quinta-feira, janeiro 31, 2008

Onde os Fracos Não Têm Vez


No sufocante cenário ensolarado do Texas, o veterano do Vietnã Llewelyn Moss (Josh Brolin) encontra uma maleta com US$ 2 milhões e é perseguido por um misterioso assassino chamado Anton Chigurh (Javier Bardem). Enquanto isso, o xerife Ed Tom (Tommy Lee Jones) segue o rastro de sangue e destruição deixado pela caçada.

Tire o calor do Texas e coloque o frio de Dakota do Norte. Substitua o xerife desiludido de Tommy Lee Jones pela policial grávida de Frances McDormand. No lugar da valise cheia de dinheiro, lembre-se do seqüestro da esposa de Jerry Lundegaard (William H. Macy). Estamos falando de um filme dos irmãos Joel e Ethan Coen. Porém, não de Fargo 2, mas de Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men, 2007). Depois do fiasco Matadores de Velhinha, voltar ao velho universo Coen de Gosto de Sangue e Fargo parecia a solução ideal da dupla para acertar na mosca.

Nos melhores filmes dos irmãos Coen, a sociedade americana é retratada como o caos. Em qualquer canto da nação, existem tipos ingênuos e bizarros em uma constante disputa violenta gerada pela ganância. Os Coen sempre tiveram uma habilidade incrível para contar suas histórias de forma irônica - seja em dramas ou comédias. Eles utilizaram um humor refinado e incomum para os anos 80 (e início dos 90) para influenciar uma geração de cineastas e roteiristas. Um drama dos Coen nunca deixou o senso de humor de lado. E nem a mais escrachada comédia com a assinatura dos irmãos conseguiu abandonar o drama.

E um fato interessante nos grandes filmes dos Coen é que eles saíram de seus próprios roteiros originais. Foi assim em Gosto de Sangue, Arizona Nunca Mais, Barton Fink, Na Roda da Fortuna até chegar ao clímax criativo da dupla no extraordinário Fargo. Por este último, eles ganharam o Oscar de Melhor Roteiro Original. Mas, depois disso, a criatividade foi desaparecendo aos poucos. Será que os Coen foram vítimas da maldição do Oscar? Suas idéias extremamente originais ficaram perdidas no tempo - eles chegaram até a recorrer aos serviços de outros roteiristas no sofrível O Amor Custa Caro, além de apelar para a tosca refilmagem Matadores de Velhinha, o pior filme dos cineastas.

Aparentemente, eles continuam sem idéias. Agora, partiram para a adaptação do livro de Cormac McCarthy, que realmente tem muito da atmosfera de Fargo. Parece que os Coen andam atrás de inspiração - algo que vinha naturalmente de suas mentes no início da carreira. Mas o que era original passou a ficar repetitivo. O que me empolgava em termos de narrativa, agora me cansa.

Até que o início do filme é promissor. Com a ajuda da fotografia do mestre Roger Deakins, os Coen narram a trama com movimentos lentos de câmera, pouquíssimos diálogos, muita imagem e nenhuma música. É um recurso interessante para o cinema atual e para uma dupla que já usou e abusou de cortes rápidos ao explorar a velocidade da imagem. É um elemento que reforça a tensão. Há uma cena impressionante que demonstra o que quero dizer: Llewelyn tenta fugir de um cachorro enquanto nada para a outra margem de um rio. É um sofrimento silencioso. Assim como tantas outras, a cena é muito bem filmada. Outro momento angustiante é o tiroteio entre Chigurh e Llewelyn, que começa num hotel e termina na rua. Mais uma vez, os Coen mostram como se monta um filme para alcançar o tom ideal pretendido pela história.

Gosto do filme até seus 20 minutos finais, quando há uma reviravolta chocante. Muitos acham que o que vem na seqüência é mais uma demonstração da genialidade dos Coen, mas não me empolguei. Tudo caminhava para um clímax de arrepiar, afinal a tensão cresce a cada cena. Mas a tal reviravolta aposta no anticlímax.

Entendo que a chave para compreender o final é o discurso inicial de Tommy Lee Jones, que interpreta tão bem o xerife Ed Tom Bell. Ele é um homem desiludido com os dias de hoje. O Velho Oeste se foi e ele não compreende como a violência tomou conta do mundo numa proporção assustadora. Bell nem gosta de segurar uma arma de fogo. Ele diz que seus antepassados resolviam muitos crimes sem disparar um tiro sequer. Ok. Os tempos mudaram e a violência anda por um caminho interminável. E o título original No Country For Old Men explica tudo. Mas será que precisamos de um filme inteiro para entender esse sentimento do xerife?

Ao menos, o elenco faz sua parte. Tommy Lee Jones está magnífico, Javier Bardem está monstruoso como um assassino, que parece vilão de história em quadrinhos, e Josh Brolin se esforça bastante. Eles são o trio The Good, The Bad & The Ugly, respectivamente, dos irmãos Coen.

Talvez tudo seja uma grande brincadeira dos Coen. O problema é que muitos andam filosofando sobre o filme. Entre outras coisas, gostam de falar que o Anton Chigurh de Javier Bardem é o mal absoluto ou a Morte em pessoa, mas acho que quebrar a cabeça com "mistérios" neste filme é passatempo para pseudo-intelectuais.

A crítica americana está louca para reconhecer uma verdadeira obra-prima feita pelo cinemão. É algo que não acontece há muito tempo, mas dizer que esse filme é Onde os Fracos Não Têm Vez é algo como atirar para todos os lados. Imagino que os Coen estão rindo à toa, porque fizeram a maioria cair direitinho nesta piada. Talvez isso seja genial.

Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men, 2007)
Direção: Joel Coen e Ethan Coen
Roteiro: Joel Coen e Ethan Coen (Adaptado do livro de Cormac McCarthy)
Elenco: Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin, Woody Harrelson, Kelly Macdonald e Garret Dillahunt

A bazuca de Indy

Enquanto o dia 15 de fevereiro não chega (data prevista para a estréia do trailer de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal), a revista inglesa Empire divulgou uma nova foto exclusiva do filme.

Nela, Indy (Harrison Ford) segura uma bazuca enquanto fala com Mutt Williams (Shia LaBeouf) e Marion Ravenwood (Karen Allen). Provavelmente, o arqueólogo se prepara para defender seu time de uma desagradável companhia.

Em outras notícias da revista, o produtor Frank Marshall revelou que Steven Spielberg está terminando a montagem, enquanto o compositor John Williams finaliza a trilha sonora, que deve ser inserida no filme já no mês que vem.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é o filme mais aguardado pelo HOLLYWOODIANO em 2008. A estréia mundial será no dia 22 de maio.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Cenas do SAG


Angelina Jolie e Brad Pitt
pensam que ninguém está vendo




Cate Blanchett e Marion Cotillard
não precisam de estatuetas




As meninas discordam, mas a linda Kate Hudson
apaga Matthew McConaughey




Festa para o elenco de
Onde os Fracos Não têm Vez




Festa para a Família Soprano,
que deixará saudade




A veterana Ruby Dee perdoa os blogueiros cinéfilos



Michelle Pfeiffer está perto dos 50.
Você acredita?




O grande Daniel Day-Lewis
caminha para a glória




O lendário Mickey Rooney apareceu do nada



Eu juro que vi Michael Keaton na festa



Ellen Pompeo,
minha querida




Homenagem justa ao eterno
coadjuvante Charles Durning




Ellen Page,
a garota do futuro

terça-feira, janeiro 29, 2008

Cloverfield: É marketing ou é pra valer?

Não acredito que ainda não falei nada sobre Cloverfield, o aguardado "filme de monstro" americano produzido pelo louco J.J. Abrams, criador de Lost, Alias e diretor de Missão Impossível III e o novo Star Trek.

Abrams deixou a direção com o desconhecido Matt Reeves, que fez apenas um filme - a comediazinha O Primeiro Amor de um Homem, com David Schwimmer e Gwyneth Paltrow, que pretendia ser uma versão moderna de A Primeira Noite de um Homem, clássico de Mike Nichols. Depois disso, Reeves dirigiu vários episódios de diferentes séries, como Felicity (ugh!), e escreveu o roteiro de Caminho Sem Volta, ao lado de James Gray.

