sábado, janeiro 31, 2009

Quem Quer Ser um Milionário?


Um filme precisa levar a platéia junto com imagem, som e movimento do início ao fim. O cinéfilo precisa torcer, vibrar e sofrer com os personagens. Com 15 minutos de projeção, o espectador deve se sentir parte do filme... Admito que esse parágrafo traz elementos que procuro numa sala de cinema, mas alguns filmes trazem aquela perguntinha básica de volta martelando na cabeça: Afinal, o que é cinema?

Para mim, cinema precisa ter emoção. E isso não é sinônimo necessariamente de lágrimas. Emoção é viver uma experiência arrebatadora capaz de transportar você e eu para uma dimensão que só existe do lado de lá da tela. É esquecer completamente da realidade e... sonhar. O filme pode ser inspirado em fatos reais, baseado numa obra de ficção ou fruto de uma idéia original. Pode ser um épico grandioso. Ou pode ser uma produção boa, bonita e barata. Não importa. Mas emoção é fundamental. Emoção no vocabulário cinéfilo quer dizer magia. E se você gosta de cinema, sabe bem o que quero dizer. Há magia na cena do vôo da bicicleta, de E.T. - O Extraterrestre. Ou na cena de Gene Kelly Cantando na Chuva. E existe magia pra dar e vender no grande filme que resgata o talento do diretor britânico Danny Boyle: Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire, 2008).

Mas por onde andava essa energia de Danny Boyle? A contribuição artística deste diretor sempre esteve focada em uma câmera de mão captando imagem e som com muita velocidade e fúria. Sua visão de um mundo desconcertante, caótico, com personagens dignos vivendo de forma indigna e tentando sobreviver e resistir às tentações à margem de uma sociedade corrompida foi apresentada em meados da década de 90 com os cults
Cova Rasa e Trainspotting, que revelaram o ator escocês Ewan McGregor. De lá para cá, no entanto, o próprio Boyle precisou conquistar a máquina hollywoodiana e, claro, o grande público. Com isso, seu estilo visual impregnado nas entranhas da narrativa de seus filmes ficou cada vez mais diluído em produções de encher os olhos, mas que em algum momento se perdiam na ambição dos estúdios. Ou do próprio diretor deslumbrado com o que podia fazer com mais dinheiro no bolso. Não sei bem como foi. Mas o que importa é que Danny Boyle está de volta. Bastou se apaixonar pelo projeto perfeito e agarrar a oportunidade com unhas e dentes.

Em Quem Quer Ser um Milionário?, Boyle acredita no destino. Antes de qualquer coisa, o filme é sobre o destino. Sim, é uma história de amor, mas desenhada desde os tempos de infância pobre do protagonista Jamal Malik nas favelas da Índia. Sempre acompanhado do irmão ganancioso Salim. O caminho dos dois se cruza com o da menina Latika. E o que esse trio passa e sofre até se encontrar novamente aos 20 e poucos anos só merece um final revigorante. Acredite: Você vai sofrer junto com o pequeno Jamal (interpretado em duas fases pelos meninos Ayush Mahesh Khedekar e Tanay Hemant Chheda respectivamente) e o jovem Jamal (o carismático Dev Patel, que merece um belo futuro no cinema) até chegar aos extraordinários minutos finais, quando terá vontade de chorar - uma vontade que será quebrada logo depois com a vontade incontrolável de aplaudir durantes os créditos finais.

Mas para falar de Quem Quer Ser um Milionário?, preciso revelar meus problemas com flashbacks, que, pensou eu, são geralmente recursos gratuitos que surgem para salvar uma história em seus momentos capengas, que ajudam, principalmente, a desenvolver personagens. Mas é claro que existem exceções e Danny Boyle mostra como o flashback deve ser utilizado na narrativa. O truque está todo na sala de edição e, claro, no roteiro. Tudo faz sentido na história de Jamal, que começa o filme numa versão indiana do programa Who Wants To Be a Millionaire?

Mas por que ele está ali? Como ele sabe todas as respostas? Os flashbacks cortam a situação para explicar com simples detalhes. São símbolos, cenas ou palavras do passado que farão a platéia compreender o jovem Jamal diante das câmeras do programa de TV. A verdade é que sem um bom diretor contador de histórias, o ótimo roteiro de Simon Beaufoy - adaptado do livro Q&A, de Vikas Swarup - estaria destinado ao fracasso. A trama atravessa, pelo menos, duas décadas da vida de Jamal, mas Danny Boyle jamais perde a concentração, o fôlego e consegue montar seu filme de maneira perfeita. Como um craque, Boyle ainda tem tempo para mostrar a Índia ao lado ocidental do mundo como ela nunca foi vista antes. Vamos do lado pobre ao lado rico num piscar de olhos. E você estará tão atento à história de Jamal, que talvez nem perceba esses detalhes vendo o filme apenas uma vez. São detalhes convincentes que revelam, inclusive, características sociais e culturais de um povo. Por essas e outras razões que não cabem aqui, Quem Quer Ser um Milionário? é para ser visto e revisto.

Feito com coração, honestidade e generosidade, Quem Quer Ser um Milionário? é um filme inesquecível. Feito por quem entende os valores básicos da linguagem cinematográfica. Feito por quem entende que o cinema deve ser "de arte" e também "comercial". Feito por quem não tem medo de ser imperfeito e seguir em frente. Feito por quem não conhece fronteiras na sétima arte, afinal Danny Boyle viu ou não viu Cidade de Deus, de Fernando Meirelles? Pois então repare na seqüência das crianças correndo - filmada de forma estupenda por Boyle.

Outro aspecto importante é constatar que finalmente o mundo vira os olhos para um filme da era globalizada. Demorou, mas as produções de língua inglesa estão analisando o restante do planeta, assim como as qualidades do cinema mundial. Aos poucos, vimos filmes pesados como Babel ou Cartas de Iwo Jima, mas é a sensibilidade e a emoção universais de Quem Quer Ser um Milionário? que abrirão as portas para um novo cinema que abraça e, mais do que tudo, respeita o próximo.

Acho que foi o grande diretor Billy Wilder que disse certa vez que um filme precisa fechar com um grande final. Se a platéia se emocionar com um final extraordinário, ela esquecerá ou perdoará as falhas anteriores. É algo assim. Danny Boyle sabe disso e entregou um final que amarra todas as passagens de Quem Quer Ser um Milionário? com sua crença no destino. Não falo dos créditos finais, com a canção Jai Ho - não adianta fazer força, pois você sairá cantando do cinema -, mas de toda a seqüência final na estação de trem, com os flashes da memória de Jamal lembrando do que ele passou para chegar até ali em seu momento de glória pessoal. Isso é cinema, meus amigos. Música - e que música esperta, original e empolgante do indiano A.R. Rahman -, imagem, montagem e som contando uma bela história.

