro Solitário, de 1985. O Estranho Sem Nome, filme dirigido por Clint em 1972, também tem um quê do clássico de Stevens, assim como Gran Torino. É basicamente a mesma trama - a diferença é que se passa nos dias de hoje e Shane (Alan Ladd) , o protagonista de Os Brutos Também Amam não era preconceituoso. Além disso, Shane era apaixonado por Marian (Jean Arthur) e cuidou de sua família - um sentimento substituído, em Gran Torino, por seus vizinhos asiáticos, que representam a aproximação e a compreensão do "outro", algo que Clint já fez em Cartas de Iwo Jima. O filme tem um final completamente diferente de Os Brutos Também Amam, mas sua construção é idêntica.

E Gran Torino pode ser chamado de western moderno. É só substituir a época atual e as gangues pelo Velho Oeste e fazendeiros inescrupulosos ou foras-da-lei. Mas, hoje, todo mundo acha que qualquer filme com trama atual envolvendo cowboys de rodeio é um faroeste contemporâneo. Enfim, o conceito de western está em Gran Torino. Não o cenário.

Sem medo de ser imperfeito, sem câmera de mão tremendo, nem a moderninha montagem frenética que move nove entre dez filmes atuais, Gran Torino pode olhar para o futuro do cinema, mas ainda é um exemplar à moda antiga. Clint é um habilidoso contador de histórias e, para isso, sabe que é preciso um pouco de paciência para se contruir trama, personagens, conflitos. Hoje em dia, é incrível constatar como Clint é capaz de deixar a platéia rindo e chorando numa montanha russa de emoções. Como ele consegue fazer com que o público se importe com um homem tão desprezível quando Walt Kowalski? Aí acho melhor estudar um pouco de John Ford, que apresentava protagonistas de aparência simples, mas de corações extremamente complexos. Gran Torino é o "momento John Ford" de Clint Eastwood. E esse é um dos melhores filmes do maior diretor da década.


Gran Torino
(Gran Torino, 2008)

Direção:
Clint Eastwood

Roteiro:
Nick Schenk e Dave Johannson
Elenco:
Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her, Brian Haley, Geraldine Hughes e Chee Thao

Cinefilia na Veia

Está na rede a segunda edição de Cinefilia. Editada pelo jornalista Fabio Rockenbach, a revista traz críticas dos principais filmes em cartaz e a análise de clássicos e trilhas do cinema, além do maneiríssimo destaque para o sensacional Dossier Giallo, assinado por Luis Henrique Boaventura.

Este blogueiro que vos escreve, aliás, faz parte da equipe do Cinefilia (site e revista). Algumas críticas vistas aqui no Hollywoodiano, como Quem Quer Ser um Milionário?, O Lutador e Watchmen integram essa nova edição da revista.

Entre outras coisas, eu gostaria de elogiar a crítica de Pedro Henrique para o clássico 12 Homens e uma Sentença, assim como resenha do melhor filme já feito sobre o rock e seus fãs: Quase Famosos.

Mas tem muita coisa boa lá. Parabéns a todos pela colaboração, principalmente ao Fabio Rockenbach pelo ótimo trabalho que vem fazendo. Leia a edição aqui. E visite o site.

quarta-feira, março 18, 2009

Especial Paul Newman

O Indomado
(Hud, 1963)



O cinema já contou várias histórias centradas na estranha e inexplicável relação de amor e ódio entre pai e filho. Mas nenhuma foi tão sincera e contundente quanto O Indomado (Hud, 1963), que traz Paul Newman num papel que cairia como uma luva para Marlon Brando se não existisse um ator tão carismático quanto... Paul Newman. E só ele para fazer um personagem desprezível ser tão adorado quanto Hud. Imagino Brando fazendo um vilão, mas Newman criou o rebelde sem causa mais irresistível do cinema. Por sua atuação única e notável, somos capazes de admirar e detestar Hud na mesma proporção.

Nos anos 60, Hud Bannon (Newman) é o cowboy moderno, que ainda traz resquícios da figura clássica que reinou de forma heróica no Velho Oeste, mas com ideologias completamente distintas e voltadas para o individualismo. Dono de um pink cadillac, Hud vive numa fazenda com seu velho pai, Homer (Melvyn Douglas, que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), seu sobrinho Lon
(Brandon De Wilde, o menino de Os Brutos Também Amam), que o tem como um ídolo, e Alma (Patricia Neal, vencedora do Oscar de Melhor Atriz), a dedicada empregada da família.

Saindo com mulheres casadas, jogando, bebendo e dirigindo em alta velocidade, Hud simbolizou a rebeldia de uma geração, que rompia com valores há muito tempo enraizados numa sociedade estagnada pelo conservadorismo. Hud pode ser facilmente visto como o vilão do filme, mas seu eterno embate com o pai representa o conflito de duas gerações na discussão entre o velho e o novo. Dito isso, O Indomado é um filme sobre pontos de vista.

Apesar de tudo o que faz diariamente, o maior passatempo de Hud é provocar seu pai. Inicialmente, o roteiro de Irvin Ravetch e Harriet Frank Jr., baseado em romance de Larry McMurtry, propõe um motivo para a briga entre pai e filho. Mas não demora muito - embora o velho Bannon revele uma bronca em relação ao seu herdeiro - para descobrirmos que jamais saberemos o que levou pai e filho a rosnarem um para o outro.

Até mesmo o problema de Homer com a suspeita de febre aftosa que ameaça seu gado e o futuro da fazenda remete à dualidade do velho e o novo. Somente a ideia de sacrificar o gado deixa o Sr. Bannon com a sensação de perder seu último elo com um tempo que não volta mais. Esse rompimento com o clássico é exatamente o que Hud pretende para, enfim, tocar sua vida como bem entender. E pouco importa se os outros o compreendem.

É interessante constatar que mesmo brigando, pai e filho defendem um ao outro contra as ações de terceiros. De forma sutil, eles também deixam uma admiração recíproca escapar pelo olhar. É como se demonstrassem o amor pelas costas do outro. Como se ninguém, além da platéia, estivesse olhando.