Quando as primeiras imagens de Cloverfield caíram na rede, os nerds enlouqueceram. Até então, o que se sabia em relação ao projeto misterioso de J.J. Abrams é que Nova York seria atacada por um monstro gigantesco. Antes da estréia nos EUA, Cloverfield era o filme que todos queriam ver. Agora, com seus quase US$ 65 milhões arrecadados nas bilheterias americanas, tudo indica que as pessoas não estão voltando aos cinemas para rever o que me parece mais uma grande jogada de marketing de J.J. Abrams. Ele é criativo, mas costuma vender seus produtos por um preço maior do que a qualidade.

A verdade é que o trailer de Cloverfield (veja aqui) é realmente intrigante. Mas confesso que a filmagem com câmera na mão estilo Blair Witch Project me deixa com um dos pés atrás (para mim, A Bruxa de Blair é um trabalho ruim de conclusão de curso de estudantes de cinema).

A jogada de J.J. Abrams é a seguinte: Tirando as três versões de King Kong, pense num grande "filme de monstro" americano solto na cidade. Achou alguma coisa? Aquele final de O Mundo Perdido - Jurassic Park não vale. É por isso que a histeria em torno de Cloverfield grita tão forte entre fãs de ficção científica e terror. O cinema oriental apresentou Godzilla ao mundo. Recentemente, eles aprontaram de novo em O Hospedeiro, que é o máximo. Mas onde estão os monstrengos ocidentais? A resposta pode estar em Cloverfield.

Não quero tirar um barato com a cara de ninguém, mas acho que as filas no Brasil serão quilométricas, afinal o público daqui adora dois gêneros: terror e comédia. Se tem adolescente no meio, melhor ainda. É só caprichar no "medo" (no caso de terror) proporcionado por um trailer, que o público brasileiro anota o filme na agenda. Se vão gostar ou não, isso é outra história. Mas J.J. Abrams agradece.

Espero morder a língua quando o filme estrear no Brasil no dia 08 de fevereiro.

Tarantino Vs. Paparazzo



Um momento Kill Bill de Quentin Tarantino no Festival de Sundance 2008.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Monstros sagrados


E os irmãos Coen ganharam o Directors Guild Awards, prêmio outorgado pelo sindicato dos diretores, que coincide com o Oscar de Melhor Direção em 90% das vezes. Vencedor no ano passado, por Os Infiltrados, Martin Scorsese entregou os prêmios a Joel e Ethan Coen, por Onde os Fracos Não Têm Vez.

Mesmo não sendo grande fã do último filme dessa dupla genial, confesso que parece irresistível torcer para os irmãos Coen no Oscar. Sempre gostei deles. Não tanto da fase pós-Fargo. Mas ok. Engraçado é lembrar que Onde os Fracos Não Têm Vez é super complexo e não renuncia em nada ao estilo dos Coen. Quero dizer que não é o tipo de filme que faz a cabeça da Academia. Bom, amanhã eu vou rever Onde os Fracos Não Têm Vez, que tem pré em São Paulo. Espero gostar mais desta vez. Prometo uma nova crítica.


O final de semana não confirmou apenas o favoritismo dos Coen ao Oscar, mas também de outro monstro sagrado: Daniel Day-Lewis. Toda cena que eu vejo de Sangue Negro me passa a impressão de que esse deve ser "o filme".

O grande Daniel Day-Lewis recebeu o Screen Actors Guild de Melhor Ator. Seu agradecimento foi sensacional (veja aqui). Em vez de falar sobre Sangue Negro, ele preferiu homenagear Heath Ledger. Day-Lewis disse que perdemos um talento de verdade e confessou que a cena final de Brokeback Mountain é uma das coisas mais sensíveis que ele já viu.

O Sindicato dos Atores também premiou Julie Christie (Melhor Atriz, por Longe Dela) e Javier Bardem (Melhor Ator Coadjuvante, por Onde os Fracos Não Têm Vez). Bardem é o vilão do filme dos Coen. Ele está ridiculamente assustador. Mas me parece um estilo de vilão que vemos em histórias em quadrinhos. Bem caricato mesmo. Nunca premiaram o Coringa de Jack Nicholson em Batman, mas como Onde os Fracos Não Têm Vez não tem heróis e vilões mascarados, aí pode. Mas Bardem está engraçado no filme. Fui injusto com ele. Enfim, só acho que não é pra ganhar prêmios.

Mas não entendi mesmo foi a vitória da veterana Ruby Dee como Melhor Atriz Coadjuvante, por O Gângster. Nada demais no filme de Ridley Scott. Ruby Dee nem ofusca Russell Crowe e Denzel Washington em cena alguma. Acho que os atores deram um prêmio sentimental a ela.

A estatueta mais importante da noite foi a de Melhor Elenco para Onde os Fracos Não Têm Vez. Como a maioria da Academia é formada por atores, o filme dos irmãos Coen é mesmo favoritíssimo. Parece que ninguém tasca.

domingo, janeiro 27, 2008

Juno


Quem me conhece, sabe o quanto eu ando cético e decepcionado em relação ao cinema atual. Quem me conhece, também sabe o quanto eu me encanto com filmes grandiosos, épicos... Justamente numa hora em que Hollywood e a maioria da crítica especializada tentam fabricar falsas obras-primas, o ótimo (e ainda novo) diretor Jason Reitman vem com esse Juno (Juno, 2007) e me deixa sem palavras. Minha fé no bom cinema está de volta.

Alguns filmes estão além de qualquer elogio ou palavra. Por mais que eu tente decifrar e explicar aqui os encantos proporcionados por Juno, isso significaria horas e horas de enrolação e não chegaríamos a lugar algum. Acho que basta dizer que o filme de Jason Reitman atingiu em cheio o meu coração. É isso. Estou apaixonado por Juno. Alguns filmes têm esse poder. Um endereço certo.

Há tempos que eu não vejo um filme tão honesto e sensível ao mesmo tempo sem se apresentar de forma debochada ou escrachada. Ou então na forma de um drama piegas ou seco. Juno é um equilíbrio perfeito de cinema - mais ou menos aquilo que muitos chamam de "filme inteligente" (termo que eu odeio).

Talvez o melhor elogio que possa ser feito a Juno é que o filme representa originalidade dentro de um tema tão batido, afinal já vimos vários filmes sobre garotas grávidas. Não foi a primeira e nem será a última vez. E quando parece que o cinema já contou todas as histórias originais, surge um Juno no meio de nós.

O roteiro da estreante Diablo Cody acompanha os nove meses da gravidez de Juno MacGuff (Ellen Page) e descobrimos como a entrada no mundo adulto é marcada por detalhes e não por obviedades. A idade chega para todos, mas a vida deve ser experimentada com uma coisa de cada vez. Acho que Juno (com seus 16 anos) é tratada como uma criança. Seu compromisso com a maturidade não é exatamente acelerado por causa da gravidez acidental. Por exemplo, esse sentimento pode ser explicado na cena em que a garota conta aos pais sobre a chegada da cegonha. O momento ainda representa (de forma muito discreta) como o filme busca novidade dentro do gênero. E consegue. A reação do pai (J.K. Simmons) e da madrasta (Allison Janney) é assustadoramente compreensiva e real.

Não há nada estereotipado em Juno. Nem mesmo o pai da criança, o garoto esquisitão Paulie Bleeker (Michael Cera). E nem Vanessa (Jennifer Garner) e Mark (Jason Bateman), os candidatos escolhidos por Juno como prováveis pais adotivos de seu filho. Não é estereótipo. Esses tipos existem de fato. É só procurar atentamente.

O diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody ainda são capazes de encher o filme de referências pop, que não deixam nenhum leigo perdido. Juno não é um playground particular de seus criadores. Cada piada com música, banda ou filme é colocada de uma maneira tão simples, que todos entendem. Imagino que os diálogos e as citações à cultura pop americana em Juno só podem agradar a gente como, por exemplo, Cameron Crowe e Quentin Tarantino.