É um filme mágico, que fará você sofrer e torcer com a saga de Jamal Malik, que começa literalmente na merda e termina num musical de Bollywood. Tenha calma, pois tudo valerá a pena no final de gênio orquestrado por Danny Boyle. Mas não falo de reviravoltas ou em finais surpreendentes - são simplesmente minutos que fazem valer a pena ir ao cinema. É para chorar, levantar da cadeira e aplaudir a celebração da vitória do amor, que é bonito, espontâneo, edificante, mas ao mesmo tempo brega ou cafona. Quando se está apaixonado, nada mais importa. Então, não tenha vergonha de aplaudir na frente de todos, porque o filme merece. É de tirar o fôlego.

Quem Quer Ser um Milionário?
(Slumdog Millionaire, 2008)
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Simon Beaufoy (Baseado no livro Q&A, de Vikas Swarup)
Elenco: Dev Patel, Irrfan Khan, Anil Kapoor, Madhur Mittal, Freida Pinto, Ayush Mahesh Khedekar e Tanay Hemant Chheda

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Clint é o cara! O resto é resto!


Clint Eastwood, o incansável e insuperável diretor da década, conseguiu de novo. Vi ontem Gran Torino, com ZERO indicações para o Oscar. Estou impressionado ainda. Preciso digerir esse filmaço, além de outros dois que vi nas últimas semanas: Slumdog Millionaire, de Danny Boyle, e O Lutador, de Darren Aronofsky.

Fique ligado. As críticas saem durante os próximos 3 ou 4 dias. E semana que vem, prometo resenhas de Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes, que estréia hoje nos cinemas, assim como Milk, de Gus Van Sant, e O Leitor, de Stephen Daldry - ambos com prés em São Paulo.

Bom final de semana a todos!

Otavio Almeida

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Ladies and Gentlemen, I Give You The Oscars


Eis o pôster da 81ª edição da maior festa do cinema americano. A TNT exibirá a cerimônia de entrega das estatuetas douradas, enquanto a Globo promete flashes durante mais um carnaval que deve terminar nas mãos da Beija-Flor. Mas, diga-me, qual desses dois espetáculos vocês preferem?

terça-feira, janeiro 27, 2009

O Bebê de Rosemary


Um dos melhores filmes de terror de todos os tempos é também o maior trabalho da carreira do grande cineasta Roman Polanski. Acho que O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968) deveria ser visto por todo diretor e roteirista antes de filmar ou escrever qualquer filme do gênero. Polanski ensina (ou lembra) que o frio na espinha e a sensação de medo vêm do desconhecido. Se você não vê, o medo cresce. É a voz que vem do fim do corredor e você não sabe de quem é. É o barulho do vento que vem debaixo da porta. São aqueles passos no andar de cima. Medos básicos, que nascem em nosso inconsciente enquanto somos crianças. A platéia não precisa ver, mas sentir. Quanto menos, melhor.

Esse clima precisa de uma figura que represente a platéia. E aqui, temos a doce e ingênua Rosemary, interpretada brilhantemente por Mia Farrow, em seu papel mais famoso. No roteiro do próprio Polanski, adaptado do livro de Ira Levin, nós podemos até desconfiar o que está acontecendo no maldito prédio, que praticamente serve de cenário para o filme inteiro, mas não temos a certeza absoluta. A única coisa certa é que Rosemary não sabe e não podemos fazer nada por ela, apenas sofrer junto ou apreciar seu martírio com um prazer secreto pelo mórbido - como fazem os moradores do local. Todos atenciosos e preocupados em ajudar a pobre moça durante sua gravidez.

Hoje, você já conhece a trama de O Bebê de Rosemary, mas tente imaginar a reação da platéia em 1968, quando o filme foi lançado nos cinemas. Não há o tradicional final surpresa de M. Night Shyamalan, nem mesmo a banalização deste recurso. Aos poucos, Polanski prepara o terreno para um grande final. Não é previsível, mas pela construção da história, nós sabemos onde isso tudo vai dar. Menos Rosemary. Por mais que ela comece a desconfiar de tudo e de todos, inclusive seu marido, nada preparou a pobre moça para a última cena.

Mas o roteiro brinca com Rosemary e a platéia na busca pela verdade. Ninguém ter certeza de nada. Até mesmo na famosa seqüência surreal do sonho/estupro, o roteiro não revela inteiramente o que está acontecendo. Na verdade, não somos tontos, ou melhor, inocentes como Rosemary. Bom, tem gente que é assim, mas isso não vem ao caso. Mas veja como Polanski brinca com a dúvida: Como seu marido, Guy (John Cassavetes - Sim, o diretor), passa a maior parte do tempo conversando com o casal de vizinhos Minnie (Ruth Gordon, espetacular e vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante) e Roman Castevet (Sidney Blackmer), ou trabalhando como ator, Rosemary pode estar simplesmente enlouquecendo com sua vidinha de casada (e grávida) solitária, chata e sem surpresas. É assim que funciona o roteiro. Mas também podemos desconfiar que o prédio inteiro planeja algo macabro para o bebê de Rosemary, quando este nascer, inclusive seu marido. É lógico que a suspeita para a segunda hipótese martela na cabeça do público. Mais do que na de Rosemary. Nós torcemos por ela, mas sabemos que é um caminho sem volta e que algo de ruim está realmente por trás disso. Quando a protagonista começa a concordar com as desconfianças da platéia, nós sabemos que já é tarde demais.

Na verdade, ninguém ali quer o mal dela. Nem seu marido. Vendo o filme, a pergunta que vem em mente é: O mal é apenas um ponto de vista? Ou seria uma tentação? Em Star Wars e O Senhor dos Anéis, o mal é uma tentação. Sem dúvida. Mas em O Bebê de Rosemary, acho que estamos discutindo um ponto de vista. Dois lados de uma balança sempre visando o sucesso pessoal e profissional. Outro aspecto interessante levantado por Polanski é uma análise fria da protagonista, chamada de "burra" ou algo assim por muita gente. Mas... Por que Rosemary é tão ingênua? Não vejo isso como um problema do roteiro. Isso é um truque para a platéia se preocupar com Rosemary, mas, ao mesmo tempo, torcer por ela com a incômoda sensação de que nada irá ajudá-la. Nem ninguém. A intenção de Polanski, acredito eu, pode estar na representação da mulher fragilizada e ainda alvo de preconceitos machistas em plena era da revolução sexual.