No meio deste "tiroteio" está Lon, o sobrinho de Hud, que admira o tio até o último fio de cabelo, mesmo que ele faça de tudo para o garoto odiá-lo. Mais cedo ou mais tarde, Lon precisará decidir se seguirá o certo (seu avô) ou o errado (Hud). Ele ilustra o jovem dividido entre velhas convenções e novos ideais. No final, Lon deve ser cauteloso e conservador ou impulsivo e rebelde? Eis a questão.


O diretor Martin Ritt, de Norma Rae, conduz o destino de cada personagem até apresentar uma conclusão, mas acho que depende do ponto de vista ou dos ideais do espectador se era Hud ou seu pai quem tinha razão. Por tudo isso, O Indomado é um filme que traz um riquíssimo e raro estudo de personagens ao mesmo tempo em que disseca as mudanças de valores na América. Pelos mesmos motivos, nessa nova época de transição política, econômica e social, O Indomado permanece, curiosamente, como um filme atual.

A bela fotografia em preto e branco de James Wong Howe, premiada com um Oscar, reforça essa interpretação ao revelar o oeste moderno fotografado como nos velhos tempos. Mais uma vez, o conflito entre o antigo e o novo, um dos motivos que levam pais e filhos a se desentenderem até o fim de suas vidas.

O Indomado (Hud, 1963)
Direção: Martin Ritt
Roteiro:
Irvin Ravetch e Harriet Frank Jr. (Baseado no livro de Larry McMurtry)
Elenco: Paul Newman, Brandon De Wilde, Melvyn Douglas e Patricia Neal

terça-feira, março 17, 2009

Breve hiato na justificada arrogância cinéfila


Como cinéfilo que vive no Brasil, eu admito odiar os meses de março e abril. A culpa é desse espaço desnutrido entre os filmes do Oscar e a avalanche do verão americano. Para mim, antes de ser uma obrigação, ir ao cinema é um vício, e como um urso no inverno, retiro-me para a caverna neste período. Chega a dar um desânimo, pois todo ano é a mesma coisa. A secura é tão caótica que eu juro aqui diante de vocês que eu até toparia encarar O Dia em que a Terra Parou e ver Keanu Reeves ser o carro-chefe da avacalhação geral com um dos melhores filmes de todos os tempos.

Se bem que, desta vez, decidiram jogar filmes oscarizáveis como Quem Quer Ser um Milionário? e Frost/Nixon para os meses das vacas magras. Embora não dê para aliviar a barra das distribuidoras, afinal foi uma falta de consideração com cinéfilos de carteirinha falsa da UNE lançar os dois filmes após a festa da Academia, isso pode ter ajudado a salvar março e abril.

Do ponto de vista da bufunfa, a estreia de Quem Quer Ser um Milionário?, com um elenco de ilustres desconhecidos, até que foi uma estratégia e tanto para chamar público. Todo pimpão com seus oito Oscars, o filme de Danny Boyle só poderia render mais agora do que antes da maior festa do cinema. Antes, talvez perdesse em público para O Curioso Caso de Benjamin Button, que tem um nome como Brad Pitt, por exemplo.


Xiitas dirão que a obra-prima Watchmen está disponível para aqueles que procuram um bom cinema. Mas temos opções: Entre os Muros da Escola, vencedor da última Palma de Ouro chegou na semana passada. Atrasadíssimo, mas chegou. Sexta estreia Gran Torino, um dos melhores filmes de Clint Eastwood. Ou seja, ninguém precisa aliviar o vício gastando uma grana pra ver Dia dos Namorados Macabro 3D. Contenha-se, Irmão Cinéfilo, pois temos salvação. Se as distribuidoras escreveram certo por linhas tortas, eu não sei dizer. Mas que deu certo deu.

Será que perceberam que muita gente fica em casa pra ver TV por assinatura? Março é o mês que traz novas temporadas de séries adoradas como Lost e 24 Horas. Talvez seja tudo política com todo mundo amiguinho e tomando um choppinho na orla. Não sei, mas que deu certo deu. Seria uma alternativa para driblar a crise econômica? Pode ser, mas que deu certo deu. Esse ano, pelo menos, não precisamos fazer aquele breve hiato em nossa justificada arrogância cinéfila acostumada com grandes filmes e à espera de outros mais.

Ainda acho que esse ano promete. Teremos Public Enemies, filme de máfia do Michael Mann, Inglorious Basterds, do Tarantino, e Shutter Island, do bom e velho Marty Scorsese. Teremos mais e melhores da Pixar. Até um Star Trek decente depois de muito, muito tempo. Tanta coisa legal até fechar o ano com a volta de James Cameron, com o mega-ultra-misterioso Avatar.

Mesmo no ano da crise, estarei na fila de todos esses filmes fazendo a minha parte como cinéfilo preocupado com a sétima arte, mas sem ignorar os efeitos da marolinha do holocausto econômico que atinge o Brasil. Portanto, amigos, nada de pirataria. Vamos ao cinema, pois temos filmes de todos os tipos.

segunda-feira, março 16, 2009

Os cinco melhores filmes do diretor Clint Eastwood

1
Sobre Meninos e Lobos
(Mystic River, 2003)



2
Os Imperdoáveis
(Unforgiven, 1992)


3
Menina de Ouro
(Million Dollar Baby, 2004)


4
Um Mundo Perfeito
(A Perfect World, 1993)


5
Gran Torino

(Gran Torino, 2008)

quinta-feira, março 12, 2009

Watchmen


O hype de Watchmen, filme e graphic novel, gera a inevitável expectativa de uma opinião inteligente, acima dos padrões da mente humana comum que acorda, toma café da manhã, vai trabalhar, volta para casa e tem pouco tempo para a família porque precisa dormir para enfrentar mais um dia de trabalho. Portanto, peço desculpas aos fãs, o público-alvo do filme de Zack Snyder, mas minha opinião é simples. Com todo o respeito ao original de Alan Moore e Dave Gibbons, Watchmen (2009), o filme, não é flor que se cheire porque cinema não é quadrinho. A sétima arte e a nona arte possuem linguagens diferentes e Zack Snyder não sabe disso. Ou, talvez, não esteja nem aí pra isso. Mas ser fiel a adaptação, com o aval do estúdio, aí até eu, amigo. Agora, trabalhar linguagens distintas com competência, isso sim, não é para qualquer um. Nem para mim, nem para Zack Snyder.