O pop não está apenas nos diálogos, mas nas escolhas das cores na fotografia e nos figurinos. Há uma interessante fixação pelo vermelho e o amarelo em Juno - e não são apenas as cores da escola da protagonista. A história se passa durante quatro estações e começa pelo outono. Não sei se estou certo, mas fiquei com a impressão de que cada estação assume um tom de fotografia diferente. Uma delas é até azulada. É um filme urbano, mas desafiador tanto em sua linguagem quanto em seu visual. E o que dizer, então, da parte sonora? A trilha de Juno parece escolhida a dedo por Jason Reitman e corre o risco de entrar na sua cabeça e não sair mais.

Filho de Ivan Reitman, diretor de Os Caça-Fantasmas, Um Tira no Jardim da Infância e Irmãos Gêmeos, Jason constrói (aos poucos) uma carreira mais interessante que a do próprio pai. Até agora, ele também flertou com a comédia (Obrigado Por Fumar e Juno), mas ao contrário do pai, ele prefere contar histórias mais humanas.

Não poderia encerrar sem comentar a atuação de Ellen Page. Prestes a completar 21 anos, ela interpreta uma menina de 16. E convence com seu timing perfeito, que passa a sensação de inteligência e astúcia - revelando uma garota acima de sua idade. Mas, ao mesmo tempo, Ellen transmite uma imagem de criança. É o que Juno ainda é. Pode ser cedo para afirmar, mas penso que Ellen Page será uma grande atriz do cinema. Depois de Menina Má.Com e Juno, ela está no caminho certo.

Gostaria de comentar algumas passagens de Juno para explicar algumas coisas que eu senti. Mas não quero estragar a sua experiência de assistir a este filme que faz rir e chorar em cenas inesperadas. Ou seja, você sorri numa cena, enquanto o cara na poltrona ao lado segura a emoção. É algo raro. Posso citar a seqüência final, que é a minha favorita. É uma cena capaz de levar Juno com você para fora do cinema com o coração pegando fogo.

Juno (Juno, 2007)
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Diablo Cody
Elenco: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, J.K. Simmons, Allison Janney e Olivia Thirlby

sábado, janeiro 26, 2008

In Love With Juno


Thanks Jason Reitman, Diablo Cody, Ellen Page, Michael Cera,
Jennifer Garner, Jason Bateman, Allison Janney and J.K. Simmons

sexta-feira, janeiro 25, 2008

O Gângster


Entre outras coisas, os anos 70 representaram o fim da inocência. A Guerra do Vietnã veio para fazer o povo americano questionar as decisões de seus governos e as drogas viraram um negócio lucrativo, que aumentou a criminalidade, a desordem social, o caos urbano, a corrupção na polícia e nos altos escalões da justiça. A violência reinava absoluta.

Neste cenário infernal, alguns cineastas corajosos e talentosos abordaram esses temas ainda naquela década. O resultado desta análise inclui filmes memoráveis como O Poderoso Chefão, Scarface, Serpico, Um Dia de Cão e Operação França. Pensando nisso, e no artigo The Return of Superfly, de Mark Jacobson para a New York Magazine, em 2000, o diretor Ridley Scott filmou a verdadeira saga de Frank Lucas (Denzel Washington), que passou de fiel guarda-costas, e comparsa do líder do Harlem na época, a chefão do império das drogas. Em O Gângster (American Gangster, 2007), Ridley Scott mostra que o trabalho de Lucas não é pessoal. São apenas negócios e nada mais. Ou seja, se as drogas entram na casa de pessoas inocentes, isso não é problema dele. É um negócio como outro qualquer.

No entanto, alerto para um certo cuidado antes de assistir ao novo Ridley Scott: as sinopses espalhadas por aí contam o filme inteiro. Bom, a grande sacada do roteiro de Steven Zaillian (A Lista de Schindler) é mostrar essa ascensão de Frank Lucas com muita calma e paciência - exatamente como era feito no cinema dos anos 70 - em paralelo aos dilemas do policial Richie Roberts (Russell Crowe). Sem a presença de Roberts, acho que o filme cairia no lugar comum. Enquanto o bandido Lucas ergue seu império do tráfico com genialidade e une cada vez mais a sua família, o tira Roberts paga o preço por sua honestidade (assim como o Serpico de Al Pacino no filmaço de Sidney Lumet) e anda pelo caminho da solidão.

Aos poucos, Roberts tem a chance de se "redimir" ao liderar uma equipe, que investiga a origem de uma perigosa droga que está em todos os cantos. Ninguém suspeita de Frank Lucas, porque ele fica no low profile. Dessa forma, comendo pelas beiradas, ele se torna mais poderoso do que a decadente máfia italiana, que fica aos seus pés. E neste cenário preconceituoso e intolerante, a lei jamais desconfiaria de um negro.


O ingresso vale cada centavo, principalmente, pela atuação da dupla principal. Não concordo quando dizem que Denzel ganha de lavada de Crowe. Seu Frank Lucas, acho, é um personagem mais fácil. O grande Denzel já mostrou antes que sabe passar de simpático a monstro num piscar de olhos como em Dia de Treinamento. E ele repete a técnica em O Gângster. Já não sabemos o que esperar do Richie Roberts de Russell Crowe, um policial honesto até o último fio de cabelo, mas incapaz de manter relações humanas e de ser fiel às próprias mulheres de sua vida. Seu conflito é saber que na terra, ele é bom, mas no céu, ele precisará acertar contas.

Quem procura por ação e muitos tiroteios, pode se decepcionar com O Gângster. É bom cinema que dá voz a dezenas de personagens e aposta no poder da narrativa. Nesse ponto, as contribuições de Denzel Washington e Russell Crowe elevam a qualidade de um filme que parece que já vimos antes. É isso mesmo. O problema de O Gângster é parecer um pouco over, datado. E a trama é detalhada demais, por vezes até muito didática.

Além disso, O Gângster tropeça também no que poderia ser a parte mais interessante a ser contada, que surge no final. Ridley Scott leva cerca de duas horas para chegar ao embate entre Crowe e Denzel, aí resolve correr nos minutos finais e encerrar tudo com aquele bom e velho texto que explica os destinos dos personagens na última cena.

Enfim, são pequenos detalhes que não deixam O Gângster no patamar de clássicos como O Poderoso Chefão, Scarface, Serpico, Um Dia de Cão e Operação França. Esqueci algum? Pode ser, mas garanto que o filme em questão também supera O Gângster.

O Gângster (American Gangster, 2007)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Steven Zaillian
Elenco: Denzel Washington, Russell Crowe, Chiwetel Ejiofor, Josh Brolin, Ruby Dee, Lymari Nadal, Ted Levine, RZA e Cuba Gooding Jr.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Nunca esqueceremos Heath Ledger

Ontem, o ator australiano Heath Ledger nos deixou. A notícia abalou os cinéfilos e fãs do astro não apenas pelo significado em si da morte, mas porque Ledger era novo. Ele tinha apenas 28 anos e era um dos jovens talentos que reservavam um futuro de qualidade para Hollywood.

Ledger talvez não fosse o meu (ou o seu) ator favorito. Mas todos nós sabemos o quanto ele era capaz de seguir uma carreira brilhante.

Ele começou a chamar a atenção com a comédia romântica 10 Coisas que Eu Odeio em Você, quando mandou bem na famosa cena em que canta Can't Take My Eyes Off You para Julia Stiles. Logo depois, ele foi o filho de Mel Gibson em O Patriota.

Graças a esses papéis, Ledger ganhou a condição de protagonista no moderninho Coração de Cavaleiro. Mas seu talento dramático foi testado de verdade pelo diretor Marc Forster, em A Última Ceia. Neste drama que deu o Oscar de Melhor Atriz a Halle Berry, o astro tem uma cena tão forte que acho que jamais terei coragem para assisti-la novamente. Não depois dessa semana.