Talvez um roteiro nunca tenha sido construído de forma tão perfeita como explicarei a seguir: Polanksi começa O Bebê de Rosemary como um suspense hitchcockiano e o encerra como um filme único de terror. Se há o sobrenatural na trama, você sabe, então não é mais suspense. É só seguir a cartilha do mestre Alfred Hitchcock. Claro que muitos exemplares de terror começam como um "suspense", mas nunca essa transição foi feita com tanto cuidado e tanta competência sem jamais descaracterizar o filme.

Eu disse que O Bebê de Rosemary é o melhor filme de Polanski. Não conheço uma alma que não tenha ouvido falar deste clássico. Mas, talvez, nem todos vejam o filme como a maior obra-prima do diretor, afinal Polanski fez Chinatown. Mas O Bebê de Rosemary segue 100% a minha visão de cinema ideal. Acho que um filme deve agradar tanto o público quanto o seu diretor. O Bebê de Rosemary é arte, mas também é comercial. Unir esses dois extremos, no entanto, não é para qualquer um. E mesmo com outra obra-prima no currículo, Polanski foi perfeito num território capaz de fazer a maioria dos cineastas cair no ridículo, pois O Bebê de Rosemary é um filme de fantasia e o diretor conseguiu fazê-lo... funcionar. O mundo acredita nesta história. Mesmo quem não gosta do gênero. Ou quem não crê em Deus. Ou no Diabo.

O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968)
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski (Baseado no livro de Ira Levin)
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Ralph Bellamy e Angela Dorian

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Comentários sobre o Oscar - Episódio I: Go, Slumdog!


Como a Academia é previsível, não? Eles tiram um ou outro nome que aparece no Globo de Ouro, Bafta, prêmios da crítica (e dos sindicatos) só para que o Oscar pareça... autêntico. Ou único. Mas há tempos que essa indústria não me engana mais. É Maria Vai Com as Outras.

Porém, quem sofreu desta vez foi Kate Winslet, vencedora de dois Globos de Ouro há duas semanas por O Leitor e Foi Apenas um Sonho. Para o Oscar, os "sérios" membros da Academia selecionaram Kate somente para a categoria de melhor atriz, por O Leitor. Sei não, mas achei estranho. Embora isso evite uma divisão de votos entre O Leitor e Foi Apenas um Sonho, eu não gostei. Kate merece dois, três Oscars, ora bolas. Por que não?

Aliás, O Leitor, meus caros.... O LEITOR! O que é O Leitor? Filme de holocausto é batata com a Academia. Não tem jeito mesmo. Tenho fontes intelectuais que me dizem que não é grande coisa. E muitos falam bem de O Lutador, que acabou de fora das categorias de filme e direção. Mas o lendário Mickey Rourke foi indicado como melhor ator. "Menos mau".

Bom, a enganação O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher, lidera com 13 indicações - maior número de categorias desde O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, em 2002. Você lembra que, mesmo assim, o filme de Peter Jackson perdeu para Uma Mente Brilhante, que tinha oito indicações naquele ano. E desde 2005, com O Aviador, que um filme não é indicado a mais de 10 categorias.

Indicado a melhor filme, Benjamin Button é seguido de perto por Slumdog Millionaire (me recuso a falar Quem Quer Ser um Milionário?), de Danny Boyle, que teve 10 indicações. Os outros indicados a melhor filme são Milk - A Voz da Igualdade (oito indicações), de Gus Van Sant, Frost/Nixon (cinco), de Ron Howard, e O Leitor (cinco), de Stephen Daldry. Aliás, todos os cineastas dos filmes indicados na categoria principal também aparecem na lista de melhor diretor.

Abaixo, a lista completa de indicados ao 81º Oscar. Os prêmios serão entregues dia 22 de fevereiro numa cerimônia apresentada por Wolverine. Depois falo mais sobre a grande festa do cinema! E Jai Ho pra vocês!

Melhor Filme

O Curioso Caso de Benjamin Button
Frost/Nixon
Milk - A Voz da Igualdade
O Leitor
Quem Quer Ser um Milionário?


Melhor Diretor
David Fincher • O Curioso Caso de Benjamin Button
Ron Howard • Frost/Nixon
Gus Van Sant • Milk - A Voz da Igualdade
Stephen Daldry • O Leitor
Danny Boyle • Quem Quer Ser um Milionário?

Melhor Ator
Richard Jenkins • The Visitor
Frank Langella • Frost/Nixon
Sean Penn • Milk - A Voz da Igualdade
Brad Pitt • O Curioso Caso de Benjamin Button
Mickey Rourke • O Lutador

Melhor Atriz
Anne Hathaway • O Casamento de Rachel
Angelina Jolie • A Troca
Melissa Leo • Rio Congelado
Meryl Streep • Dúvida
Kate Winslet • O Leitor

Melhor Ator Coadjuvante
Josh Brolin • Milk - A Voz da Igualdade
Robert Downey Jr. • Trovão Tropical
Philip Seymour Hoffman • Dúvida
Heath Ledger • Batman - O Cavaleiro das Trevas
Michael Shannon • Foi Apenas um Sonho

Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams
• Dúvida
Penélope Cruz • Vicky Cristina Barcelona
Viola Davis • Dúvida
Taraji P. Henson • O Curioso Caso de Benjamin Button
Marisa Tomei • O Lutador

Melhor Roteiro Original
Rio Congelado
Simplesmente Feliz
Na Mira do Chefe
Milk - A Voz da Igualdade
WALL-E

Melhor Roteiro Adaptado
O Curioso Caso de Benjamin Button
Dúvida
Frost/Nixon
O Leitor
Quem Quer Ser um Milionário?

Melhor Animação
Bolt - Supercão
Kung Fu Panda
WALL-E

Melhor Direção de Arte
A Troca
O Curioso Caso de Benjamin Button
Batman - O Cavaleiro das Trevas
A Duquesa
Foi Apenas um Sonho


Melhor Fotografia
A Troca
O Curioso Caso de Benjamin Button
Batman - O Cavaleiro das Trevas
O Leitor
Quem Quer Ser um Milionário?


Melhor Figurino
Austrália
A Duquesa
Milk - A Voz da Igualdade
O Curioso Caso de Benjamin Button
Foi Apenas um Sonho

Melhor Montagem
O Curioso Caso de Benjamin Button
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Frost/Nixon
Milk - A Voz da Igualdade
Quem Quer Ser um Milionário?