Não vou comentar a trama aqui para não estragar a surpresa de quem não leu, mas preciso apontar exageros e erros que citam levemente a história: Os primeiros minutos que antecedem os créditos e a bela abertura ao som de The Times They are A-Changin', classicaço de Mr. Bob Dylan, por motivos óbvios, já ilustra todo o cenário político e social da realidade alternativa de Watchmen.

Mais alguns minutinhos depois, sabemos exatamente como é o perfil de cada um dos "heróis". Enfim, não precisava de duas horas de absolutamente nada acontecendo na tela até os 30, 40 minutos finais. Esse ritmo pode funcionar nos quadrinhos, mas em um filme sobre vigilantes mascarados, Deus, só dá tééééédio. Soooooono. Mas fazer o quê? Essa é a visão de Zack Snyder. Ele acha que cinema também é xerocar cada quadrinho de uma graphic novel na tela, com uma ou outra mudança.

Watchmen é um filme muito longo sem necessidade. O que realmente vale a pena na trama daria um excelente filme de 1h30, porque o material de Alan Moore e Dave Gibbons é riquíssimo em criatividade, narrativa e ousadia. Mas Snyder, sob a mira dos fãs, colou na prova para manter a fidelidade. O resultado é um filme esburacado e descosturado, parecendo em diversos momentos uma ego trip sem sentido para quem não leu Watchmen.

Outro problema é a abordagem séria demais para 2h45 com um homem azul com pinto de fora na tela. Gente, Snyder faz questão de mostrar o treco balançando pra lá e pra cá. Ele raramente filma o Dr. Manhattan (Billy Crudup) da cintura pra cima, mesmo que já tenhamos visto o Johnson dele. E mais: Figurinos extravagantes, violência e movimentos a la Matrix nas raras cenas de ação dão o tom de uma produção que flerta com o fantástico, certo? Não para Zack Snyder. O diretor de 300 e Madrugada dos Mortos quer o público levando tudo a sério. Cara, isso já é demais pra mim. Mesmo que eu tenha crescido lendo quadrinhos.

Se é para abdicar de qualquer traço de infantilidade e cair na real, acho melhor o exemplo de Christopher Nolan em O Cavaleiro das Trevas. Puro cinema fantasioso, mas tratado com alma de policial dos anos 70 e com os dois pés no chão explicando cada detalhe sobre o universo do Homem-Morcego. Ninguém caiu de pára-quedas na Gotham City de Christopher Nolan. Tudo foi devidamente explicado. Já Watchmen não é para aqueles que não leram a obra de Moore e Gibbons. Diferente de Nolan, Snyder não é autor. Ele é fã, nerd e sabe tudo de quadrinhos. É como pegar um fanático por Star Wars nessas reuniões de gente fantasiada e colocá-lo para estudar o básico de cinema, deixando-o pronto para dirigir mais um episódio da saga criada por George Lucas. Ou seja, sairia um filme que os fãs sempre pediram a Deus. Mas dificilmente faria sentido para o restante do público.

Em Watchmen, não há nada errado com o clima fúnebre sobre o fim do heroísmo numa América que reescreve, de forma fictícia, sua história após a Guerra do Vietnã. O duro é engolir a falta de humor de Snyder, que quer nos convencer de que sua brincadeira é definitiva sobre a crise da nossa civilização. Respeito a obra original, mas acho que Snyder deve considerar Watchmen como literatura fundamental. Certo... Ok.

O filme não erra ao ser violento ou polêmico em sua conclusão que levaria Hitler e o Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, às lágrimas. Não vou comentar isso. Vocês também perceberam que não estou analisando o perfil de cada um dos personagens. Nem o que há de criativo na história original. Deixo isso para os fãs. Estou falando de cinema, OK? Esse é o meu papel aqui. O que me leva a mais um problema: Até entendo que o Dr. Manhattan fale com jeito de HAL-9000, mas não há explicação para a atuação "cara de porta de madeira" dos outros atores, com exceção de Jeffrey Dean Morgan, que interpreta o Comediante, e Jackie Earle Haley, um grande ator num grande papel. Seu mascarado Rorschach é, de longe, ao lado da trilha sonora, a melhor coisa do filme. Com ou sem máscara, Haley torna seu personagem o mais fascinante e de fácil identificação com a platéia. Sua intenção, por isso mesmo, está à anos-luz do restante do elenco, assim como Zack Snyder.

Por tudo isso, não consigo levar a sério o hype em torno do filme. Para você ter uma ideia, tem gente dizendo que é o "Blade Runner de nosso tempo", pois não será compreendido agora, mas terá o devido reconhecimento em alguns anos. Ora, faça-me o favor. Blade Runner saiu de um conto e Ridley Scott criou toda uma atmosfera, que é estudada até hoje. Watchmen saiu de uma HQ e foi para o cinema sem um pingo de personalidade de seu diretor. É preferível comprar a edição encadernada e ler tudo de uma vez só. Aposto que será uma experiência superior ao filme de Zack Snyder. Você quer estudar Alan Moore e Dave Gibbons? Ok. Até entendo. Mas quem vai estudar um diretor que coloca Hallelujah, de Leonard Cohen, como trilha de uma cena de sexo?

Admito que gosto de algumas coisas no filme. Como a destruição mais bacana de uma metrópole que já vi no cinema, além do Rorschach, assim como o visual e as músicas escolhidas a dedo. Mas são detalhes que me impressionam graças a minha fome eterna por conteúdo nerd. Mesmo assim, preciso deixar a empolgação de lado e concordar com Alan Moore: Watchmen não funciona no cinema.