E eu sei que tem um monte de gente que bate no filme do Terry Gilliam, mas eu adoro Os Irmãos Grimm. Heath Ledger está divertidíssimo ao lado de Matt Damon. E eles terminam dançando. Aquilo é uma zoeira só. Demais.

Mas foi em 2005, quando o cineasta Ang Lee o convidou para estrelar O Segredo de Brokeback Mountain, que Heath Ledger alcançou o devido respeito e a admiração de público e crítica. Seu cowboy Ennis Del Mar é um personagem que entrou para a história do cinema antes mesmo da tragédia de ontem. Não só graças ao olho de Ang Lee, mas ao talento do ator, que foi colocado para fora - como um desabafo - neste filme.

Na época, alguns críticos compararam Ledger ao jovem Marlon Brando. Exagero ou não e com ou sem rótulos, Ledger encontrava ali o seu lugar ao sol em Hollywood. O Segredo de Brokeback Mountain marcou uma geração de cinéfilos e também rendeu a Heath Ledger uma indicação ao Oscar de Melhor Ator - Philip Seymour Hoffman ganhou a estatueta naquele ano, por Capote.

Antes de partir, Heath Ledger deixou mais duas obras: Não Estou Lá, de Todd Haynes, e Batman - O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan. Na primeira, ele é uma das várias faces do cantor Bob Dylan. No segundo, Ledger vive um enlouquecido Coringa na mais do que aguardada seqüência de Batman Begins.

Aliás, será muito estranho ver Ledger como o vilão do filme, não? Digo... agora. Sei lá. Acho que a ficha ainda não caiu. Talvez ninguém tenha assimilado ainda. E não sei bem o que vão dizer no resultado final da autópsia. Nem quero saber. Também não gosto muito quando dizem que ele entrou para o hall dos atores que morreram cedo como James Dean, River Phoenix e Brandon Lee. Prefiro dizer que bons atores como Heath Ledger não morrem. Eles vivem para sempre. Seus filmes estão aí. Eternos.

Ledger dormiu em paz e deixou uma filhinha de dois anos, além de milhares de fãs. Prefiro lembrar dele em momentos marcantes como a cena sensacional abaixo. É isso. Vai com Deus, meu caro!

Por que tão cedo?


Heath Ledger
(1979-2008)

terça-feira, janeiro 22, 2008

Os indicados ao 80º Oscar


Rapidamente, vamos aos indicados ao 80º Oscar. O épico Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson, e o policial caipira esquizofrênico Onde os Fracos Não Têm Vez (me recuso a dizer que isso é faroeste), dos irmãos Coen, lideram a lista com oito indicações cada. Ou seja, são os favoritos. Depois eu comento a situação num outro post. Mas contem: o que vocês acharam?

Melhor Filme

Desejo e Reparação
Juno
Conduta de Risco
Onde os Fracos Não Têm Vez
Sangue Negro

Melhor Direção

Julian Schnabel / O Escafandro e a Borboleta
Jason Reitman / Juno
Tony Gilroy / Conduta de Risco
Joel Coen & Ethan Coen / Onde os Fracos Não Têm Vez
Paul Thomas Anderson / Sangue Negro

Melhor Roteiro Original

Juno
Lars and the Real Girl
Conduta de Risco
Ratatouille
The Savages

Melhor Roteiro Adaptado

Desejo e Reparação
Longe Dela
O Escafandro e a Borboleta
Onde os Fracos Não Têm Vez
Sangue Negro


Melhor Ator

George Clooney / Conduta de Risco
Tommy Lee Jones / No Vale das Sombras
Johnny Depp / Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
Daniel Day-Lewis / Sangue Negro
Viggo Mortensen / Senhores do Crime

Melhor Atriz

Cate Blanchett / Elizabeth - A Era de Ouro
Julie Christie / Longe Dela
Marion Cotillard / Piaf - Um Hino ao Amor
Laura Linney / The Savages
Ellen Page / Juno

Melhor Ator Coadjuvante

Casey Affleck / O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford
Javier Bardem / Onde os Fracos Não Têm Vez
Philip Seymour Hoffman / Jogos do Poder
Hal Holbrook / Na Natureza Selvagem
Tom Wilkinson / Conduta de Risco

Melhor Atriz Coadjuvante

Cate Blanchett / I'm Not There
Ruby Dee / O Gângster
Saoirse Ronan / Desejo e Reparação
Amy Ryan / Medo da Verdade
Tilda Swinton / Conduta de Risco

Melhor Animação

Persepolis
Ratatouille
Tá Dando Onda

Melhor Trilha Sonora

Desejo e Reparação
O Caçador de Pipas
Conduta de Risco
Ratatouille
Os Indomáveis


Melhor Fotografia

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford
Desejo e Reparação
O Escafandro e a Borboleta
Onde os Fracos Não Têm Vez
Sangue Negro


Melhor Direção de Arte

O Gângster
Desejo e Reparação
A Bússola de Ouro
Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
Sangue Negro


Melhor Figurino

Across the Universe
Desejo e Reparação
Elizabeth: A Era de Ouro
Piaf - Um Hino ao Amor
Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Melhor Montagem

O Ultimato Bourne
O Escafandro e a Borboleta
Na Natureza Selvagem
Onde os Fracos Não Têm Vez
Sangue Negro

Melhor Maquiagem

Piaf - Um Hino ao Amor
Norbit
Piratas do Caribe - No Fim do Mundo

Melhores Efeitos Visuais

A Bússola de Ouro
Piratas do Caribe - No Fim do Mundo
Transformers


Melhor Edição de Som

O Ultimato Bourne
Onde os Fracos Não Têm Vez
Ratatouille
Sangue Negro
Transformers


Melhor Mixagem de Som

O Ultimato Bourne
Onde os Fracos Não Têm Vez
Ratatouille
Os Indomáveis
Transformers


Melhor Canção

"Falling Slowly" / Once
"Happy Working Song" / Encantada
"Raise It Up" / August Rush
"So Close" / Encantada
"That's How You Know" / Encantada

Melhor Filme em Língua Estrangeira

Beaufort
/ Israel
The Counterfeiters / Áustria
Katyn / Polônia
Mongol / Cazaquistão
12 / Rússia

Melhor Documentário

No End in Sight
Operation Homecoming - Writing the Wartime Experience
Sicko
Taxi to the Dark Side
War/Dance


Melhor Curta de Documentário

Freeheld
La Corona
Salim Baba
Sari's Mother

Melhor Curta de Animação

I Met the Walrus
Madame Tutli-Putli
My Love
Peter & the Wolf

Melhor Curta-Metragem


At Night
Il Supplente
Le Mozart des Pickpockets
Tanghi Argent-i
The Tonto Woman

domingo, janeiro 20, 2008

Eu Sou a Lenda


Em entrevista a um telejornal, a Dra. Alice Krippin (Emma Thmpson) anuncia que encontrou a cura do câncer ao manipular algumas espécies de vírus. Três anos depois, observamos uma Nova York abandonada, suja, vazia. O salto de tempo que abre a ficção científica Eu Sou a Lenda (I Am Legend, 2007), adaptação do livro de Robert Matheson, é assustador. Já vimos cenas de cidades vazias em outros filmes, mas não como neste.

Sem explicação ou qualquer diálogo, entendemos que a experiência não deu certo e a vida na Terra foi extinta. Ou quase. Em questão de segundos, vemos o Mustang vermelho do Dr. Robert Neville (Will Smith) rasgando as ruas da cidade atrás de veados num alucinante safári urbano. É a melhor seqüência do filme, que evidencia que cinema é essencialmente uma arte visual. Antes de qualquer coisa.

Poucos minutos depois, o relógio do Dr. Neville alerta: o sol está se pondo. É hora de se trancar em casa, mas não sabemos qual é o motivo. Confinado dentro de uma banheira ao lado de sua fiel cadela Sam, Neville escuta gritos horrendos do lado de fora de sua casa. Som, imagem e nenhuma música. Assustador. Tudo começa de forma brilhante.

Nos dias seguintes, sabemos que Neville trabalha para encontrar uma vacina capaz de salvar a raça humana. Eu Sou a Lenda também traz flashbacks, que não mostram exatamente como o vírus destruiu a Humanidade, mas como Neville perdeu tudo. Essa é a história (ou a lenda) dele.