Melhor Maquiagem
O Curioso Caso de Benjamin Button
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Hellboy II - O Exército Dourado


Melhor Trilha Sonora
O Curioso Caso de Benjamin Button
Um Ato de Liberdade
Milk - A Voz da Igualdade
Quem Quer Ser um Milionário?
WALL-E


Melhor Canção
Quem Quer Ser um Milionário?Jai Ho
WALL-EDown to Earth
Quem Quer Ser um Milionário?O Saya

Melhor Mixagem de Som
O Curioso Caso de Benjamin Button
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Quem Quer Ser um Milionário?
WALL-E
O Procurado


Melhor Edição de Som
Homem de Ferro
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Quem Quer Ser um Milionário?
WALL-E
O Procurado

Melhores Efeitos Visuais
O Curioso Caso de Benjamin Button
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Homem de Ferro

Melhor Filme Estrangeiro
The Baader Meinhoff Complex • Alemanha
Entre os Muros da Escola • França
Okuribito • Japão
Revanche • Áustria
Waltz with Bashir • Israel

Melhor Documentário
The Betrayal (Nerakhoon)
Encounters at the End of the World
The Garden
Man on Wire
Trouble the Water

Melhor Documentário (Curta-Metragem)
The Conscience of Nhem En
The Final Inch
Smile Pinki
The Witness - From the Balcony of Room 306

quarta-feira, janeiro 21, 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

"Mais alguns anos e estarei pronto para a São Silvestre"


Lindo, poético, lírico, épico, romântico, mas ao mesmo tempo triste, melancólico, frio e minimalista. Assim é O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008), o filme mais ambicioso do genial cineasta David Fincher (Seven, Clube da Luta, Zodíaco). Mas olhando para trás e sabendo o que ele já aprontou, Fincher imita seu protagonista: Começou praticamente no auge de seu talento ousado, extremamente criativo e influente para, agora, regredir ao cinema acadêmico e convencional.

Em certos casos, claro, não há mal algum em ser "acadêmico". Mas Fincher me parece um cineasta marginal; um cara das ruas. Feio, sujo e malvado. Bad motherfucker. O Curioso Caso de Benjamin Button, livremente inspirado no clássico conto de F. Scott Fitzgerald, de 1922, carrega uma história grandiosa e equilibrada em beleza e tristeza.

Ora, quem conta a saga de Benjamin Button a alguém, sabe que se trata de uma história de emoção genuína, certo? Mas assistir ao filme, sentir e esperar por essa emoção, aí, hollywoodianos, isso é algo completamente diferente. Veja só: Se você diz (ou resume) a uma pessoa que E.T. - O Extraterrestre é sobre um alienígena abandonado em nosso planeta, isso está correto. Em termos, ok? Mas correto. Porém, essa breve descrição de E.T. seria capaz de gerar imediatamente a emoção nesta pessoa? Acho que não. Mas, então, assista ao inesquecível filme de Steven Spielberg. A experiência será completamente diferente. Duvido que um ser humano em sã consciência não tenha a mínima vontade de chorar.

Mas antes que você me acuse de querer pieguice em O Curioso Caso de Benjamin Button, eu preciso explicar minha visão de "emoção" no cinema. Cito Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson, então. Uma obra-prima para o nosso tempo, ok? Daniel Day-Lewis interpreta um sujeito carrancudo querendo o sangue de seus concorrentes. Aos nossos olhos, ele é mau até o último fio de cabelo. Mas admiramos essa característica em seu personagem. Ou vai me dizer que não? Em Sangue Negro, eu torço por Daniel Day-Lewis; vibro com as terríveis manobras de seu personagem. Isso também é emoção. Sangue Negro é pesado, incomoda, mas não é um filme frio. Longe disso. Paul Thomas Anderson é apaixonado por sua história e jamais se deslumbra com a grandiosidade do material em mãos. Agora, vamos para o oposto. Pegue a ternura de Forrest Gump, de Robert Zemeckis. Você torce pelo herói tapado até o final, não é? Chorando ou não, você entra neste filme e viaja ao lado do personagem. Para mim, isso é importantíssimo. Chamo isso de vínculo com a platéia. São filmes que, como Benjamin Button, também fazem uma leitura da América de acordo com os olhos de seu protagonista. E, até mesmo, de nossa situação no mundo.

A diferença é que a leitura de David Fincher é fria, distante. Talvez pelo medo de cair na "pieguice" óbvia que muita gente reclama. E cair nessa tentação parecia fácil demais, afinal o conto original fala de um cara que nasce velho e rejuvenesce durante sua vida. Entenda: Não quero um Laços de Ternura ou sua versão canina, que é Marley & Eu. Aí já seria palhaçada minha. Mas apesar de reconhecer toda a beleza plástica deste filme, eu admito que não me importei nem um pouco com a felicidade e a vida de Benjamin Button. Acho que faltou... emoção, envolvimento e cumplicidade de David Fincher nas entrelinhas. O filme é muito fraco dramaticamente. Miserável, eu diria. E é claro que Fincher tem todo o direito de trilhar outros caminhos, mas acho que isso era filme para Steven Spielberg. Ou para outro cineasta acostumado com o fantástico como Tim Burton. Aliás, Burton poderia ter Johnny Depp, que daria um Benjamin Button inesquecível. O que me leva ao problema Brad Pitt.

O astro realmente funciona (e muito) em papéis bizarros e cômicos. Vide Seven, Doze Macacos, Clube da Luta, Snatch e Queime Depois de Ler. Ele está ótimo. Mas é contra as leis da natureza pedir para que Brad Pitt seja um bom ator dramático. Em O Curioso Caso de Benjamin Button, ele tem a mesma cara e as mesmas reações de seus tenebrosos personagens de Lendas da Paixão e Encontro Marcado. O filme de David Fincher depende sim, senhor, da atuação de Brad Pitt. No início, enquanto Button ainda é um "jovem idoso", os efeitos digitais e a maravilhosa maquiagem até ajudam o astro. Depois, quando o velhinho vira o marido de Angelina Jolie, o filme cai junto com o ator. Colocar Steven Seagal ali daria na mesma. Ou seja, pede pra sair!

O problema é Brad Pitt, pois o elenco de apoio está sensacional. Começo por Taraji P. Henson, a mãe de criação de Benjamin Button. Que atriz, senhoras e senhores! Cate Blanchett, como sempre, é magistral. Tilda Swinton, a mulher feia mais talentosa do cinema atual também tem seu momento para brilhar. É um belíssimo elenco.