Watchmen (2009)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Alex Tse e David Hayter (Baseado na graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons)
Elenco: Jackie Earle Haley, Patrick Wilson, Billy Crudup, Jeffrey Dean Morgan, Malin Akerman, Matthew Goode e Carla Gugino

terça-feira, março 10, 2009

Golpe de Mestre

Especial Paul Newman


Quatro anos após Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), o diretor George Roy Hill e os astros Paul Newman e Robert Redford se juntaram para fazer algo tão bom e especial quanto a primeira reunião do trio. Acho que é simplesmente questão de gosto pessoal escolher seu favorito entre
Butch Cassidy and the Sundance Kid e Golpe de Mestre (The Sting, 1973). Mas foi o segundo filme que consagrou a colaboração entre Hill, Newman e Redford com os sete Oscars dados pela Academia: Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Montagem, Direção de Arte, Figurino e Trilha Sonora, claro, afinal você pode até não ter visto Golpe de Mestre, mas já ouviu a música composta por Marvin Hamlisch.

Esse é o melhor filme já feito sobre "roubos com elegância e inteligência". Não falo de um filme sobre assalto a banco, pois Um Dia de Cão, de Sidney Lumet é imbatível. Falo de trapaceiro organizando um plano para enganar um ricaço, aplicar-lhe o golpe e fugir com a grana. Você conhece esse "gênero", que costuma sempre ser feito com muito bom humor, elegância e leveza no lugar de violência, sangue e palavrões. Um filme de criminosos para toda a família. Como Onze Homens e um Segredo - o de 1960, dirigido por Lewis Milestone, e o de 2001, de Steven Soderbergh. Mas diferente das versões de Onze Homens, em que os astros visivelmente preferem se divertir a atuar de verdade, Golpe de Mestre coloca os atores comprometidos com um roteiro perfeito e um diretor em total controle de seu ofício. Obviamente, Paul Newman e Robert Redford se divertem neste filme, mas o compromisso deles é com o cinema e o público. Não é uma festa particular entre amiguinhos que se divertem mais que a platéia. É entretenimento feito com seriedade, profissionalismo.

Mas é difícil comentar Golpe de Mestre sem entregar as camadas do grande roteiro de David S. Ward
, um dos mais criativos e empolgantes da história do cinema. Deixe-me colocar assim: Eu acho que o tempo é o melhor crítico que existe. E visto hoje, por um marinheiro de primeira viagem, Golpe de Mestre ainda permanece indecifrável, imprevisível até a última cena. Mesmo com tantos filmes nos dias de hoje com reviravoltas atrás de reviravoltas, banalizando um artifício que já foi usado tantas vezes de forma genial. Esse é o maior elogio que posso fazer ao roteiro de Ward.

Imaginar o bandido triunfando no final ainda não era comum no cinemão dos anos 70. Naquele tempo, mesmo que os trapaceiros fossem simpáticos e sorridentes, eles costumavam terminar mortos ou presos em nome da lei, em histórias baseadas ou não em fatos reais. Isso tudo para mostrar que o crime não compensa. Ainda no reflexo da forte censura instalada em Hollywood, que tentava driblar o velho Código Hays, que
cuspia em criminosos, marginais, prostitutas e qualquer manifestação de sexualidade, Golpe de Mestre chegou aos cinemas. Mesmo um ano após O Poderoso Chefão, esse tipo de filme, abordado de forma liberal, ainda era sinônimo de raridade. Imagine só, então, um filme desses ganhando o reconhecimento da Academia.

Golpe de Mestre se passa nas ruas de Chicago, em plena Depressão de 30. Nada mais esperto que colocar vigaristas pobres enganando vigaristas ricos naquela época. Robert Redford é John Hooker, um jovem trambiqueiro que passa a perna em trouxas, ao lado de seu amigo Luther Coleman (Robert Earl Jones). Quando seu comparsa é assassinado pelos capangas de Doyle Lonnegan (o fantástico Robert Shaw), um trapaceiro milionário, Hooker procura um velho amigo de Coleman, o rei dos golpes Henry Gondorff (Paul Newman). Juntos, eles planejam a "vingança" contra Lonnegan. Sem tiros, mortes, sangue e violência. Apenas um golpe muito bem organizado por Gondorff e sua gangue.

O diretor George Roy Hill conta o golpe em capítulos, posicionando sua câmera longe da ação, como um observador. A linguagem é de cinema, mas a inspiração é totalmente teatral. Golpe de Mestre tem um grande diretor e um roteiro impecável, mas ganha vida por causa de seus atores carismáticos no palco, ops, digo, na tela. É uma sensação intimista vê-los ali na frente em um filme de gestos e olhares, como se estivessem em um eterno jogo de pôquer ou apostando suas vidas numa partida contra os melhores jogadores do mundo. Um pode enganar o outro e você nem irá perceber. A não ser que os próprios jogadores revelem o truque.

Golpe de Mestre também é um filme sobre amizade verdadeira, camaradagem masculina acima de todas as coisas básicas e primatas que movimentam o universo macho: Mulheres, esportes e dinheiro. É claro que ajuda o fato de as mulheres deste filme serem feias, mas antes que você pense nas palavras "gay" ou "machista", há o respeito e a admiração pelo sexo feminino em Golpe de Mestre. Só acho que o plano de Henry Gondorff não é pela vingança ou 100% pela grana. É para "valer a pena", como ele mesmo diz a John Hooker. Nada seria mais divertido que ganhar dinheiro fácil na época da Depressão. E nada nem ninguém pode desviar a atenção da dupla. Isso é amizade masculina. Ou como penso que deveria ser.