Feito com coração pelo diretor Francis Lawrence, o filme tem cenas de um terror genuíno há muito tempo esquecido por Hollywood. Em um de seus passeios diurnos por Nova York, Neville perde Sam de vista, quando a cadela invade uma espécie de armazém abandonado. Seu interior é a escuridão total. Tentando encontrá-la, Neville aponta sua arma para o breu. Ele não vê nada. Do que ele tem medo? A câmera de Francis Lawrence está sob o ombro de Neville. Vemos exatamente o que ele vê. De repente, ele tem uma visão de puro horror: uma horda de zumbis, vampiros, mutantes ou o que seja. Minha impressão é que eles estavam hibernando. A cena é ótima para criar o clima de medo.

Surpreendido por um dos bichos, Neville corre (com Sam) em direção à luz do sol. As criaturas não suportam a claridade. De acordo com as observações do cientista, descobrimos que esses monstros são seres humanos infectados pelo vírus. Os cães (e todos os animais) não pegam a doença pelo ar e o próprio Neville (como um milagre) é imune. Mas basta uma mordida para se juntar ao exército de zumbis.

Muitos criticaram a opção do diretor em criar os monstros digitalmente, mas acho que a concepção tornou os inimigos de Neville mais ágeis. Em algumas cenas, eles não emitem qualquer som ao correr. As criaturas de Eu Sou a Lenda podem bater a cabeça em vidro ou concreto, que não sentem dor alguma. Acho que os efeitos visuais contribuiram para explicar visualmente a ausência de humanidade nos monstros. É a terrível conseqüência do vírus.

São opções que reforçam a idéia de Robert Neville como o último humano na Terra. Enquanto tenta sobreviver ao longo do filme, ele também procura manter a sanidade para se concentrar na busca pela cura. É algo que só aumenta a sua loucura, afinal se Neville criar uma vacina, qual seria o seu plano para injetá-la nos monstros? Ok. Deixa pra lá. Ficção científica não é realidade.

A luta para manter a consciência do protagonista é um ponto bem trabalhado pela atuação de Will Smith. E a entrada da atriz brasileira Alice Braga na segunda metade é fundamental para evoluir esse desenvolvimento dramático do personagem. Ela acredita que foi enviada por Deus. Com a mente cansada e cada vez mais primata, Neville não acredita nela.

Essa idéia de inserir fé e religião em obras de ficção científica não é novidade de Eu Sou a Lenda. Essa mistura sempre fez parte dos grandes exemplares do gênero. A fé é o caminho para atingir o destino. Anna (Alice Braga) surge para mostrar a Neville, que eles não estão sozinhos no mundo. É uma mensagem de esperança pensar que ambos permaneceram vivos por uma razão.

Eu Sou a Lenda
segue muito bem ao equilibrar perfeitamente drama, terror, suspense, ficção científica e um pouco de ação. A história convence porque se concentra nos personagens e não nos efeitos visuais. Principalmente em sua primeira hora, Eu Sou a Lenda quase não apresenta diálogos. Como em Náufrago, de Robert Zemeckis. Nos tempos de hoje, isso é uma bela ousadia em filmes hollywoodianos.

Infelizmente, estamos falando da maior indústria do cinema. E Francis Lawrence, que se redimiu do fraco Constantine, foi obrigado pelo estúdio a filmar um final mais comercial para Eu Sou a Lenda. Os minutos finais não combinam com o clima do filme inteiro. Já li que Lawrence imaginou uma conclusão mais filosófica - algo que se aproximasse dos grandes filmes de ficção científica que marcaram o cinema. Enfim, o final que foi ao cinema é fraco. Nada memorável. É um erro que ameaça jogar Eu Sou a Lenda no ostracismo.

O que impressiona antes do final bobo é constatar que Francis Lawrence conduzia a terceira versão do livro de Richard Matheson como a melhor até aqui - as anteriores foram Mortos que Matam, com Vincent Price, e A Última Esperança da Terra, com Charlton Heston.

Com isso, Eu Sou a Lenda fica atrás de outros exemplares do gênero que exploram a devastação da Humanidade por um vírus. O Enigma de Andrômeda e Os Doze Macacos são dois exemplos. O segundo ainda se concentra na busca pela sanidade, um tema explorado em Eu Sou a Lenda.

Mas tomara que Francis Lawrence consiga lançar sua visão original em DVD. Seu filme não pode ser jogado no lixo por causa desse vírus chamado Hollywood. Apesar do final, Eu Sou a Lenda é bom cinema e tem (muitas) qualidades.

Eu Sou a Lenda (I Am Legend, 2007)
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Akiva Goldsman e Mark Protosevich (Adaptado do livro de Richard Matheson)
Elenco: Will Smith, Alice Braga, Charlie Tahan, Salli Richardson e Willow Smith

sábado, janeiro 19, 2008

Clint Eastwood e Pixar dominam o Blog de Ouro



A primeira edição do Blog de Ouro, prêmio da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos para os melhores filmes que estrearam nos cinemas do país em 2007, foi divulgada na madrugada de sexta para sábado. O HOLLYWOODIANO é um dos membros da Sociedade.

Cartas de Iwo Jima, a extraordinária visão de Clint Eastwood do lado japonês na batalha contra os americanos no Pacífico, ganhou 3 Blogs de Ouro, incluindo os principais: Melhor Filme e Melhor Diretor (Eastwood). Cartas de Iwo Jima ainda levou o prêmio de Melhor Fotografia. O impressionante é que o filme de Clint Eastwood estreou no Brasil em fevereiro, mas parece que os cinéfilos não esqueceram seu impacto.

No entanto, Ratatouille, uma obra-prima da Pixar, ganhou mais do que qualquer outro filme. Foram 4 Blogs de Ouro: Melhor Animação, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção. Eu confesso que votei em Ratatouille para Melhor Filme, a única categoria que a animação perdeu, mas...

Zodíaco, que recebeu o maior número de indicações (oito), decepcionou. O filme de David Fincher ganhou dois prêmios importantes - Melhor Ator Coadjuvante (Robert Downey Jr.) e Melhor Roteiro Adaptado. Acho que foi pouco. Mas Pecados Íntimos superou Zodíaco em decepção. Indicado em cinco categorias, incluindo Melhor Filme, o longa de Todd Field não levou nada.

O brasileiro Wagner Moura foi o Melhor Ator, por Tropa de Elite, enquanto a francesa Marion Cotillard foi a Melhor Atriz, por Piaf - Um Hino ao Amor. Com isso, digo que o Blog de Ouro foi bem internacional, afinal a japonesinha Rinko Kikuchi (Babel) foi a Melhor Atriz Coadjuvante, e lembro que Cartas de Iwo Jima é americano, mas falado em japonês.

Maria Antonieta foi premiado nas duas categorias que disputou (Direção de Arte e Figurino). O Ultimato Bourne também ganhou dois Blogs de Ouro (Montagem e Som).

O resultado do Blog de Ouro, como qualquer outro prêmio, não é unanimidade. Mas eu gostaria de agradecer (e parabenizar) a todos que "deram vida" a Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos. E obrigado também ao Sr. Ricardo Matsumoto, jornalista da Revista SET, que votou no Blog de Ouro como nosso convidado.

A lista completa de vencedores está aqui.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

O Caçador de Pipas


Sempre me disseram que O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, é um livro muito bonito, que faz chorar, etc. Pode até ser verdade, mas a adaptação para o cinema dirigida por Marc Forster, de Em Busca da Terra do Nunca e Mais Estranho que a Ficção, foge de qualquer emoção. E é o medo de não cair na pieguice que estraga o filme O Caçador de Pipas (The Kite Runner, 2007).