Analisando outro tópico, muita gente compara a estrutura do roteiro com Forrest Gump, mas acho que isso se deve apenas ao tipo de história que o roteirista Eric Roth gosta de contar. Benjamin Button tem até a sua dose de drama, aventura, humor e... "Faz de conta". Mas o clássico moderno de Robert Zemeckis dá de 10 a 0 no pior filme de David Fincher desde sua estréia em Alien 3. Aliás, acho que o roteiro de Eric Roth é bem rico. Detesto dizer isso, mas é o próprio diretor que parece distante emocionalmente. Se o restante do filme, no entanto, tivesse a mesma energia e criatividade da abertura sobre o "relógio ao contrário" e a melhor seqüência de todas, que ilustra uma narração de Benjamin Button sobre todos nós estarmos numa "rota de colisão", aí sim o filme seria merecedor de elogios eufóricos.

Direção de arte refinada? Confere. A melhor maquiagem de 2008? Confere. Figurinos impecáveis? Confere. Fotografia deslumbrante? Confere. Uma bela trilha sonora? Confere. Tecnicamente, O Curioso Caso de Benjamin Button é perfeito. Um filme fácil de admirar, mas difícil de amar. Acaba sendo curioso mesmo, como diz o título. Mas, infelizmente, não é a obra-prima que poderia ter sido. Tampouco é um grande filme, mas um filme grande com seus imensos 166 minutos. Você pode dizer: "Ah, mas a vida é longa." Ok, mas ao que parece, de trás pra frente, a vida não é uma caixa de bombom.

O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008)
Direção: David Fincher
Roteiro: Eric Roth (Baseado no conto de F. Scott Fitzgerald)
Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton, Julia Ormond, Taraji P. Henson, Elias Koteas, Jason Flemyng e Joeanna Sayler

terça-feira, janeiro 20, 2009

Momento de bobagem




Desculpe-me, mas eu estava conversando com uns amigos hoje sobre esta cena de Penetras Bons de Bico. A verdade é que ri feito um bobo o dia inteiro lembrando do Will Ferrell neste momento impagável. Gente, o cara é bom. Ainda chegará o dia em que os sérios reconhecerão o talento de Will Ferrell.

domingo, janeiro 18, 2009

Blogueiros Cinéfilos divulgam seus favoritos de 2008


Em agosto de 2007, surgiu a Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos, que reúne, até hoje, 50 integrantes que escrevem em blogs de cinema. O Hollywoodiano é um deles. No ano passado, nós escolhemos os melhores filmes e profissionais que tiveram seus trabalhos exibidos nas telas dos cinemas de nosso País. Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood, foi o grande vencedor da primeira edição do Blog de Ouro, o prêmio, até agora, simbólico da Sociedade. A produção saiu vitoriosa nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Fotografia

Agora, na 2ª edição do Blog de Ouro, que considerou todos os filmes lançados no Brasil (em cinema ou DVD) em 2008, Batman - O Cavaleiro das Trevas e Sangue Negro lideram com 10 indicações cada. A lista saiu hoje. Além dessas duas produções, Desejo e Reparação, Onde os Fracos Não Têm Vez e Wall-E concorrem na categoria Melhor Filme.

Quem lê o Hollywoodiano sabe o que penso de Onde os Fracos Não Têm Vez, o grande vencedor do último Oscar. Eu preferia ver Na Natureza Selvagem, de Sean Penn, indicado em seu lugar, mas... tudo bem. E respeito a decisão dos meus colegas, que ajudaram a compôr uma lista respeitável, que não fica atrás de nenhuma outra apresentada no ano passado. Agora, eu preciso quebrar a cabeça e escolher entre Sangue Negro, O Cavaleiro das Trevas e Wall-E... O que fazer?

O resultado final sai no dia 25 de janeiro. Veja a lista completa aqui.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Como a vida termina


"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, torna-se um bebezinho de colo, volta para o útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?"

Dizem que o autor deste pensamento poético é Charles Chaplin. De qualquer forma, o texto circula pelos e-mails da vida e já caiu na minha "caixa de entrada" umas 50 vezes. Se é ou não de Chaplin, pelo menos, parece a idéia de O Curioso Caso de Benjamin Button, novo filme de David Fincher, que chega hoje aos cinemas do País.

Na ilha da fantasia


Ricardo Montalban (1920 - 2009)

O inesquecível Sr. Roarke, o amigo do Tatoo, em A Ilha da Fantasia;
O maior vilão de Star Trek, Khan, em Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan.

terça-feira, janeiro 13, 2009

A Troca

Angelina é a Eva de Clint Eastwood, que atordoa o paraíso dos homens


Clint Eastwood já dirigia filmes antes de Bird, de 1988, que lhe rendeu o Globo de Ouro. Mas foi em 1992, com Os Imperdoáveis, que ele comprovou sua maturidade e foi recompensado com o Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor. Depois disso, tirando um ou outro filmão (Um Mundo Perfeito, As Pontes de Madison), o grande Clint ainda se preocupava em explorar seu potencial como ator e entregou diversas produções comerciais. Algumas bacanas. Outras nem tanto.

Mas, em 2003, com Sobre Meninos e Lobos, Clint assumiu de vez seu talento como cineasta. E abraçou de vez o pessimismo na América já visto em Os Imperdoáveis. No ano seguinte, faturou mais uma vez os Oscar de filme e direção, por Menina de Ouro. Em 2006, filmou duas excepcionais análises sobre a Segunda Guerra Mundial: A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima. Agora, ele lança A Troca (Changeling, 2008), que mantém a qualidade e a marca de Clint Eastwood em cada cena, mas que também, em relação ao período pós-Sobre Meninos e Lobos, representa seu filme mais fraco. Se é que podemos dizer assim, afinal é um trabalho de primeira.

Para mim, pela filmografia apresentada de 2000 até aqui, Clint Eastwood é o diretor da década. E incluo A Troca nesta seleção. Não acho que ele errou desta vez. Só... não foi tão econômico como costuma ser. Explico: Em seus melhores filmes, Clint é mestre ao supervisionar a edição. Não temos cenas em excesso, nem algo que poderia entrar para explicar melhor o filme. Nem mais, nem menos. Somente o necessário. Ou seja, ele é econômico. Já em A Troca, Clint se empolga e entrega um filme de 2h20, que parece ter 3h de duração.

Preciosismo? Talvez não. Isso é normal na carreira de qualquer grande cineasta e outros artistas. Um amigo meu, que odeia o Clint, já me disse: "Você aconselharia Leonardo Da Vinci a dar uma pincelada a mais ou a menos numa obra como a Mona Lisa?" Quem sou eu, enfim, para ousar dizer uma coisa dessas a Clint Eastwood? De qualquer forma, fiquei com essa sensação em A Troca. Por isso que digo que não há verdades absolutas na arte. Apenas opiniões. É gosto pessoal.