Poucas vezes vi um filme tão elegante como Golpe de Mestre. Não digo isso "somente" pela direção de arte maravilhosa de Henry Bumstead ou os figurinos elaborados pela lendária Edith Head, mas principalmente pela presença dos atores, além do clima intimista das cenas, o olhar, o jeito de caminhar, as piscadelas e o famoso toque no nariz que simboliza a cumplicidade de cada membro da gangue de Gondorff. Charles Chaplin, que morreu em 1977, deve ter adorado. São partes que formam um todo. Uma elegância rara e genuína. Com isso, posso dizer que a música de Marvin Hamlisch enriquece e, ao mesmo tempo, complementa essa atmosfera. Uma trilha ousada, por sinal. É um som do ragtime, que imperou entre 1897 e 1918, sendo jogado numa trama ambientada duas décadas depois. Muito antes de algo como Moulin Rouge surgir nas telas, o cinema já experimentava músicas de diferentes épocas em cenários que desconheciam tal estilo sonoro.

Curiosidade pra fechar: Enquanto o foco principal de Butch Cassidy está em Paul Newman, Golpe de Mestre se concentra mais em Robert Redford. Ou seja, quem não tem bigode fica em primeiro plano. Não lembra? Pois Newman não tinha bigodinho no western de George Roy Hill. Em Golpe de Mestre, quem fez barba e bigode foi Robert Redford. É uma curiosa troca de looks, que focaliza o protagonista de cara limpa, enquanto o parceiro inseparável (de bigode) age como apoio ideal. Seria mera casualidade? Não sei dizer, mas é cinema que não volta mais. Feito por artistas e não por comitês.

Golpe de Mestre (The Sting, 1973)
Direção: George Roy Hill
Roteiro: David S. Ward
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Robert Shaw, Charles Durning, Ray Walston, Eileen Brennan, Harold Gould, John Heffernan, Dana Elcar, Jack Kehoe, Dimitra Arliss e Robert Earl Jones

As Expressões de Steven Seagal


Vi esse quadro de emoticons do Steven Seagal no Buzz, do Globo.Com. Sensacional! Não preciso mais escrever críticas, NADA! Ainda assim, liga não, Seagal, isso é só brincadeira. Você é "o cara". E gostaria que soubesse que adoro Fúria Mortal - aquele em que você faz o Gino quebrando os dentes dos bandidos com uma bola de sinuca. Cult!

segunda-feira, março 09, 2009

O Clássico e o Cult


Por Charles Magno Medeiros*


No mundo da cultura e das artes, os termos nem sempre são precisos ou interpretados com forte carga de subjetividade. A palavra “clássico”, por exemplo, remete à arte, à literatura e à cultura dos gregos e romanos, como define o dicionário Aurélio na primeira acepção do termo. O adjetivo também é traduzido como algo “da mais alta qualidade, modelar, exemplar” e que pode ser considerado como modelo de um gênero. Ou seja, num primeiro sentido, clássico se refere ao que foi produzido em determinada época, considerada “clássica” e que serve de padrão e referência para todo o sempre na história da cultura e da arte. Na outra acepção, evoca a qualidade da obra.

No cinema, o termo "clássico" é usado em vários sentidos. Pode se referir aos primórdios do cinema, quando os inovadores e mestres construíram a sintaxe, a narrativa e a linguagem cinematográfica e fizeram filmes que, segundo críticos e historiadores, são considerados da mais alta qualidade, modelares e exemplares. Época em que se modelou a “narrativa clássica”, ainda predominante no cinema, principalmente o norte-americano. Assim, nesta dimensão histórica, são considerados clássicos, por exemplo, D.W Griffith (O Nascimento de uma Nação), F. W. Murnau (Aurora), Fritz Lang (Metrópolis), Edwin S. Porter (O Grande Roubo do Trem), Sergei Eisenstein (O Encouraçado Potemkin), King Vidor (A Turba), Erich von Stroheim (Ouro e Maldição), entre muitos outros.

Na categoria “clássicos” entram inovadores de todas as épocas, que influenciaram gerações, como Orson Welles, Fellini, Godard, e os neorrealistas italianos. E todos os mestres, de John Ford e Howard Hawks a Sergio Leone, de Jacques Cocteau e Jean Vigo a Michael Haneke, de Billy Wilder a Scorsese, de Buster Keaton e Charles Chaplin a Woody Allen, de Fellini a Marco Bellochio, de Bergman a Antonioni e Visconti, de Lubitsch a Michael Haneke, de David Lean a Amos Gitai, de Resnais aos irmãos Dardenne, de Joseph von Sternberg a Herzog e Fassbinder, de Ozu a Kurosawa, de Buñuel a Almodóvar, de Jean Renoir e René Clair a Alain Resnais, de Hitchcock a Chabrol. E bota nomes na lista... Em qualquer acepção, são clássicos.

Em alguns contextos, clássicos se referem aos filmes produzidos na chamada era de ouro do cinema norte-americano, que abrange as décadas de 30,40 e 50. Mas, de uma forma mais abrangente, definem-se como clássicos os grandes filmes, considerados obras-primas, independentemente da época em que foram produzidos.

Como a palavra clássico geralmente dá uma idéia de coisa antiga, cunham-se outras expressões, como “clássicos modernos” ou “clássicos contemporâneos”. Um filme de Clint Eastwood, Martin Scorsese ou de Woody Allen podem se encaixar nesta última definição.

Mas quem define o que é um clássico ou não? A resposta é simples: são os críticos, os estudiosos, os historiadores, os professores de cinema. Na arte funciona assim. Portanto, não adianta o público e o blogueiro elevarem um filme à categoria de clássico. Só entram para o panteão aqueles filmes que, no consenso de críticos e especialistas de renome, forem considerados clássicos. A palavra consenso da frase anterior é importante: a opinião de meia dúzia de críticos também não é parâmetro para se decidir se um filme é clássico ou não. Além disso, leva-se em conta o pedigree dos críticos e especialistas. Apenas para simplificar, o crítico ou especialista, para servir de parâmetro, deve conhecer bem a história e a linguagem do cinema. No mínimo.

Para os outros filmes, que têm uma legião de fãs, mas não são considerados clássicos pelos críticos, a expressão “cult” vem a calhar. É uma categoria mais democrática, que não precisa do aval de especialistas. O termo "cult" é usado para classificar um filme que tem considerável número de fãs, independentemente da época, do sucesso e da qualidade da obra. São as referências de uma tribo. Blade Runner, de Ridley Scott, O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, e franquias como Star Wars, de George Lucas, são considerados “cult” para milhões de pessoas, enquanto os toscos filmes de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, ganharam esse status em comunidades de fãs de trash. O seriado Chaves, transmitido há décadas pelo SBT, e que costuma surrar concorrentes do horário em outras emissoras, também é um exemplo de cult.