Não peço algo sentimentalóide, mas até quem não leu o livro sabe que O Caçador de Pipas tem uma história bonita. Contando o filme a alguém, obviamente, parece que estamos falando de uma saga humana e emocionante de culpa, intolerância, redenção, e principalmente amizade e lealdade. Também é uma história triste, afinal a invasão russa no Afeganistão e a conseqüente intervenção americana no Oriente Médio como pano de fundo forçam não apenas o fim da inocência dos meninos Hassan (Ahmad Khan Mahmidzada) e Amir (Zekeria Ebrahimi), mas também de todo o povo. Se é focado em duas crianças, você imagina que a emoção virá à tona a qualquer momento. Só que o filme de Marc Forster é frio e se esquiva dos sentimentos sempre quando ele ameaça surgir na tela. Há uma única cena que pode levar o público inteiro (e não somente os fãs) às lágrimas: quando o Amir adulto (o fraco Khalid Abdalla) lê a carta de Hassan. É uma pena que um drama com grande potencial como O Caçador de Pipas não esteja à altura desta cena.

Por exemplo, acho que a linha narrativa de O Caçador de Pipas lembra a de Cinema Paradiso: homem recebe um telefonema e precisa voltar a sua cidade natal para acertar contas com o passado. As comparações entre os filmes de Marc Forster e Giuseppe Tornatore param aqui. Mas Cinema Paradiso é tocante sem ser piegas. E seu diretor não teve medo de ser acusado como tal. Outro exemplo do gênero que deveria ter sido seguido por Forster e o roteirista David Benioff é Menina de Ouro. Clint Eastwood fez um filme extremamente triste, mas que não necessariamente faz o público chorar.

A falta de emoção pode ser o maior dos problemas de O Caçador de Pipas, mas não é o único. Algumas cenas ficam soltas com tantos buracos no roteiro. Não posso contar, mas a impressão é que faltou informação em alguns diálogos para explicar as motivações de alguns personagens. Há uma cena específica entre os pais de Amir e Hassan que simplesmente não faz sentido (quando um deles avisa estar de malas prontas para ir embora). Você vai ver.

Na verdade, Hollywood é geralmente acusada de deixar "buracos" nos roteiros de vários filmes. Agora, parece que encontraram a solução. Em vez de rever a montagem final, Forster confiou plenamente nos fãs do livro, que conhecem a história de trás para frente. Mas como ficam aqueles que não leram o trabalho de Khaled Hosseini? Claro que dá para entender o filme, mas a falha na narrativa existe.

Apesar de uma ou outra mudança para o formato de cinema, Marc Forster parece que foi bem fiel ao livro. Falta ousadia em sua filmografia, que reúne títulos interessantes, mas que se prendem a fórmulas ou regras e, por isso, jamais decolam. Na crítica de Mais Estranho que a Ficção, escrevi um trecho assim: "Se o filme fosse resultado de uma adaptação literária, eu diria aqui que se trata de uma xerox do livro. Forster confia demais no roteiro de Zach Helm e entrega uma produção fria e muito arrastada até o final edificante."

E tive uma certa bronca com o filme. Não sei se é assim no livro, mas nada me tira da cabeça que O Caçador de Pipas aponta os valores do lado ocidental como a salvação. Quando Amir sai de Cabul, no Afeganistão, para estudar e trabalhar nos EUA, ele passa a compreender o american way of life tão bem a ponto de considerá-lo como significado de esperança e futuro. Antes, ele era invejoso, egoísta e covarde. Agora, Amir é um exemplo de vida. A parte do filme que o retrata como adulto só contribui para reforçar a imagem dos EUA como símbolo máximo de cultura, sociedade e educação.

Mas é claro que sou minoria. Ainda mais porque grande parte do filme é conduzido pelo relacionamento das crianças. O que deixa essa visão em segundo plano. E fica difícil não se deixar levar pelo tema de amizade proposto por O Caçador de Pipas. Temos bons momentos como a leitura da carta de Hassan, mas o todo poderia ter sido menos gelado. Eu queria muito abraçar esse filme - ainda mais quando vejo a cena final com Amir correndo atrás da pipa e dizendo a frase "Por você, eu faria isso mil vezes" -, mas não consigo.

O Caçador de Pipas (The Kite Runner, 2007)
Direção: Marc Forster
Roteiro: David Benioff (Adaptado do livro de Khaled Housseini)
Elenco: Khalid Abdalla, Homayoun Ershadi, Zekeria Ebrahimi, Ahmad Khan Mahmidzada e Shaun Toub

O pôster oficial dos 80 anos do Oscar

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou o pôster oficial da 80ª cerimônia do Oscar, que acontece no dia 24 de fevereiro.

A arte foi criada pelo grande Drew Struzan e seu filho Christian. Struzan é famoso pelos desenhos de vários pôsteres que marcaram os anos 80. Ele é o artista por trás do cartazes das séries Indiana Jones e Star Wars - aqueles clássicos repletos de cabeças desenhadas.

Lista de indicados sai no dia 22

No próximo dia 22 de janeiro, terça-feira, a Academia anuncia os indicados ao Oscar. Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Coen, é favoritíssimo. Praticamente já tem uma das vagas ao Oscar de Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado.

Nesta semana, o sindicato dos produtores revelou seus favoritos: Onde os Fracos Não Têm Vez, Sangue Negro, O Escafandro e a Borboleta, Conduta de Risco e Juno. Equivalente ao Oscar de Melhor Filme, o prêmio costuma ditar as produções que disputam a principal categoria. A pergunta da vez é a seguinte: a Academia vai ignorar os dois vencedores do Globo de Ouro de Melhor Filme (Desejo e Reparação e Sweeney Todd)?

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Aliens Vs. Predador 2


Não há muito o que dizer sobre Aliens Vs. Predador 2 (Aliens vs Predator - Requiem, 2007). Não vi o primeiro encontro entre os monstros sagrados no cinema e só paguei para assistir ao "2" porque queria me divertir com o showdown entre as duas raças alienígenas.

Só que tudo é tão grotesco que nem a diversão valeu a pena. O roteiro de Shane Salerno e a direção desses irmãos Colin e Greg Strause são capazes de corar até mesmo aspirantes que filmam ou idealizam uma produção no quintal de casa.

Logicamente, os irmãos Strause não escondem as criaturas que todo mundo já está cansado de ver. Por isso, a idéia dos diretores em utilizar uma fotografia para lá de escura não tem cabimento. É quase impossível enxergar a maioria das cenas noturnas. E no final, eles ainda acrescentam uma chuva ininterrupta para complicar o visual de vez.

Para piorar, os caras transformaram dois ícones da ficção científica em assassinos mascarados de adolescentes seminus (com direito a close na bunda da bela Kristen Hager). É isso mesmo. Os famosos monstros estão lá só para fazer a garotada gritar antes de morrer. O truque é o de sempre: o som estoura na hora do susto e uma morte tem que ser diferente da outra. De preferência de uma forma mais escatológica que a anterior. Não há qualquer suspense ou terror no sentido original dos gêneros. Ou seja: se você gosta de Alien - O Oitavo Passageiro, Aliens - O Resgate e O Predador, não tem como admirar esse Aliens Vs. Predador 2.

Mas Hollywood é assim mesmo. As grandes idéias estão acabando e a qualidade do cinema em geral está sofrível. Atualmente, uma das saídas é "imaginar" confrontos entre personagens sagrados de franquias bem-sucedidas. O problema é que essa fórmula abandona a essência dos filmes originais para agradar um novo público. Já tivemos Freddy Vs. Jason e Aliens Vs. Predador. Mas o que virá agora? RoboCop Vs. Exterminador do Futuro? Superman Vs. Batman? Titanic Vs. Pearl Harbor? Só pode ter alguém que acha essas "sacadas" geniais.

É por isso que valorizo um filme divertido como Transformers. Também é uma aventura sobre alienígenas inimigos em pé de guerra na Terra com os humanos sofrendo na primeira fila do show. Transformers também saiu de um grande estúdio interessado na venda de DVDs, videogames, camisetas e bonecos. Mas perto dos irmãos Strause, Michael Bay é Orson Welles. Entendeu agora a gravidade da coisa?