Ainda assim, A Troca é um trabalho acima da média, competente até a última cena. A reconstituição de época, que passa da década de 20 para os anos 30 da depressão americana, é um primor em detalhes registrados em cenários, figurinos, maquiagem e a fotografia de Tom Stern - aliás, a habitual escuridão das lentes deste diretor de fotografia nos filmes de Clint é equilibrada aqui com uma curiosa, rara e muito bem-vinda superexposição de luzes. Trata-se de um sinal de esperança na filmografia do diretor? Ou simples capricho visual? Eu acho que se trata de esperança, mas volto nisso mais tarde.


Tudo isso a favor de um Clint Eastwood que retorna a um tema doloroso, mas que marca sua filmografia: Pais desesperados em um mundo violento convivendo com a dor (ou a possibilidade) da perda de um filho. Isso é bem claro em Sobre Meninos e Lobos e Menina de Ouro.

Em Os Imperdoáveis e Sobre Meninos e Lobos, por exemplo, os respectivos personagens de Clint Eastwood e Sean Penn deixam uma vida de crimes para trás graças aos filhos, à família. Abandoná-los é como retornar a um caminho de trevas, solidão e violência. O tema "pais & filhos" também está em A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima - neste último, o personagem de Ken Watanabe, prefere partir ao lado dos "filhos" a viver nas sombras. E em todos esses filmes, Clint segue com seu pessimismo não somente na América, mas na Humanidade que se espelha nos EUA, já que citei o "japonês" Cartas de Iwo Jima.

No entanto, em A Troca, Clint parte do mesmo princípio, só que explorando um lado até então inexistente em seus filmes: a esperança. E simbolizada aqui pela pura, doce e inocente figura da mãe, interpretada por Angelina Jolie, que passa pelos mesmos medos e inseguranças de Sean Penn, em Sobre Meninos e Lobos. Mas enquanto Penn utiliza a força bruta masculina, Angelina jamais abdica de sua feminilidade para combater a injustiça e encontrar sua merecida paz de espírito.

Ela está ótima sob a direção de Clint, mas dizer que o filme vale somente pela atriz é um equívoco. A Troca é 100% Clint Eastwood, mas apresenta uma Angelina Jolie surpreendente em sua atuação. A trama não depende exclusivamente de sua Christine Collins, que luta contra a corrupção e o descaso da polícia de Los Angeles para encontrar seu filho desaparecido. A Troca depende (e muito) de diversos personagens com falas e cenas importantes - não em histórias paralelas, mas em camadas que formam um todo, incluindo Christine Collins. Claro que Angelina é o centro das atenções, mas ela não está para o filme como Tom Hanks está para Náufrago ou Philip Seymour Hoffman está para Capote. Também não é certo dizer que o diretor fez um noir. Ele pode flertar com o gênero favorito de James Ellroy, mas, antes de qualquer associação, precisamos reconhecer aqui um cinema de autor. É puro Clint Eastwood.

Um autor que também trabalha a imagem forte que a mulher pode ter num mundo dominado por homens desde os primórdios. Clint costuma fazer "filmes de macho", mas quando as mulheres tomam o controle da situação, o universo masculino é reinventado. É só rever e analisar as conseqüências causadas por Meryl Streep, em As Pontes de Madison, Hilary Swank, em Menina de Ouro, e, agora, Angelina Jolie, em A Troca.

O filme dá seqüência ao estudo do cineasta sobre uma América intolerante, racista e acima de tudo e de todos. Conviver em paz e de forma civilizada num país assim, só pode ser uma utopia. Mas, desta vez, na transição da Era Bush para a Era Obama, Clint tem esperança.

A Troca (Changeling, 2008)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: J. Michael Straczynski
Elenco: Angelina Jolie, Jeffrey Donovan, John Malkovich, Michael Kelly, Jason Butler Harner, Gattlin Griffith, Eddie Alderson, Devon Conti e Colm Feore

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Heath Ledger no Céu e Kate Winslet na Terra


Slumdog Millionaire papou 4 estatuetas, incluindo Melhor Filme Dramático e Melhor Diretor (Danny Boyle), no antepasto chamado Globo de Ouro, quando as atenções estavam voltadas para O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher, que acabou saindo de mãos vazias.

Tem nada não. Por mais que Slumdog Millionaire seja maravilhoso (e deve ser), Benjamin Button não precisa de prêmios para seguir em frente. Nessa indústria, Slumdog é visto como um filme pequeno e um reconhecimento desse calibre só leva o público ao cinema pra ver uma jóia rara assim. Foi o caso nos anos anteriores de Pequena Miss Sunshine e Juno. Mas, enfim, não quero julgar antes de conferir os filmes de Danny Boyle e David Fincher. Ambos estarão na lista do Oscar, que sai dia 22, e esse parágrafo foi só para acalmar os fãs de Fincher, o genial diretor de Seven e Clube da Luta.

Um emocionado Martin Scorsese entregou a Steven Spielberg um prêmio pelo conjunto de sua extraordinária obra. Rever as cenas dos filmes de Steven foi de encher os olhos. Para mim, o ponto alto da festa, claro. Não consegui me conter diante da influência emocional que levei para toda a vida deste mestre. A transmissão mostrou cenas e músicas de E.T., A Lista de Schindler, A Cor Púrpura, as aventuras de Indiana Jones, De Volta Para o Futuro, entre tantos outros filmes assinados por Steven como diretor e produtor. O mestre ainda comentou suas origens como cinéfilo (e cineasta), quando seu pai o levou para ver O Maior Espetáculo da Terra, em 1952. Naquela época, Steven entrou no cinema à tarde e saiu à noite. Impressionado, pensou que os filmes fossem capazes de transformar o dia em noite. Fantástico! Isso é Steven Spielberg!

Mas, continuando, a eterna figuraça chapada do Mickey Rourke ganhou como Melhor Ator Dramático, por O Lutador. Meu amigo de Coração Satânico andava por baixo, mas como ninguém se leva a sério mesmo, não faz mal algum dar um Globo de Ouro para reconhecer o esforço de um ídolo dos anos 80 em dar a volta por cima. Se Gwyneth Paltrow tem um Globo, Mickey Rourke também merece.

Em 2007, Daniel Day-Lewis entregou a maior atuação masculina, por Sangue Negro, e foi premiado com o Globo e o Oscar. Para mim, Heath Ledger (vivo ou morto) não poderia deixar de ganhar pelo melhor trabalho de um ator em 2008. Justiça foi feita. Esteja onde estiver, essa estatueta é sua, meu amigo. O Coringa de Batman - O Cavaleiro das Trevas levou o Globo de Ouro de Ator Coadjuvante, mas quem subiu ao palco para receber a honra em nome de Heath Ledger foi o diretor Christopher Nolan, estupidamente ignorado em sua categoria.