O cult, portanto, não tem nada a ver com a qualidade da obra. Os famosos filmes B de Hollywood não têm pretensão a ser clássicos – à exceção de algumas produções formidáveis de Robert Siodmak, Samuel Fuller, Anthony Mann, Jacques Tourneur e Robert Wise, entre outros, que se tornaram clássicos –, mas são candidatíssimos a cult, como as horrorosas produções de Ed Wood, chamado o pior diretor de cinema de todos os tempos e que ganhou uma bela homenagem de Tim Burton – este, por sinal, um dos diretores mais cult da atualidade.

O cult também não está ligado necessariamente ao sucesso do filme. Muitos cults fracassaram nas bilheterias na época do lançamento, mas foram redescobertos e incensados muito tempo depois, com a sua difusão pelo vídeo. De tempos em tempos, alguns críticos de cinema exumam obras que caíram no esquecimento. É o caso, por exemplo, de Sangue de Pantera, de Jacques Tourneur, que foi resgatado pela crítica (inclusive por Martin Scorsese), ganhou um insosso remake de Paul Schrader, em 1983, e continua cultuado por cinéfilos.

Alguns filmes podem ser considerados clássicos e cult, ao mesmo tempo. Alguns exemplos: Casablanca, de Michael Curtiz, Carta de uma Desconhecida, de Max Ophüls, e O Retrato de Jennie, de William Dieterle. E até mesmo E o Vento Levou, o cult dos cults.

A obra cult movimenta uma legião de seguidores dedicados, que às vezes se organizam em fã-clubes, mantêm contatos entre si, trocam informações e produtos ou freqüentam lojas especializadas. Os membros dessas comunidades até recebem denominações, como os trekkers, fãs da franquia Jornada nas Estrelas, ou os otakus, os maníacos dos japoneses animes e mangás.

Em resumo: se o filme que você ama não é considerado clássico pelos especialistas, não tem importância. Ele pode ser cult.


* Charles Magno Medeiros é jornalista, professor, crítico de cinema e meu mentor na sétima arte. A foto do post pertence ao filme "Aurora", de F.W. Murnau. E há uma explicação para tal escolha: O autor do texto não se decide entre "Aurora" e "Cidadão Kane" na hora de dizer qual é o melhor filme de todos os tempos.

sexta-feira, março 06, 2009

Watchmen, amor, ódio, crianças, censura e pinto azul


Um dos quadrinhos mais cultuados de todos os tempos chega aos cinemas hoje em versão carne, osso e pixels. Watchmen, escrito por Alan Moore e ilustrado por Dave Gibbons, virou filme. Com direção de Zack Snyder, de 300 e Madrugada dos Mortos, Watchmen já recebeu altos elogios na mesma proporção em que foi desprezado.

Lançada em meados dos anos 80, a HQ foi dividida em 12 edições. Quem conhece e acompanha a nona arte, sabe que Watchmen revolucionou os quadrinhos, levando-os a um novo patamar. Há muito tempo, então, que os fãs querem ver um filme da criação de Alan Moore. O autor, no entanto, menospreza qualquer adaptação de sua obra para o cinema, inclusive a de Zack Snyder. Para Moore, entre outras razões, Watchmen só funciona nos quadrinhos.

Aos desavisados, que acham que filme de super-herói é sempre para crianças, Watchmen ganhou censura 18 anos. Violência, sexo, palavrões e nu frontal do peladão Dr. Manhattan y otras cositas mas talvez não deixem a garotada esperta de cabelo em pé. Mas seus pais talvez queiram bater no pobre gerente do cinema, que não tem culpa se super-herói azul não precisa de cueca. Então, pense um pouco antes de cair na empolgação do pimpolho. Assistir Watchmen antes dos guris é uma opção para avaliar o conteúdo.

Na verdade, essa coisa de pudor é um tanto hipócrita quando temos novelas e Big Brothers abertos para todos os tipos de público na TV do país do carnaval. Sobre o excesso de violência, na época do lançamento dos quadrinhos, talvez Watchmen fosse capaz de chocar a sociedade oitentista, mas hoje o cidadão comum está acostumado com as torturas de 24 Horas e as músicas chatas da Mallu Magalhães. O fato é que não vemos mais o mundo como nossos pais e avós o interpretaram. Estamos por cima da carne seca e prontos para o que der e vier. E, desculpe-me, mas também incluo as crianças nisso. Elas aprendem muito mais hoje do que eu jamais aprendi há 20 anos. Algo como Louis Armstrong cantou em What a Wonderful World.

Se Alan Moore não quer saber do Watchmen do cinema, um monte de gente quer. O filme não pertence nem mais a Zack Snyder, pois já chegou às telas. Agora, a obra pertence ao público. O engraçado será ver como os responsáveis tentarão conter a criançada com menos de 18 anos, que cansou de ver os trailers, além de pôsteres, bonequinhos e todo o tipo de merchandising em cima do filme. Por isso, o sucesso nas bilheterias ainda é uma incógnita. É uma armadilha (ou um teste) e tanto para Hollywood, afinal será que blockbuster precisa ser infantil para faturar alto? A obra original precisa ser alterada para agradar diferentes públicos? Zack Snyder diz que não.

Hollywood muda o conteúdo de livros, games, peças e outras fontes não somente para ajustar a linguagem correta nas telas, mas também para não espantar o perfil de espectador que aprende o que é Jane Austen numa sala de cinema. Há tempos que cinema deixou de ser arte para virar negócio. Isso, claro, na visão de Hollywood. No entanto, uma versão fiel de Watchmen pode agradar aos fãs, mas e quanto ao restante do público que não leu a HQ? Talvez tenhamos alcançado um limite e pode ser que o resultado nas bilheterias de Watchmen faça a indústria repensar alguns tabus.
Ou não. Vamos ver onde isso vai dar.