Pelo menos, Aliens Vs. Predador 2 tem a Reiko Aylesworth, a Michelle Dessler da minha série favorita: 24 Horas. Sumida desde que deixou as aventuras de Jack Bauer, Reiko faz um tipão Sigourney Weaver, que lidera o pelotão de adolescentes seminus. Mas nem isso vale o ingresso. Lixo total.

Aliens Vs. Predador 2 (Aliens vs Predator - Requiem, 2007)
Direção: Colin Strause e Greg Strause
Roteiro: Shane Salerno
Elenco: Steven Pasquale, Reiko Aylesworth, John Ortiz, Johnny Lewis, Ariel Gade e Kristen Hager

terça-feira, janeiro 15, 2008

Ele é a lenda


Duas vezes indicado ao Oscar de Melhor Ator (por Ali e À Procura da Felicidade), o astro Will Smith está no Rio de Janeiro para divulgar Eu Sou a Lenda, seu mais novo filme que estréia nesta sexta-feira no Brasil.

Trata-se da terceira versão para o cinema do cultuado livro homônimo de ficção científica de Richard Matheson. A história já ganhou as telas anteriormente com Mortos que Matam (The Last Man on Earth, 1964) e A Última Esperança da Terra (The Omega Man, 1971). Esta última foi estrelada pelo grande Charlton Heston e é bem legal, apesar de ser um produto de sua época com direito a cabelo black power.

Há tempos que Hollywood tenta atualizar a aventura. Diretores como Ridley Scott e James Cameron já consideraram o projeto, mas o passaram adiante até cair nas mãos de Will Smith, um dos senhores absolutos da indústria atual. O roteiro de Akiva Goldsman (Uma Mente Brilhante, O Código Da Vinci) e Mark Protosevich (A Cela) foi rodado por Francis Lawrence, que fez aquele medonho Constantine. Só que o próprio Will Smith garante que Eu Sou a Lenda ficou bem bacana como um belo representante da boa e velha ficção científica.

Smith parece adorar o gênero. Da década passada até aqui, ele esteve em Independence Day, Homens de Preto I e II, além de Eu, Robô. Quando ninguém mais queria se arriscar pela história de Richard Matheson, eis que surgiu o astro para bater o martelo.

O impressionante é que, antes, Will Smith ganhava a vida como rapper e astro da extinta série de TV The Fresh Prince of Bel-Air. Agora, ele é capaz de convencer os estúdios de Hollywood a realizar qualquer um de seus projetos. Ainda mais com os resultados de seu novo filme. Eu Sou a Lenda é o maior sucesso de bilheteria de Will Smith até o momento. E, claro, da atriz brasileira Alice Braga, estrela desta aguardada ficção científica. A marca está perto de superar 450 milhões de dólares arrecadados em todo o mundo. Talvez Smith seja o maior astro do cinema atual. Hoje, ele tem tudo para ser a lenda de amanhã.

domingo, janeiro 13, 2008

Globo de Ouro sem brilho

Nada de tapete vermelho. Nada de festas. Nada de astros ou estrelas na entrega da 65ª edição anual do Globo de Ouro.

Nesta madrugada, a Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood anunciou os vencedores numa coletiva sem brilho no The Beverly Hilton com jornalistas da área de entretenimento.

Tudo isso graças aos roteiristas, que continuam em greve. Eles ameaçaram fazer piquete e estragar qualquer festa se o Globo de Ouro acontecesse com tapete vermelho, celebridades e todo o glamour que já conhecemos. Com isso, o sindicato dos atores apoiou a classe de roteiristas e boicotou a festa.

Mas como queremos saber é de prêmio e não dessa greve que já encheu o saco (e que ameaça a realização da cerimônia do Oscar), Desejo e Reparação bateu Onde os Fracos Não Têm Vez, o favorito da noite na categoria de Melhor Filme. O curioso é que aconteceu algo semelhante na premiação de 1997, quando o épico romântico O Paciente Inglês derrotou Fargo, dos irmãos Coen, que era o preferido da crítica naquela época.

N
a categoria de Melhor Diretor, os Coen também não levaram, como era esperado. A maior surpresa da noite foi saber que a estatueta parou nas mãos de Julian Schnabel, por O Escafandro e a Borboleta. Mas Joel Coen e Ethan Coen ganharam o primeiro Globo de Ouro de suas brilhantes carreiras: o de Melhor Roteiro. Javier Bardem foi o Melhor Ator Coadjuvante, por Onde os Fracos Não Têm Vez, enquanto Cate Blanchett passou a perna na favorita Amy Ryan (Medo da Verdade) e levou como Melhor Atriz Coadjuvante, por I'm Not There.

Mas os favoritos também têm vez: Daniel Day-Lewis (Sangue Negro), Julie Christie (Longe Dela) e Marion Cotillard (Piaf - Um Hino ao Amor) ganharam os prêmios de atuação. Assim como Johnny Depp, que levou o Globo pela primeira vez, por Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, filme de Tim Burton que conquistou a estatueta principal da categoria Comédia/Musical

Em tempo: os vencedores do Globo de Ouro de Melhor Filme não batem com o Oscar desde 2004, quando O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei ganhou. Mas a categoria de Melhor Diretor, que premiou Julian Schnabel, vem sendo igual a do Oscar desde 2004.

Confira os vencedores de cinema abaixo:

Melhor Filme (Drama)
Desejo e Reparação

Melhor Filme (Comédia/Musical)
Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Melhor Diretor
Julian Schnabel (O Escafandro e a Borboleta)

Melhor Roteiro
Onde os Fracos Não Têm Vez

Melhor Filme Estrangeiro
O Escafandro e a Borboleta (França / EUA)

Melhor Ator (Drama)
Daniel Day-Lewis (Sangue Negro)

Melhor Atriz (Drama)
Julie Christie (Longe Dela)

Melhor Ator (Comédia/Musical)
Johnny Depp (Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet)

Melhor Atriz (Comédia/Musical)
Marion Cotillard (Piaf - Um Hino ao Amor)

Melhor Ator Coadjuvante
Javier Bardem (Onde os Fracos Não Têm Vez)

Melhor Atriz Coadjuvante
Cate Blanchett (I'm Not There)

Melhor Trilha Sonora
Desejo e Reparação

Melhor Canção
Guaranteed (Na Natureza Selvagem)

Melhor Animação
Ratatouille

Veja a lista completa aqui (incluindo os vencedores de TV).

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Desejo e Reparação, um filme romântico de verdade


Esqueça O Amor nos Tempos do Cólera e P.S.: Eu te Amo. O filme romântico da vez é Desejo e Reparação, que estréia neste final de semana (acredito que em todo o país).

A nova parceria entre o diretor Joe Wright e sua musa Keira Knightley pode não ser superior a anterior (Orgulho e Preconceito), mas é o melhor filme atualmente em cartaz. Os românticos de plantão não têm do que reclamar. Desejo e Reparação emociona e faz pensar sobre a existência da arte como lugar ideal para os apaixonados.

O engraçado é que esse seria o tipo de filme favorito para o Oscar na década passada. Nos anos 90, produções como O Paciente Inglês e Shakespeare Apaixonado paparam várias estatuetas, incluindo a de Melhor Filme. Apesar de não ser perfeito, Desejo e Reparação é melhor do que os dois juntos. Só que hoje, a Academia anda deixando de lado as produções grandiosas.

E pensar que os irmãos Coen podem ganhar neste ano por Onde os Fracos Não Têm Vez, quando eles foram melhores em Fargo e o filme perdeu o Oscar para O Paciente Inglês. Bom, uma época é diferente da outra. Só que esquecem que filme bom é bom em qualquer lugar ou época.

HOLLYWOODIANO viu Desejo e Reparação na Mostra de SP em outubro. Leia a crítica aqui. E não perca.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Roteiro de Diablo Cody entre indicados ao WGA


Todo mundo sabe que os roteiristas de Hollywood está em greve, mas isso não impediu que o sindicato revelasse seus scripts favoritos de 2007. A estreante mais badalada da indústria é Diablo Cody (FOTO). A ex-stripper caiu nas graças de Hollywood com o roteiro de Juno, novo filme de Jason Reitman, o mesmo diretor de Obrigado Por Fumar.