Agora, a noite foi mesmo de Kate Winslet. Indicada e derrotada desde sempre, Kate foi à forra. Disputou duas indicações: Melhor Atriz Dramática, por Apenas um Sonho, do maridão Sam Mendes, e Melhor Atriz Coadjuvante, por O Leitor, novo filme do diretor Stephen Daldry, de As Horas. E não é que a guria levou as duas? Emocionada, ela ainda pediu desculpas a Meryl Streep por derrotá-la. Quer saber? Meryl nem ligou e tenho certeza de que ela está muito feliz por ver Kate Winslet brilhando, ainda jovem com seus 33 aninhos. Meryl deve saber que Kate é uma de suas sucessoras. Isso é um alívio. É sinal de que estamos em boas mãos. Ainda não vi Apenas um Sonho e O Leitor, mas ela mereceu. E xingo quem discordar.

No mais, destaque para a vitória de WALL-E como Melhor Animação, mas essa até nossas vovós sabiam. Imaginem só se WALL-E perde o Globo de Ouro? Cara, eu saio nas ruas como homem-bomba. Também gostei muito de ver o grande Bruce Springsteen levando o prêmio de Melhor Canção. Fora Jonas Brothers! Crianças, ouçam Bruce Springsteen!


Confira os vencedores de cinema abaixo:

Melhor Filme (Drama)
Slumdog Millionaire

Melhor Filme (Comédia/Musical)
Vicky Cristina Barcelona

Melhor Diretor
Danny Boyle • Slumdog Millionaire

Melhor Roteiro
Slumdog Millionaire

Melhor Filme Estrangeiro
Waltz with Bashir • Israel

Melhor Ator (Drama)
Mickey Rourke • O Lutador

Melhor Atriz (Drama)
Kate Winslet • Apenas um Sonho

Melhor Ator (Comédia/Musical)
Colin Farrell • Na Mira do Chefe

Melhor Atriz (Comédia/Musical)
Sally Hawkins • Simplesmente Feliz

Melhor Ator Coadjuvante
Heath Ledger • Batman - O Cavaleiro das Trevas

Melhor Atriz Coadjuvante
Kate Winslet • O Leitor

Melhor Trilha Sonora
Slumdog Millionaire

Melhor Canção
The Wrestler, de Bruce Springsteen • O Lutador

Melhor Animação
WALL-E


Clique
aqui para ver a lista completa com os vencedores de TV.

sábado, janeiro 10, 2009

Os filmes mais esperados (por mim) em 2009

Tirando os indicados ao Oscar, claro, eis os filmes que mais quero ver em 2009 com celular desligado e na companhia da boa educação que o público pode apresentar numa sala de cinema:



1) Avatar, de James Cameron
Estréia prometida para dezembro

Já repararam que Hollywood tem medo dos grandes contos de ficção científica? Quando pegam um Isaac Asimov ou Philip K. Dick, geralmente, os estúdios diluem seus conceitos e transformam suas obras em filmes de ação. E onde estão as histórias de Arthur C. Clarke adaptadas para o cinema? Você sabe o motivo. Hollywood quer grana. Nada de ficção científica cabeça, pois a maioria consumidora da sétima arte é adolescente. Ninguém quer pensar. Mas, de tempos em tempos, surge um representante do gênero ousado que marca seu nome na História. É por isso que confio em James Cameron, que retorna depois de 12 anos ao superar Titanic em terapia. Avatar pode até ter ação, mas também tem tudo para revolucionar o gênero e o cinema.




2) Star Trek, de J.J. Abrams
Estréia prometida para 8 de maio

Kirk, Spock, McCoy & Cia. embarcam pela primeira vez na USS Enterprise rumo onde nenhum homem jamais foi. A direção desse Star Trek - Episódio I ou Star Trek Begins é de J.J. Abrams, o criador da série Lost. O trailer abre com uma seqüência antológica. Ficou extraordinário. Mas vamos ver no que dá essa brincadeira.


3) Public Enemies, de Michael Mann
Estréia prometida para julho

É filme de máfia dirigido por Michael Mann, de Fogo Contra Fogo, O Informante e Colateral, logo, merece minha atenção e meu respeito. Christian Bale é Melvin Purvis, o lendário agente do FBI que lidera a caçada ao mafioso desgraçado John Dillinger (Johnny Depp). Deve ser demais.


4) Watchmen - O Filme, de Zack Snyder
Estréia prometida para março

A cultuada HQ de Alan Moore e Dave Gibbons ganha as telas do cinema numa versão caprichada e estilosa visualmente. Uniformes ridículos, muita ação e bichice do diretor Zack Snyder, de 300. Se você não sabe, trata-se de um grupo de ex-super-heróis que se reúne para investigar a morte de um de seus colegas. Depois deste filme, você vai entender que a série Heroes jamais foi original. Longe disso.



5) Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino
Estréia prometida para agosto

O filme de guerra de Tarantino estrelado por Brad Pitt deve ser a coisa mais louca de 2009. Na Alemanha Nazista, Shosanna (!) Dreyfus (Mélanie Laurent) vê sua família ser assassinada diante de seus olhos numa ação comandada pelo coronel Hans Lada (Christoph Waltz). Shosanna foge e se esconde em Paris, onde passa a administrar um cinema local - somente para planejar sua vingança. Enquanto isso, o Tenente Aldo Raine (Pitt) leva um pelotão de soldados judeus para um ataque surpresa a Adolph Hitler. Você quer ver muito sangue? Calma, isso é normal, eu também quero.


6) Shutter Island, de Martin Scorsese
Estréia prometida para setembro
Martin Scorsese dirige novamente Leonardo DiCaprio, seu novo Robert De Niro, nesta adaptação do livro de Dennis Lehane, o autor de Mystic River (Sobre Meninos e Lobos) e Gone Baby Gone (Medo da Verdade). A trama se passa em meados da década de 50 e acompanha a caçada de dois agentes federais (DiCaprio e Mark Ruffalo) a um serial killer, que escapou de um hospital psiquiátrico. Em Martin Scorsese eu confio.


7) Up, de Pete Docter
Estréia prometida para setembro

Um velhinho rabugento amarra centenas de milhares de bexigas em sua casa e sai voando para o infinito e além. Up é o próximo filme da Pixar. E será em 3D. Preciso dizer algo mais?