O mundo real é ou não é um caos? Esse Alan Moore pode ser um chato de galochas, mas é um visionário....

quarta-feira, março 04, 2009

Filme de máfia é aqui!


Johnny Depp é John Dillinger


Public Enemies
, de Michael Mann, ganhou um pôster bacana. O filme narra a caçada do FBI, liderado por Melvin Purvis (Christian Bale, que está em todas), ao mafioso John Dillinger (Depp) e sua gangue.

Este é um dos filmes mais esperados do ano aqui no Hollywoodiano. Minha confiança no projeto é tão grande que eu já desafio a especialista nas previsões da Academia, a minha amiga Kamila, do blog Cinéfila Por Natureza, a me dizer quais serão os outros quatro indicados ao próximo Oscar de Melhor Filme.

Aproveitando, veja abaixo meus cinco "filmes de máfia" prediletos. A lista é óbvia, mas dê uma olhada na ordem de preferência.


1- O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola
2- O Poderoso Chefão - Parte II (1974), de Francis Ford Coppola
3- Os Bons Companheiros (1990), de Martin Scorsese
4- O Poderoso Chefão - Parte III (1990), de Francis Ford Coppola
5- Os Intocáveis (1987), de Brian De Palma


Mesmo com tanta expectativa, ainda não imagino o novo Michael Mann (Fogo Contra Fogo, Colateral, O Informante) roubando o lugar de algum filme da minha lista. Public Enemies estreia dia 3 de julho no Brasil.

Atualização

O trailer já está na rede. Sensacional! Veja aqui.

segunda-feira, março 02, 2009

Butch Cassidy and the Sundance Kid

Aniversário de 40 anos


Sempre quando assisto ao clássico Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), eu lembro do ditado "Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come." E o clima do faroeste mais popular do cinema é esse mesmo. O grande (e subestimado) diretor George Roy Hill colocou Paul Newman e Robert Redford juntos pela primeira vez na tela para contar os últimos dias da carismática dupla de assaltantes de banco (e trens). Hill olha para a decadência do Velho Oeste, farto de ladrõezinhos, à beira da evolução com a ferrovia e, como bem mostra o filme, o surgimento da bicicleta. Neste clássico, todos nós sabemos como será o fim de Butch (Newman) e Sundance (Redford). Menos os dois patetas.

Sim, patetas, afinal George Roy Hill permitiu que seus dois protagonistas brincassem um pouco em cena. Inicialmente, o ótimo roteiro de William Goldman não tinha uma leitura bem-humorada. Mas quando começou a rodar, Hill foi surpreendido pelas divertidos improvisos dos astros, gostou do que viu e deixou acontecer. O resultado é algo que só poderia ter acontecido na Hollywood clássica. Nada esquematizado pelo estúdio, tudo feito com tranqüilidade, sem medo de desagradar o grande público. Nada de fórmulas, apenas cinema contando uma boa história. E as influências do velho western estão lá, mas Butch Cassidy and the Sundance Kid é um filme único do gênero justamente por sua abordagem descontraída para um roteiro construído como um réquiem para os anti-heróis.

Butch Cassidy and the Sundance Kid é sobre amizade, morte e a impossibilidade de seguir em frente sem fazer aquilo que você gosta. É a busca pela satisfação. Mesmo que isso leve a dupla de bandidos mais legais do cinema à morte. A força do filme é tanta que é possível esquecer que o roiteiro é baseado em fatos reais.

É assim que vejo este filme: Os tempos de glória de Butch Cassidy e sua "Gangue do Buraco na Parede" já estão no passado. O mundo está evoluindo e só ele, além de seu fiel amigo Sundance Kid, não enxergou isso. Ambos continuam roubando, gastando e não avaliando as conseqüências de seus atos. Mas para evoluir, o mundo precisa se livrar de sujeitos como Butch e Sundance. Com isso, uma equipe que parece vinda do além é contratada para seguir a dupla. Por mais que Butch e Sundance corram, a equipe não deixa de persegui-los. Mais cedo ou mais tarde, eles serão alcançados. É a morte inevitável chamando. Repare como as figuras de seus perseguidores mal aparecem. Chega até a ser assustador, pois vemos tudo pelo ponto de vista amedrontado da dupla principal.

O interessante nesta visão de George Roy Hill é constatar que Butch e Sundance
não são covardes. Eles simplesmente não apreciam a violência e preferem resolver tudo com inteligência. Butch nem sequer atirou em um homem durante toda a sua vida. Já Sundance é rápido no gatilho, mas prefere seguir os planos espertos do chefe a dar alguns tiros em seus inimigos. Hill coloca dois bandidos que não compreendem a violência sendo perseguidos por homens da lei dispostos a descansar somente quando eliminarem seus alvos de uma vez por todas.

A saída da dupla é fugir do país. Eles param na Bolívia, onde Butch pensa que a vida será mais fácil. Mas deste momento até a cena final, vejo a segunda parte do filme como uma alegoria ao desprezo, à prepotência e à ignorância dos americanos em relação ao resto do mundo. Por isso, Butch e Sundance, longe de seus perseguidores implacáveis, começam a roubar todos os bancos da Bolívia. Pensam que jamais serão pegos pelas autoridades daquele pequeno e pobre país. É aí que reside a ironia de George Roy Hill, um homem à frente de seu tempo, já denunciando o atraso no raciocínio americano em relação aos seus demais vizinhos.

Hoje parece um tanto over em algumas cenas, mas confesso que ainda adoro a trilha composta por Burt Bacharach, que marcou época. Tirando a cena famosa com Paul Newman fazendo acrobacias na bicicleta para encantar a bela Katharine Ross, ao som da eterna Raindrops Keep Fallin' on My Head, o restante da trilha, de fato, parece envelhecida. Mas essa cena inesquecível é reforçada pela bela fotografia de Conrad L. Hall - repare quando a bicicleta transportando Newman e Katharine passa em frente a uma cerca. Dá pra ver flashes dos raios de sol atravessando os intervalos da construção de madeira. Bem sutil, mas um trabalho magnífico de Hall. É uma das coisas mais lindas que já vi. É uma cena que representa a magia do cinema. Uma cena que transmite todo o carisma do filme celebrando a vida como ela deve ser aproveitada antes da hora de morrer.