Os indicados ao Writers Guild Awards (WGA) devem ser praticamente os mesmos do Oscar, que anuncia sua lista no próximo dia 22 de janeiro. No ano passado, Pequena Miss Sunshine ganhou como Melhor Roteiro Original, enquanto Os Infiltrados venceu na categoria Melhor Roteiro Adaptado. Os resultados foram idênticos na festa do Oscar.

Nesta edição do WGA, fiquei particularmente surpreso com as ausências de Kelly Masterson, pelo elogiado roteiro original de Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto, e Christopher Hampton, pelo belo roteiro adaptado de Desejo e Reparação. Mas foi muito bom ver o geralmente esquecido Zodíaco na lista. Os vencedores serão anunciados no dia 9 de fevereiro. Abaixo, os preferidos do sindicato:

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Juno
Diablo Cody

Conduta de Risco
Tony Gilroy

The Savages
Tamara Jenkins

Ligeiramente Grávidos
Judd Apatow

Lars and the Real Girl
Nancy Oliver


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO


Onde os Fracos Não Têm Vez
Ethan Coen & Joel Coen

Sangue Negro
Paul Thomas Anderson

O Escafandro e a Borboleta
Ronald Harwood

Na Natureza Selvagem
Sean Penn

Zodíaco
James Vanderbilt

Descontrole


Não consegui ver Control, a cinebiografia de Ian Curtis, o vocalista da banda Joy Division, na Mostra de SP. Achei que o filme chegaria aos cinemas do país ainda em janeiro, mas acabei de saber que Control só deve estrear em março. Lamentável. Por que o descaso com o lançamento do filme?

Pelo menos, Control ganhou muitos elogios da crítica e o trailer (veja aqui) comprova que a fotografia em preto e branco reforça o clima da banda: deprê total.

A trilha apresenta alguns covers de sucessos do Joy Division, incluindo três faixas reservadas para o New Order, grupo formado pelos "sobreviventes" da banda liderada por Ian Curtis. São elas: Exit, Get Out e Hypnosis. Ainda temos What Goes On (The Velvet Underground), Shadowplay (The Killers), Boredom (Buzzcocks), She Was Naked (Supersister), Sister Midnight (Iggy Pop), Problems (Sex Pistols), Drive-In Saturday e Warszawa (David Bowie), Evidently Chickentown (John Cooper Clarke), 2HB (Roxy Music) e Autobahn (Kraftwerk). As versões de Dead Souls, Transmission, Atmosphere e a minha favorita Love Will Tear Us Apart são cantadas na voz original de Ian Curtis no comando do Joy Division.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

O Amor nos Tempos do Cólera


O colombiano laureado com o prêmio Nobel de literatura Gabriel García Márquez escreveu O Amor nos Tempos do Cólera (Love in the Time of Cholera, 2007) em "seis dias". No sétimo, ele descansou. O diretor inglês Mike Newell se diz fã da obra, mas filmou um desastre de proporções épicas.

Nas mãos dele, a poesia da saga de Florentino Ariza (Unax Ugalde/Javier Bardem) esperando a amada Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno) por toda uma vida é menos artística do que novela das seis. Chega a ser risível observar um homem daquele tamanho chorando por causa dessa moça. O que representa um defeito grave. Era para ser bonito, emocionante.

Enfim, parece que Newell e o roteirista Ronald Harwood, vencedor do Oscar por O Pianista, tentaram contar o que acontece no livro, mas não houve preocupação com a adaptação da linguagem de García Márquez. O resultado é um filme romântico sem coração. É inteiramente burocrático. Mike Newell filmou O Amor nos Tempos do Cólera como se fosse parte do núcleo de diretores da Globo. Ele erra em tudo. A sensualidade e a sensibilidade deste filme são sutis como um elefante.

Além disso, há uma avalanche de acontecimentos ligando uma cena a outra em questão de pouquíssimos minutos. É uma rapidez que tira a essência da obra. E não adianta dizer que o livro de García Marquez é impossível de ser adaptado. Disseram o mesmo de O Paciente Inglês, de Michael Ondaatje, mas o filme de Anthony Minghella ganhou nove Oscars (embora eu não seja um admirador). Não quero comparar Michael Ondaatje a Gabriel García Márquez, mas isso é desculpa esfarrapada. Ainda assim, não acho que o principal problema está no roteiro. O mais grave nessa versão de O Amor nos Tempos do Cólera é o diretor Mike Newell errando a mão na transposição da linguagem.

Um exemplo de elegância nas adaptações foi David Lean, que utilizava cada espaço da tela para retratar detalhes para lá de minuciosos. Lean pintou quadros belíssimos no cinema com roteiros originais (A Filha de Ryan) ou adaptados (A Ponte do Rio Kwai, Doutor Jivago). No caso de Jivago, a tentativa poderia ter caído nesse rótulo medroso de "adaptação impossível", mas Lean tem personalidade, que pode ser vista em cada um de seus trabalhos.

Por que me prendo a detalhes? Porque são os detalhes numa adaptação desse porte que resgatam as descrições lidas em um livro. O certo seria sentir o cheiro de fumaça ou da tinta nas casas. Alguns filmes são capazes dessa proeza. Em O Amor nos Tempos do Cólera, o cenário da Colômbia parece uma mistura de todos os costumes da América do Sul. No cinema, a direção de arte, a fotografia, os figurinos e as pessoas precisam se conectar ao período da trama. É fundamental proporcionar uma identificação do público com o tempo e o espaço da obra. Com o terreno pronto, a única preocupação adiante do diretor é contar sua história.

Agora, veja a filmografia de Mike Newell. Quatro Casamentos e um Funeral e Donnie Brasco deram certo. O Sorriso de Mona Lisa nem tanto. Seu Harry Potter não é exatamente o melhor da série. Ele passa de um gênero para outro como se isso fosse tarefa das mais fáceis. Nenhum problema em arriscar, afinal temos o exemplo de James Mangold, que faz filmes como Johnny & June e o faroeste Os Indomáveis. Mas enquanto Mangold é fã de cinema, talvez Newell seja fã de literatura. Não sei dizer, mas um acerta e o outro não.

O Amor nos Tempos do Cólera também está aí para confirmar que o cinema mudou. Numa época de filmes como A Paixão de Cristo, Apocalypto e Cartas de Iwo Jima, acredito que o público americano já se acostumou com legendas - até porque o interessante é ver um bom filme e a língua não importa. Em O Amor nos Tempos do Cólera, Newell convocou um elenco internacional para contar uma história passada na Colômbia. Temos o espanhol Javier Bardem, a italiana Giovanna Mezzogiorno, o americano Liev Schreiber, a brasileira Fernanda Montenegro e os colombianos Catalina Sandino Moreno e John Leguizamo. Todos falam um péssimo inglês. Até Schreiber ensaia um sotaque espanhol para atrapalhar. Entendo que a língua correta seria o espanhol, certo? Se é para filmar em inglês, deveriam ter apostado no jeito correto da pronúncia como Ridley Scott fez em Gladiador.

E o elenco não está bem. Recentemente, Javier Bardem foi um assassino caricato em Onde os Fracos Não Têm Vez. Ele não passa tanta credibilidade assim no filme dos irmãos Coen, mas acho que a idéia era ser caricato mesmo ao representar o mal absoluto. Em O Amor nos Tempos do Cólera, Bardem está deslocado no meio de uma terrível maquiagem. E é impressionante avaliar a escolha dos atores. John Leguizamo não convence nem criança como pai de Giovanna Mezzogiorno. O pior de tudo é ver como Unax Ugalde envelhece e se torna Javier Bardem, enquanto os outros atores continuam lá sem uma única ruga a mais.

O Amor nos Tempos do Cólera (Love in the Time of Cholera, 2007)
Direção: Mike Newell
Roteiro: Ronald Harwood (Adaptado do livro de Gabriel García Márquez)
Elenco: Javier Bardem, Giovanna Mezzogiorno, John Leguizamo, Benjamin Bratt, Catalina Sandino Moreno, Liev Schreiber e Fernanda Montenegro