8) Sherlock Holmes, de Guy Ritchie
Estréia prometida para novembro

O melhor filme que eu já vi sobre Sherlock Holmes foi O Enigma da Pirâmide, uma imaginação de Barry Levinson e Steven Spielberg para a juventude do personagem criado por Sir Arthur Conan Doyle. Tudo bem, desta vez, o diretor é Guy Ritchie, mas acho que o cara pode acertar. Ainda mais porque depois da reviravolta na carreira de Robert Downey Jr., graças a Homem de Ferro e Trovão Tropical, não acho que o ator escalado para viver o novo Sherlock Holmes tenha aceitado entrar numa roubada. Se der certo, o filme será sensacional. Nova franquia à vista? Ah, Jude Law é o Sr. Watson.


9) Brüno - Delicious Journeys Through America for the Purpose of Making Heterosexual Males Visibly Uncomfortable in the Presence of a Gay Foreigner in a Mesh T-Shirt, Com Sacha Baron Cohen
Estréia prometida para maio

Depois de Borat, Sacha Baron Cohen retorna para um "documentário" estrelado por outro personagem de sua autoria: Brüno, o jornalista fashion austríaco que se prepara para constranger gays e homofóbicos americanos em sua jornada pelos EUA vestindo uma camiseta coladinha. Vou chorar de rir, eu sei...



10) Onde Vivem os Monstros, de Spike Jonze
Estréia prometida para outubro

Um dos livros infantis mais bacanas que existem caiu nas mãos de Spike Jonze, que volta à direção após sete anos, quando lançou Adaptação. O filme acompanha Max, um garoto levado da breca, que é colocado de castigo em seu quarto. Lá, ele imagina um mundo dominado por criaturas bizarras, que o recebem como seu rei. Eu juro que gosto disso e estou esperando. Pode acreditar.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Why so serious?


"Otavio, quem gosta de Chaves e Chapolin, nunca vai gostar de Platoon."


Abro este post com as sábias palavras de meu pai, que há muitos anos respondeu a uma pergunta inocente de seu filho de nove anos sobre o filme de Oliver Stone, grande vencedor da cerimônia do Oscar de 1987.

Naquele ano, eu descobria o cinema. E juro que tentei ver Platoon. Meu pai nem se importou que eu era uma criança e fui jogado sem dó nem piedade junto às vísceras nojentas da odisséia Stoniana pela Guerra do Vietnã. Não entendi o fascínio pelo filme. Eu tinha nove. Só isso. Mas já havia delirado com as cópias em VHS de Os Caçadores da Arca Perdida, Indiana Jones e o Templo da Perdição, Guerra nas Estrelas, O Império Contra-Ataca, O Retorno de Jedi e De Volta Para o Futuro. Virei para o meu velho e mandei: "Por que você gosta tanto de Platoon? Não entendi o motivo..." A resposta você viu ali em cima.

Bom, só quero dizer que até hoje admiro e vibro com o cinemão por causa da minha formação e origem como gente. Sei que Hollywood anda produzindo muito lixo, mas, na verdade, sempre foi assim. Então, eu tenho muita calma. Até porque de vez em quando surge algo como O Senhor dos Anéis ou Batman - O Cavaleiro das Trevas. Não digo exatamente que seria entretenimento levado a sério, mas falo de bom entretenimento sendo respeitado por gente que acha que arte é coisa de adulto. Demorou para isso acontecer. Quando o filme é realmente bom, o reconhecimento se faz necessário.

E confesso que acho Hollywood um tanto hipócrita, sabe? Gasta uma grana o ano inteiro pra bancar Transformers, Homem-Aranha, X-Men, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, O Incrível Hulk, Homem de Ferro e, no fim do ano, somente os "filmes sérios" são considerados para Oscar e afins. Me engana que eu gosto, não é? E nós entramos nessa.

É por isso que comemoro a indicação de Christopher Nolan (foto) ao prêmio do sindicato dos diretores, por O Cavaleiro das Trevas. Cá entre nós, sempre achei que o cara vivia com a cabeça nas nuvens. Quem começou fazendo Amnésia e emendou O Grande Truque com dois filmes excelentes sobre o Morcegão só pode ser lelé da cuca. A lista divulgada hoje ainda tem Gus Van Sant (Milk), Danny Boyle (Slumdog Millionaire), Ron Howard (Frost/Nixon) e David Fincher (O Curioso Caso de Benjamin Button). Aliás, Howard e Fincher também vivem no mundo da lua, embora só o segundo tenha sido indicado por um filme de fantasia. O vencedor será anunciado no dia 31.

O interessante é que o sindicato dos produtores também indicou os mesmos filmes: O Curioso Caso de Benjamin Button, Milk, Slumdog Millionaire, Frost/Nixon e Batman - O Cavaleiro das Trevas. O resultado sai no dia 22.

Ainda não sei se O Cavaleiro das Trevas será indicado aos Oscars de Melhor Filme e Melhor Diretor. Mas os prêmios desses sindicatos costumam bater com a lista da Academia. E, até agora, estou gostando. O Morcegão, aliás, também compete no prêmio do sindicato dos roteiristas como Melhor Roteiro Adaptado, ao lado de O Curioso Caso de Benjamin Button, Doubt, Frost/Nixon e Slumdog Millionaire. Em Melhor Roteiro Original, disputam Queime Depois de Ler, Milk, Vicky Cristina Barcelona, The Visitor e The Wrestler. O resultado será divulgado no dia 7 de fevereiro.

Só pra constar: Até hoje não sou grande fã de Platoon. Acho bom. Nada mais do que isso. De Oliver Stone, prefiro (e muito) JFK. E ainda dou risada com Chaves. Chapolin eu passo longe.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Ócio criativo? No more!


Vocês repararam que ando meio sumido, não? Bom, espero que sim. Acho que fui afetado por todas essas mudanças de 2008 para 2009, a crise econômica, a invasão da Faixa de Gaza, a doença de Patrick Swayze, a morte do filho do John Travolta, a chegada da Cuca do Sítio do Pica-Pau Amarelo ao Flamengo, frio em janeiro, IPVA, o ar seco de Brasília, a aproximação de um novo Big Brother com Pedro Bial, as alterações na língua portuguesa, a provável condenação de Flora e a vitória anunciada de Donatella, e um bando de filmes ridículos nos cinemas como Crepúsculo e Marley & Eu.

Mas já estou pronto para retornar ao blog. Peço desculpas a todos pela ausência, mas estou de volta. E preparado para o filme que vier pela frente. Sexta estréia mais um Clint Eastwood e uma refilmagem abominável de um dos meus filmes favoritos. Domingo também tem Globo de Ouro e não dá pra ficar calado. Estou doido pra ver esses filmes que farão a festa nas principais premiações do cinema. E sei que o Coringa continua rindo à toa... Feliz ano novo!