Isso é Butch Cassidy and the Sundance Kid, que ganhou quatro Oscars - Trilha Sonora, Canção, Fotografia e Roteiro Adaptado. Um filme com direção de primeira, um roteiro muito bem escrito, atores cheios de carisma se divertindo e jamais esquecendo que estão atuando profissionalmente. De quebra, ainda consegue apresentar perfeição em fotografia, figurino, cenários, trilha e todo o resto. Um filme completo. E, infelizmente, também é cinema como não se faz mais.

Antes de terminar, sei que o filme se chama apenas Butch Cassidy no Brasil. Mas aí seria a mesma coisa que traduzir Thelma & Louise somente para... Thelma. Desculpe-me mas insisto em chamá-lo pelo título original.

Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969)
Direção: George Roy Hill
Roteiro: William Goldman
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Katharine Ross, Strother Marti, Cloris Leachman, Jeff Corey, Henry Jones e Ted Cassidy


A crítica de 'Butch Cassidy and the Sundance Kid' é parte do 'Especial Paul Newman',
que vai até 31 de março no 'Hollywoodiano'.

Trailerzaço do Terminator 4

Caramba! Você viram o trailer de O Exterminador do Futuro - A Salvação? Eu não dava nada por este filme... Pra começo de conversa, acho que a história pertence a James Cameron, que encerrou a saga no segundo filme. E odeio o McG, diretor do novo filme e das terríveis versões para o cinema de As Panteras.

Mas dê só uma olhada no trailer abaixo, que não tem piti do Christian Bale. Ficou demais. Maldita Hollywood!


domingo, março 01, 2009

Dúvida


John Patrick Shanley ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original pelo belo Feitiço da Lua (1987). Depois disso, dirigiu o equivocado Joe Contra o Vulcão (1990), mico pago por Tom Hanks e Meg Ryan. Também escreveu poucas e bobas como Vivos (1993) e Congo (1995), ambos dirigidos por Frank Marshall. Apesar do nome, John Patrick Shanley ganhou notoriedade bem longe dos cinemas ao criar a peça premiada Doubt. E por causa do vínculo do diretor e roteirista com Hollywood, a adaptação de sua peça para a telona era questão de tempo (e dinheiro). No cinema, Dúvida (Doubt, 2008) conserva o grande texto original e tem a ajuda de ótimos atores - Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis -, mas apesar da presença de seu criador no roteiro e na direção, o filme sofre com a falta de um cineasta mais experiente no comando.

Vamos voltar a falar da carreira de Shanley para entender os problemas da versão cinematográfica de Dúvida. É óbvio que o cara sabe escrever. Ganhou um Oscar pelo script de Feitiço da Lua, mas o filme estrelado por Cher caiu nas mãos de um diretor do porte de Norman Jewison. Ainda bem, pois ficou muito bom. Mas quando resolveu dirigir Joe Contra o Vulcão, Shanley se deu mal. Por outro lado, seus roteiros bem-intencionados de Vivos e Congo também não renderam nada além do ridículo ao serem dirigidos por um sujeito que é bem melhor como produtor: Frank Marshall.

Dúvida pode manter a qualidade da peça nas telas, mas toca naquela questão que vira a nossa cabeça cinéfila volta e meia: "Cinema pode ou não pode ser teatro?" Para mim, a resposta é simples e direta: "Não!" Vejamos os exemplos de filmes com influências teatrais, mas com alma, cara, coração e formato de cinema. Um deles é o clássico 12 Homens e uma Sentença (1957), de Sidney Lumet, diretor que entende de cinema, claro. Outro é Beleza Americana (1999), com várias cenas filmadas como se estivéssemos diante de um palco, mas feitas por um cara que também entende a linguagem de cinema. E olha que foi o primeiro filme de Sam Mendes, diretor vindo do teatro. Um exemplo recente (e realmente adaptado de uma peça) é Frost/Nixon (2008), de Ron Howard, diretor que sempre pensa em cinema. Seu filme, embora "paradão", consegue ser mil vezes mais ágil, empolgante e nervoso que Dúvida, um teatrão (no pior sentido da palavra) dentro do cinema.

Mas a direção frouxa e sem pulso firme na sala de edição é compensada pelo elenco monstruoso - especialmente por Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman. Não sei se é do texto de Shanley, acho que é mérito dos atores, mas gosto do ponto de vista que coloca a freira Meryl como vilã, falando baixinho (como sua personagem em O Diabo Veste Prada), e o padre Hoffman como herói, gritando. Isso tudo com Meryl acusando Hoffman de pedofilia. Mas não se engane: Ela é a vilã da história. Ele é o mocinho. Embora, obviamente, o texto queira deixar a platéia em... hmm... dúvida, Meryl e Hoffman me convenceram disso. É a mesma visão do xerife de Gene Hackman e o bandido de Clint Eastwood em Os Imperdoáveis (1992). Hackman é o homem da lei, mas é o vilão da história. Clint, o bandido, é o mocinho.


Apesar do texto forte e muito bem escrito, o filme vale pelo elenco, que também inclui
Amy Adams e a notável Viola Davis, com cerca de 10 minutos na tela. A peça pode até valer por todo o conjunto. O filme não. No cinema, Dúvida não passa de teatro filmado - o que deve ser defendido por amantes da arte nos palcos. Mas quem gosta de cinema não deveria idolatrar o filme de John Patrick Shanley. Só se for para reverenciar um bom texto e ótimos atores em grande forma. Agora, se estivesse nas mãos de um diretor competente, o mesmo roteiro e os mesmos atores renderiam um filmaço.

Dúvida (Doubt, 2008)
Direção:
John Patrick Shanley

Roteiro:
John Patrick Shanley (Baseado em sua peça)

Elenco: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis